Narrado por Raven.

Mamãe tinha lágrimas molhando o rosto pálido, algumas marcas avermelhadas aqui e ali em seu rosto, roxos por algumas partes do corpo e um trauma a atormentando dia e noite. Papai estava com o rosto molhado também, mas não eram gotas de água salgada que pendiam em suas bochechas, tinha medo de descobrir se aquilo era sangue ou apenas molho de tomate, mas duvido que fosse algo tão delicioso assim. Eu tinha cinco anos quando tudo começou, um dia depois do trabalho ele voltou alterado e bêbado, segundo o que mamãe me contara, eu não lembro de quase nada, apenas alguns fragmentos, que me dão insônia de tempos em tempos.

– Você é uma vadia nojenta! – ele gritava, ainda com uma garrafa de cerveja na mão.
– Pare querido, por favor – implorava mamãe.
Ele utilizou de sua mão livre para lançar um tapa certeiro no rosto da esposa, ela tombou para o lado com o impacto e se apoiou na mesa.

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– Vai para o quarto, amor! – gritou ela para mim.
Eu sai correndo, com medo, meu ursinho de pelúcia quase me fez tropeçar, arrastando as patinhas fofas e peludas pelo chão, eu me escondi debaixo da cama e fiquei a escutar os sons de tapas e gritos, eu fiquei preocupada com a mamãe, será que ele ia matar ela?

Finalmente, após longos seis anos, sofrendo das mãos daquele homem, ela pediu o divórcio, com minha ajuda, uma garota tendo pesadelos aos onze anos do pai assassinando a mãe, e de sua mãe, que temia pela morte da filha e o que aconteceria comigo após tudo isso. Foi complicado, ela chorava, não entendo até hoje se era de alegria por sair daquele sofrimento eterno ou se estava magoada e se culpando de alguma forma, mas, era culpa dela o marido chegar bêbado em casa? Era culpa dela ele ser um homem nojento que se achava no direito de machucá-la? Era culpa dela ter de criar a filha naquele caos completo?
E mesmo tendo passado cinco anos desde a separação, ainda era culpa dela receber cartas com ameaças de morte ou sair de casa com medo de nunca mais voltar a ver sua filha? Não era culpa dela e eu queria que um dia ela entendesse isso.
Agora, estamos tendo de nos mudar, sair desse meio que nos machucou por anos, recomeçar, criar uma vida nossa em um lugar bem distante daqui, talvez perto de onde Isabel mora agora, ela sempre me apoiou e me ligava enquanto meus pais brigavam, para me fazer companhia e eu não me sentir tão sozinha assim, ela era como um anjo, alguém que estava sempre por perto, me protegendo.
Mamãe está colocando nossas bagagens no lugar indicado dentro do avião, estou ouvindo música e com um livro em mãos, aberto em uma página qualquer, estou a observar a paisagem lá fora. Não demora muito para o avião levantar voo, eu não ia sentir saudade desse lugar.
Adeus Alemanha.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.