Carmesim

Capítulo Único


Kimblee olha ao redor. Areia. Corpos. Fumaça. Destruição. O cheiro metálico do sangue, junto à poeira e à pólvora, não o incomoda, na verdade, o embarga com um sentimento agudo de pertencimento. Não parece haver mais ninguém com vida ao redor. Seus longos cabelos soturnos, presos em um rabo de cavalo, balançam com a brisa quente do clima árido enquanto um sorriso sádico desponta em seus lábios secos.

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A água de seu cantil havia acabado ainda perto do almoço, agora já passa das seis da tarde, o sol começa a repousar no horizonte. Sua boca está seca como o próprio deserto, mas duvida que encontre algo para beber por entre os destroços, sua melhor opção é voltar ao acampamento.

Suas botas são engolidas pelo menos um centímetro pela areia a cada passo, tornando sua caminhada ainda mais exaustiva.

Seus olhos afiados permanecem a todo tempo atentos, assim como seus ouvidos, mas não há som algum; nem tiros agudos, nem explosões ecoantes, nem gritos viscerais, apenas o som de seus passos sobre a areia, que começa a esfriar, e sua respiração cansada.

Além do resto de seu corpo, suas mãos ganham um destaque à exaustão. Os círculos em suas palmas tremem, a lua branca e o sol negro estão cansados de se sobrepor trazendo o caos. Range os dentes e franze as sobrancelhas.

Rostos. Rostos. Rostos.

São muitos para lembrar. Ainda consegue ouvir algumas lamúrias e berros ecoando ao pé de sua orelha.

Jovens. Idosos. Homens. Mulheres. Crianças. Bebês.

Não pode se esquecer. Não tem o direito de esquecer. Mas não conseguiria se lembrar de mais.

Hoje foram vinte e um, sem dúvidas. No dia anterior foram quinze, dois dias antes foram vinte e seis, três dias antes foram quarenta, há quatro dias foram trinta e dois...

Antes que conseguisse repassar em mente a face de todos, ouve algo se mover ao seu lado, vê de soslaio uma criança sozinha com olhar assassino e uma faca em mãos. Engole em seco, definitivamente está cansado. Cansado disso.

Quando o pequeno Ishvaliano corre em sua direção, suspira antes de unir as mãos e, com uma, segurar o pulso fino, e com a outra, o rosto jovial. Aperta com força o pulso alheio, que acaba soltando a faca em uma expressão de dor.

Seus olhares se encontram, o carmesim sedento por sangue de uma criança que perdeu tudo, e o turquesa entediado de quem devia estar se divertindo. A raiva parecia intensificar o rubor dos olhos.

Em meio a raios vermelhos, o sanguíneo mancha a pele jovem e o uniforme azul-royal com um som de explosão contido. Não usou o poder da pedra, também vermelha.

Vinte e dois.

Solta o rosto do garoto. Seu corpo pequeno cai desfalecido na areia branca, que aos montes, torna-se avermelhada.

Definitivamente está cansado. Cansado de uma forma que nunca esperou.

O Alquimista Carmesim nunca previu que fosse se cansar da cor que carrega orgulhosamente em seu título. No entanto, encontra-se inteiramente exaurido da vermelhidão impertinente que o cerca.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.