mau agouro - trigésimo primeiro capítulo

uma casa de estrelas, por lyn black

Nunca houve Natal cristão na casa Rosier-Black, apesar da família comparecer à ceia simbólica que Walburga fazia todo ano para exibir o seu legado, ou qualquer razão vazia que usava para se justificar. O Natal de 1972, é sabido, foi o mais rigoroso da década, com rajadas congelantes e feitiços duplos de aquecimento nas casas bruxas. A comunidade mágica supersticiosa comentava, assombrada, sobre o mau agouro daquela estação, apontando como os braços da Deusa se cruzavam para as terras bretãs.

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Druella sempre foi uma mulher fervorosa no seu culto, mas esse tipo de apelo sempre soou aos seus ouvidos como conversa de charlatões. Era tudo uma questão de falta de compreensão dos ciclos naturais, achava, além das máquinas trouxas com aqueles vapores cinzentos. Infortúnios poderiam ser suspeitados pelas estrelas e pela Visão, para as poucas que ainda a tinham, e nada mais.

O inverno de 72 deixou uma cadeira eternamente vazia na sala de jantar de Druella. Ela se lembrou por muito tempo de haver escovado os cabelos da filha na noite anterior ao dia santo, de ter tido certeza de que Andrômeda era sua, e somente sua. Andie era ainda só uma garota, não? Mal tinha dezoito anos, estava para se formar em Hogwarts. Como ela podia deixar seus braços nus, então, e ir para o peito de um homem dos trouxas?

Quando Andrômeda havia questionado Bella e Órion no último Natal sobre sangues-ruins na escola, eles haviam ignorado seu linguajar sobre "nascidos-trouxas" e herança mágica. Ela havia sido dispensada como a tola Andrômeda, querendo chamar atenção, uma imitação barata de Sirius, afinal, ela era grandinha o suficiente para saber o seu lugar.

Andrômeda tentou conversar com ela, Druella admitia, tentou persuadir uma mulher adulta quanto aos seus delírios juvenis. Quando a Black repousou a mão no ventre, entretanto, Druella engoliu a traição maior de sua cria. Não haveria volta para a sua criança, a Rosier sabia, e a faca no seu peito corroeu seu coração.

Era um inverno rigoroso, e 'Drômeda saiu com a roupa do corpo e a varinha na mão, lágrimas marcando seu rosto. Ela alimentara falsas esperanças, sabia disso com clareza. Ao mesmo tempo em que saira de casa, havia sido deserdada. Os ventos fizeram seus curtos cabelos voarem, e Black andou no transporte trouxa pela primeira vez, apenas um endereço rabiscado num papel no seu bolso.

Druella gostaria de marcar no coração da mulher que agora ela não tinha mais mãe, pois por fora seguiu sua vida como se sua filha houvesse morrido. Carregou a carcaça de uma filha imaginada, então, até seus últimos dias. Talvez no seu leito de morte, entretanto, tenha compreendido que sua menina-galáxia partira por ser exatamente quem Druella sempre suspeitou que ela fosse: a mulher que carregava a Visão no corpo, na alma e no olhar.

Nunca fora mau agouro, apenas uma filha da Deusa cumprindo sua sina. Poderia ir em paz.