XVII

Cassiopeia hesitou com a pena sobre o diário. Talvez Jorge estivesse muito ocupado com sua família e não tivesse tempo de falar com ela. A menina já estava em casa há duas semanas e a maior parte do tempo passava trancada em seu quarto, especialmente depois do incidente de Runcorn. Seu aniversário, no entanto, estava chegando, e ela não estava muito feliz com a ideia de passá-lo assim. Ela queria estar com Jorge, e aquelas duas semanas haviam lhe dado um tipo estranho de solidão e necessidade de vê-lo.

Lentamente, ela correu a pena no o papel.

"O quê acha de sairmos?"

A garota Malfoy não esperava que a resposta chegasse em pelo menos uma hora, mas, para sua surpresa, a letra de Jorge apareceu logo abaixo de suas palavras, não menos de um minuto depois.

“Depois de manhã?”

Um sorriso surgiu em seu rosto e ela se sentiu relaxar enquanto o questionava sobre a localização.

“Me encontre em Godric's Hollow às 11.”

Nem Lúcio nem Narcisa fizeram qualquer pergunta quando Cassiopeia anunciou que sairia e só voltaria à noite ou olhou duas vezes para ela. Ainda assim, a menina foi cuidadosa ao andar pela rua em que Jorge lhe dissera para encontrá-lo, temendo que alguém a visse e corresse até os Malfoy para lhes contar o que ela estava fazendo.

— Cas! — A garota de olhos cinza ouviu, virando-se para encontrar Jorge e relaxou apenas quando ele passou os braços ao redor de seu corpo magro em um abraço apertado.

— Jorge. — Ela sussurrou, derretendo em seu abraço. Merlin, ele sempre havia cheirado tão bem assim?

Ela sentia falta dele. Ela sentia falta de falar com ele e ter a liberdade que sentia quando o cercava. Ele era a única pessoa com quem ela poderia ser completamente honesta e falar o que pensava sem medo de ser repreendida ou a necessidade de ser o exemplo perfeito para qualquer um seguir. Com Jorge, Cassiopeia poderia ser apenas ela mesma.

— Eu senti sua falta. — Ele a apertou.

Nenhum deles realmente queria se soltar, mas se separaram eventualmente.

— Desculpe por não entrar em contato com você. Com sua família e outras coisas, achei que você estaria ocupado demais.

Ele ergueu as sobrancelhas para ela, surpreso.

— Ocupado? Eu nunca estou ocupado para você! — Ele afirmou, quase a interrompendo. — Eu pensei que você não queria falar comigo ou seus pais estavam em cima de você.

Cassiopeia baixou os olhos, respirou fundo e ele rapidamente levantou a voz.

— Não vamos falar sobre os seus pais. — Ele decidiu. — Okay.

Ela acenou para ele lentamente, dando-lhe um sorriso triste.

— Vamos só… — Ela lambeu os lábios, e os olhos dele se moveram para ele por um momento. — Fazer o que você planejou?

O rosto de Jorge se iluminou rapidamente e ele se abaixou para pegar algo do seu lado, levantando uma pequena cesta.

— Estamos fazendo um piquenique! — Ele abriu um grande sorriso. — E adivinha?

Cassiopeia ergueu as sobrancelhas para ele.

— Sim?

— Eu ajudei a fazer algo nessa cesta.

Ela olhou para ele surpresa e abriu um sorriso.

— Eu estou curiosa agora. — A garota decidiu. — E faminta. Devemos?

Ele confirmou, ainda sorrindo, e ofereceu-lhe um braço, mas a garota hesitou.

— Tem certeza de que este lugar é seguro? — Cassiopeia sussurrou.

O rosto de George se suavizou.

— As únicas pessoas que conhecemos que moram aqui são a família Abbott e e eles estão viajando de férias.

Ele provavelmente notou a confusão nos olhos dela — ela não conseguia se lembrar de alguém chamado Abbott — e mudou o peso em seus pés.

— Hannah Abbott? Lufa-lufa? — Ele listou. — Ela é o ano do seu irmão.

Cassiopeia apenas chacoalhou a cabeça.

— Não me trás ninguém à mente

— Você presta atenção nas pessoas ao seu redor? — Ele questionou com uma expressão séria.

Ela apenas deu de ombros.

— Só se eu precisar. Ela não é relevante.

Jorge a olhou nos olhos por um momento, mas depois desviou o olhar.

— Ok. — Ele decidiu lentamente. — Sem julgamentos. Piquenique?

Cassiopeia finalmente confirmou e ele ofereceu seu braço novamente, que ela aceitou.

Os dois tinham um certo de código de amizade. Cassiopeia e Jorge eram duas pessoas diferentes - muito diferentes -, suas casas eram apenas o começo. Ele geralmente mostrava seus sentimentos claramente, era impulsivo e muito inventivo, enquanto ela era muito mais racional e cuidadosa, às vezes até emocionalmente distante para ver tudo através das lentes corretas, e enquanto ele sempre colocava outras pessoas à sua frente, Cassiopeia nunca arriscaria sua cabeça por ninguém, a menos que fossem realmente pessoas importantes, como Draco e seus pais. Então ela veio com algumas regras para facilitar as coisas entre os dois, e o primeiro foi o mais importante: eles não podiam julgar um ao outro, não importa quão diferente algo que qualquer um deles disse ao outro ou como uma característica parecia estranha.

Cassiopeia não disse nada quando ele a guiou até o cemitério e espalhou o lençol para que os dois pudessem sentar-se confortavelmente, e apenas observava enquanto ele organizava tudo o que ele trouxera para o dia.

— E qual prato você fez?

Ele prontamente ofereceu-lhe a cesta, apontando para dentro dela, o que só piorou sua confusão.

— Não há nada aqui, Jorge. — Ela olhou para ele. — Apenas um monte de guardanapos.

Ele apenas deu um aceno de cabeça e um sorriso orgulhoso.

— Sabe os guardanapos? — Ele apontou para dentro. — Eu que dobrei.

Ela apenas olhou para ele por um momento antes de finalmente responder.

— Jorge! — A garota exclamou, balançando a cabeça e rindo. — Quem cozinhou toda essa comida, então?

— Minha mãe, é claro! — Ele pegou um dos guardanapos que estava tão orgulhoso de ter dobrado. — Ela disse oi.

Isso a fez congelar e se virar para olhá-lo.

— Você contou a ela sobre…? — A loira conseguiu perguntar.

— A maioria das coisas. — Afirmou, virando o corpo completamente para ela. — Do Aleksandar até o diário. Sabe, você não imagina o quanto ela ficou feliz por você ter ajudado a mim e ao Fred com o dever de casa e os testes da escola, porque agora todos os professores estão falando sobre nós como se tivéssemos ficado muito mais inteligentes da noite para o dia. Ela está meio orgulhosa.

Ela observou o rosto dele por um momento. Ele realmente parecia bastante chateado.

— Você não é burro. — Cas finalmente afirmou. — Nem o Fred. Você é uma das pessoas mais inteligentes que conheço.

Ele apenas deu um pequeno sorriso.

— É sério! — Ela insistiu. — Vocês dois criam coisas incríveis!

Ele corou até as orelhas, desviando o olhar.

— Você só está dizendo isso porque você é nossa fã número um.

— Exatamente.

Jorge finalmente olhou diretamente para ela.

— Ela disse que você deveria aparecer no seu aniversário e passar uns dias com a gente.— Ele ofereceu. — Se você não tiver planos com sua família, claro.

Desta vez, Cassiopeia não ficou apenas surpresa, mas completamente chocada.

— Você está falando sério?! — Ela questionou.

Ele encolheu os ombros.

— Claro que sim! É seu aniversário e você disse que sua casa estava meio estranha ultimamente. Você merece uma pausa.

Finalmente, seus olhos adquiriram um olhar suave e ela deu-lhe um pequeno sorriso.

— Muito obrigado, Jorge. — Cassiopeia estendeu a mão para cobrir a dele. — Vou pensar sobre o assunto.