Le Passé

Capítulo 23


Roger abriu os olhos e notou que estava em um local diferente. Não era nada parecido com algum lugar que já viu antes, porém, parecia estranhamente confortável. Sentou-se na cama, notando estar em um quarto. As paredes eram todas brancas, havia uma cama de solteiro – na qual estava sentado –, uma escrivaninha de madeira escura, muitos pôsteres pregados na parede oposta, um armário de mesmo material que a escrivaninha e uma janela grande sendo tampada por uma cortina de persiana.

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Ele não via em nenhum lugar vestígios de outra pessoa ficar naquele quarto além dele. Sempre dividiu o quarto com Aaron e estar em um quarto sozinho lhe dava calafrios. Em um pulo se levantou da cama. Estava apenas de cueca samba-canção vermelha, mesmo assim saiu do quarto em busca do gêmeo.

— Aaron? — gritou notando que estava em uma casa totalmente diferente da que morava. Sua casa de 2016 era pequena, com apenas dois quartos e um banheiro. Porém, aquela casa atual tinha tantas portas que só de olhar Roger ficava confuso.

— Roger? — a voz de Armin ecoou no corredor onde o adolescente estava, o homem mais velho estava de terno e gravata, os cabelos de tamanho mediano estavam penteados para trás com gel e os olhos azuis estavam brilhantes como diamantes.

— Cadê o Aaron, pai? — questionou o gêmeo mais novo. Nunca havia visto o pai daquele jeito, tão arrumado e elegante. Limpando a garganta e encarando o terno cinza que o pai usava, decidiu continuar sua pergunta:

— Onde está indo?

Armin sorriu para o filho e arrumou a gravata azul no pescoço.

— Tenho uma reunião com os donos do banco hoje. Seu papa pode ser promovido para chefe de departamento filhão.

Roger franziu o cenho. Armin estava desempregado até o momento em que Roger conseguia se lembrar, porém aparentemente a volta ao passado fez com que ele conseguisse um emprego muito bom em algum banco.

— E o Aaron está no quarto dele. Ainda não acordou — disse o mais velho, dando meia volta e entrando em uma porta que Roger deduziu ser o banheiro.

Sentiu seus músculos relaxarem, finalmente. Aparentemente aquela seria sua nova vida, com mais luxo e sem precisar pensar muitas vezes antes de gastar com alguma coisa.

— Onde é o quarto do Aaron pai? — Roger engoliu em seco, esperando pela resposta, porém, não ouviu a voz do pai atrás da porta.

Anne abriu a porta do quarto bem a frente de Roger, que com a ação conseguiu ver o quarto dos pais ao fundo. A mulher estava com os cabelos ruivos cortados em um corte moderno e bem curto. As várias sardas eram cobertas pela maquiagem e os lábios desenhados de batom vermelho, com um sorriso no rosto.

— Bom dia filho. Acordou cedo.

Não soube o que responder. Ver a mãe tão bonita daquele jeito lhe deixou boquiaberto. Anne era CEO de uma empresa de Interpretação e Tradução na cidade, ela no ano de 2016 que Roger se lembrava, ainda era apenas uma funcionária naquela empresa, porém muita coisa havia mudado para melhor com a volta dos adolescentes para o tempo certo.

— O gato comeu sua língua, filho? — questionou rindo e começando a andar em direção ao fim do corredor, onde havia uma escada para o primeiro andar.

— Mãe, onde está o Aaron?

— Ora, no quarto dele — a resposta da mulher foi simples, mas direta. Com os nós dos dedos bateu na porta do quarto de Aaron. Era a última porta antes das escadas começarem. Viu Anne descer as escadas, ouvindo cada toc-toc do sapato alto contra os degraus.

Sem pensar duas vezes correu até a porta, abrindo-a e vendo Aaron deitado na cama, enrolado nos cobertores como uma lagarta em seu casulo. Respirou fundo e fechou a porta atrás de si e entrou no quarto.

— Acorda, Aaron!

O irmão gêmeo nem ao menos se movimentou. Revirando os olhos, começou a balançar freneticamente o corpo molenga do gêmeo mais velho, que acordou assustado e com os olhos heterocromáticos arregalados.

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— O que aconteceu? Nós voltamos?

Sem responder as perguntas, Roger abraçou o irmão, que continuava confuso com tudo que estava acontecendo.

— Voltamos.

— Mas onde estamos?

— Essa é a nossa nova casa, mano!

Levantando os olhos e observando o quarto, notou que aquele era um cômodo muito maior do que dividia antes com Roger. Sentindo uma corrente elétrica passar pelo corpo se lembrou de tudo que havia acontecido nos últimos minutos no passado.

— Como estão todos? E a Adeline, ela está bem?

Roger encarou o irmão com o cenho franzido. Não sabia a resposta e preferiu não abrir a boca. Também estava muito preocupado com os outros.

— Você sabe que ela gosta do Adam, né?

Aquele comentário foi como uma facada no peito de Aaron. Ele engoliu em seco e suspirou, balançando a cabeça concordando com o irmão. Sabia muito bem que ela iria escolher em qualquer tempo o Roux.

A porta se abriu e Armin apareceu na visão dos gêmeos, que sorriram ao ver o homem com os braços cruzados.

— Vocês querem se atrasar bem no segundo dia de aula? — disse, confundindo a cabeça dos adolescentes — Se troquem rápido, vou deixar vocês no caminho.

Sem argumentar absolutamente nada Roger e Aaron começaram a se arrumar, colocando o uniforme escolar, enquanto penteavam os cabelos e colocavam os sapatos ao mesmo tempo.

Armin, como disse, deixou os adolescentes no caminho da escola. Deixou-os uma quadra antes do muro escolar, tomando um caminho diferente para o trabalho depois daquilo.

Os meninos não falaram nada entre si, apenas caminhavam para dentro da escola com os ombros tensos e os pensamentos distantes. Rapidamente, ao entrarem no terreno da escola viram Nicole parada na escadaria principal.

Parados um na frente do outro, Nicole estava um degrau acima deles, ficando na mesma altura dos gêmeos. O corpo pequeno e curvilíneo da garota parecia estar perto demais de Roger, que sentia seu coração apertar-se contra o peito.

Ele nunca havia sentido aquela sensação antes. Nunca havia prestado atenção o quão Nicole era bonita. Estavam na frente do colégio, atrapalhando grande parte do fluxo de alunos que queriam entrar no prédio.

Bonjour! — disseram os dois, porém Nicole não abriu a boca. Ela ficava encarando descaradamente Roger, que sentiu suas bochechas esquentarem levemente.

Os meninos se entreolharam.

— Nicole? — Aaron perguntou segurando as alças da mochila.

— Nicole está nos ouvindo? — foi a vez de Roger se pronunciar. Como se sua voz tivesse tirado-a de um feitiço, Nicole piscou algumas vezes e começou a ficar tão vermelha quanto um pimentão.

Os gêmeos se entreolharam novamente e franziram o cenho enquanto encaravam a menina.

— Está tudo bem? — Aaron questionou, soltando a alça da mochila e cruzando os braços. No lugar da resposta, ela simplesmente enroscou os dedos quentes nos cabelos de Roger e beijou o rapaz inesperadamente.

A boca de Aaron formou um perfeito O e os olhos heterocromáticos do rapaz estavam arregalados de surpresa. Igualmente surpreso, Roger não sabia o que fazer, a não ser corresponder ao beijo.

Segurando com força a cintura da menina, enrolavam uma língua, em uma batalha por espaço dentro da boca do outro. Estava com medo de puxá-la para mais perto e fazê-la cair do degrau, mantendo aquela distância mínima da garota.

Bonjour — a voz de Adeline foi ouvida por Aaron, que virou seu rosto para a menina ainda cobrindo a própria boca — O que está…

Não conseguiu completar a própria frase. Arqueou as sobrancelhas ao notar quem eram as pessoas no meio dos degraus da entrada.

— Desde quando? — ela gritou chamando atenção do casal, que continuava a se beijar. Os dedos de Nicole não queriam se desenroscar dos cabelos macios de Roger, porém ao ouvir a voz da amiga afastou sua boca e respirou fundo.

Roger quis amaldiçoar Adeline por ter chamado a atenção de Nicole, fazendo o beijo ser cortado, mesmo sem ar, aguentaria mais algum tempo naquele beijo tão maravilhoso.

Aaron viu o irmão abraçar o corpo da mais baixa, que estava tão vermelha quanto um pimentão. Estava realmente surpreso, já que nunca imaginou que alguma atitude viria da quatro-olhos. Nunca imaginou que algo pudesse estar dentro do irmão em relação a ela.

— Vamos logo casalzinho — Aaron riu e começou a andar ao lado de Adeline, que ainda estava inconformada com o que havia visto — Senão vão precisar de um quarto caso continuem assim.

Sentir que Adeline estava ao seu lado fazia com que o corpo de Aaron ficasse quente. Ao colocar as coisas em seu armário, notou que Jaqueline estava conversando com outras duas meninas na porta do grêmio estudantil.

Jaqueline gritava com as meninas do mesmo ano que ela, enquanto as duas meninas não falavam absolutamente nada a não ser concordar com o que a loira dizia. Franzindo o cenho, Aaron tentou ouvir a conversa, porém Adeline cutucou seu cotovelo, chamando a atenção do gêmeo.

— Você está bem Aaron? — Adeline perguntou. Roger e Nicole conversavam um pouco mais afastados, em um vão dos armários, se espremendo um ao outro.

O rapaz ficou observando os olhos claros de Adeline por alguns minutos, até que finalmente encontrou a coragem que precisava.

— Posso conversar com você? A sós!

Ela apenas concordou e caminhou com o rapaz até uma sala de aula vazia. As aulas começariam em alguns minutos, então tinham tempo de sobra para conversar naquela sala.

— Olha Adeline — ele respirou fundo — Eu não sei se você sabe, mas eu gosto de você.

Ela continuou a olhar para o rapaz, como se aquela frase não fizesse sentido e ela continuou a tentar prestar atenção nele buscando por algo mais esclarecedor.

Em um piscar de olhos, Aaron colocou suas mãos sobre as da menina e encarou profundamente os olhos dela.

— Eu gosto de verdade de você.

Como se só assim ela entendesse o que ele tivesse dito antes, Adeline sentiu suas bochechas esquentarem e todo o rosto da platinada ficou vermelho. Ela não sabia para onde olhar, decidindo retirar suas mãos de debaixo das dele e encarando o quadro negro começou a falar:

— Eu não sei o que te dizer, Aaron.

— Não precisa dizer nada — ele respondeu sorrindo e guardando as mãos nos bolsos da calça escolar — Eu sei que você gosta do Adam. Só achei que seria bom pra mim conseguir tirar esse sentimento do peito.

Ela finalmente encarou Aaron, ainda vermelha.

— Ainda acho que ele não te merece. Você é demais pra alguém como ele; mas se isso te faz feliz… — deu uma pausa, encarando mais uma vez os olhos profundos de Adeline — Isso também me faz feliz.