Les Crimes de Grindelwald

Amassos e Agoureiros


Desde que voltara da guerra e ganhara uma promoção no Ministério da Magia, Theseus havia conseguido se mudar de um apartamento alugado muito parecido com o do irmão mais novo para uma bela casa na Belgravia. A fachada do lugar, branca e impecável, escondia o interior aumentado com magia (mesmo que, originalmente, ela já fosse grande) e o qual continha até mesmo um salão de baile de pequeno porte. Era um exagero e Newt duvidava que o irmão realmente fosse fazer proveito completo de uma casa como aquela algum dia. Casas exageradas eram para famílias como os Black e os Nott, que gostavam de dar festas e encher os seus corredores com convidados escandalosos (isso sem nem falar dos Malfoy, já que estes eram um caso a parte no quesito extravagâncias).

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Naquela noite, Newt sabia que a grande organizadora da festa era a madrinha de Leta, Amalia Nott. A mulher, como toda boa bruxa puro-sangue bem casada, tinha um talento nato para organizar eventos e aquela seria a sua oportunidade para um último anúncio do casamento da afilhada, a qual ela passara anos tentando tornar uma ‘moça elegante e direita’. Scamander ainda se lembrava do quão irritada Leta ficava quando a madrinha a fazia ir de festa em festa em Londres durante as temporadas de verão. Se Lestrange tinha horror a essas ocasiões e Theseus ficava muito mais a vontade no campo, Newt não sabia o que esperar do humor do casal naquela noite.

Jacob e Queenie, por outro lado, pareciam animadíssimos. A bruxa estava usando um vestido cor-de-rosa de seda com rosas bordadas nas saias e mangas, enquanto o trouxa vestia um terno e calça verde escuro junto com um colete roxo, roupas que pareciam ser confecções da própria Queenie em uma tentativa de fazer o homem parecer mais bruxo. Kowalski carregava uma cesta de vime com os seus bolos quando eles pararam na frente da porta da casa na Belgravia, a qual foi aberta por um elfo-doméstico velho trajando uma fronha de travesseiro muito branca.

“Mestre Scamander, bem-vindo.” O elfo curvou o corpo franzino, quase encostando o nariz no chão.

“Boa noite, Tobey,” Newt murmurou, entrando na casa e sendo seguido pelos amigos.

“Ele te conhece?” perguntou Jacob, andando devagar enquanto virava a cabeça para olhar o elfo.

“Theseus já o mandou lá em casa para levar mensagens,” ele explicou. “Não sei como é isso na América, mas aqui as famílias bruxas mais ricas têm elfos para cuidar da casa. Tobey foi... Um presente de noivado para o meu irmão.”

O corredor longo estava iluminado por candelabros com velas que brilhavam com chamas brancas. Música ecoava ali, vinda do cômodo ao fundo. O magizoologista respirou fundo, enfiando os dedos no bolso do casaco para ver se Pickett continuava ali e sentiu os dedinhos do tronquilho arranharem os seus, antes de se dirigir para o salão.

Havia muita gente e a mera visão dos convidados fez Newt sentir um peso esquisito sobre o peito. Atrás dele, Jacob e Queenie comentavam, aos cochichos, sobre a casa, deslumbrados. Uma bruxa no meio dos convidados desviou o olhar para eles e pareceu ficar confusa por um momento, antes de abrir um sorriso um tanto forçado em seu rosto longo e se aproximar.

“Newton, querido.” Ela esticou as mãos para tocar os ombros do homem, mas logo as recolheu, olhando-o dos pés a cabeça. “Eu sempre disse que você ficava muito elegante nas roupas certas. Falta só arrumar o cabelo.”

Scamander forçou um sorriso. Fazia muito tempo que não tirava do armário qualquer roupa que não fosse prática e um conjunto de vestes formais estava longe de ser prático. O casaco longo que estava usando era um tanto solto, feito de veludo azul escuro e com bordados em fios de diversos tons de azul, os quais desenhavam diversos animais ao longo das barras e do colarinho deste. Esses pequenos detalhes foram um presente de Queenie, que percebeu o seu desconforto e decidiu deixar a roupa ‘mais parecida com Newt Scamander’. Por debaixo do casaco, continuava com um conjunto de calça social, camisa e colete amarelo. Ele não sabia mais usar aquelas vestes longas sem nada por baixo.

“Sra. Nott, boa noite,” ele cumprimentou, vendo a mulher esticar o pescoço para ver o casal atrás dele. Os fios brancos no meio do cabelo escuro muito bem penteado brilhavam sob a luz das velas. “Ahm, estes são Queenie Goldstein e Jacob Kowalski, meus amigos. Eles estão... visitando Londres. Theseus os convidou.”

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“Encantada,” a bruxa falou. Os dois americanos acenaram. “E o que trazem aí?”

“Ah, sim,” disse Jacob, sorrindo e passando na frente de Newt para entregar o cesto à mulher. “Queenie e eu achamos que seria educado trazer algo, sabe, para a festa. São paczkis.”

A Sra. Nott arregalou os olhos quando abriu a tampa do cesto, ainda nos braços do trouxa, e se deparou com bolos no formato de pelúcios. Ela lançou um olhar desconfiado na direção de Newt ao mesmo tempo que Queenie fez uma careta.

“É muita gentileza, Sr. Kowalski. Vou pedir...” A bruxa estalou os dedos e outro elfo apareceu do lado deles. O cesto flutuou para fora das mãos de Jacob e sumiu no ar, assim como a criatura, logo depois de fazer uma reverência. “Pronto, já vão colocar junto dos outros doces.”

Amalia Nott pediu para que eles ficassem à vontade e sumiu entre os convidados. O salão estava todo decorado em branco e preto, iluminado pelas mesmas velas com chamas pálidas, o que davam ao ambiente um aspecto quase fantasmagórico. Newt reconheceu alguns rostos ali no meio: Septimus Malfoy, que havia entrado em Hogwarts quando o magizoologista estava no quinto ano, estava sorridente enquanto mostrava para todo mundo o bebê enfiado em muitas rendas no colo da esposa; Julius Meadowes, parceiro de Theseus durante a guerra, se mantinha sentado em um canto para não cansar a perna machucada nos conflitos e conversava com o jovem Sr. Avery, dois anos mais novo que Newt. Havia mais rostos conhecidos, mas quanto mais Scamander encontrava, pior ficava o aperto em seu peito.

“Newt, querido.” Uma mão agarrou o seu braço e o virou. A Sra. Scamander logo começou a puxar e ajeitar a gola do seu casaco, além de desfazer e refazer o nó de sua gravata. “Pelo menos trocou de casaco. Se soubesse que nunca iria tirar aquele lá do couro, nunca teria lhe dado. Devia usar mais coisas assim, principalmente no Ministério.”

“Cadê o Theseus?” o bruxo perguntou, olhando em volta.

“Tentando arrancar mais do que duas palavras do pai da noiva.” A Sra. Scamander revirou os olhos e então se virou para Jacob e Queenie. “São seus amigos? Seu irmão disse que os havia convidado.” Ela gesticulou para que eles se aproximassem e ergueu as mãos para tocar o rosto de Goldstein, que pareceu confusa. “Olhe só você, que bichinho mais lindo. Meu filho mais velho já arranjou uma moça para ele, mas o que eu não daria para que Newton achasse alguém assim?” A mulher se virou para o filho. “Ela é exatamente o seu número!”

“Mamãe,” Scamander chamou, sentindo o rosto esquentar. “Queenie e Jacob estão... juntos.”

A bruxa piscou, alternando o olhar entre os três, antes de morder o lábio inferior.

“É um prazer te conhecer, Sra. Scamander,” disse Jacob, sorrindo meio sem graça. “Newt falou que a senhora cria... hipogrifos?”

“Sim, sim, já ganhamos inúmeras competições com eles.” Ela olhou em volta outra vez, antes de segurar o braço do filho outra vez. “Irei roubar Newt por um segundo, sim? Aproveitem a festa, fiquem a vontade.” A mulher estalou os dedos e um elfo surgiu. “Peçam o que quiserem beber.”

Newt sentiu a mãe o puxar pelo braço para longe dos amigos e o aperto no peito se tornou um nó na garganta.

“Eu não entendo o porquê de você nem ao menos tentar, Newt,” a mulher continuou murmurando, antes de parar em um canto do salão e esticar as mãos para alcançar os cabelos do filho. Ela murmurou um feitiço e o bruxo sentiu os seus cabelos ficando do jeito que ela os penteava, tirando os fios do seu rosto. “Até Septimus Malfoy já tem uma cria.”

“Theseus vai te dar isso, mamãe.” Scamander se encolheu, tentando escapar das mãos da mulher. “Eu tenho outras coisas mais importantes no momento-“

“Cuidar dos bichos?” Ela arqueou uma sobrancelha. “Eu cuidei de sei lá quantos hipogrifos enquanto você e Theseus cresciam.”

“Acabei de lançar um livro, mamãe. Estou recebendo cartas de várias pessoas curiosas querendo saber onde podem aprender mais sobre os animais,” ele explicou. “Estou até me correspondendo com outro magizoologista, um rapaz-“

“Você sabe que magizoologista não é um título oficial, Newton.” a Sra. Scamander murmurou, descendo as mãos para o rosto do filho. “Talvez se você se dedicasse mais ao seu trabalho no Ministério...,”

Ao longe, o bruxo viu um homem se aproximando, alto, com cabelos e bigode loiro escuro, vestindo trajes de cor bege e bordados vinho. O Sr. Scamander apressou o passo ao notar o olhar desesperado do filho e, ao alcançá-los, apoiou uma mão no ombro da esposa.

“Nella, não deixe o garoto constrangido,” ele murmurou, antes de sorrir para o outro. “Que bom que pôde vir, Newt.”

“Eu falo isso porque me preocupo com você.” O sussurro da mulher foi quase inaudível no meio das conversas dos outros convidados. “Você está sempre sozinho. O que vai ser de você daqui alguns anos?” Ela desceu os dedos para as mãos do filho, apertando-as com delicadeza. “Oh, querido, está com as mãos geladas. Não... Não fique assim.”

O magizoologista deixou-se aproveitar o aperto em suas mãos. Seus pais sabiam que nem sempre ele se sentia confortável com abraços e apertar as suas mãos fora um jeito de encontraram de demonstrar carinho quando ele era pequeno. Ele observou os dedos longos da mãe e reparou nas cicatrizes em suas mãos, presentes de diversos hipogrifos ao longo da vida dela.

“Como está o Sr. Lestrange?” Newt perguntou, ainda focado em suas mãos entre os dedos da Sra. Scamander.

“Do mesmo jeito de sempre,” o homem falou. “Ele não gosta de falar muito, é meio parecido com você nesse aspecto.”

“Newt é tímido,” disse Fenella, ríspida e baixo. “Corvus acha que é importante demais para falar com os outros. Se dependesse dele, nem apareceria no casamento da própria filha.”

“Nella, cuidado.”

“Todo mundo aqui dentro sabe disso, Daedalus.” Ela soltou as mãos do filho e deu de ombros. “Eles apenas são educados demais para falar.”

“Seu irmão disse que você traria amigos.”

“Eu os conheci, são adoráveis.” A Sra. Scamander sorriu e deu um passo na direção do centro do salão. “Vamos lá apresenta-los ao seu pai.”

“Eu... Já vou,” Newt murmurou, olhando rapidamente para os pais. “Vou encontrar o Theseus antes. Vão indo lá, eles devem estar meio perdidos.”

Daedalus teve que apoiar a mão no ombro da esposa e a guiar para longe. O magizoologista prendeu o lábio inferior entre os dentes e olhou para as próprias mãos por um segundo, sentindo as palmas molhadas. Ele esfregou os dedos no casaco, tentando se livrar do suor e deu as costas para os pais, que agora se afastavam.

Atravessar o salão lhe trouxe lembranças não muito reconfortantes de Hogwarts e de seus primeiros dias no Ministério, quando ainda não havia aprendido os caminhos mais calmos pelos corredores e a multidão o exauria. Havia música, não muito animada, mas o suficiente para algumas pessoas abrirem espaço para que uma bruxa dançasse no meio deles: a mulher girava e ria, fazendo o vestido prateado que usava esvoaçar e brilhar sob a luz das chamas pálidas. A visão era bonita, mas havia muita gente em volta e Newt esbarrou em um ou dois bruxos, foi empurrado de leve por um terceiro e quase pisou no pé de uma bruxa. Aqui e ali havia elfos aparecendo e sumindo, entregando bebidas, e também havia o estalido de taças batendo umas contra as outras em brindes. Scamander apenas abaixou a cabeça e continuou andando até encontrar uma saída, a qual veio na forma de uma escada.

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Ele subiu os degraus rapidamente até alcançar o segundo andar, onde abriu a primeira porta que encontrou e entrou, fechando-a atrás de si.

Os sons da festa estavam distantes, quase completamente abafados. O homem olhou em volta, vendo inúmeras prateleiras com livros, apesar de nem todas estarem ocupadas. No fundo da sala, ao lado da janela, havia uma escrivaninha um tanto simples, contrastando com a opulência do resto da casa. Respirando fundo várias vezes até sentir o coração desacelerar, Newt andou na direção da mesa, ignorando as duas poltronas que descansavam uma em cada lado da sala.

A mesa estava organizada, com três tinteiros contendo tintas de cores diferentes enfileirados em frente à alguns cadernos e rolos de pergaminhos. Um livro sobre famílias mágicas estava fechado ao lado dos pergaminhos, com um pedaço de papel rasgado marcando a página. Em um canto, havia dois pequenos porta-retratos: em um deles, o rosto de Leta Lestrange sorria para ele e, no outro, o próprio Newt e Theseus, ambos crianças, estavam sentados no parapeito de uma ponte, sacudindo as pernas no ar. Enquanto olhava para o rosto do seu eu mais novo na fotografia, o magizoologista ergueu a mão para desfazer o penteado que a mãe havia feito com um feitiço, sentindo os fios resistirem por um momento.

O ranger da porta abrindo e fechando fez Scamander girar e desviar o olhar para a janela. Lá fora, a rua escura estava vazia, iluminada apenas pelas lamparinas amareladas.

“Newt?” O homem mordeu o interior das bochechas ao ouvir o chamado. “Está tudo bem?”

Ele assentiu, aproximando-se mais da janela e vendo o vidro embaçar com a própria respiração. O bruxo ergueu uma mão e deslizou um dedo pelo vidro embaçado, desenhando uma linha meio torta.

“Muita coisa acontecendo?” No reflexo do vidro, ele viu a figura de Leta se aproximando.

“Faz tempo que não participo de algo assim,” ele murmurou.

“Lembra quando o Professor Dippet nos convidou para uma janta de Natal?”

“E você deixou Jonathan Yaxley mancando por vários dias depois de chutar a canela dele?” disse Newt, ouvindo Leta rir atrás de si.

“Ele era nojento e tentou me abraçar.” Mais uma risada escapou da boca dela e a mulher apareceu ao seu lado, encostando-se no parapeito da janela e olhando o lado de fora. “Ficou me irritando, perguntando o porquê de eu deixar você me abraçar e não ele.” Ela sacudiu a cabeça. “Eu disse: Newt me abraça porque gosta de mim, não porque quer me apalpar.”

O bruxo abaixou o rosto, sentindo as bochechas arderem.

“Não precisa ficar com vergonha. Nós dois sempre soubemos que esses garotos sempre achavam que seria mais fácil se aproximar de mim porque meu pai não prestava atenção no que eu fazia. Se eu me casasse com um trouxa ou com um bruxo, não faria diferença.” Leta desviou o olhar para um fio solto nos bordados pretos no vestido branco que usava, enrolando um dedo no fio e puxando este com força. “Você não fazia isso.”

“Você também não fazia brincadeiras maldosas sobre meu uniforme estar sempre sujo,” ele murmurou. “Ou, sei lá, eu ter... dificuldade de olhar as pessoas nos olhos.”

“Quem diria que algum dia nós dois conseguiríamos trabalhar no Ministério da Magia,” a mulher falou, rindo fraquinho. “Achei que Dippet iria fazer cartas para todos os departamentos avisando para não nos contratarem.”

“Ah, eu com certeza ganhei algumas dessas.”

Scamander observou os dedos de Leta se enroscarem uns nos outros enquanto ela continuava apoiada no batente da janela. Desviando o olhar para o tecido do vestido da mulher, notou que os bordados em preto iam se espaçando até sumirem no tecido branco da saia, formando o que pareciam ser os contornos de aves.

“Fênixes?” ele perguntou, apontando para os bordados.

“Não acredito que até você errou.” A bruxa segurou a saia e esticou o tecido para mostrar melhor os detalhes. “Agoureiros.”

“Agoureiros? Por que você mandou bordar agoureiros no seu vestido?” o homem murmurou, esticando a mão e tocando de leve nas contas bordadas e que brilhavam com o movimento.

“Lembra quando achamos um filhote de agoureiro na floresta?”

“Você estava se escondendo da Henrietta Talbolt,” disse Newt, voltando a recolher a mão para perto do corpo. “Ela estava te chamando de nomes porque você tinha tirado uma nota maior que ela em Transfiguração. Você estava chorando.”

“Você foi atrás de mim, mas encontrou um agoureiro no meio do caminho,” ela continuou. “E chegou lá com aquela coisinha feia que não parava de cantar daquele jeito esquisito, parecia estar chorando, e você tentou me distrair falando-“

“Que ele também estava chorando e eu não sabia lidar com os dois chorando.” Scamander riu, erguendo a mão para esfregar os olhos e se sentindo corar. “Eu era a pior pessoa tentando consolar alguém.”

“Me distraía. E eu comecei a gostar de agoureiros depois disso, apesar de não serem a minha criatura favorita.”

Newt ergueu o rosto, o lábio inferior preso entre os dentes em uma tentativa de não sorrir enquanto olhava o rosto da bruxa. Leta também estava tentando conter um sorriso, o que fazia com que ela enrugasse o dorso do nariz, fazendo as sardas ali se espremerem umas contra as outras.

“Amassos?” o magizoologista falou, antes de rir quando ela assentiu. “Você queria ter uma criação de amassos.”

“Ainda quero! Quem sabe um dia?” Lestrange riu e suspirou, olhando para fora da janela. “Quem sabe depois do primeiro filho eu não diga que preciso cuidar da minha família e não da família do Ministério? Aí compro um casal de amassos e começo a minha criação. Um dos filhotes da primeira ninhada vai ser seu.”

O resquício de risadas pairou no ar por alguns segundos. Newt respirou fundo, também olhando para a janela e encontrando o olhar de Leta em si no reflexo do vidro. O bruxo se sobressaltou ao sentir os dedos da mulher contra os seus, entrelaçando-se neles devagar e de leve. Ela também estava com os dedos gelados e um sorriso diminuto curvou os cantos dos lábios dela no reflexo.

Quando a porta da biblioteca se abriu abruptamente, os dois puxaram as mãos para longe um do outro e se viraram rapidamente. Leta era melhor em esconder o constrangimento, mas Newt sabia que estava vermelho e não tinha muito o que fazer.

Havia uma bruxa parada na entrada da biblioteca, observando os dois com uma expressão confusa no rosto, logo antes dos seus lábios se esticarem em um sorriso e uma sobrancelha se erguer. Ela fechou a porta atrás de si e se encostou nesta. A mulher era mais jovem que eles e o vestido vermelho que usava contrastava de uma forma bonita com a pele negra.

“Encontrei o clube das crianças más?” A jovem riu e levou uma mão até os cabelos, os quais estavam presos com uma tiara cheia de pedras vermelhas brilhantes. Ela os olhou outra vez e riu. “Não fiquem com essa cara assustada, não vou contar para ninguém que estão aqui. Estamos todos escondidos, ninguém vai trair ninguém.”

Leta pigarreou.

“Srta. Zabini,” disse Lestrange. “Posso... Ajudá-la em algo?”

“Madame Nott quase pegou eu e Idella McLaggen. Só estou me escondendo.”

“Quase pegou vocês no que...?” Newt murmurou e logo sentiu a bruxa suspirar ao seu lado.

“Na mesma coisa que vocês estavam fazendo aqui.” A jovem deu uma piscadela. “Ele é fofo, Leta.”

“Newt estava passando mal no meio de tanta gente e veio tomar um ar,” Lestrange explicou, mas o homem duvidou que a outra aceitou tal explicação. Ela voltou a olhá-lo. “Está melhor ou quer que eu peça para um elfo trazer um copo de água?”

“Estou bem. Acho melhor descermos. Ainda nem vi o Theseus.”

Leta continuou com o teatro enquanto o acompanhava para fora da biblioteca, segurando o seu braço como que para lhe dar apoio. A Srta. Zabini murmurou um ‘melhoras’ e foi se sentar em uma das poltronas da sala, cruzando as pernas e balançando o pé no ar enquanto eles saíam.

“Ah, Newt?” Eles pararam na porta, se virando para ver a bruxa mais nova. “Foi você que veio com o casal de americanos? A loira e o rechonchudo?”

“Sim?”

“Melhor ir atrás deles. Estavam discutindo agora a pouco.”

“O que?” O magizoologista franziu o cenho. “Por quê?”

“Eu só ouvi de orelhada... Ele estava chateado que ela estava conversando com um homem esquisito, não sei quem era,” Zabini respondeu, mexendo na tiara na própria cabeça outra vez e parecendo incomodada. “Sobre Grindelwald. Seu amigo pareceu bem desconfortável.”

Newt e Leta se entreolharam. Antes que a outra bruxa pudesse falar qualquer coisa, os dois se apressaram escada abaixo. Dessa vez, atravessar o salão foi mais rápido, uma vez que o bruxo tinha um objetivo certo em mente e conseguiu ignorar os outros convidados, não ouvindo nem mesmo Theseus, que finalmente o encontrou e chamou por ele. Tobey, o elfo idoso, lhe indicou a porta de entrada e disse que viu o casal indo saindo da casa.

Jacob estava parado no meio da rua, sozinho. Ele estava com os ombros caídos e olhava de um lado para o outro, como que a procura de algo.

“Jacob?” Scamander chamou, descendo os degraus até a calçada e indo até o amigo, que se virou e o encarou com os olhos confusos e magoados. “O que houve?”

“Ela foi embora,” ele balbuciou. “Eu não entendi o que aconteceu, Newt. Ela estava falando com um homem, sobre aquele bruxo que vocês prenderam em Nova York. Eu disse que não devia ter argumentos a favor dele, porque, bom, ele tentou matar você e estava usando aquele garoto para destruir Manhattan. Esse cara continuou falando que a gente tinha que olhar pelo lado dele... Que, no fundo, ele só queria que os bruxos pudessem viver em paz.” Kowalski sacudiu a cabeça. “Eu disse que não achava certo e que Tina não iria gostar de ver ela pensando assim de um maluco. Eu não entendi como, mas... Queenie começou a falar de casamento. Ela quer se casar, sabe? Eu também quero, mas se ela se casar com alguém como eu, vão prender ela. Eu não quero que ela vá presa, Newt.” O trouxa o olhou e pareceu estar a beira das lágrimas. “A gente veio pra Londres pra tentar... Pra ver como eram as coisas por aqui, porque talvez a gente pudesse casar aqui sem ela ser presa. Eu pensei que... que ela estava exagerando na discussão, porque ela saiu do assunto do bruxo ruim lá e pulou pra casamento. E ela ouviu o que eu pensei e ficou brava. Disse que ia visitar a Tina e... Sumiu.”

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Newt se aproximou mais do homem, colocando uma mão no ombro deste e o guiando novamente para a calçada. Theseus estava lá, parado nos degraus da casa, os observando.