Quântico

• QUATRO DE JULHO •


O grandioso neurocirurgião suspirava enquanto entregava seu fatigante plantão que inclusive já havia exaurido as horas aceitadas pelos preceitos médicos. Mas estava acostumado, sempre existiam idiotas o bastante para extrapolar nas vésperas de feriados, e sobrava somente para os hospitais controlarem esse fluxo.

Stephen só queria chegar logo em seu apartamento, precisava descansar pois a noite teria uma comemoração com a elite médica e como sempre, seu renome o permitia ser a figura ilustre em tais eventos.

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Ignorou todas as chamadas perdidas, ignorou também o cumprimento do porteiro de sua moradia, que parecia especialmente feliz com o dia de hoje. Todos a sua volta realmente partilhava isso, ele não.

Para Stephen Strange, comemorar a independência era um orgulho, mas não passava disso. Não era como se realmente os países que detinham tal extra fossem de fato autônomos.

Todos eram reféns de algo. Simples assim.

O país borbulhava bandeiras que decoravam todo e qualquer comércio, se via no decorrer das ruas e nas casas a predominante coloração azul, vermelha e branca, os carros não destoavam de todo o nacionalismo daquela data tão importante.

Em outra parte, não tão distante da cidade, Tony Stark tinha acordado com uma tremenda ressaca naquele feriado, mas ainda assim, estava no churrasco glamoroso e desgastante de sua companhia, as Indústrias Stark. O sol queimava suas feições e o cérebro parecia cozinhar com todo álcool evaporando de seu corpo. Mesmo assim, ingeria mais, do contrário nunca poderia suportar toda essa mídia interesseira e funcionários enfadonhos.

Horas mais tarde, após um bom sono e banho, o bilionário andava pelo brilhoso corredor daquele hotel luxuoso, recepcionado por toda corja de políticos e militares, seu cumprimento era um sorriso ácido que poderia ser identificado por todos se o mesmo não estivesse de óculos escuros.

Entre uma conversa superficial e outra, onde todo assunto se limitava a armamento, segurança nacional e poder, girou sem dificuldade pelo piso longo que refletia até mesmo as marcas caras dos sapatos de todos presente.

O imenso quadro com a imagem de Steve Rogers decorava praticamente toda convenção. Tony bufou enquanto emitia um xingamento descortês ao mesmo tempo em que era abordado pelo secretário de segurança.

— Thunderbolt Ross... — não era possível que o general não percebesse como se nome saia de forma desgostosa dos lábios de Tony, mas se ele notava o descontentamento, fingia que não era nada.

— Tony, homem grande, sim? — acenou para a imagem enorme do Capitão América que estava frente a eles. — Seu pai foi um verdadeiro protagonista quando se dedicou a ele.

Entendia bem o que as palavras diziam, seu pai foi um sucesso evidente ao criar a arma humana mais poderosa do mundo. E não você.

— Oh, Rhodes... — acenou para o amigo que se aproximava dos dois, cortando as lambidas de bolas do general ao seu pai e ao soldado. — Meu grande amigo, quem eu precisava conversar. Já faz tempo, desde... — pausou fingindo pensar. — Algumas horas atrás, até mais general Ross.

Puxou James Rhodes para longe do outro homem, suspirando ao sorrir sensualmente para a moça que lhe servia um whisky.

— Esse cara é um pé no saco!

— Tony você estava atrasado, e me usou para fugir do general...?

— Não me arrependo disso!

— Tony!

Mas ele era assim, e felizmente a presença do seu braço direito reduzia o quão irritante aquela comemoração se tornava.

Não muito longe dali, ainda no mesmo hotel e andar, porém no centro de eventos anexo aonde a comemoração militar acontecia. O encontro dos melhores médicos do país era um verdadeiro deguste de arrogância. Stephen inclusive não fugia da regra.

Era incrível como a sensação se assemelhava a um mergulho em uma piscina de tubarões famintos, porém, ele fazia questão de ser o maior deles.

Após seu discurso impecável e um saudoso “deus abençoe a américa”, se retirou do salão luxuoso.

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— Fodam-se... — resmungou enquanto caminhava pelo corredor vazio, em direção ao elevador. Odiava todos eles e sequer acreditava em deus. Apressou o passo ao ver que um dos elevadores fechava suas portas, usou o pé para segurá-la e então entrar, não conseguindo esconder a surpresa ao ver o homem que estava ali.

Não era como se tivesse encontrado um ídolo, na verdade era detestável. Tinha uma bebida nos dedos, óculos escuros — e já passava das vinte e duas horas. Estava visivelmente embriagado e sorria.

— Não parece tão animado para alguém que está obviamente festejando. — murmurou apontando para as roupas de Stephen e seu comportamento de segundos atrás.

As portas do elevador escolheram esse momento para se fechar, e o médico soube que possivelmente o outro homem havia escutado sua reclamação.

— Acontece com alguns, provavelmente não com você.

Tony ergueu as sobrancelhas.

— E obviamente temos um especialista em “mim” por aqui?!

Stephen resolveu que o melhor seria ignorá-lo. Haviam descido apenas dois andares, faltavam outros tantos e olhar os números piscando em meio ao jazz que tocava no cubículo podia se tornar interessante.

— Deixa de ser um rabugento...

— Por que não fica na sua pensando na próxima atitude indecorosa que lhe envergonhara na mídia, e me deixa em paz?

— Você disse indecorosa? É sério? De verdade?

Revirou os olhos, gemendo de impaciência. Que sorte estava tendo naquele dia.

— Mas estou perguntando realmente, quem usa essa palavra?

— Eu uso, Stark.

— Ora, já que estamos apresentados... — o médico resolveu ignorar o fato de que felizmente o reconhecimento nesse caso era somente por via única. — Podemos usar meu cartão para fazer coisas indecorosas juntos, o que acha?

O mais alto deles virou com tanta rapidez que ficou levemente tonto, esperava realmente que o idiota arrogante estivesse propondo comprar sua companhia, estava pronto para lhe colocar em seu lugar.

No entanto, o cartão que lhe era mostrado era com o número de uma das tantas suítes daquele hotel cinco estrelas, inclusive o andar que agora o bilionário segurava o botão.

Era com toda certeza um convite casual para fazer coisas... Indecorosas.

Era tentador.

— Oh vamos senhor audacioso, ambos estamos enfadados e você é atraente.

A voz de Tony lhe fez dar um passo a diante.

De certa forma era meio que prazeroso receber esse elogio de um cara que já dormiu — e dorme, com celebridades e as pessoas mais belas da atualidade.

— Ok.

Era uma noite com alguém que sempre julgou um egocêntrico irritante.

Isso nunca mais se repetiria, seria esquecido.

Então... Não teria por que não aproveitar.

Assim que Tony encaixou o cartão na base, o quarto iluminou-se à medida que a porta travou, antes que pudesse falar qualquer coisa, sentiu-se virado e pressionado pelo corpo do outro contra a porta.

Aquele olhar presunçoso estava próximo, eram os olhos mais lindos que Tony lembrava de ter visto, o corpo apertava o seu, enquanto os lábios baixaram quentes e úmidos até sua boca.

Tony Stark gemeu quando sentiu sua língua.

Sabia que fugir do salão de eventos havia sido sua melhor escolha, agora só precisava finalmente aproveitar a independência do país com uma companhia quente.