Endless Night

Capítulo 7 - Boneco


Miku nos encarou com espanto evidente nos olhos. Eu não podia culpá-la. Qualquer um ficaria surpreso no lugar dela se ouvisse aquilo.

— O que disse? — ela perguntou lentamente.
— Que você está dentro da peça — minha irmã repetiu — Olhe — ela deu um giro completo de braços abertos — Estamos dentro da mansão e o elenco se tornou real.
— É sempre a mesma coisa — lamentei — Uma pessoa perdida se junta a nós. Oferecemos um banquete e fazemos uma verdadeira festa para comemorar sua chegada, mesmo mal conhecendo a pessoa. É natural ficar um pouco cansada de festejar tanto, é claro, então a hóspede pede para tirar um cochilo. E é aí que o problema começa.
— Você errou uma cena — Rin falou séria — E por causa disso o relógio parou. Se o tempo não avançar, não poderemos terminar a peça e continuaremos presos aqui.
— Como assim "presos"? — Miku perguntou. Ela recuou alguns passos na direção do relógio, cada vez mais assustada — Não posso ficar presa dentro de uma peça. Eu… quero voltar para casa.
— Nós também — eu falei, me aproximando dela — Mas precisamos da ajuda de uma pessoa "de fora" para que outra daqui saia. Por que acha que te convidamos para se juntar a nós, hein?
— Vocês… me usaram… — Miku arregalou os olhos esverdeados. Parecia estar magoada por descobrir que a trouxemos não por causa do seu talento como atriz, e sim para nos ajudar a sair dali. Mas isso não me importava no momento.
— Não leve para o lado pessoal — minha irmã pediu, sorrindo como quem se desculpa — Nós estamos presos aqui há muito tempo, entende? E estamos dispostos a fazer qualquer coisa para terminar essa peça de uma vez por todas.
— O que? — ela pareceu voltar a si — Há quanto tempo exatamente vocês estão aqui?
— Hã… faz quantos anos mesmo, irmã? — perguntei enquanto ela contava nos dedos.
— Perdi a conta — ela respondeu por fim.
— Anos?! Mas por que tanto tempo? — Miku recuou mais um passo, quase batendo com as costas no relógio.
— Somos atores, você sabe — lembrei — Estamos representando essa peça há tempo demais. Mas o final dela… na verdade eu não me lembro qual era o "True End", mas ninguém gostou. Todos odiaram na verdade.
— E o que isso tem a ver?
— Nós queríamos um "Happy End", mas o autor não queria mudar de jeito nenhum. Ele teimou em nos fazer representar uma peça com um "Bad End" — minha irmã explicou — Então acabamos matando o autor.

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