Certa vez, um suicida e um cientista acabaram por se encontrar em um bar embolorado e esquecido em meio à tantas travessas encardidas, ao acaso. Após algumas doses de uma bebida verde-escura e amarga, de nome desconhecido, e muitas conversas, o suicida iniciou um diálogo, um tanto, estranho:

— Já que és tão sabido das coisas, diga-me: qual a maneira mais eficaz para se obter a morte?

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— Veja bem, caro suicida, todos os métodos dos quais creio que conheças são sempre interrompidos por ajuda médica. Caso queiras realmente morrer, tú terás que ingerir uma substância química.

— Uma substância química? - Retrucou o suicida. - Qual substância? Seria uma droga?

Não uma droga qualquer, mas um líquido.

— Devo embebedar-me até o coma?

Não, caro suicida. Deves beber 20 quilos de monóxido de di-hidrogênio!

— Mas aonde encontrarei tal substância? - Exclamou em polvorosa. - Parece-me ilícito o porte deste líquido!

Ao contrário, meu caro. Teu corpo és constituído de 70% desta substância anômala.

— Como? Explique-me melhor, sou apenas um relés leigo de pouco estudo. - Informou o suicida a brincar de fazer vibrações com o dedo indicador na borda do copo.

Monóxido de di-hidrogênio, nada mais é, que a substância que lhe dás vida, mas que também podes rumá-lo para a morte.

— Que substância és esta?! - Exclamou, incrédulo.

Água, meu caro. - Tentou se explicar, o cientista. - Caso bebas a quantidade que lhe recomendei, tuas células incharão e explodirão tal qual uma bexiga de gás!

— Ora, agradeço por tua ajuda, senhor. Amanhã lerás uma matéria sobre meu suicídio no jornal, provavelmente. - Comunicou, levantando-se. Estava com pressa, tinha um suicídio a executar.

Creio que não. Pois tu não irás se matar. - Replicou antes que o outro se fosse.

— Como?! - Exclamou, desnorteado.

Deus castiga os suicidas... Teu lugar és no céu. Isto que bebeu, crendo ser absinto, és, na verdade, veneno. - Ele fez uma pausa. - Pelo que vejo, teu lugar és no paraíso, tu és uma boa pessoa. Teu assassinato irás servir de sentença definitiva para meu julgamento.

— Julgamento, o que estás a dizer?! Por que desejas tanto que tú vás ao inferno?

Pois bem, eu sou um cientista... Um inventor... - Sua língua se enrolava com dificuldade na boca para formar as palavras devido ao veneno que corria livremente em sua corrente sanguínea. - Meu jovem, já ouvistes falar das guerras mundo a fora?

— Mas com certeza! Cheguei a lutar em uma.

Conheces as armas químicas que o exército usa para matar inocentes? Pois bem... Este és meu pecado: o sangue de milhares jaz em minhas mãos por minha criação... Eu queria mudar o mundo, sabes? Mas no fim... Eu apenas o tornei ainda mais sombrio...

No outro dia, uma machete cobria toda uma página do jornal: "Bomba química mata 5 mil inocentes no Cazaquistão!".

Entretanto nenhuma notícia sobre o cientista ou sobre o suicida existia naquelas páginas repletas de escalas de cinza. O editor chefe achara a história muito promíscua para se publicar em um jornal de tamanha seriedade quanto o seu.

Soubesse ele da história completa, teria publicado um artigo quilométrico, digno de milhares de prêmios...

Infelizmente, não se pode agradar a todos.

Nem mesmo a Morte.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.