Esverdeado

Único, como a tua pele


Não era a primeira vez que Trigon fugia da prisão interdimensional onde fora deixado, e nem seria a primeira que Ravena e seus amigos o jogariam lá novamente. Mas ela estava tão cansada; certamente sua ligação com o demônio a estava consumindo. A energia negra que o pai compartilhava com ela era como uma bateria que descarregava conforme o demônio esforçava-se; estava mais fraco, afinal. Queria ter tido a chance de ter uma vida normal, mas ao observar ao redor, sua percepção mudava.

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O garoto de pele esverdeada a encarava, com o rosto sonolento e um fio de baba marcado ao lado da boca. Ela riu, baixinho, não querendo chamar a atenção de qualquer um que pudesse ouvi-la através das paredes finas da aeronave que os levava ao seu destino.

Se tivesse uma vida normal, provavelmente não estaria encarando o garoto de pele esverdeada à sua frente; muito menos teria oportunidade de beijá-lo, ou de ter uma amizade com Estelar.

— Mutano... — Sussurrou quando o garoto deitou o rosto em seu pescoço, os braços envolvendo sua cintura como um torniquete e o cabelo arrepiado fazendo-lhe cócegas no queixo. Estava quente, mesmo que sua bochecha a tocasse por cima de sua camiseta. — Mais um?

Ele mexeu a cabeça, confirmando. Faziam cerca de duas semanas que vinha relembrando de momentos ruins, quando chamavam-no de aberração e diziam como sua pele verde era asquerosa, como a de uma cobra ou um crocodilo. Ravena não imaginava como alguém poderia não julgar aquela pele como, no mínimo, preciosa.

Por mais que fosse uma garota calma, o sangue de demônio que escorria por suas veias como uma cachoeira jamais a deixava ficar quieta quando ouvia algum comentário sobre a pele do namorado. Os olhos escureciam, sentia uma força descontrolada crescendo dentro de si. Esse era o problema de seus poderes serem influenciados quase que completamente por suas emoções; se afetasse Mutano, a afetaria.

Se sentia vulnerável diante da tristeza do companheiro; Mutano era quem a consolava em suas infinitas crises existenciais, com aquele sorriso enorme e o humor maravilhoso. Ela não tinha toda essa energia. Se bem que aquele tipo de comportamento passava em poucos minutos - ele jamais se deixava abater por muito tempo.

Ravena se sentia uma marionete com algumas cordas arrebentadas, sem saber qual movimento faria com uma quantidade limitada de possibilidades.

Mutano levantou a cabeça como se lesse seus pensamentos (ela não duvidava) e beijou seu queixo. Isso a fez suspirar. Não eram de demonstrar afeto em público, mas não havia um ser na terra - e nem em outras dimensões - que duvidasse do amor de ambos, por mais que o amor de Mutano ficasse bem mais visível, como uma enorme lanterna em meio a escuridão ou uma bola vermelha no meio da neve.

— Isso me faz ficar triste, Ravena. Bem pouquinho... — Seus olhos sobem até o rosto da namorada. Ela tem vontade de derreter como manteiga ou picolé em dias quentes. — Mas sabe o que me deixa feliz?

Ela demorou a negar, devagarinho, mesmo que soubesse vagamente o que ele poderia responder.

— Saber que a melhor mulher-metade-demônio está ao meu lado e não liga pra minha cor de pele. — Ele fez com que ela deslizasse a ponta dos dedos por seu peito, dando risadinhas.

Ravena suspirou. No fim, ia se despindo de toda a pose de durona para dar aquilo que Mutano merecia mais do que ninguém: Amor.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.