Olhar Preto e Branco
A lácrima
Aquela sala não fazia o menor sentido. Samantha tentou tirar a lácrima de várias formas: batendo no vidro, puxando, chutando, jogando magia, teletransportando... Porém, a cada tentativa, o vidro mudava de lugar, como se estivesse fugindo.
Não conseguia encostar naquela lácrima e já sabia disso, mas se negava a entregar a vitória assim para Lérico. Sabia do que ele era capaz e isso a assustava, logo o homem pretendia expandir seu alcance, para controlar novas cidades.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Olhando ao redor, a morena viu algo que poderia ajudá-la. Um pouco afastado do vidro, estava um martelo do tamanho de um polegar, brilhando fracamente. Pegou-o na mão, não acreditando que algo tão pequeno pudesse ajudá-la, mas sem perder as esperanças.
O martelo brilhou mais forte, conforme ela se aproximava do vidro e, bastou a encostar no mesmo, que ele se despedaçou, deixando a lácrima exposta.
— Então era assim tão fácil?
— Sim, fácil como pegar alguém em uma armadilha — Lérico entrou na sala, despreocupado. — Eu pensei que quisesse me impedir de concretizar meus planos, não roubar minha lácrima.
— A lácrima é a fonte dessa sua palhaçada, não vou deixar que ela fique nas suas mãos.
— Quem disse que preciso dessa coisa para alcançar meu objetivo final?
— O que quer dizer com isso? Você não... ?
— Absorvi todo o poder que tinha aí. Essa lácrima não tem mais utilidade.
— Mentiroso.
— Continue duvidando, uma hora a verdade vai bater na sua porta. Enquanto isso, você ficará quietinha na prisão, cansei desse joguinho.
— Não vou deixar!
— Vai me impedir como? Com seus túneis subterrâneos ou com sua magia de ilusão?
— Como você... ?
— Eu sei de várias coisas, minha querida. Espero que seu amiguinho saiba lutar, diferente de você.
— Engraçado, sabe tanto, mas nem se tocou que passei esses anos escondida não para você não me achar, mas sim para aprender magias novas — riu.
— Impossível — olhou-a com raiva.
— Minhas amiguinhas não acham impossível — apontou para os pés do homem.
Lérico sentiu algo encostando em sua perna e olhou para baixo, arregalando os olhos. Ao seu redor, várias cobras se rastejavam, algumas tentando subir em sua perna.
— Virou encantadora de cobras? — tentou não demonstrar seu receio.
— Não, apenas aprendi a me comunicar com alguns animais meio... perigosos.
— Essas minhocas crescidas?
— Você chamou elas de... minhocas? Cansei. Ataquem-no!
O homem nem sequer teve chance de fugir. As cobras enrolaram-se em suas pernas e braços, impedindo que pudesse se mexer corretamente. Manteve-se imóvel, temendo que alguma o picasse.
— Medo de cobra, Lérico?
— Eu nunca tive medo dessas coisinhas — mentiu. — Elas apenas são pesadas, mas nada que eu não possa suportar.
— Ótimo, então fique com elas, enquanto eu levo isso aqui comigo.
— Pode levar, não me importo.
— Ok. Meninas, não deixem ele escapar — mandou, saindo do lugar.
Samantha desconfiou do ocorrido, tinha sido muito fácil para ser verdade por isso, tomaria o máximo cuidado com seu próximo passo. Saiu daquele lugar e desviou o caminho, não entraria no esconderijo. Se Lérico quisesse segui-la, teria que fazer outro percurso.
Rodeou a árvore e seguiu em frente. Iria para a próxima entrada.
—— // ——
Gray andava pelos corredores, pensando no que poderia fazer a loira voltar ao normal. Sabia que não poderia deixar ela presa para sempre, mas também não poderia solta-la. Naquele estado, Lucy era imprevisível.
Não muito longe de onde estava, o moreno viu uma placa em uma porta. As palavras estavam apagadas, impedindo que ele pudesse ler, o que só atiçou ainda mais sua curiosidade. Entrou devagar, acendendo a luz logo em seguida.
O lugar parecia um laboratório, com várias garrafas de vidro, cheias com líquidos coloridos, um mais chamativo que o outro.
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Vasculhando alguns armários, Gray viu que a grande maioria não possuía rótulo, dificultando sua busca.
Um pouco mais para o fundo, um vidro dourado chamou sua atenção, pois era o único diferente dentre as demais garrafas transparentes, além de ser o único em um armário trancado. O rótulo dizia “Anulador mágico”.
Com toda certeza, o mago de gelo não perderia tempo procurando a chave daquela armário, então apenas pegou um pedaço de madeira que encontrou largado no canto da sala, quebrou o vidro e pegou a garrafa. Se aquilo não funcionasse com a loira, teria que esperar Samantha voltar para ajudá-lo.
Torcendo para que funcionasse, Gray fez o caminho de volta para onde Lucy estava. A maga não tentou se mexer, sua cabeças preenchida de pensamentos não permitiu que sequer percebesse a volta do mago.
— Lucy?
— Hã?
— Encontrei isso, acho que vai resolver o seu problema.
— Acha? Então não tem certeza...
— É um Anulador Mágico.
— Como posso ter certeza que você não está apenas tentando me matar?
— Você vai ter que confiar em mim, ou pode ficar presa aí até Samantha voltar — deu de ombros, sabendo que a loira estava cedendo.
— Ok. Vou esperar essa tal Samantha — virou o rosto, fazendo birra.
— Tudo bem — sorriu, abrindo a porta para sair.
— Espera! Eu vou beber esse negócio, não tenho nada a perder...
— Tudo bem — fingiu não se importar, mas estava comemorando por dentro. — Vou sumir com o gelo, não tente nada de estranho.
— Como se eu tivesse interesse em algo além de sair daqui — revirou os olhos.
Assim que Gray a libertou, Lucy pegou a garrafinha com pressa e bebeu todo o conteúdo.
A cabeça girou, o corpo ficou mole e a sensação de que algo a puxava para baixo, tomou conta de si.
— Lucy? — Gray segurou-a, preocupado.
— Eu estou bem — sussurrou com dificuldade. — Já pode me soltar.
— Não acho uma boa ideia...
— Eu não ligo, só me solta — tentou demonstrar raiva, mas estava fraca demais para isso.
— Teimosa — sorriu minimamente, segurando a loira nos braços.
Sem que ela resistisse, o moreno a levou para um quarto, ao lado de onde estavam. Apenas uma cama preenchia pequeno espaço do cômodo. Lucy não reclamou, apenas aconchegou-se nas cobertas e deixou o sono dominar.
Por mais que estivesse preocupado, Gray estava confiante quanto a ação daquela bebida, algo o dizia que logo faria efeito e a loira voltaria a ser aquela pessoa carinhosa e compreensiva.
O tempo passou lentamente, ele sabia que Samantha podia se virar, por isso decidiu por ficar ali. Sentou-se na cama e esperou por qualquer sinal de reação.
— Gray, você está aí? — Samantha o chamou do corredor.
— Estou aqui — saiu do quarto, revelando sua posição.
— Onde está sua amiga?
— Dormindo — apontou para a cama.
— Ótimo, tem uma bebida chamada “Anulador Mágico”, vai trazê-la de volta.
— Ela já bebeu...
— Deu a bebida para ela? — perguntou surpresa.
— Sim...
— Perfeito. Seja lá o que Lérico fez, logo será desfeito — sorriu animada. — Olha para isso — mostrou a lácrima.
— O que é isso? — perguntou curioso, nem sequer tinha reparado que a morena trazia algo.
— Essa lácrima é a fonte do poder do Lérico — sorriu, vitoriosa. — Ela é a responsável por todas as mudanças e magias que ele faz.
— E onde ele está?
— Preso pelas minhas cobras — deu de ombros.
— Cobras? — olhou-a surpreso.
— Sim. Agora, precisamos descobrir como mexer nisso aqui...
— Como ele mexia?
— Com um painel de controle... Segura isso, vou buscar algo para nos ajudar.
— Ok...
Samantha afastou-se pelo corredor, olhando ao redor com pressa. Em uma daquelas salas ela sabia que tinha um painel, não tão grande e funcional quanto o de Lérico, mas daria para fazer algumas coisas mais simples. O problema era lembrar onde o guardou.
Como gostava de organização, um dos corredores servia justamente para guardar equipamentos mágicos. Não era tão grande e possuía apenas três salas. Lembrando-se dessa fato, a mulher virou à direita, exatamente onde estava o tal corredor.
As duas primeiras salas estavam trancadas e sua paciência pra buscar a chave, era inexistente naquele momento. Apostou todas suas fichas na última.
A porta era diferente das demais do esconderijo. A cor branca chamava a atenção. Naquela sala, Samantha guardou tudo o que conseguiu coletar de informações sobre os planos de Lérico. Anotações, lácrimas de comunicação e, muito provavelmente, o painel que tanto precisava.
Entrou e acendeu a luz. Tudo estava muito bem organizado, até se impressionou. Fazia anos que não entrava ali. Andou pelas diversas mesas empoeiradas, algumas cobertas com panos. Todo seu trabalho pata impedir o homem de avançar, estava ali, escondido.
Em uma dessas mesas, o painel “escondia-se” debaixo de um monte de poeira. Mal podia ser visto devido à sujeira. Pegou-o nos braços e sorriu.
— Finalmente, você poderá fazer o seu trabalho — disse para o painel, como se ele fosse escutá-la.
— Então é aqui que estão minhas coisas... Interessante — disse uma voz, na entrada da sala.
— Lérico... Como escapou das cobras? — perguntou receosa, abraçando o painel com mais força.
— Elas ficaram facilmente interessadas nos ratos que passavam pelo lugar, nem perceberam a minha saída — explicou rapidamente. — Sempre tive preguiça de vir até aqui, agora percebo meu erro — pegou algumas folhas, vendo todas as suas anotações sumidas. — É, parece que não errei tanto em não vir... Minha letra era horrível.
— Essas anotações são de semana passada...
— São? Eu não me importo — jogou as folhas para cima. — Então... O que pretende fazer com esse painel?
— O que eu já deveria ter feito há muito tempo.
— Parar de me irritar? Parar de me perseguir? Deixar eu realizar meus planos em paz?
— Nunca.
— Parece que não tenho outra escolha — murmurou.
Lérico sorriu maldoso, antes de uma fumaça branca se espalhar pela sala inteira, impedindo que ele fosse visto. Cansado de ser atrapalhado, o homem decidiu parar de enrolar, deixou toda sua magia envolver se corpo, revelando sua forma original.
Antes que Samantha pudesse assimilar o que estava acontecendo, correntes surgiram do chão, envolvendo sei corpo e prendendo-a no lugar. Não conseguia mais se mexer.
— Você não é muito esperto, né? Conseguiu me prender, mas não pegou o painel.
— Não preciso dele, tenho um muito maior e... Ai! O que raios é isso? — olhou para baixo, vendo um escorpião no seu pé. — Agora as coisas ficaram mais interessantes, mas isso é meio inútil, enquanto eu estiver nessa forma, nada pode me atingir — riu com gosto.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!— Droga...
— Bom, com você fora do meu caminho, aquele pirralho não vai saber como proceder. Vai ser como tirar doce de um pote de sal.
— Você é idiota?
— Eu? Sou apenas esperto. Coloco doce em pote de sal para enganar as formigas, mas essa não é a questão. Prepare-se, pois você presenciará a minha vitória de camarote — sorriu, aproximando-se.
— Você é maluco — sussurrou.
— Talvez — tocou a cabeça da mulher, começando a falas algumas palavras.
Poucos segundos depois, ambos foram teletransportados, deixando a sala em completo silêncio.
—— // ——
Gray olhava para fora, na esperança que Samantha voltasse, mas o tempo foi passando e ele não viu nenhum sinal da mulher. Algo o dizia que ele poderia passar o dia ali, ela não voltaria.
Decidido a resolver logo todos os problemas, o mago passou a observar a lácrima em seus braços. Ela parecia inofensiva, talvez fosse uma armadilha, uma em que ele pretendia se arriscar para descobrir no que daria.
Tentou congelar a lácrima, virou de cabeça para baixo, balançou e até derrubou no chão: nada. Não importava o quanto tentava, ela simplesmente não fazia nada.
— Preciso ir até Samantha, ela sabe o que fazer.
— Gray?
— Lucy! — sorriu, aproximando-se da loira.
Lucy abriu os olhos devagar, sentia-se extremamente cansada, como se tivesse carregado peso o dia inteiro.
— Onde estamos?
— Em um esconderijo, em Luzmia.
— Luzmia... Eu me lembro, um senhor pediu minha ajuda com uns canos. Quando eu passei por um portal estranho, para voltar para casa, tudo ficou escuro...
— Então foi assim que ele te sequestrou...
— Sequestro? — perguntou surpresa, tentando se levantar.
— Fique deitada, o Anulador Mágico ainda deve estar fazendo efeito.
— Ele usou magia em mim?
— Sim.
— Eu fiz algo que não deveria?
— Nada com que precise se preocupar — respondeu, compreensivo. — Agora descanse, vou atrás da mulher que está nos ajudando.
— Certo... Gray? — chamou.
— O quê?
— Eu me lembro do que eu fiz, quando estava sob o controle de Lérico.
— Você se lembra? — perguntou, envergonhado.
— Sim — segurou a mão do moreno, sorrindo. — Volte em segurança, por favor.
— Voltarei, eu prometo — sorriu, aproximando-se para beijar a testa da loira, mas Lucy levantou a cabeça bem na hora, acabando por receber um selinho.
Gray arregalou os olhos, mas logo riu, quando viu a loira o olhar sorridente, com as bochechas coradas.
Custou muito deixá-la sozinha, mas não tinha escolha. Ela precisava se recuperar e ele, procurar Samantha para que ela dissesse o que deveriam fazer com aquela lácrima.
Saiu do quarto cabisbaixo, mesmo assim sorriu para a loira, como uma promessa muda de que voltaria, independente do quão difícil fosse.
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