Boring

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A moça observa seu reflexo no espelho. Não sente júbilo ou aflição. Ajeita os longos cabelos, ciente de como eles caem em uma cascata de prata e luz. Ela é uma mulher bonita. Talvez até mais do que bonita. Não enxerga a beleza, que vem de seus genes veela, como uma dádiva ou maldição. É apenas um fato. As coisas são como são e, nesse ponto, Fleur Delacour é bastante pragmática.

A garota sabe que é bonita. Como não saberia? E por que fingiria não saber? Se afogar em inseguranças é uma característica imposta ao seu gênero, ela entende. Compreende os mecanismos que aprisionam mulheres em uma caixa de auto-ódio e angústia. Fleur não tem qualquer motivo para cair nessa armadilha. Ela é o padrão. Se encaixa em todas as definições clássicas – e forjadas – de belo.

Então, sim, a francesa sabe que é bonita. Não vai se tornar refém da falsa modéstia. Não vai fingir ignorância. Não vai se desculpar por isso. E talvez seja difícil para o mundo aceitar uma mulher que não se desculpa – ela não fez nada errado, por Morgana! –, que não se anula, que não se odeia. Talvez por isso seja tão fácil odiá-la. Acusá-la de ser uma vadia arrogante, fútil e insensível. É sempre esse o crime de uma mulher confiante, não é mesmo?

Mais fácil ainda é acreditar que a aparência é tudo o que lhe importa. A jovem sente vontade de gargalhar ao ouvir essa ideia estapafúrdia. Quando se é tão imaculadamente bela desde sempre, a beleza se torna algo, bom, entediante. Algo que te entretêm por alguns instantes, até seus olhos se acostumarem com a visão e eventualmente procurarem outras “coisas” belas para apreciar. Fleur Delacour é muito mais do que uma coisinha bela para ser apreciada. Não veio ao mundo para ser feita de enfeite. E se há algo que detesta é sentir-se entediada.