O restaurante, onde estava, era um dos melhores da cidade. E se não fosse pela apreensão, estaria deslumbrada com os sabores de cada um dos pratos. Mas, tudo o que conseguia pensar era em como sair daquele lugar. Por que achou aquilo uma boa ideia?

Arrumou o vestido mais uma vez, tentando ocultar ainda mais seu corpo dos olhares dele. Não adiantava muito. Ele a comia com o olhar. Era um prato naquele momento, com preço e validade.

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Um garçom passou ao seu lado, e despejou mais champanhe em seu copo, que imediatamente bebeu. Precisava beber. Não conseguiria sobrea. –E como anda sua mãe? – Ele perguntou, puxando sua atenção do álcool. - A última vez que a vi foi quando tínhamos dezoito anos. –Há muito tempo.

—Bem. Está casada, tem dois filhos. –E está bem longe dela.

—Deve sentir falta dela... –Comentou antes do garçom chegar com o seu segundo prato.

Deveria sentir. Mas na verdade, não sentia. Após todo o caos do casamento, sua mãe foi rápida em agarrar a chance dada a ela de recomeçar em um lugar diferente, sem qualquer conhecido. E ela, não estava inclusa naquele recomeço. Nunca esteve.

Nunca teve uma casa.

—E como está sua esposa? –Provocou.

—Muito bem. Sou um bom marido. –Realmente ótimo. –Sua provocação não vai me atingir. Negócio é negócio.

Boçal desgraçado. –Não cutuque uma mulher sem saber as cartas dela. – Falou baixo, deixando sua voz passar o tom de perigo que desejava.

Era um jogo, e para se dar bem precisava jogar bem. Então, se imaginou em um jogo de xadrez, próxima a perder seu rei. E perder não era uma opção. –Seu prato, senhora. –Sua deliciosa sopa de cogumelos foi deixada na mesa, antes mesmo de notar. Só tinha uma chance de dar certo, e precisava da pontualidade dele.

—Você não mudou nada. Ainda é a garota que ganhava dinheiro através dos jogos de xadrez. – Porque ninguém apostava nela... apenas ele.

Era tão boa naquilo. Sorriu enquanto comia um pouco do seu prato, sem perder a formosura. –Bons tempos aquele.

Era isso o que queria. Ela no passado. Perto dele. –Por que não podemos ser aqueles dois jovens essa noite? E planejar nossa viagem para a Austrália?

O golpe foi profundo, e contorceu seu coração. Era seu sonho ver aquelas terras... um que nunca realizou. Era loucura! –Porque passou. E eu não gosto de me jogar em fantasias. – Seu olhar desviou da mesa, pegando a movimentação do restaurante. E mesmo sem vendo, sabia que o brilho de raiva estava nos olhos dele.

E foi esse sentimento alto e destrutivo, que o fez respirar profundamente. –O que acha que vai ganhar com isso? Me irritando?

Outro tapa talvez? –Sabe como eu sou. Não vou facilitar mesmo por uma proposta. – Ironizou enquanto olhava tudo a sua volta, e no canto do bar, notou uma mulher se virar a sua presença. Kate? –Mas, também não vou recusar. –Mas, a curiosidade logo falou mais alto, e a jovem olhou em sua direção. –E eu sei que você gosta. -Chocando seus olhares.

Kate!

—Boa noite, senhor! -Um jovem garçom se aproximou deles, oferecendo no processo alguns charutos de algum lugar importante, que passou despercebido pela sua mente. Tudo o que via era o olhar dela, e quando finalmente deixou a multidão, uma longa fumaça saia da boca Demitrie, enquanto ele a olhava com aqueles olhos maliciosos. Também podia jogar assim. Pegou sem hesitar seu cantil, que estava dentro da sua pequena bolsa, e misturou vodka no champanhe. Agora, sim. Bebeu, com gosto, aquela mistura quase dos deuses.

—E qual jogos vamos jogar hoje? –Tinha um perfeito.

—Roleta russa. –Isso o pegou desprevenido. –Mas antes, preciso retocar minha maquiagem. –Falou antes de beber por completo da taça ardente. Deixando a queimação dura dar as forças necessária.

Sua mão bateu na mesa enquanto se erguia, mantendo seu equilíbrio em um mundo em giros. Só assim o entendia. Só assim a complexidade se perdia, e tudo o que precisava era andar. Por isso, sorriu enquanto andava falsamente em direção ao banheiro. E quando se perdeu do olhar dele, se foi para o seu ponto final, o fundo do restaurante, onde ninguém a veria e quem a seguia. –Isso é como demonstra confiança?

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Kate fechou os olhos ao mesmo tempo que fechava a porta atrás dela, lacrando aquele lugar. –Quando não vemos resultado e sentimos um leve tom de conspiração, a tendência é a desconfiança. Não é mais ou menos o que disse a mim? –Atacou sem dó. Estava furiosa.

—As coisas não são apenas do jeito que você quer. Se quer algo de mim, então me deixe trabalhar. –Aproximou-se da mulher, mas conteve o tom da sua voz. Não podia ser ouvida. Não quando estava tão próxima de conseguir.

—Para você pode ser apenas um trabalho, mas isso é muito mais para mim. E a única forma de funcionar é você parando de tentar fazer tudo sozinha e do seu jeito. –Nunca deveria ter chamado ela. Aquela mulher iria levar tudo para o seu lado pessoal.

—Não. O que você quer... –Apontou o dedo para ela, lutando para manter sua voz baixa. –É que as coisas saiam exatamente como pensou. E se não percebeu, eu não sou você. Eu vou fazer do jeito que acho melhor.

—Claro! –Aproximou ainda mais dela. –Deixa eu ver se entendi. Seu jeito é sair com um homem casado, e flertar com ele. Está querendo arrumar um casamento? –Seu olhar a atacou assim como suas palavras.

Como ela ousa... -Não. Estou tentando fazer um acordo. –Falou enquanto erguia o olhar, colocando-se em posição de defesa.

Como ela conseguia fazê-la se sentir uma idiota com uma frase. –Não é o que eu vejo. Eu vejo você tentando fazer um acordo a seu favor... Como todo mundo da sua família faz.

Esse era o dom da sua família. Por isso, eram tão bons banqueiros. –Nada aqui está a me favor. Se eu estivesse fazendo isso por mim, eu nunca estaria aqui. –Cuspiu com raiva.

E no fundo dessa raiva, Kate viu algo honesto e gentil. – Ele quer você. – Pontuou algo que a irritou assim que notou. – Essa é a proposta.

—Como disse... nada aqui está a meu favor. –Respirou fundo, dando um passo para trás. Precisava voltar.

—Não foi o que combinamos. – Nunca combinaram nada. Aquela era só sua maneira de resolver. Era tão difícil dela entender, de deixá-la fazer. – Eu falarei com ele.

—Não. – Sua voz saiu forte, e pela primeira vez, ela deu a ordem. – Eu resolvo.

Puxou a barra do seu vestido levemente antes de começar a andar em direção ao interior do restaurante. Mas, não passou pela porta, não antes de uma mão agarrar levemente seu braço. Foi uma ação simples e leve, porém, a fez virar e dar dois passos para Kate.

E nessa curta distância, seus olhares mergulharam um no outro. – Não faça o que veio fazer aqui. – Kate sussurrou o pedido, enquanto sua respiração se tornava cada vez mais pesada.

—Ok. –Onde estava a guerreira que sempre lutava pelas suas ideias?

Lentamente, se desvencilhou da mão dela antes de deixá-la para trás. Toda a sua braveza havia ido embora. Sentia-se fraca. Não tinha mais forças para lutar por aquilo que veio. – Demorou. –Piscou, notando que havia andado automaticamente até a mesa, para ele e seu comedor sorriso.

—Permita-me. -Ele se ergueu pronto para puxar a cadeira, tentando pegar a vantagem que tinha. Era notável o espírito resignado dela. Mas, parou quando ela negou com um movimento brusco. Pare. A ação puxou rugas ao rosto dele, e antes da pergunta se formar, ela puxou um pequeno pedaço de papel de dentro da bolsa de mão, e lhe estendeu.

Sua carte dourada foi puxada da sua mão. - Cuidado com quem faz acordos. Qualquer um veria uma traição. – Tirando toda a sua vantagem.

O bilhete era alemão e endereçado a ele. - Onde conseguiu isso?

Um curto sorriso apareceu em seu rosto. – E isso importa? - Era seu grande prêmio, escondido por meses, e capaz de tirar o que desejasse dele. Mas, não via motivo para fazer isso... começar uma guerra interna sem aliados. Sem uma barreira de proteção. –Você tem sorte. Eu vim aqui para pagar com a mesma moeda o que você fez comigo na festa. Mas... –Sua mão apertou o ombro dele. – Estou cansada de lutar. – Antes de se virar, e sem esperar um segundo, caminhou em direção a porta de saída.