Total Drama

Tensões


Kageyama não estava exatamente em seus melhores dias. Depois da rejeição, o fim de semana se arrastou, enquanto ele mal via a hora para chegar segunda-feira – na escola, poderia ver e interagir com Hinata sem precisar de uma desculpa apropriada. De qualquer maneira, não sentia-se muito confiante. As palavras do ruivo não saíam de sua cabeça, martelando até mesmo seus sonhos.

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Bons amigos. Que palhaçada.

Ele não queria ser um bom amigo! Queria poder tocar Hinata, abraçá-lo, se declarar sem ser julgado. Queria que tivessem mais dias como o sábado, que pudessem sair juntos e aproveitar seus gostos em comum, com um feliz acréscimo de que poderiam se tocar a hora que bem entendessem.

Não ficou completamente desolado com a negativa apenas porque sabia que Shouyou retribuía seus sentimentos – ele só não sabia ainda –. Os sinais estavam claros para qualquer um que quisesse ver, e nem mesmo a personalidade extensiva e solícita do garoto podia explicar todos os olhares, os toques e a maneira que sempre acabavam atraídos um ao outro, como dois ímãs.

Kageyama suspirou, frustrado. Era de madrugada, e não conseguia dormir. Sua cabeça estava ocupada bolando planos para colocar em ação e fazer Hinata perceber que também gostava dele. Enquanto isso, seu corpo padecia no cansaço, o que o deixava irritado – estar cansado significava um menor rendimento nos treinos. Tudo isso, somado a frustração, tornavam Tobio uma versão menos simpática dele mesmo. Rolou na cama, dividido entre tentar cochilar e continuar a pensar no maldito Hinata. Seria pedir demais se apaixonar por alguém que não reagisse apenas a base do instinto?

Quando finalmente dormiu, sonhou com Shouyou, e como ele sorria brilhante, feito o sol. Sonhou com seus passes certeiros e as partidas vencidas. Queria jogar com ele, jogar mais. Formavam uma boa dupla, dentro e fora das quadras. Só precisava convencê-lo disso, o quanto antes, de preferência – Kageyama definitivamente não aguentava o drama.

Colocou o uniforme e sua jaqueta do clube, com a mochila, sempre leve, sobre os ombros. Puxou uma caixinha de leite da geladeira e saiu, atrasado, o que não era incomum. Caminhou com pressa até a estação, para pegar o último horário do trem que o deixaria na porta da escola sem que tomasse mais uma advertência do zelador. Com sorte, conseguiu se sentar, e observou, da janela, as pessoas que se amontoavam para conseguir um lugar. Quando o trem já estava para partir, avistou uma cabeleira flamejante correndo, atando a bicicleta de qualquer maneira nas correntes. Riu baixo – a única pessoa que se atrasava mais que ele, era Hinata.

O bloqueador conseguiu entrar nos últimos segundos, e o trem tomou velocidade. Espremeu-se entre os passageiros até chegar nas barras pequenas, para se apoiar. Kageyama estava sentado próximo a uma delas. Quando estavam próximos o suficiente, ele o cumprimentou:

— Bom dia, Hinata. – ele não estava sendo exatamente gentil para que o ruivo reagisse daquela maneira. Seus olhos se arregalaram e ele pareceu suar frio.

— B-Bom dia, Ka-Kageyama. – gaguejou, virando-se de costas com o rosto corado.

Tobio suspirou. Seria um longo dia. Parte de si já previa aquela consequência – caso se declarasse e seus sentimentos fossem rejeitados, então Hinata agiria precisamente daquela forma, ignorando-o e evitando olhá-lo nos olhos. Ele não queria isso. Queria que continuassem como sempre foram, até que, eventualmente, o outro percebesse que também sentia o mesmo. Não se deixou abater. Como todo o resto, era uma equação simples de ser resolvida – só precisaria de tempo.

Não trocaram mais palavras até chegarem à escola. Os alunos se debatiam pelos corredores, o falatório era barulhento. Kageyama foi até seu armário buscar o restante de seus livros, e, distraído, não percebeu os dois primeiranistas do time que se aproximaram.

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— Olá, rei. Como foi o fim de semana com o outro integrante da dupla bizarra? – a voz sarcástica de Tsukishima era o suficiente para tirar Kageyama do sério. Ele bufou, batendo a porta do armário e se virando para o loiro com fogo nos olhos.

— É pedir demais um dia sem você me enchendo o saco? – rebateu, dando as costas. Infelizmente, ambos o seguiram, a caminho da mesma sala.

— Tsukki, para de provocar. – Yamaguchi sussurrou, recebendo uma risada do bloqueador. Kageyama revirou os olhos.

— Não posso fazer nada se ele tem que me aguentar. – não fez questão de baixar o tom. Tobio se virou, fuzilando-o.

— Pois é, se eu bem me lembro, foi você quem tirou notas baixas e teve que vir para a nossa turma. – sorriu ácido, tirando uma careta irritada do loiro. Se virou antes que ele retrucasse.

Seus olhos procuraram por Hinata, como uma reação natural. Ele já tinha chego, e conversava com seus outros amigos, virando na carteira. Kageyama tinha sempre que respirar fundo para não se deixar levar pelo ciúme. O ruivo era sempre receptivo e sorridente com todos, enquanto Tobio queria que o fosse apenas com ele. Sentou-se em seu lugar habitual, chamando atenção dele. Hinata o fitou, ficando automaticamente vermelho.

— Não te vi passar pelo corredor. – comentou, calmo.

— P-Pois é, eu vim direto. – disfarçou com uma tosse, virando-se rápido. Kageyama suspirou.

— Problemas no paraíso, rei? – Tsukishima comentou irônico, passando para sua carteira. Tobio ergueu o dedo para ele, simplesmente, recebendo uma risada satisfeita.

Em vez de se estressar – mais ainda –, preferiu observar Hinata e suas reações. Ele estava de costas, com o emblema do time da Karasuno estampado em suas costas. Usava calças jeans justas, daquelas que deixavam suas pernas marcadas. Kageyama murmurinhou, sentindo fisgadas. Não era como se pudesse controlar, e, se pudesse, não sabia se gostaria. Hinata era gostoso demais para sua própria sanidade.

A professora chegou, atrapalhando seus devaneios. Voltou para frente, apoiando-se na carteira para cochilar – não conseguiria prestar atenção na aula, de qualquer maneira. Conseguiu descansar um pouco, acordando com o barulho do intervalo. Não se deu ao trabalho de levantar, permanecendo, sonolento, e pegando seu lanche. A segunda parte da manhã não foi muito diferente da primeira. Anotou mentalmente para pegar o caderno de Yamaguchi depois, e, de soslaio, analisava Hinata vez ou outra. Teve a impressão de também estar sendo observado, mas não se deixou enganar pelas ilusões de sua mente.

Almoçou com o time. Embora Shouyou tenha sentado ao seu lado, mal se falaram. Quando seus braços roçavam, correntes elétricas deixavam-nos alertas, e o outro se afastava, envergonhado. Kageyama não conseguiria falar com ele a sós, como esperava. Daquela maneira, não teria o menor progresso.

Pelo menos o treino conseguia dispersar sua irritação. Descontou suas frustrações em saques e levantamentos precisos, exigindo mais do time e, principalmente, de sua dupla, que também parecia afiado. Acertaram mais rápidos que nunca, e os aces do levantador garantiram a vitória do primeiro set ao seu time, no jogo-treino.

— Maldito Kageyama, está a todo vapor hoje. – Tanaka resmungou quando Daichi recebeu um saque, erguendo-a para ele levantar.

Seus olhos esquadrinharam a quadra, procurando por Hinata. Ele já tinha pulado, esperando pela bola. Sem pensar muito, moveu seus dedos e a ergueu precisamente para o bloqueador central, que, como esperado, lançou a mão em um corte imparável. Comemorou internamente. Em câmera lenta, Hinata caiu, com a camiseta alçando parcialmente. Tobio teve uma visão privilegiada dos músculos contraídos de seu abdômen, a pele alva brilhando de suor. Reprimiu um silvo, virando-se de costas.

Era perigoso quando Hinata começava a perturbá-lo no meio do treino. Sua insatisfação aumentava, e ele começava a se tornar distraído. A imagem fixou-se em sua mente, que o traiu. Começou a praguejar sozinha, ignorando os olhares assustados e confusos de seus colegas, inclusive de um em especial.

Praticou alguns cortes quando o jogo terminou. Estava quieto, pensativo. Tinha que colocou os pensamentos em ordem, e não se deixar levar pelo espírito chamativo de Hinata. Para ajudar, ficariam naquele dia para organizar a quadra. Como se não bastasse a rejeição ter acontecido há menos de três dias, ainda precisariam ficar sozinhos. Perfeito.

O time dispersou, e Shouyou começou sua parte em silêncio. A atmosfera se tornou imediatamente pesada. Kageyama não queria que aquilo tivesse acontecido – tampouco insistiu. Preferiu dar espaço para o garoto; apesar de tudo, era melhor do que brigarem sério. A atmosfera esquentou, com os refrigeradores desligados. Suando, decidiu tirar a camiseta. Não foi propositado, nem nada – só estava com muito calor. Abandonou a roupa, continuando a limpar o chão até o final, para poder tomar uma ducha no vestiário.

A sensação de estar sendo observado o incomodava. Sentia os olhares em suas costas, e quis dizer algo. No fundo, também sentiu-se um tanto lisonjeado. Talvez aquilo provasse algo – talvez ele começasse a perceber que também estava interessado.

Terminaram. Kageyama, ofegante, se arrastou para os chuveiros. Estralou as costas, deixando a água gelada cair sobre seu corpo, clareando a mente. A tarde tinha caído mais rápido do que pensou, e estava cansado. O dia tinha sido, por fim, estressante – e não tinha conseguido avançar –.

Enrolou a toalha na cintura, sacudindo o cabelo e atravessando o corredor para pegar suas roupas. Contudo, parou no meio do caminho. Ninguém menos que Hinata o encarava, os olhos fixos. Usava apenas sua bermuda, o peitoral exposto. Tobio engoliu em seco, acompanhando a linha de visão de Shouyou. Ele também fitava seu corpo, com algumas gotículas escorregando. Se deu conta da situação, sorrindo involuntariamente. Aproximou-se devagar, tomando o controle da situação.

— O que foi, Hinata? – provocou, a voz baixa. O ruivo fez menção de se afastar, mas não saiu do lugar, Continuou encarando-o, a boca entreaberta.

— E-Eu... eu... – gaguejou, sem responder. Kageyama, deliciando-se por dentro, se aproximou mais, ficando há centímetros de distância. Era mais alto, e teve de olhar para baixo, fitando-o intensamente, enquanto ele continuava com o rosto cravado.

— Está gostando do que vê? – pareceu chamar sua atenção, porque ele olhou para cima, ficando da cor de sua raiz.

— N-Não... – tentou negar, acuado, suando. Tobio inclinou-se, fitando os lábios vermelhos. Hinata ergueu os braços, talvez querendo empurrá-lo; no entanto, sustentou as mãos na altura de seus ombros, com as palmas quentes. Onde ele tocou, ficou arrepiado.

Estavam próximos. Bem próximos. Nenhum deles piscava, sustentando a bolha fina de atração. Kageyama apoiou seu braço ao lado de Hinata, prendendo-o. Um movimento, um simples movimento, e suas expectativas estariam supridas. Todavia, não chegou a acontecer. O ruivo pareceu despertar, porque, com um guincho, livrou-se do aperto, correndo para as duchas sem olhar para trás. Kageyama, ligeiramente desapontado, observou-o sumir, com o próprio rosto quente e a respiração descompassada.

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Foi se vestir, pensando no que tinha acontecido. Percebeu, então, que não tinha sido, de todo, ruim. Sorriu um pouco ao compreender que foi Hinata quem se perdeu primeiro. Era óbvio que Kageyama o deixava abalado, e do jeito bom. Jubiloso, toda a irritação de mais cedo, e do fim de semana, dissipou-se. Embora seu corpo se arrepiasse com toda aquela tensão, ele estava exultante, porque Hinata também ficava tenso perto dele. Também sentia-se atraído.

Ora, aquilo era uma coisa boa. Se havia tensão entre eles, então definitivamente existia algo a mais. E aquilo era alguma coisa em que Kageyama podia se apoiar – embora seu desejo fosse pular toda a burocracia e beijá-lo contra os armários, teria paciência para jogar aquele jogo.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.