Kirk engoliu em seco. Ele sabia que se fosse tentar alguma coisa, teria de ser agora. Olhou para Sulu e viu que o piloto também estava tenso e preparado para agir. Mas antes que eles pusessem sequer se mexer, um som às suas costas, parecido como o feroz miado de um grande felino, fez o sangue deles gelar.

A tenente M’Ress saltou como um raio sobre suas cabeças e antes de atingir novamente o chão, acertou o nausicaano no rosto, atirando-o de costas no passeio e fazendo com que soltasse a arma, que foi jogada longe. Ele tinha quatro sangrentos arranhões, que iam do nariz até a base do pescoço. Colocando o pé direito sobre o peito do homem caído, ela encarou os outros dois, rosnando. As suas mãos estavam posicionadas ao lado do corpo, com os dedos abertos e estendidos, mostrando garras cor marfim, que mediam cerca de dois centímetros cada. A cauda dela se mexia nervosamente, como a de uma leoa se preparando atacar. Seus lábios estavam ligeiramente flexionados, deixavam entrever duas presas brancas e seus olhos adquiriram um tom de verde intenso.

Os outros nausicaanos, depois da surpresa inicial, sacaram suas adagas, acionaram os bastões de choque e caminharam na direção de M’Ress. Porém Kirk já recuperara o Phaser, enquanto Sulu também tirou sua arma do bolso do paletó. O capitão apontou para eles, ordenando:

— Parados!

Os grandalhões pareceram não ouvir e continuaram avançando. Eles não tiveram outra opção senão atirar, desacordando os dois.

O capitão se aproximou do outro nausicaano caído, gemendo aos pés de M’Ress e se ajoelhou, ficando bem próximo do rosto dele. Kirk deu um sorriso cínico e apontou com o polegar para a tenente, que ainda o olhava enraivecida, perguntando:

— Agora, você vai responder algumas perguntas ou prefere que eu a deixe terminar o serviço que começou?

Mas antes que o nausicaano pudesse dizer qualquer coisa, foi atingido no pescoço por um disparo de disruptor e caiu, paralisado. Outros disparos explodiram perto do capitão, que saltou de lado, para recuperar seu phaser que estava no chão, e assim que pegou a arma apontou na direção de onde vinham os tiros e também abriu fogo. Quatro figuras encapuzadas a armadas com fuzis disruptores que vinham em sua direção se separaram, agachando-se atrás de veículos que estavam estacionados, continuando a atirar na direção de Kirk, que já estava se movendo e ordenando a Sulu e M’Ress:

— Protejam-se!

O piloto e a felinóide correram e se abrigaram atrás de uma grande unidade de reciclagem de lixo próxima e assim que chegaram, sacaram seus mini-phasers e responderam ao fogo. O capitão conseguiu alcançar uma estátua na entrada de uma pequena praça próxima e se escondeu atrás do pedestal, também atirando.

Os atacantes porém estavam carregando armas muito mais potentes e precisas que eles e os disparos explodiam cada vez mais perto, arrancando pedaços dos locais onde eles estavam escondidos e do pavimento próximo. Sulu gritou para Kirk, preocupado:

— Capitão, a situação está ruim! Eles estão em maior número e melhor armados. Não vamos conseguir resistir muito tempo.

James Kirk olhou em volta, procurando uma saída e não encontrou. Eles estavam muito separados, em uma rua larga. Se tentassem sair em qualquer direção, seriam atingidos. Estava para pedir auxilio a Spock através do comunicador, quando alguns tiros de arma pesada começaram a ser disparados em direção dos que os atacavam.

— Parece que estão precisando de uma ajuda – disse alegremente uma voz feminina às costas deles.

Kirk olhou na direção de onde vinha a voz e viu uma mulher ajoelhada sob a proteção de uma árvore a alguns metros à esquerda da calçada onde ele estava, com o rosto encoberto pelas sombras. Carregava um pesado rifle phaser tipo II, típico das equipes de assalto da Frota Estelar e atirava com uma precisão impressionante. Um dos atacantes, que estava mais a esquerda, tentou mudar de posição para responder ao fogo e foi atingido no peito, ficando imediatamente imobilizado. Outro, à direita, levou um tiro no cano da sua arma e a viu explodir, ficando com as mãos feridas pelos estilhaços. A mulher continuou a atirar e seus disparos certeiros fizeram com que os outros dois atiradores ficassem encurralados e abaixados, sob fogo cruzado. Depois de algum tempo eles pararam de atirar, jogaram as armas no chão e gritaram:

— Parem de atirar. Nós nos rendemos!

— Muito bem! – gritou a mulher, das sombras – venham devagar para cá, com as mãos sobre a cabeça, para podemos ver vocês.

Os dois atacantes que ainda estavam ilesos levantaram-se e saíram de trás dos veículos. Eles pararam a alguns metros de Kirk, que saiu do seu esconderijo, apontando o phaser. Estavam com os braços levantados e os capuzes ainda escondiam seus rostos.

— Agora, abaixem os capuzes, para podermos ver seus rostos – ordenou o capitão.

O homem que estava mais a frente fez um movimento com as mãos em direção à borda do capuz, como se fosse abaixá-lo. Kirk só viu o mecanismo na palma da sua mão quando era tarde demais, pouco antes dele acioná-lo.

Imediatamente um feixe de energia brilhante em espiral envolveu os quatro encapuzados suas armas e eles sumiram, sem deixar sinal.

— Tele transporte de emergência – disse o capitão, suspirando – eles fugiram.

— O que não é nada bom – completou a mulher, saindo das sombras e caminhando na direção dos oficiais da Frota Estelar.

“E pode ficar pior”, pensou Kirk, olhando desanimado para os policiais centaurianos que corriam para onde eles estavam.