Evolve

Track two: i don't know why


Eles poderiam ser estranhos na noite, a não ser pelo fato de que não eram. Por algum motivo que Bakugou não compreendia, ele conseguia identificar até mesmo os passos silenciosos de Ochako vagando pelos corredores do dormitório.

Bakugou remexeu-se na cama, colocando-se de bruços, afundando o rosto contra o travesseiro.

Ele não achava que era um espécie de sonambolismo, até porque aquilo nunca tinha acontecido. Embora Katsuki não tivesse comprovado visualmente, ele confirmou, pois, Uraraka tropeçou numa das plantas do corredor, e seu gemido de dor era inconfundível. Se ele não tomasse cuidado, aquilo poderia se tornar um segredo que apenas ele conheceria.

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Mas Bakugou não gostava de guardar os segredos de uma garota.

Então ele simplesmente levantou-se e abriu a porta num rompante.

— Uraraka, que merd-...

Duas coisas aconteceram naquele momento: a primeira, foi Bakugou se ver claramente constrangido e sem palavras pelo fato de aparentemente Ochako não estar trajando nada além de uma camiseta que cobria pouco mais que suas coxas; a segunda, foi Uraraka se assustar com tamanha delicadeza da parte dele, resultando num esbarrão violento com o mesmo vaso que a denunciou, e vê-lo despedaçar-se audivelmente pelo chão.

Uma troca de olhares se originou com sentimentos diversos, que acabaram tornando-se apenas um ao ouvirem a movimentação nos demais quartos. Uraraka entrou em pânico, e começou a tomar o pior dos caminhos, adentrando ainda mais no dormitório masculino. Bakugou grunhiu ao alcançá-la, segurando-a pelo pulso.

— Ei, pra onde você pensa que vai?!

— E-Eu não posso ser vista aqui!

— Vem. — Exigiu ele, puxando-a na direção contrária.

Uraraka resistiu, encarando-o.

— Pra onde…?

Bakugou não estava com paciência para explicações, então, simplesmente a jogou sobre os ombros e a carregou para o próprio quarto. Sua porta se fechou no exato momento em que as demais se abriram.

Ele suspirou.

— B-Bakugou-kun…

— Shiu!

Uraraka mordeu o lábio inferior.

— É só que… hmm… você pode me colocar no chão agora.

Katsuki piscou um par de vezes antes de quase mecanicamente devolvê-la ao chão. Seu rosto estava levemente avermelhado, mas não tanto quanto as bochechas de Uraraka, que parecia poder entrar em ponto de ebulição a qualquer momento. Ela o agradeceu com meias palavras antes de recostar o ouvido contra a porta. Bakugou a imitou, apenas porque precisava de algo com que se ocupar. Como esperado, os alunos invadiram os corredores.

Um minuto depois, Bakugou se viu encarando o topo da cabeça dela, e perguntando com seu tom rouco irritadiço:

— Que droga você estava fazendo aqui, Uraraka?

— Eu estava só de passagem.

— De passagem no dormitório masculino, ?

— E-Eu, eu não…

Bakugou apenas cruzou os braços, os músculos de seu tronco e bíceps tensionando-se naturalmente ao deixar bastante claro que não estava comprando a história de Uraraka.

De repente um sorriso astuto se abriu no rosto dele.

— Oh, não me diga que você veio aqui se encontrar com alguém.

— NÃO!

Bakugou arregalou os olhos diante da repentina explosão dela.

— Como pode pensar algo assim de mim, Bakugou-kun! Eu apenas peguei o elevador errado e…

— Ei, Uraraka… fala baixo, droga… ei…

Uraraka estava imersa em justificativas, sem se dar ao trabalho de controlar seu tom de voz ou dar atenção às tentativas de interrupções de Katsuki. Bakugou encarava a ela e à porta, tendo certeza de que logo seriam pegos. Não que estivesse fazendo algo errado, mas, ela estava praticamente semi-nua na droga do quarto dele, e ele nem ao menos estava usando uma bendita camiseta.

Bakugou passou os dedos pelo cabelo, antes de tomá-la por ambos os ombros, recostando-a com menos delicadeza do que pretendia contra a porta. Uma das mãos logo tapou a boca dela. Ele baixou a voz o suficiente para que apenas os dois ouvissem, sussurrando próximo ao ouvido de Uravity.

— Ei, eu acredito em você, tá bom? Não precisa perder a cabeça por isso. Mas agora eu preciso que você feche a maldita boca antes que um desses idiotas venha até aqui e…

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Toc, toc, toc.

Merda — ele grunhiu.

Bakugou abaixou a cabeça até tocar a testa contra o ombro de Ochako. Ela sentiu o pescoço se aquecer, mas não se moveu um centímetro se quer.

— Pense, pense, pense… — Bakugou continuava repetindo a meia voz para si mesmo. Ele havia saído de situações bem piores antes, com vilões, poderia lidar com aquilo facilmente, só precisava pensar.

A consciência de Ochako pesou ao ver que acabara envolvendo Bakugou numa situação que nada tinha a ver com ele. Ela olhou ao redor, e a ideia lhe pareceu perfeitamente aceitável. Seus dedos se esticaram até alcançar o interruptor, desligando as luzes.

As costas de Bakugou se tensionaram.

— O que você…?

— Bakugou? — A voz de Kirishima veio do outro lado.

Uraraka pousou as mãos nos antebraços de Bakugou, afastando-o o suficiente para encará-lo, mesmo no escuro ela ainda tinha ciência da silhueta dele, e de quão próximo Bakugou se mantinha dela.

— Pela lógica você estaria dormindo agora, certo? Talvez se ele ver as luzes apagadas…

— Ei, Bakugou?!

Mais batidas se seguiram.

Tsc! Maldito Kirishima e sua insistência.

— Tudo bem, só teremos problema se ele entrar. Você trancou a porta, certo?

Bakugou ficou quieto por um momento.

— Certo?! — reforçou ela, ansiosa.

— Eu achei que você tivesse trancado.

— Eu estava nos seu ombro! Como eu poderia…?!

Uma nova crise ameaçou surgir. Ele podia sentir as mudanças na aura de Uraraka, e aquilo não era nada bom. Não havia onde escondê-la, seu guarda-roupa era pequeno demais, mantê-la atrás da porta seria arriscado, o único lugar era… era… maldição.

Sem uma palavra ele a puxou em direção a cama.

Ela entendeu a intenção dele no exato momento.

Não.

Uraraka parou ao lado do móvel.

— Eu não vou… não posso deitar aqui… é a sua cama.

— Você realmente acha que a quero aí?

Talvez ele a quisesse.

Não houve tempo para mais discussão, pois no minuto que se seguiu Kirishima girou a maçaneta e entrou. Bakugou só teve tempo de empurrar Uraraka e se juntar a ela sob o edredom. Eles mal tinham acabado de se ajeitar quando Kirishima acendeu a luz. Bakugou grunhiu por todos os motivos possíveis: por Kirishima não respeitar sua privacidade; por toda aquela confusão dispensável; pelo cheiro do cabelo de Uraraka empreguinando seus lençóis; por cada curva de Ochako tão firmemente atadas ao corpo dele, pelos braços de Bakugou ao redor dela.

Ele inspirou e expirou com dificuldade.

— Bakugou?

— O que é, merda?!

Bakugou não ergueu mais do que alguns centímetros da cabeça. Uraraka se apertou ainda mais contra ele.

Droga.

— Você não me ouviu batendo?

— Ouvi, mas achei que se te ignorasse por tempo suficiente você desistiria e me deixaria em paz.

Kirishima riu de seu jeito costumeiro, não levando nenhum dos insultos de Bakugou a sério.

— Foi mal, é que parecia ter alguém no corredor, só queria checar se estava tudo bem.

— E você realmente acha que eu seria tão estúpido a ponto de não perceber se alguém entrasse no meu quarto?!

Uma nova risada despreocupada de Kirishima preencheu o quarto. Ele coçou a nuca levemente constrangido.

— É, isso faz sentido. Desculpa te acordar.

— Tá, tanto faz.

Kirishima fechou a porta, e só então Bakugou se permitiu relaxar, ou assim teria sido, caso não estivesse tão consciente da presença de Uraraka.

A respiração dela, calma e morna, fazia cócegas contra seu peito despido. O calor da pele dela se juntava ao dele, tornando-os uma massa confusa de coisas que ele não sabia bem definir. Aquilo era perigoso. Uraraka era um perigo para ele. Bakugou era um perigo para ela.

Uraraka se mexeu sob o edredom. Suas pernas roçaram nas dele, as mão dela subiram por seu abdômen. Ele engoliu em seco, trincando os dentes. Ao menos agora ele sabia que ela usava shorts.

Para completar, ela murmurou próximo demais do pescoço dele:

— Ele já foi?

.

Uraraka descobriu-os no exato momento. Ela sentou ao lado dele rapidamente. Seu cabelo numa bagunça típica de quem havia acabado de acordar, seu rosto corado devido ao calor, e — se ela tivesse algum bom senso — a proximidade com Bakugou. Uraraka mantinha as mãos junto ao peito, seu coração estava acelerado devido a situação — era por isso, não era?

Bakugou se concentrou em encarar o teto; qualquer coisa, que não, aquela imagem de Uraraka, tão próxima dele, na cama com ele.

Eles se mantiveram em silêncio por um bom tempo, antes que Uraraka se colocasse a falar descontroladamente, agradecendo-o, desculpando-se, jurando que aquilo não se repetiria novamente.

Katsuki teve a decência de prestar atenção nela na maior parte do tempo, até que inesperadamente sua mão ganhou vida própria e ajeitou o cabelo de Uraraka.

Ochako calou-se no exato momento, fitando-o. Ela nunca reparara em quão intenso o vermelho dos olhos dele eram. Ele devolveu o olhar da forma considerada mais serena possível para Bakugou Katsuki, o que durou segundos, já que a ficha pareceu cair para Bakugou, e o ar ao seu redor praticamente estalou.

— É melhor você ir para o seu quarto, Uraraka.

Ela assentiu nervosamente.

Lentamente Ochako desceu da cama, tomando cuidado extra para não voltar a tocá-lo. Ambos perceberam isso, trocando um segundo olhar, igualmente gratos. Já na porta, ela parou por um minuto, sorrindo para ele, porque apesar do constrangimento, Uraraka era uma garota educada.

— Obrigada por me ajudar, Bakugou-kun.

Bakugou apenas se manteve a encarar a porta, deixando-se cair pesadamente no colchão. Ele não gostava da forma como Uraraka o afetava, como se o tornasse mais leve mesmo sem o uso de sua individualidade.

Talvez fosse um sinal de que ele apenas precisava explodir alguma coisa. Certo?

Ele esperava que sim, pois, Bakugou era autoconfiante demais para aceitar o fato de que Ochako, em sua ingenuidade, jamais deveria confiar nele, porque ele não confiava em si mesmo em torno de Uraraka.

Especialmente quando sozinhos.