Manto Negro

Capítulo XII


Passaram-se quase dois meses desde que comecei a sair furtivamente da Casa para arriscar minha vida na cidade, sempre que podia, ligava de madrugada para Holly, que já havia se acostumado e até esperava as ligações. Enquanto conversava com Holly, contei o quanto que consegui evoluir.

— É incrível, não preciso fazer tanto esforço para poder descobrir os medos das pessoas, e se eu persistir mais, consigo ver os traumas. É mais difícil, porém muito mais doloroso, acredito que se continuar nesse ritmo, posso fazer muito mais - Falei por telefone

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- Bom, não sei o que é mais estranho, você feliz por fazer os outros sofrerem ou eu, querer ver ao vivo isso - Rebateu

— Ah, apenas uso em delinquentes, você sabe disso -

— E depois de todo esse tempo, andando com um capuz na cabeça, e assustando os bandidos, não reparou em nada? - Perguntou

Não entendi a pergunta, ela tentou explicar de outro modo.

— Sempre existe um cara poderoso, que não gosta de saber que seus capangas estão apanhando na rua -

— Adoraria conhecer ele, talvez seja mais resistentes que seus capangas - Falei

— Guta, é serio. Tome cuidado, por favor - Falou seriamente

— Sei o que faço, fica tranquila -

Desliguei e devolvi o celular ao rapaz, ainda era cedo pra retornar a Casa, de repente eu ouvi o som de tiro, e um estalo na parede. Automaticamente me agachei, procurando quem atirou, novamente o estalo na parede, foi tão próximo que as fagulhas me assustaram.

— Maldita seja Holly por abrir a boca - Pronunciei

Esperei por mais alguns segundos, ainda sem saber da onde vinha o tiro, até que ouvi um som diferente, um grito que se encerrou com baque. Espiei pela brecha da parede e um homem de casaco verde escuro estava jogado no chão, a arma prateada brilhava a alguns centímetros de distancia.

— Pretendia ficar escondida até quando? - Uma voz feminina falou por trás

Levantei e me virei rapidamente, não pude esconder minha cara de surpresa, porém não precisava esconder nada, Hazel não podia ver.

— Não respondeu minha pergunta - Falou

Hazel usava um casaco camuflado, o cabelo estava amarrado, parecia uma garota que estava indo no mercado, tirando é claro, que nos punhos tinha enrolado cordas grossas, que subiam pelo braço até parar no bíceps.

— Vamos sair daqui - Falou

Não sei porque, mas a segui, andando com passos largos pelos becos escuros, até chegarmos em um que não tinha saída, apenas uma escada que levava a uma porta vermelha.

— Espera, pra onde esta me levando? - Perguntei

— Para minha casa, precisa tratar esse ferimento - Respondeu

No calor do momento, não percebi que uma das balas tinha pegado de raspão no meu braço esquerdo, não era nada serio, mas sangrava.

— Como pode saber? -

Ela deu de ombros e abriu a porta, fui logo atrás. Era escuro, mas para mim não tinha problemas, enxergava do mesmo jeito.

— Não tem luz? - Perguntei

— Nunca procurei saber - Respondeu

Tinha um disjuntor na parede, mas não ascendia nada.

— Pode sentar aonde quiser -

Uma música tocava na casa, era baixo e tranquilizante. Observei Hazel tateando algumas coisas, talvez lendo em braille. Me sentei no sofá, e senti o cansaço me consumindo aos poucos, agora a dor era quente, ardia meu braço. Ela se aproximou, e sentou do meu lado, sem olhar diretamente pra mim, ou pra qualquer outra coisa, seus olhos focavam o vazio. Molhou o algodão em um liquido avermelhado e colocou no meu ferimento, agora ardia como nunca, tive que segurar um gemido de dor.

— Sabe que posso ouvir, não importa se tente segurar - Falou

— Não respondeu minha pergunta, como sabia que eu estava ferida -

— Nem você respondeu a minha - Rebateu

Ela parou de limpar, e colocou gases no local e prendeu com fita. Estava tão próxima, que eu podia ouvir sua respiração calma, fiquei me perguntando como alguém como ela poderia ser uma assassina.

— Estava aperfeiçoando minhas habilidades - Respondi

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— Ah sim? Colocar sua vida em risco faz parte do aperfeiçoamento? - Caçoou

— Foi uma consequência, apenas isso. Agora responda minha pergunta - Insisti

Ela suspirou e levantou para guardar o kit médico.

— Posso sentir o calor e o cheiro do sangue quando ainda esta fresco - Respondeu

Lembrei de quando ela me deu um resumo de suas habilidades na caminhonete.

— O que você fazia lá fora? - Perguntei

Ela foi em direção a cozinha, tateando a bancada e procurando algo, encontrou uma chaleira, acendeu o fogo e deixou a água fervendo.

— Queria saber como estava sendo seu desempenho - Respondeu

— Não é a primeira vez que me segue? -

— Por sua causa, as ruas ficaram mais perigosas, assim que queria saber que tipo de mágica estava fazendo por ai - Falou soltando um sorriso travesso

— Então ouviu minhas conversas com Holly? -

Recordei de algumas que citava Hazel como um ser misterioso, outras falavam de Vlad.

— Algumas talvez... - Respondeu

— Isso é invasão de privacidade, sabia disso? -

Ela riu, tirou o chaleiro do fogo e fez um café, me ofereceu um e aceitei. E finalmente, depois de meses, eu provei um verdadeiro café.

— Falou a garota que pode entrar na cabeça e revirar seus piores medos - Retrucou

— É diferente, e só faço isso com pessoas ruins -

— Oh, talvez mereça um premio pelo heroísmo - Caçoou

— Tão ignorante, agora entendo porque falam tão mal de você -

— Mas eu falo sério, de todos os mutantes daquela Casa, você foi a única que teve peito pra enfrentar esse tipo de pessoa. - Seu tom era sério - Admiro isso - Acrescentou

Meu relógio apitou, já era hora do meu retorno, agradeci pelo café e me retirei, antes de fechar a porta eu ouvi Hazel dizer.

— Acredito que tenha gostado do café, já sabe aonde conseguir - Vi um pequeno sorriso se formar

Não tive coragem de dizer nada, apenas senti meu rosto esquentar, e aposto que ela sentiu também.