Aprendendo a Recomeçar

Eu não sinto ciúmes!


“É fato que acabou, mas eu não te esqueci,

É fato que esqueceu, mas ainda mora aqui

E parece que não vai sair tão fácil

Desse coração palhaço”

É fato — Cristiano Araújo.

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Eu e o pessoal acabamos por nos sentar em uma das mesas mais afastadas, eles com suas cervejas e eu e Alice com latas de refrigerante, afinal nem só de pinga vive o homem e por fim decido que não precisava mesmo de outra noite louca como a que me trouxe aqui, dar vexame outra vez não vai fazer papai confiar mais em mim.

Mesmo que eu tenha dito a mim mesma que vou ficar longe de Theo, sempre que percebo estou o olhando, buscando por mudanças e tentando gravar seu rosto em minhas memórias, o que é irônico de se pensar já que nunca, de fato, o esqueci. O silencio na mesa é constrangedor e desconcertante, cada um de nós perdido em seu próprio mundo, Alice está alternando seu olhar entre sua lata de refrigerante e o rosto de Hugo e esse por sua vez parece interessado em tudo e todos apenas para não olhar nos olhos da morena a sua frente, já Theo, assim como eu, está me olhando quando acha que eu não o estou olhando, estamos nisso de fingir que não estamos olhando um para o outro, é ridículo.

- Quando vai começar o tal show? – pergunto quando essa situação toda começa a me irritar.

- Só mais tarde – Alice responde parecendo quase aliviada de ter algo para falar. – Como algumas pessoas só vem por ele, é último evento da noite.

- Tipo umas 02h00m da madrugada? – pergunto surpresa e ela dá de ombros.

- Talvez, talvez menos, depende.

- Sério mesmo?

- Sério, patricinha, você, por acaso tem alguma coisa melhor pra fazer?

- Não né – comento olhando em volta, eu podia dar de cara com o cara bonitinho da outra mesa que não está mais lá.

- Procurando alguém? – Theo pergunta e sorrio.

- Na verdade sim.

- Deixa eu adivinhar, o amor da sua vida?

- Não, esse eu sei que não existe, só estou procurando o próximo da lista mesmo – digo virando o resto do meu refrigerante e vejo os olhos de Theo se arregalarem de surpresa. – O que foi? Achou que eu ainda acreditasse em contos de fadas?

- Não – ele também termina sua cerveja e fica de pé. – Definitivamente não. Hugo, vou pegar outra bebida, você vem?

- Vou – Hugo parece quase aliviado quando fica de pé. – Vou sim. Vamos.

Eles se viram e praticamente fogem em direção ao bar.

- Por que homens são uns covardes? – Alice pergunta os acompanhando com o olhar e sorrio.

- Por que são homens e só tomam uma atitude quando percebem que a coisa não vai se resolver sozinha – digo e acompanho o olhar da garota ao meu lado, uma loira está sorrindo para Hugo e vejo Alice cerrar os dentes, levo meio segundo para me dar conta de que não é de Theo que ela gosta, essa constatação me faz sorrir, foi por isso que tia Beth disse que não precisaríamos brigar por causa deles.

- Idiota – ela resmunga desviando os olhos e me encarando. Ela cora no instante em que percebe que ouvi. – Os dois são, quer dizer...

- Você tem bom gosto para homens, roceira – comento e ela me olha curiosa.

- O que quer dizer com isso? Você não gostava dele?

- Do Hugo? Não, ele é o melhor amigo do meu ex-namorado, nem eu sou tão baixa assim – dou de ombros suspirando. Eu não faria isso, mas Theo não precisa saber.

- Ex-namorado? Como assim? Você e Theo já...? – Alice parece tão chocada que me faz rir.

- Eu achei que assa altura do campeonato alguém já tivesse te contado.

- Não, ninguém me contou, eu não acredito! Você e Theo? Não é à toa que vocês vivem brigando, já foram namorados, eu não acredito...

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- Dá pra parar de fazer disso uma coisa inacreditável? Se soubesse que ia ficar me irritando não tinha falado nada.

- E me deixar acreditando que você queria o Hugo?

- Claro, por que não? – pergunto divertida e Alice me olha parecendo indignada.

- Quando eu acho que nós podemos ser amigas você me vem com uma dessas.

- Verdades, trago apenas verdades.

- Então é você? – Alice pergunta e a olho sem entender. – A garota que eu sei que existe, e por quem ele é apaixonado até hoje se brincar, mas que ele não fala sobre de jeito nenhum?

Sua pergunta me pega de surpresa, existe mesmo para Theo uma garota assim? E realmente pode ser eu? Da minha parte, mesmo que seja ridículo, Theo é meu único “E se”, e se eu tivesse ficado? E se nós tivéssemos mantido contato? E se não tivéssemos terminado daquele jeito, ainda estaríamos juntos? Mas o ponto que nunca parece me deixar ir e seguir em frente é o fato de que nunca terminamos realmente, e eu, sendo a garotinha que era, tinha esperanças que talvez nos reencontrássemos e voltássemos, seríamos felizes para sempre e era isso, mas a realidade não poderia estar mais longe da imaginação.

- Patricinha? – Alice me chama me tirando dos meus pensamentos. – Cordélia?

- Oi.

- Olhe ali – ela indica o bar com a cabeça e cada um deles tem uma oferecida pendurada no pescoço, eles não estão fazendo nada de mais, mas aquilo me incomoda, e não sou a única, por que Alice ao meu lado está espumando de raiva.

- É o seu homem – digo sem conseguir desviar os olhos da cena. – Por que não vai até lá?

- Por que a última coisa que Hugo é, é meu – ela diz irônica encarando sua lata de refrigerante.

- Pois devia fazê-lo seu logo, por que aquelas oferecidas parecem bem empenhadas nisso também.

- E vão conseguir como sempre, eu só sou a irmãzinha do seu melhor amigo, nada mais, acredite – ela cospe as palavras e me sinto mal por ela, eu e Theo não temos mais nada, mas já tivemos, então ao menos o gosto do que eu queria agora, eu já senti, Alice nem isso teve.

O silencio se instala outra vez, mas dessa vez não é desconfortável, só triste, por que sei que Alice está remoendo alguma coisa enquanto olha para todos os lugares menos para o bar onde os meninos estão e eu me limito a brincar com minha lata vazia para não pensar em mais nada, eu não sou ciumenta, eu não sou ciumenta... Repito como um mantra, por que é verdade, pelo menos no que diz respeito a todos os outros caras com quem eu fiquei. Mas quanto mais eu repito, com mais raiva eu fico, só percebo o que estou fazendo quando amasso minha lata com as mãos.

- As moças estão desacompanhadas? – uma dupla de caras pergunta. Eles estão claramente bêbados e eu irritada.

- Não, viemos com nossos namorados ciumentos que daqui a pouco vão aparecer aqui pra tirar satisfações com vocês – respondo e o mais sóbrio puxa o amigo pelo braço para se afastarem na mesma hora. – Eu cansei de ficar só olhando, vamos ao bar também?

- Fazer o que!? – Alice pergunta parecendo surpresa com a ideia e sorrio.

- Pegar uma bebida, o que mais seria?

- Arrumar encrenca? Confusão? – ela tenta e me finjo de desentendida ficando de pé.

- Você vem ou não?

- Vamos lá então.

Nós vamos nos aproximando do bar e os meninos acompanham cada um de nossos movimentos com os olhos, Alice segue em direção a deles, mas no meio do caminho a levo pelo braço para o outro lado, ela me olha franzindo o cenho e só continuo a arrastá-la. Paramos a alguns metros deles.

- Por que viemos pra cá? – ela pergunta e sorrio.

- Por que eles vão largar aquelas oferecidas no instante em que o primeiro cara abordar a gente.

- Como sabe disso?

- Por que o Hugo eu não sei como é, mas conheço o ciúme do Theo, ele não vai deixar você ser devorada aqui.

- Eu? – Alice parece surpresa e dou de ombros.

- Por mim eu já não tenho certeza se ele viria – admito e depois nego com a cabeça, isso não é importante, o que o Theo quer pouco me importa, fico feliz em só irritá-lo um pouco enquanto estiver aqui. – Agora preciso de outra dose de tequila e talvez um energético.

- Você vai morrer e eu não quero ter nada com isso – ela comenta e rio, de um jeito que há tempos não fazia.

- Acredite em mim Alice, meu fígado já é blindado, precisa muito mais que duas doses pra me derrubar.

Peço minha bebida e acabo pedindo uma dose para ela também, eu me sinto horrível levando-a para esse caminho, mas só de imaginar a cara de Theo vendo Alice bebendo assim já vele todo o peso na consciência.

- Um, dois, três e virou – digo e viramos juntas, cada uma de nós com uma careta pior que a outra, nossa dose termina em uma crise de risos.

- Acho que me enganei sobre você – ela me olha sorrindo. – Talvez não seja de todo mal.

- Idem.

- Que tal outra dose para as moças? – o moreno bonito de mais cedo que estava na mesa peto do bar surge atrás de nós e sorrio, talvez além de irritar Theo eu consiga outra coisa hoje.

- Eu vou adorar – respondo e o vejo sorrir.

- Três doses, por favor, Rita – ele pede e ela nos olha sorrindo antes de servir.

- Vão com calma meninas, isso não vai acabar bem.

- Ainda nem comecei a ficar feliz – comento e ela aponta com a cabeça em direção ao outro lado do bar, Hugo e Theo estão nos olhando sem nem piscar, as oferecidas que ainda estão ao lado deles completamente esquecidas. Sorrio satisfeita ajeitando o cabelo, eles que morram de raiva.

- Só tomem cuidado, não quero confusão no meu bar – ela pede e depois se fasta.

- Quem é sua amiga, Alice? – antes que eu percebesse o cara já tinha começado uma conversa animada com a minha pseudobabá.

- Essa é a Cordélia, filha do senhor Ricardo, o dono da fazenda onde eu moro com meus tios. Patricinha esse é o Marcelo, o campeão de rodeio da região – ela nos apresenta e dessa vez o olho de cima a baixo sem nenhuma descrição. Os braços fortes dentro da camisa xadrez, os olhos escuros, a calça apertada, por onde olhasse Marcelo era um colírio para os olhos.

- Gosta do que vê? – ele pergunta e sei que tem terceiras e até quartas intenções por trás dessa pergunta e isso me faz sorrir.

- Muito.

- Dança comigo? Assim nós continuamos essa conversa de um jeito ainda melhor.

- Não danço, mas nós ainda podemos continuar a beber.

A chegada de dois cães raivosos interrompe qualquer resposta que ele pudesse me dar.

- Eai, Marcelo.

- Oi, Theo. Não tinha te visto ainda. Como tem passado?

- Bem – curto e grosso, o cumulo da educação, mas Marcelo parece não perceber, por que sorri.

- De qualquer forma foi bom te ver, vamos dançar, Cordélia? – ele se vira pra mim e vejo os olhos azuis de Theo faiscarem, não que ele tenha motivos, mas ainda sim me faz sorrir.

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- Eu não danço, mas estou quase mudando de ideia.

- Aposto que te faço mudar de ideia com dois passos.

- Ela disse não – Theo se intromete e reviro os olhos.

- Eu sei cara, só estou brincando. Mas isso não é da sua conta, não é?

- Exatamente – digo olhando diretamente para Theo. – Isso não é da sua conta.

- Se for pra você dar vexame é da minha conta sim.

- Vexame eu vou passar quando resolver dar na sua cara – devolvo e não sei bem quando começamos a brigar. – Então dá pra me deixar em paz?

- Só saio daqui se você parar com essas ideias ruins. Dançar e beber com desconhecidos?

- Por que não? Isso está te incomodando por acaso? Por que eu estou adorando. – e desviando os olhos dele encaro Marcelo. – Vamos?

Ele olha de mim para Theo e eles trocam um olhar cheio de significados, por fim Marcelo suspira, pega minha mão e beija o dorso.

- Vou ficar te devendo dessa vez, até mais Cordélia, tchau, Alice – ele se despede e sai. Viro-me espumando de ódio para Theo que sorri satisfeito.

- Seu filho da mãe! O que foi isso!?

- Como eu vou saber? – ele se faz de desentendido e quero matá-lo.

- Você praticamente o expulsou daqui, seu idiota!

- Você está assim por causa de uma dança? – Theo finge não me ouvir se aproximando e sinto o coração já descompassado pela raiva acelerar ainda mais.

- Você sabe que não é e eu nem danço.

- Não? A garota de quem eu me lembrava dançava e muito bem – ele sussurra e estou perto de ter um ataque.

- Mas não danço mais, eu... – engulo em seco dando um passo para trás, mas bato no balcão e não tenho mais para onde ir.

- Lilly?

- Sim?

- Quer dançar comigo? – ele estende a mão como sempre fazia e quero desesperadamente dizer sim, mas não vou e não posso. A Lilly dançava, ria e esses momentos eram incríveis, mas a Lia não dança, em festas de gente rica todos tomam champanhe e ficam de fofoca pelos cantos, as músicas são chatas e definitivamente ninguém dança.

- Não – consigo dizer e o vejo sorrir.

- Lilly?

- Para de me chamar assim! E eu não quero dançar!

- Tem certeza?

- Só cala a boca, Theo, por favor!

Ele ainda está sorrindo quando se afasta de mim, meu coração bate descompassado e só quando vejo o casal ao nosso lado é que me lembro de Alice e Hugo. Eles nos encaram curiosos e suspiro, ao invés de me olhar, Alice devia estar fazendo alguma coisa a respeito do seu quase relacionamento inexistente.

- Eu não danço, mas a Alice dança não é, Alice? – pergunto e ela pisca pra mim sem entender.

- Danço, mais ou menos... Quer dizer...

- E ela estava falando agora que queria dançar – a interrompo e pego sua mão e a coloco sobre a de Hugo, não sei qual dos dois parece mais surpreso. – Que tal acompanhá-la, Hugo?

- Eu?

- Você vai ou não? Tem mais interessados – informo e ele parece tomar uma decisão, fechando seus dedos sobre os de Alice.

- Quer dançar?

- Eu adoraria – o sorriso da morena me faz sorrir, pelo menos a noite de uma de nós vai ser boa, os dois se afastam e Theo surge outra vez, com um copo de água na mão.

- Onde estão Alice e Hugo? – ele pergunta e aponto para o salão onde o casal dança forró mais adiante. A música é animada e eles giram e sorriem como bobos, só um cego não vê que estão apaixonados um pelo outro.

- Saio por meio segundo e meu melhor amigo está dançando com minha prima?

- Você preferiria que fosse outro? – pergunto roubando sua água e dando um gole, Theo faz careta como se tivesse imaginado a cena e nega com a cabeça.

- Assim é menos pior, acho.

- Oi, Theo – uma voz melosa nos alcança e a oferecida de mais cedo reaparece se pendurando no pescoço do moreno a minha frente, tenho que controlar a vontade súbita de jogar o resto da água na cara dela. – O que está fazendo parado aqui? Vamos dançar?

- Eu...

- Ele não pode – digo sem conseguir me controlar e puxo a oferecida de cima dele. – Por que o Theo já devendo uma dança pra mim, talvez outra hora.

Pego meu cowboy pelo braço e o arrasto até a pista de dança. Ele está sorrindo quando me viro para encará-lo, o forró ainda não acabou e chego à conclusão de que essa foi uma péssima ideia. Estou prestes a fazer meia volta quando ele me enlaça pela cintura e me puxa para perto de si.

- Você não vai fugir de mim agora não, Lilly. Vamos dançar.

- Eu não... – minha desculpa morre em meus lábios quando ele começa a se mover me levando junto.

- Só aproveite o momento, baixinha.

Eu não quero, mas também não consigo me soltar dele, não que Theo estivesse me prendendo, só que o magnetismo entre nós me mantém ali, presa em seus braços, rodopiando e revivendo memórias do passado onde o meu sorriso era acompanhado dos seus beijos. E mesmo que eu saiba que vou me arrepender e me odiar por isso, me deixo levar pelo momento, dançar com Theo não foi a melhor ideia que tive hoje, mas sempre posso colocar a culpa na bebida.