Endless Night

Capítulo 8 - Rin


— Vocês… mataram o autor?

Miku parecia realmente pasma ao ouvir aquilo. Ela tinha parado de se mexer. Nem sequer piscou quando meu irmão e eu nos aproximamos e começamos a rodeá-la, em uma tentativa de amedrontá-la. Bom, acho que ela já estava assustada o suficiente.

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— É — confirmei — Não era nossa intenção matá-lo, na verdade. Mas quem poderia imaginar que os ponteiros daquele relógio eram tão afiados, não é? — eu ri, e Len fez coro a minha risada.
— O relógio — Miku virou-se para encará-lo — Ele ainda está parado.
— Isso mesmo — meu irmão confirmou — O tempo parou de correr no instante em que você errou a cena.
— E provavelmente teremos que repetir tudo de novo — lamentei — É tudo culpa do autor, sabe? Nós só queríamos assustá-lo para que ele mudasse aquele final horrível, mas o matamos sem querer — eu contei — Mas, antes de morrer, ele jogou uma maldição em nós. Agora, todas as noites temos que representar a mesma peça. Estamos presos dentro desse espetáculo que nunca acaba porque a última página sempre desaparece sem nenhuma explicação. Apenas uma pessoa "de fora" pode tirar outra pessoa daqui "de dentro".
— Irmã — Len chamou — Ela não está te ouvindo.

Ele tinha razão. Sem que eu me desse conta, Miku havia arrancado os ponteiros do relógio e avançado em nossa direção. Len e eu conseguimos desviar por pouco, mas ela continuou correndo e apunhalou Meiko.

— Por que? — a mulher perguntou, cuspindo sangue — Por que está fazendo isso se a culpa é sua? Foi você que errou a cena… — ela desfaleceu nos braços de Kaito. Que foi o próximo a ser apunhalado no peito com os ponteiros do relógio.
— Droga… então teremos outro "Bad End"? — ele perguntou antes de partir.
— Ele tem razão, irmã. Hoje será outro "Bad End" — Len sussurrou ao meu lado enquanto assistia nossa hóspede assassinar a empregada.

Olhei para a folha de papel que Miku tinha encontrado, que agora jazia no chão ao lado do relógio sem ponteiros. Já não fazia mais diferença se aquela era ou não a página que faltava. A protagonista que tivemos tanto trabalho para encontrar tinha enlouquecido a ponto de matar todo o elenco da peça, pensando que assim conseguiria escapar daqui, e se esquecido completamente de seguir o roteiro. Ela estava nos sentenciando a outro "Bad End".

— Ei, Len — eu chamei, tendo uma súbita ideia — Talvez devêssemos contar "aquilo" para ela — sugeri e meu irmão assentiu, sabendo muito bem do que eu falava mesmo sem colocar em palavras — Ah, é mesmo — eu elevei a voz para que Miku pudesse me ouvir — Tem uma coisa que esquecemos de mencionar…
— Não me interessa! — Miku gritou, avançando em nossa direção, a roupa manchada de sangue — Me levem de volta… me levem de volta para o meu mundo! Me deixe ir embora dessa noite louca! — ela se aproximava a passos lentos, desviando da pilha de cadáveres que tinha formado. Parecia completamente ensandecida — Se eu matar vocês, com certeza poderei voltar para casa… vou acabar com vocês. Assim como vocês fizeram com o autor.
— Não vai não. Essa noite vai apenas se repetir — meu irmão apressou-se a dizer.
— E como você pode ter tanta certeza? Hein?!
— Porque você já tentou fazer isso antes. E não deu certo.

Ela paralisou diante daquela revelação. Os visitantes não costumavam se lembrar das noites repetidas, apenas nós, moradores da mansão. Aquela pobre garota não tinha a menor ideia de quantas vezes nós já tínhamos encenado aquele espetáculo insano.

— Parem com isso vocês dois — milagrosamente Gakupo ainda continuava vivo. Ele fez um esforço para se levantar do chão apenas o suficiente para me encarar, esticando uma das mãos em minha direção — Vocês estão falando demais. Não podem dizer a ela… — ele se calou de vez quando Miku cravou os ponteiros do relógio em seu pescoço.
— Ah, nós podemos sim. Somos crianças travessas — sorri maldosamente.
— Do que ele estava falando? — ela questionou.
— Nunca se perguntou o motivo de existirem dois bonecos na história? — Len perguntou — Na verdade o elenco era composto pelos três donos da mansão, seus dois servos e um visitante. Originalmente nós não existíamos.
— Então o que raios vocês estão fazendo aqui?!
— Antes de morrer, o autor deixou outra coisa além da maldição — expliquei — Moderadores. Ele nos criou para garantir que a protagonista, no caso a "Aldeã", encontrasse última página e, junto com ela, a saída. Desse jeito os atores da peça que o mataram permanecerão presos dentro da história e a maldição do autor jamais será quebrada. Os outros geralmente se esquecem de que somos moderadores, mas em momentos cruciais como esse, não tem como não lembrar.
— Por que acha que te dei a dica do relógio afinal? — Len apontou para o relógio, agora sem ponteiros.
— Isso tudo é ótimo, mas não me ajuda a sair daqui — Miku falou, cheia de raiva por ter sido usada. Era difícil saber se ela tinha compreendido tudo o que dissemos — Eu preciso destruir essa noite louca para voltar para casa. Preciso destruir tudo… todos vocês! — ela arremessou os dois ponteiros ao mesmo tempo, atingindo meu coração e o de Len ao mesmo tempo.
— Droga… vamos ter que encenar tudo de novo. Mas não se esqueça… procure a última página se quiser encontrar o "Happy End" — falamos ao mesmo tempo antes de partir.

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