Cicatriz

Capítulo único


Todoroki Shouto era o tipo de pessoa que evitava espelhos, e a despeito da opinião já manifesta por vários de seus colegas acerca de sua beleza, ele detestava o próprio rosto. Aquela cicatriz o fazia se sentir feio, muito mais do que pelo aspecto meramente estético. Ela era o lembrete constante, vivo e ainda doloroso de um fato que não poderia ser mudado: ele tinha os olhos do seu pai.

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Por muito tempo ele se recusou a visitar a mãe, apenas para não a atormentar com seus olhos frios. E mesmo que ela tentasse convencê-lo de que ele não tinha culpa por nada do que acontecera no passado, e por mais que ele tentasse rejeitar em si mesmo o sangue de Todoroki Enji, o rapaz jamais conseguiria se livrar da culpa de ser o fruto da ambição de seu pai, e, como consequência, parecer-se tanto com ele.

O próprio Inasa lhe dissera isso, e ainda que com o tempo a antipatia entre eles tenha se transformado em uma amizade genuína, a pesada verdade daquelas palavras ainda o perseguia. Era por esse mesmo motivo que ele evitava olhar diretamente para Inasa -- não queria deixar ainda mais clara a semelhança já apontada.

A despeito do fato de que com o passar dos meses a amizade deles tenha se estreitado ao ponto de amigos lhes perguntarem se não havia algo mais, a natureza fechada e taciturna de Shouto mantinha Yoarachi alheio ao motivo pelo qual sempre que o grande rapaz se punha diretamente diante de si, o meio-ruivo desviava o olhar envergonhado.

Tal fato obviamente incomodava o moreno, o qual nunca foi muito versado nas sutilezas de um coração inseguro e machucado. Ele havia tentado conversar algumas vezes, havia tocado no assunto da cicatriz, mas o menor se esquivava do assunto com maestria. Depois de muitas tentativas frustradas e não mais suportando aquela situação, Inasa utilizou uma abordagem brusca e direta: segurando a face de Shouto entre suas grandes e fortes mãos, pôs seu rosto bem diante do dele, a centímetros de distância.

O desespero de Shouto em não conseguir desviar seu olhar só podia ser comparado à dor que se instalou na face de Inasa quando o menor fechou os olhos e o empurrou com todas as forças que tinha. Tal gesto machucou o grandalhão -- não fisicamente, é claro. O que doeu foi finalmente ter a certeza de que não era só uma impressão sua, uma suposição infundada. Havia rejeição naquele ato -- mesmo que tal rejeição não fosse direcionada a Inasa de fato. Shouto rejeitava a si mesmo, mas como o moreno poderia saber?

"Por que você nunca olha diretamente para mim?"

Era a primeira vez que Todoroki escutava a voz do maior soar daquela forma. Tão baixa e triste, como que se quebrada, contendo uma insegurança que certamente não deveria jamais ser manifestada por alguém tão enérgico e animado. A responsabilidade por aquele estado atípico atingiu o menor em cheio, e junto dela se instalou a culpa.

Mais culpa.

Uma culpa tão profunda, feia e dolorosa quanto a sua cicatriz.

Uma culpa que lhe roubava as palavras, os argumentos, as explicações. Tudo que ele conseguiu fazer foi baixar a cabeça e se curvar formalmente. Mais do que um ato de contrição, ele fazia isso para esconder seu rosto.

"Eu sinto muito. Por favor, desculpe-me."

"Não. Eu não quero um pedido de desculpa, Shouto. Eu quero uma explicação."

Mais um choque. Há muito tempo que o grande rapaz não lhe falava de forma tão ríspida. Era como se tivesse repentinamente voltado àquele distanciamento do começo. Como se tivessem se desfeito todos os momentos doces e significativos que haviam compartilhado.

O desolador sentimento logo se manifestou em lágrimas, e antes que Todoroki se desse conta, ele já estava de joelhos no chão, suas mãos cobrindo o rosto humilhado enquanto os musculosos braços de Inasa o envolviam. A voz forte e desesperada soava distante, agora tomada por uma doce brandura enquanto ele lhe sussurrava palavras de aconchego e súplicas por perdão.

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O maior dizia-lhe que não queria ser grosso, que não queria pressionar-lhe, pedia desculpas por ser daquele jeito, por sua falta de tato e delicadeza. Expressou sua preocupação, e sua tristeza em sentir que Shouto o evitava. Confessou o medo que sentia que Todoroki, na verdade, não gostasse de si, que o quisesse longe.

Confessou também que o amava.

Não havia nada no mundo que pudesse apagar suas cicatrizes, mas ali, naquele momento, nos braços de Inasa, Shouto sentiu que sua dor poderia pelo menos cessar.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.