Metrô

Impressões ocultas - Sakura


::Ato II::

Impressões ocultas – Sakura

Uma das minhas melhores lembranças da adolescência eu tive com quatorze para quinze anos. Eu, na verdade, nunca fui como as garotinhas sonhadoras e chapinhadas que perambulavam pela sala de aula – até por que, meu cabelo já possui uma cor de fritar os olhos, acho que a genética teve pena de mim e achou que cabelo rosa já era castigo suficiente a minha pessoa -, sempre fui muito bipolar, feliz e triste, irritada e chorosa, nem eu mesma me entendia – e eu tenho certeza de que não era a única. Eu não era a patricinha, a gótica, popular, líder de torcida, baladeira e muitos outros tipos que se tem por aí. Mas, em duas questões eu era simplesmente como todas as outras: Uchiha Sasuke e música.

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Uchiha Sasuke... Esse daí foi meu sonho de consumo por muitos e muitos anos de minha curtinha vida. Todo mundo sabe – ao menos as garotas – que o primeiro amor é inesquecível e Sasuke, bem, ele foi a primeira paixão de pelo menos 97% das garotas que conheço – com exceção de TenTen,Temari e Hinata (já que cada uma possuía um amor platônico diferente). Sim gente, ele era o mais lindo, atraente, charmoso e todo o blá blá blá que vocês conhecem sobre os bambambãs do colégio. Mas Sasuke era do tipo ‘ eu sou mal, mas sou gostoso’, ele era praticamente mudo, sério, sua falta de riso era o seu charme. E eu fui uma idiota, uma completa retardada. Na minha adolescência uma cacatua com problemas renais era mais esperta do que eu quando se tratava de Sasuke. Ainda bem que amadureci – do pior jeito, devo dizer (quebrando a cara, caindo do cavalo, levando bofetada verbal) – e vi que minha doença (porque não poderia ser outra coisa) e idolatria pelo emo gostosão eram mais patéticas e infantis do que Severo Snape tomando chá de jiló com Carlisle Cullen e Darth Vader (como se o supremo e soberano Darth Vader, o fodástico, asmático e ‘paizão’ do universo nerd fosse dar um tiquinho de confiança para um sanguessuga porpurinado e um bruxinho chupador de limão). Eu culpo os contos de fada por idealizarem o primeiro amor o eterno.

Enfim, acho que meu pequeno surto de raiva-pós-desabafo, é hora de falar sobre o outro item: música. Eu seguia a modinha, admito. Afinal de contas quem é que nunca seguiu? Era mais pelo outros gostarem do que por mim mesma. Revistas, pôsteres, fãs clubes... Tudo isso fez parte da minha adolescência desajuizada. Quero dizer, a que ponto alguém pode chegar por uma banda? Eu, como tiete abestalhada de uma bandinha de moda adolescente, vivi, sonhei e quase enlouqueci por uma banda – com um empurrãozinho de Sasuke Uchiha, claro, afinal de contas minha fantasia erótica envolvia uma apresentação de Sasuke e os Akatsuki’s seminus todinhos para mim num quarto de hotel luxuoso (acreditem, a minha fantasia era a mais normal de todas, se vocês soubessem a da Ino...), chantilly e cerejas.


Era uma fase que graças aos céus acabou cedo, mas que nem por isso foi simples.

O que eu não esperava, entretanto, que um dia eu fosse encontrar algum dos meus ídolos, principalmente depois de declarar guerra contra eles.

O grito daquele repórter lunático foi o tiro de largada para a Haruno. Ao girar os calcanhares e correr como nunca em sua vida, Sakura, por meros segundos teve certeza de que fazia o certo. Quando um maremoto de flashes e gritos chegaram aos seus sentidos, arrependeu-se com amargura. Por que mesmo eu fiz essa antisse?! I’m a idiot! Idiot! Idiot! Idiot! Veeeeeeeery idiot! Mas já era tarde, agora só lhe restava correr para fora da plataforma e torcer para encontrar um táxi. Empurrou pessoas, atropelou mendigos, derrubou salgadinhos, sorvetes, bolsas e maletas por onde corria e recebia um amontoado de gentilezas por parte dos cidadãos atropelados. De fato, Sakura não imaginava que aquela estação estivesse tão cheia em plena madrugada.

Alguém agarrou seu casaco enquanto corria fazendo com que Sakura, a reflexo, descesse um tapa na cara do sujeito para se desvencilhar dele. O repórter soltou um baita palavrão ao sentir a face arder.

Subiu de dois em dois degraus a escada que dava para a superfície. Sakura sabia que haveria mais repórteres por lá. Ainda bem que eu fazia parte da turma de atletismo pensou ao se deparar com algumas vãs de reportagem estacionadas na rua pavimentada. Não tinha muito tempo, os lunáticos estavam vindo e, motivada pela adrenalina, Sakura lançou-se contra a rua e quase foi atropelada por um carro de entregas de pizza.

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-Ahhhhhh meeeeeu Deeeeeeeus! É ele!

-Danna-kun!Danna-kun!Aishiteru!

Eram fãs, ou melhor, adolescentes neuróticas que fugiram de casa em plena madrugada para ver seu ‘ídolo’ correr feito louco pela rua – Sakura sabia como elas se sentiam, já fizera algo parecido no passado. Mas será que ninguém percebeu que esse ‘Sasori’ era mais baixo e tinha nádegas maiores? Será que ninguém percebeu que ele estava usando um tênis feminino e com uma calça cujos bolsos traseiros eram enfeitados com bordados de borboletas rosa pink?

Aquilo não importava no momento, ao menos para ela que estava com a cabeça a premio.

Ainda no meio da rua, abriu a porta do primeiro taxi que viu e entrou.

-¿Pero o que estás...?

-Pergunta depois, acelera!

No segundo seguinte, o taxista viu o aglomerado de flashes, gritos e cartazes coloridos com ‘aishiterus’ em letras berrantes e caprichadas, enterrou o pé no acelerador e quase atropelou uma penca de repórteres. Algumas das fãs, inconformadas, jogaram-se contra o carro na tentativa de pará-lo. Tal ato fez com que Sakura encolhe-se no banco e finca-se suas unhas no acolchoamento do mesmo, sentia a pulsação em seus ouvidos a entorpecendo lentamente e seu coração bombardeando suas costelas, o medo e o desespero arrepiando seus pelos. Fechou os olhos e respirou fundo. Calma Sakura, calma...

-¡Díos mío! – Obviamente, o taxista é espanhol (ou mexicano, chileno, porto-riquenho... Sakura não sabia a diferença) – ¿Que inferno es este? ¿Quem es usted?

Só quando ouviu essas palavras Sakura teve coragem de abrir os olhos, a multidão tinha ficado para trás.

-Eu? – Indagou a Haruno – Sou uma pessoa comum e não um ídolo do rock nacional, mas que teve de fingir ser um para uma multidão que queria me comer viva.

O homem a olhou pelo retrovisor do carro – Sakura não pode distinguir seus traços detalhadamente devido à escuridão do carro, mas pode perceber que ele deveria ter uns 30 ou 35 anos, tinha pele oleosa e olhos castanhos que, a falta de luminosidade, pareciam dois poços negros com um pontinho brilhante cada – com confusão, estava claro que ele não entendera nada do que dissera.

-Olha – Suspirou – Me leva pro Mcdonals da LongDevi com a Brexter, por favor.

-Sí, senhorita – Murmurou o homem com um ar cansado e receoso. Ambos torciam para não encontrarem um inferno de luzes e gritos quando chegarem lá.

Sakura afundou no banco, sentindo que novamente podia respirar.

Eu estava ferrada. É claro que, com tantas fotos, alguém iria descobrir que eu não era ele. Só torço para descobrirem isso depois que eu me mudar para qualquer lugar longe daqui.

Agora eu me pergunto, POR QUE CACATUAS E POLVOS EU FIZ ISSO?! Ah sim, claro, eu sou uma idiota que não mede as conseqüências de correr feito louca fingindo ser um astro do rock fugitivo para uma multidão ensandecida de paparazzis e fãs lunáticas. ‘Tava na cara que coisa boa não iria sair.

Eu não sei o que estava pensando quando troquei de casaco com aquele cara, o Sasori. Tá, tudo bem, ele é famoso e eu já fui fã dele, mas ainda sim é um completo estranho e o pior, esta com a chave do meu apartamento – vai que ele da a louca e faz uma festa NO MEU APÊ?!

Ai dele se fizer isso. Não importa se ele é Sasori, Obama ou o Papa, se ele tiver a ousadia de desarrumar o MEU apartamento, o pau vai comer.

E vai comer muito. Muito mesmo.

Afinal de contas, por que carga d’água esse maluco resolveu fugir meu Santo Cristo?!

-Pronto, senhorita – A voz do taxista demonstrava sua irritação e Sakura não o culpava, ela sabia o quanto aqueles poucos segundos lá atrás foram assustadores. – Son viente dólares.

Dito isso, Sakura tirou um dos tênis e pegou o pequeno bolo de dinheiro que havia nele – Eu não sou louca de viajar com dinheiro na carteira.

Entregou o dinheiro ao taxista e saiu do carro, bem a sua frente havia ponto do lanche rápido. Tratou de tirar o casaco – a contra gosto, na verdade, estava fazendo muito frio naquela hora – para não levantar suspeitas e o amarrou na cintura. Deu uma arrumadinha no cabelo e começou a andar pela Rua Brexter a procura do seu prédio torcendo com afinco para encontrar Sasori. A rua não estava bem cheia para a hora, Sakura podia ouvir as noticias dos rádios e tevês dos andares mais baixos dos prédios que passava – principalmente no bar ANBU, um lugar que freqüentava em suas noites de folga com os amigos. Quando chegou ao bar, procurou com os olhos por Jiraya, dono do lugar, mas tudo o que viu foram alguns velhos bêbados jogando truco e apostando revistas da Playboy e tickets de alimentação.

A teve estava ligada e dava a noticia sobre o Akatsuki perdido. Sakura não estava muito a fim de assistir o que já sabia, tudo o que ela queria no momento era um banho quente e cama.

E, claro, quebrar a fuça de Sasori – apesar de uma parte sua considerar pecado manchar o rosto de alguém tão bonito quanto ele.

Arrastando os pés e esfregando os braços, Sakura finalmente chegou ao seu prédio. Bateu na guarita do porteiro, o acordando de seu cochilo, e este – lhe desejando boas vindas – deixou-a entrar. Dentro do prédio, Sakura vestiu novamente o casaco vermelho de Sasori – ela tinha que admitir, tinha um cheiro ótimo, uma mistura de shampoo e colônia. A essa altura, Sakura já sentia o peso da viagem e do stress sobre seus ombros. Suas pernas doíam de tanto correr, sentia-se melada devido ao suor, tinha bolhas em seus tendões e tremia de frio.

Tentando ignorar tudo isso, Sakura entrou no elevador e apertou o numero do seu andar. A música do elevador a relaxou de certa forma.

Contudo, quando a porta do elevador se abriu, Sakura soube que as coisas não seriam tão fáceis assim. Sentado de costas para a porta, com um casaco branco e rosa sobre os ombros e um braço apoiado na pena dobrada estava ele, Akasuna no Sasori, o baixista de sua antiga banda preferida.

Suspirou – aquela madrugada iria ser longa.

Continua...