Epílogo - Sobre o campo de girassóis

No primeiro encontro, Isabelly me levou um girassol, que eu mantive na cabeceira da cama até que o tempo o estragou. No nosso primeiro aniversário de namoro, eu levei pra ela um buque de girassóis, e, quando a pedi em casamento, me certifiquei que a aliança tivesse uma pequena flor gravada. Chamamos nossa primeira filha de Flora. Agora, 10 anos depois de nosso primeiro encontro, era aniversário de 2 anos de Flora e estávamos a levando num campo de girassóis.
—Pegou a bolsa da bebê? – Isabelly perguntou, enrolada. Já estávamos sentados no carro.
—Merda!
—“Vamos ter um filho” – ela disse ironizando minha voz – “Vai ser legal”.
Voltei com a bolsa, rindo.
—Eu te amo, mas às vezes você parece uma das crianças que eu dou aula, Isabelly.
Ela riu também, e balançou a cabeça. Flora reclamou na cadeirinha.
—Suas crianças são chatas. – Isa disse, e depois virou pra bebê e brincou com ela, que riu e logo se acalmou.
—Seus pacientes também.
Mesmo no auge da nossa vida adulta, ainda nos permitíamos implicar um com o outro como se fossemos adolescentes. Talvez esse seja um dos motivos por nosso amor ainda estar tão vivo.
No campo de girassóis, Flora ficou maravilhada. Eu nunca a vi tão feliz. Olhei pra Isabelly e depois pra nossa filha, as duas eram quase cópias exatas, o mesmo cabelo loiro e olhos escuros. Lembrei que, quando a conheci, seu cabelo era rosa. Espero que minha filha não herde o gene rebelde.
Ali, observando Flora brincar com os girassóis, no colo de Isabelly, eu percebi que as feridas do passado que tínhamos jamais iriam se curar. Isa ainda tinha medo de ser abandonada, e eu ainda acordo de vez em quando no meio da noite, suando por causa dos pesadelos. Mas, mesmo com tudo, tínhamos conseguido: ali estávamos, apesar de nossas famílias disfuncionais, criando nossa própria família.
Naquele momento, prometi a mim mesmo: Flora teria tudo que não tivemos.