Depois da Lua Cheia

Sempre a mesma conclusão


No começo, toda vez, ele sentia medo. Medo de encontrar, justamente nos olhos dela, a rejeição que já encontrara em tantos outros olhares. Porque ali naquele momento, ela o vê sem filtros em seu estado mais deplorável. E pode ser que, desta vez, ela apenas se canse, percebendo que se apaixonou por alguém despedaçado. E apenas vá embora, mesmo que cada um daqueles pedaços a ame profundamente.

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Mas ela nunca faz isso. Toda vez, ela o abraça. Nem diz nada, simplesmente o abraça forte e lhe acaricia os cabelos. Enterra os dedos nos fios perto da nuca e afunda o rosto na curva do pescoço dele, respirando fundo.

Ficam assim por alguns segundos, talvez minutos, mas ele nunca sabe dizer exatamente por quantos. É que, nesses momentos, o universo inteiro parece parar.

Quando se afastam, ela pergunta se ele está machucado, enquanto o escrutina com os olhos escuros, atentos ao procurar por alguma ferida.

Mesmo quando ele diz que não está, ela continua a inspecioná-lo por algum tempo, porque o conhece muito bem e sabe que ele poderia esconder para evitar deixá-la preocupada. Até porque, ele realmente já fez isso algumas vezes.

Só que acabou desistindo com o tempo, porque ela sempre descobria.

“Idiota.”, ela murmurava, embora não houvesse um pingo de raiva em seu tom; “Já disse que não me importo. Vou sempre cuidar de você.”

E sempre cuidava mesmo.

Ainda cuida a cada vez que ele confessa que não está bem, do jeito terno e paciente que ele cuida dela quando ela também não está (embora os motivos sejam completamente diferentes).

Não importa o que aconteça, ela nunca o trata como um monstro. Ela não se afasta como as pessoas costumam se afastar. De um monstro. Não o olha como as pessoas costumam olhar. Para um monstro.

Talvez seja, em parte, porque ela nunca foi igual às outras. Ela não tem nojo do sangue, nem medo do perigo ou de julgamentos.

Mas também é porque ela o ama.

Ela o ama e ele pode sentir aquele amor durante aquele abraço, remendando cada pedaço quebrado dentro dele. Na preocupação que ele acaba encontrando nos olhos dela, ao invés da repulsa que esperava. No modo ao mesmo tempo delicado e seguro que ela tem de tocá-lo, no sorriso satisfeito com que ela o presenteia quando ele a puxa antes de deixá-la se afastar e a beija na testa. E em muitos outros gestos ou trejeitos ao longo de todas as manhãs seguintes à transformação. Aliás, em todas as manhãs normais também.

Ela o ama e, sempre, naqueles dias, Remus chega a essa mesma conclusão. E um dia, percebeu que já tinha chegado tantas vezes, que parou de se preocupar.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.