Justificativa

"Por que você me ama?"


- Dora?

- Hm?

Era tarde da noite e os dois estavam deitados na cama. A cabeça dela sobre o peito dele, enquanto ele lhe acariciava os cabelos. Ela já estava pegando no sono, mas ele se mantinha ainda bem desperto, olhando para o teto e para as figuras nele formadas pela luz que entrava pela janela. Não prestava atenção nelas, porém; ocupava-se com seu turbilhão de pensamentos.

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- Por que você me ama? – perguntou ele finalmente, após alguns instantes de silêncio.

Ela levantou-se de repente e virou-se para fita-lo, com uma das sobrancelhas erguida.

- Vai começar com isso de novo?

- Não... é que as pessoas costumam dizer que amam umas às outras por uma série de razões e eu sei que você deve ter tido as suas para se apaixonar por mim, mas... eu sou cheio de problemas. Então eu me pergunto: qual é exatamente a razão que te faz me amar apesar de todos eles?

Novo silêncio, desta vez mais extenso. Ela pensava.

Depois de algum tempo, veio a resposta simples:

- Talvez não haja uma razão específica.

Ele a encarou confuso. Parte dele temia que a conversa tão inocente pudesse tê-la levado até à constatação: ele não valia a pena.

- Como assim? – indagou, gelado por dentro.

Ela cruzou os braços.

- Ora, Remus, por que você me ama?

Embora surpreso com a pergunta, ele ia começar a pensar para responder quando ela continuou:

- Talvez você pudesse dizer que é porque me acha bonita, porque gosta do meu beijo e de como me preocupo com você, porque eu sempre vi o seu melhor em qualquer situação ou todas essas coisas juntas. Você pode procurar uma série de motivos e pode ser que eles consigam explicar porque você começou a gostar de mim. Mas será que todos eles, realmente, conseguem justificar o que você sente agora? Dá para dizer que é exatamente só por causa dessas coisas que você me quer?

Ele fixou o olhar no lençol bagunçado que o cobria, sem prestar a mínima atenção nele enquanto refletia sobre aquelas palavras numa tentativa de encontrar algum modo de contestá-las. Não conseguiu.

Ela estava certa, por mais que parecesse esquisito. Amá-la era algo inexplicável, não porque ela não merecesse tal amor ou que não desse razões que ajudassem a aumentá-lo, mas porque aquele amor era tão imenso que não parecia fazer sentido atribui-lo existência a meros gestos ou meras qualidades. Amava-a e ponto. Era assim que era e como, estranhamente, parecia sempre ter sido.

Voltou os olhos para os dela, que o encaravam preenchidos com alguma expectativa.

- Não. – respondeu ele, sorrindo e finalmente compreendendo. – Não consigo justificar e nem explicar.

Ela sorriu também.

- Então é isso. Amor mesmo não tem justificativa. Só existe. – concluiu e ficou aguardando para ver o que ele lhe diria.

Ele nada disse com os lábios, mas com um simples gesto pôde expressar toda a sua concordância: puxou-a de volta para junto de si, envolvendo-a pela cintura. E então estendeu a mão e entrelaçou os dedos nos dela.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.