Meu querido sonâmbulo

Meu querido segredo


— Lee Naeun, você tem exatos cinco minutos para explicar o que diabos está acontecendo aqui. — eu a intimei, tentando conter meu ódio num sussurro.

O alvo da nossa conversa estava do outro lado da alternativa sala de estar de Naeun e também trocava sussurros com Yoongi, alvo número dois. Depois de toda a cena lá fora, acho que eu podia afirmar que nós dois já tínhamos um objetivo em comum: não passar ainda mais vergonha na frente do outro.

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— Primeiramente, você precisa se acalmar. — Naeun rebateu. — Você está parecendo uma neurótica e...

— Um. Dois. Três. — comecei a contar pausadamente, a interrompendo e deixando claro que neurótica era um mero elogio para o meu atual estado.

— Está bem, está bem! — exclamou, atraindo a atenção dos outros dois. Em seguida, cobriu a boca para abaixar o tom de voz. — Eu avisei que nós teríamos um encontro, Soojin-ah.

— Mas não especificou que, além de não ser uma coisa só nossa, seria um encontro duplo. — rebati. — Eu até sabia que você e o Yoongi tinham um lance, mas quem diabos é aquele outro ser humano?

Yah, alto lá! Nós não temos um lance, é mais como uma... — tentando se defender, Naeun abriu e fechou a boca algumas vezes, porém nada realmente saiu de lá. De repente, desistiu. — Aquele é Jung Hoseok. Ele é amigo do Yoongi, além de ser o chefe do departamento de relações públicas da Maximum Group e, de bônus, primo do Jimin.

O que?

— O que?! — quase gritei. — Espera, eu entendi isso direito? Você marcou um encontro duplo às cegas para mim, na sua casa, com alguém do trabalho e que ainda é parente de Park Jimin?

Naeun pareceu pensativa durante alguns segundos.

— Bem, resumindo, sim.

Sinceramente, eu não sabia se ficava mais chocada com aquele plano sem pé, cabeça ou tronco de Naeun, ou com o fato dela admiti-lo com a naturalidade de quem estava tomando um café da manhã no alto da Torre Eiffel.

No lugar de pudins de chocolate, eu deveria ter trazido um óleo de peroba para esfregar naquela cara de pau dela.

— Já chega, eu vou embora desse hospício. — decidi. — Até agora eu não entendi o fundamento dessa sua ideia maluca.

— Mas veja só se não é o sujo falando do mal lavado! — ela rebateu, abusada. — Primeiro, se você for embora agora, o Hoseok vai te achar duas vezes mais surtada. Segundo, foi você quem começou com essa história de descobrir o que o Jimin tanto esconde.

— Espera aí... — ommo. — Você fez tudo isso só para que eu pudesse investigar o Jimin?

— Mas é claro, oras. — respondeu, como se aquela fosse a coisa mais óbvia do mundo. — Tudo bem, eu confesso que também fiz pelos pudins de chocolate, mas o foco principal continua sendo extrair informações úteis do Hoseok.

Eu a encarei, ainda mais chocada.

— Naeun–ah, você tem o que no lugar de um coração? — indaguei. — Eu não posso usar o primo do Jimin assim, nem o conheço.

Em resposta, Naeun bufou e desviou os olhos de mim, parecendo frustrada. Em seguida, balançou a cabeça.

— Está bem. — disse. — Então, eu vou até lá mandá-lo embora e dizer que foi tudo um...

— Calma! — eu a interrompi, segurando-a pelo braço para que não fizesse mais nenhum movimento. Ela voltou a me fitar, erguendo uma sobrancelha. — Nós já estamos aqui mesmo, certo? Vamos jantar, pelo menos, e depois a gente finge que esse dia nunca existiu.

No sorriso vitorioso de Naeun estava estampado um enorme e fluorescente “eu sabia que você sabia que eu estou certa”.

— Nunca nem vi, querida. — concluiu, rindo.

Vez ou outra — bem de vez em quando — eu confesso que me acho um pouco descompensada, para não dizer maluca. Chego a ficar chocada com os meios pelos quais a minha mente trabalha; mas, então, eu me lembro de Naeun e sua mente quase psicótica.

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Sério, quem diabos teria tido uma ideia dessas?

Pondo fim à nossa discussão, eu tive que respirar fundo para tentar copiar a cara de pau de Naeun para fingir que nada tinha acontecido e que eu era um exemplo de pessoa mentalmente normal. Nós duas saímos do canto pouco iluminado da sala na direção dos dois homens, ambos de pé próximo ao sofá, e eu pude ouvir a risada de Naeun quando finalmente nos aproximamos deles.

Aigoo, que noite agitada, não é? Ainda bem que tudo já se resolveu... — Naeun iniciou e, se eu não conhecesse aquela naja, até poderia ter sido enganada pela sua naturalidade. — Hoseok, essa é Jeon Soojin, minha amiga da qual Yoongi havia lhe falado. Soojin, esse é Jung Hoseok.

Eu convido você, caro leitor, a pensar no momento mais constrangedor e embaraçoso de toda a sua vida. Sabe aquele King Kong monstruoso que você passou, um dia?

Pois então, pegue ela e multiplique por dois.

O resultado ainda é metade da vergonha existente entre a minha pessoa e o tal Hoseok nesse momento.

Nós nos curvamos um para o outro, nos cumprimentando, ambos sem saber se a melhor opção naquele momento seria sair correndo ou enfiar a cara na parede.

— Desculpe por ter lhe assustado mais cedo. — ele disse, meio sem jeito. — Eu achei inusitado o fato de estarmos indo para o mesmo lugar e acabei parecendo um maníaco pervertido.

Bem, talvez aquela fosse realmente uma família de pervertidos.

Contudo, apesar dos pesares, o meu primeiro contato com Hoseok havia sido muito menos brusco do que com Jimin — afinal de contas, ele não tinha invadido a minha calça e deitado com sua samba-canção ao meu lado no meio da noite. No lugar de pijamas, Hoseok usava calça social e sapatos pretos, além da camisa social vinho com as mangas erguidas até a altura dos seus cotovelos e o cabelo castanho escuro bem penteado em um topete. Não havia remelas em seus olhos e ele não tinha saído correndo ao me ouvir gritar, o que já era um avanço por si só.

Além disso, ele tinha um sorriso mais branco e perfeito que as pedras de mármore da minha cozinha.

— Não, eu é que peço desculpas. — respondi. — Eu exagerei na minha reação. Tipo, bastante.

Dito isso, Hoseok exibiu um enorme sorriso, provavelmente tentando ser simpático e acabar com aquele clima constrangedor entre nós.

— Bem, como já estamos resolvidos, poderíamos ir para a parte do jantar? — ah, eu quase pude sentir saudades da sinceridade extrema de Yoongi. — Essa confusão toda me deu fome.

Ao lado de Hoseok, ele usava peças de roupa basicamente brancas e cinzas, o que era um tanto diferente do seu habitual terno preto; mas o que definitivamente ainda era o mesmo era a sua expressão impaciente. Pude ver Naeun o alcançando e repreendendo pela falta de educação com um tapa discreto no braço, o que o fez resmungar. Ao meu lado, ouvi Hoseok disfarçar uma risada enquanto caminhávamos na direção da sala de jantar.

— Eu conheço o Yoongi há muitos anos, mas, ultimamente, ele tem estado bem diferente. — sussurrou para mim. — Acho que agora sei o porquê.

Parando para pensar, Naeun e Yoongi já estavam naquela há algum tempo, mas tentavam não demonstrar nada no trabalho. Tudo começou quando eu me tornei amiga de Naeun, logo no nosso primeiro ano na empresa, e no ano seguinte forcei Yoongi a nos aturar — literalmente, pois nós nos aproximamos no dia em que eu e Naeun tínhamos indo almoçar em um restaurante lotado e, por coincidência, Yoongi estava sentado sozinho em uma mesa para quatro pessoas.

Você não se importa se nós nos sentarmos aqui, certo?

Naquela época, estava escrito na testa dele que ele se importava e muito, mas eu só tinha lhe perguntado aquilo para tentar não parecer tão abusada. Isso acabou acontecendo nos dois outros dias seguidos àquele e, no terceiro, eu já estava até comprando três cafés no caminho do trabalho para tomarmos juntos. Yoongi era um ser humano com um humor tão inconsistente quanto o de um gato, mas, por algum motivo, ele acabou permitindo que nós três nos tornássemos amigos fora do ambiente da Maximum.

Um motivo alto e loiro.

Ele tentava disfarçar, mas o jeito como olhava para Naeun denunciava há uns dez quilômetros de distância que os seus quatro pneus estavam completamente arreados pela Lee, se não o estepe também. Era engraçado vê-lo, todo sisudo e antipático, realizando as vontades absurdas de Naeun sem protestar, assim como participando de seus planos mirabolantes.

Exatamente como naquele momento.

— Você ainda não viu nada. — eu sussurrei de volta para Hoseok, também rindo.

— Vocês dois acabaram de se conhecer e já estão cochichando? — ouvi o resmungo de Yoongi, nos fitando com um olhar acusador enquanto se sentava à mesa.

Eu estava prestes a lhe dar uma resposta muito bem elaborada, quando a voz de Naeun veio autoritária da cozinha.

— Yoongi–ah, cale a boca e venha aqui me ajudar!

Diante do olhar derrotado do Min e de seus ombros caídos, eu e Hoseok tivemos que segurar o riso. Assim que ele nos deixou sozinhos, nós nos entreolhamos e acabamos explodindo em gargalhadas.

Talvez Hoseok não me achasse uma completa maluca, já que parecia estar no mesmo nível mental que eu.

Ele parou de rir primeiro e, recuperando o fôlego, enxugou uma lágrima que rolara durante a crise de risos. Eu fiz o mesmo em seguida, tentando não borrar minha preciosa maquiagem.

— Então, Jeon Soojin... — ele iniciou, agora que dois já estávamos de volta ao normal. — O que você gosta de fazer?

Céus, aquilo ainda era um encontro, certo?!

Que a santa padroeira daquelas que só se metem em furadas me ajude, amém.

***

Se alguma vez eu acreditei que aquela noite daria errado, quero que um raio caia na minha cabeça nesse momento e me deixe careca e desdentada.

Está bem, também não é para tanto.

Ao contrário do que eu esperava, aquele tal encontro duplo não tinha sido um completo desastre — mas não vamos esquecer do meu escândalo antes do mesmo, claro. Eu tinha conseguido as informações preciosas que Naeun tanto esperava que eu obtivesse de Hoseok? Bem, não; mas sendo sincera, meu nível de descaramento não era tão alto assim, por incrível que possa lhes parecer. Hoseok era muito simpático, divertido e gentil, contudo, em nenhum momento me pareceu disposto a compartilhar algo de sua vida pessoal, muito menos da de seu primo sonâmbulo encrenqueiro. O fato de que nós também nunca tínhamos nos encontrado pelos corredores da Maximum fez com que eu me perguntasse se ele não era uma pessoa que gostava de ser discreto com esse tipo de coisa; ou se, na verdade, eu só não era assustadoramente distraída.

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Em minha defesa, ele trabalhava na Maximum há muito mais tempo do que eu, porém, nós nunca tínhamos trabalhado no mesmo andar — como já era de se esperar de um parente do herdeiro da empresa — Hoseok sempre trabalhara no andar dos tubarões brancos e endinheirados, onde eu comecei a trabalhar há alguns dias.

Sinceramente, eu tinha aproveitado aquelas horas apenas para me distrair. A conversa de Hoseok era agradável e leve o suficiente para manter minha mente longe da minha cozinha tostada, a quase centena de parcelas que ainda me restavam para realmente pagar aquela casa ou, ainda, o problema loiro que agora morava na mesma. Além disso, Naeun e Yoongi pareciam não conseguir decidir entre esganar um ao outro ou trocar carinhos, o que era um show de comédia à parte.

Por fim, Hoseok ainda era gentil o suficiente para se oferecer para me levar até minha casa. Eu cogitei não aceitar a oferta, pensando no completo desastre que seria se ele e Jimin acabassem se encontrando, porém, economizar meu dinheiro suado me pareceu mais importante dada a minha situação atual. Eu ia lhe explicando o caminho durante nossa conversa, que continuou divertida mesmo no carro.

— Desculpa, mas eu não consigo vê-lo como dançarino. — eu disse, rindo da sua expressão falsamente magoada.

— Mas por que não? Só por que eu trabalho de terno dentro de um escritório o dia inteiro? — indagou. — Não faça pouco caso do meu sonho frustrado de infância, Soojin-ssi.

— Não precisa me chamar assim, Hoseok. Parece que eu tenho uns sessenta anos.

Espera, eu já tinha escutado aquilo em algum lugar. Onde tinha sido mesmo?

Hoseok me encarou, erguendo uma sobrancelha.

— Tudo bem, ainda que você esteja longe de ter sessenta anos. — concordou, sorrindo.

Aquilo era um... flerte?

Claro que não! Por que você anda pensando tanto nessas coisas, Jeon Soojin? Não há nenhum motivo para Hoseok, o rapaz que você acabou de conhecer, estar sendo nada além de simpático com você e...

— Você é bonita demais para isso, Soojin. — concluiu, ainda por cima frisando o meu nome sem o honorífico formal.

Produção, é tarde demais para voltar atrás?

Jung Hoseok, para efeitos de aviso, gostaria de lhe dizer mentalmente que custa um total de zero arrependimentos não ser um pervertido como o seu primo. Na verdade, eu tenho plena consciência de que sou uma mulher, no mínimo, espetacular; contudo, o elogio de Hoseok havia me deixado desconfortável, por qualquer que fosse o maldito motivo. Quero dizer, não havia nada de errado em um homem crescido e simpático fazer um elogio a uma mulher também adulta e de fato bonita, mas isso não impediu que eu o respondesse apenas com um sorriso forçado, permanecendo em silêncio logo em seguida.

— Desculpe, eu não quis deixá-la constrangida. — ele disse um pouco mais sério, me fitando de escanteio.

Céus, o homem além de ter todas as qualidades que eu já citei, ainda é um cavalheiro.

Sinceramente, eu não sabia que homens assim ainda eram fabricados hoje em dia. Gostaria muito de saber onde poderia comprar um desses, caso não estivesse atualmente falida por causa de uma casa.

Infelizmente, a vida da mulher proletária consiste em ter que escolher entre um teto ou um pouco de carinho.

— Tudo bem, não precisa se desculpar. — respondi, sorrindo. — Foi apenas um elogio inocente, sei que você não fez por mal.

Dito isso, Hoseok pareceu mais aliviado, chegando a respirar fundo. Ele parecia estar prestes a me dizer mais alguma coisa, contudo, eu tive que interrompê-lo para dar a última coordenada até a minha casa.

— Vire à esquerda, logo ali. — eu disse, apontando para a rua na qual ele deveria entrar. Ele o fez e, em questão de segundos, nós estávamos bem próximos da minha casa. — É aquela casa branca de dois andares.

Com o canto dos olhos, eu pude ver a expressão de Hoseok se tornando um pouco mais séria.

— Aquela? — perguntou, apontando justamente para a minha casa.

— Sim. — respondi, enquanto ele estacionava o carro. Parou o veículo ao lado da minha calçada e, em seguida, fitou com olhos pesados a construção. — Por que? Digo, você parece surpreso por eu morar aqui.

De repente, Hoseok correu os olhos da casa para mim, sacudindo a cabeça em sinal de negação.

— Não é nada. — disse, disfarçando.

Talvez, se eu não soubesse que ele é primo do sonâmbulo que está vivendo na minha casa enquanto mente para mim bem na minha cara, sendo provavelmente um comparsa em potencial do mesmo, realmente poderia ter acredito que não havia nada demais na sua reação.

Contudo, eu sabia.

— Hoseok, nós nos conhecemos apenas há algumas horas, mas se tem uma coisa que eu posso afirmar sobre você, é que você é um péssimo mentiroso. — acabei o dizendo em tom de brincadeira, ainda que estivesse falando sério.

Aquela era a minha chance de investigar Jimin e, já que eu a tinha, não estava disposta a desperdiçá-la. Por outro lado, Hoseok pigarreou, parecendo hesitar.

— É que eu conheço alguém que já morou nessa casa. — contou, com um sorriso amarelo. — Fiquei espantado com a coincidência.

— Quem? — insisti, tentando soar o mais natural e surpresa possível.

Hesitando novamente, ele fitou o volante do carro.

— Meu primo. — respondeu. De repente, endireitou a postura, parecendo querer mudar de assunto. — Mas isso foi há muito tempo, antes dos... — pausou. Em seus olhos estava escrito um “droga, estou falando demais” ao vivo e a cores. — Bem, foi há muito tempo.

Então Jimin já tinha morado naquela casa?

Bem, aquilo fazia sentido e poderia explicar a sua fixação com o lugar, contudo, eu ainda estava surpresa em descobrir aquilo. Hoseok também poderia estar se referindo a algum outro primo, mas as chances eram ridículas de pequenas naquele caso, pelo menos para a minha mente e o seu fetiche em enxergar teorias da conspiração em todos os cantos.

— Antes do que? — indaguei. — É que eu acabei de comprar essa casa, mas não sei muito sobre o histórico dela, entende? Essa é uma coincidência tão grande, que me deixou curiosa.

Ainda com um sorriso forçado no rosto, Hoseok voltou a me fitar. Eu sentia que estava o pressionando, o que fez com que parte de mim se sentisse mal por isso — em contra partida, a outra parte era curiosa demais para ligar para aquilo.

— Os pais dele faleceram. — contou. — Ele era praticamente uma criança naquela época, então não poderia continuar morando aqui, sozinho.

— Você disse pais? — perguntei, confusa. — Os dois?

— Sim, os dois. Em um acidente de avião. — respondeu, parecendo lembrar-se muito bem daquela época. — Mas enfim, chega de contar coisas tristes. Isso nem tem a ver com a sua casa, certo? Não quero que crie uma imagem negativa do lugar só por causa do que eu lhe contei.

Hoseok acabou iniciando outro assunto para tentar aliviar o clima, contudo, eu estava confusa demais com uma coisa para prestar atenção no Jung: se ambos os pais de Jimin haviam morrido em um acidente de avião, então como diabos todos se referiam ao Presidente Park como o seu pai?

Eles tinham o mesmo sobrenome também, então deveriam ser pai e filho, certo?

Jimin era o herdeiro do Presidente Park, por isso era o vice-diretor executivo da empresa.

Certo?

— Está tarde. — eu ouvi Hoseok dizer. — Você deveria entrar.

Como Hoseok havia se mostrado um perfeito cavalheiro, eu fiz o possível para me despedir dele com simpatia e lhe agradecer pela noite agradável e pela carona. Ele partiu assim que eu pus os pés na minha varanda e abri a porta da frente, me deixando sozinha com um verdadeiro nó em minha cabeça.

Em silêncio e sem acender às luzes, eu subi as escadas até o segundo andar. O meu quarto era o primeiro do longo corredor, uma porta branca à direita, e eu teria entrado diretamente no mesmo se algo não tivesse capturado a minha atenção: a porta do último quarto entreaberta, iluminada apenas por um feixe da luz do luar. Eu não deveria, mas caminhei até a mesma apenas para me certificar de que Jimin havia escolhido aquele quarto.

Empurrei a porta delicadamente, evitando ao máximo fazer barulho ao abri-la. Em um colchão de casal no chão, Jimin dormia enrolado em uma coberta grossa e branca. Além da mala que trouxera consigo aberta em um canto do quarto e da caixa com seus pertences, não havia mais nada no cômodo, apenas aquele querido sonâmbulo que dormia tranquilamente.

Mesmo que aquilo fosse contra basicamente todos os meus princípios, eu fiquei ali na porta, parada e observando-o silenciosamente durante alguns segundos.

Como poderia aquela pessoa que dormia tão pacificamente, aparentemente sem preocupações, ser a mesma que parecia esconder tantos segredos?