The Baby Sitter

28. O que você quer, afinal?


— Eu não acredito que você fez isso!

Rose soltava gargalhadas consecutivas.

— Você não era assim, Hec. – ela falou, com os olhos lacrimejando de tanto rir.

— Eu só me defendi! – Hector replicou, também rindo. – Aquele pedaço de salamandra era meu!

— Era só pegar outro. O Slughorn não iria se importar.

— Mas eu ia!

— Eu ainda não posso acreditar que você azarou o Ricky por isso!

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— Foram apenas dois dias em repouso. – ele deu de ombros. – Pelo menos agora ele pode voltar a se sentar sem ter que ficar de ladinho.

Rose voltou a rir com gosto. Hector a observou com admiração. O contorno feliz do rosto da ruiva parecia brilhar na claridade fraca do inverno. Suas covinhas acentuadas e suas sardas alaranjadas estavam ainda mais marcadas na bochecha.

Uma vontade cresceu dentro do corvino. Sem pensar em mais nada, o garoto selou os seus lábios nos de Rose. O passo inicial fora dado com cuidado e Hector se alegrou quando a ruiva correspondeu a sua investida de maneira suave. O corvino subiu sua mão pelas costas da garota, até pousa-la em sua nuca. Os dois permaneceram naquele beijo por alguns segundos.

Mas como se estivesse despertado de um sonho estranho, Rose abriu os olhos e se afastou.

— Você não deveria ter feito isso. – ela disse, com as mãos espalmadas sobre o tronco de Hector. – E eu não deveria ter deixado...

— Mas... – o garoto balbuciou, porém Rose o interrompeu:

— Não, Hector. Não.

— Me desculpe, Rose. Eu não quis ultrapassar nenhum limite.

— Não é sua culpa. É minha.

Rose se levantou rapidamente.

— Eu tenho que ir.

O corvino segurou a sua mão.

— Me desculpe. – ele pediu novamente.

— Eu que tenho que me desculpar. – a garota respondeu.

Ela seguiu em direção ao salão comunal da grifinória. Hector não foi atrás dela.

...

Rose jurou ter visto uma sombra alta e de cabelos loiros atravessar o quadro da mulher gorda acompanhado, antes dela. Mas agora ali, dentro do salão comunal, tudo parecia estar completamente vazio. Ela estava sozinha, próximo a lareira.

Só me faltava essa agora, andar imaginando coisas! a garota pensou. Rose queria que sua mente se desligasse de Scorpius Malfoy e de tudo o que ele fazia, porém, as coisas não pareciam tão fáceis quanto ela imaginou. A maldita pulseira morna em seu braço era uma prova disso.

Rose se jogou na poltrona e fechou os olhos. Deixara Hector lá fora, provavelmente com uma grande dúvida na cabeça. Ela tinha aceitado acompanha-lo no aniversário do James e se alegrava bastante com a presença do corvino, mas de uns meses para cá era inegável que algo entre os dois tinha mudado. Melhor, algo nela estava diferente.

Ou talvez estivesse igual a três anos atrás.

Não está, a garota se repreendeu. Mas então por que saber que Scorpius estava dentro do quarto, e tudo indicava que com alguém, a deixava tão... agoniada?

Você não tem certeza, a voz número 1 ecoou na sua mente. A ruiva suspirou. Ela bateu com os pés levemente sobre o tapete, com certa impaciência, contudo, resolveu esperar por um tempo.

Quase meia hora depois, Rose se levantou.

— Ok, eu não quero saber. – murmurou para si mesma. – Não é da minha conta com quem ele fica ou deixa de ficar.

Isso SE ele estiver com alguém, disse a voz número 1 dentro de si.

É claro que ele está! rebateu a voz número 2.

— Parem com isso, em nome de Merlin! – a ruiva brigou com os seus pensamentos.

Rose subiu os degraus em direção ao dormitório batendo os pés. Ela parou no alto da escada e a sua cabeça tendeu para o lado dos quartos masculinos, curiosa. Rose deu dois passos para o lado, mas parou logo em seguida.

— Não, Rose! – ralhou consigo mesma. – O que deu em você?!

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Ela seguiu em direção ao dormitório feminino. Porém parou de andar de novo no meio do caminho.

E se ele realmente não estiver acompanhado? A ruiva se questionou. Ela mordeu o canto dos lábios e deu batidinhas na bochecha com a ponta dos dedos, pensativa.

Rose voltou a andar rumo aos aposentos masculinos, porém, antes que ela subisse a segunda escada, a porta da entrada dos quartos fora aberta. Lily saiu de lá de dentro, afobada.

Rose congelou. Lily, no entanto, não pareceu perceber o estado da prima.

— Rosie! – a ruiva chamou. – Rosie, graças a Merlin! – ela puxou a prima pela mão, em direção ao dormitório do sexto ano. – Eu estava aqui com o Malfoy e aí a gente estava rindo...

Lily tremia enquanto arrastava a ruiva mais velha.

— ... aí ele ficou estranho e falou umas coisas estranhas...

— Lily... – Rose sussurrou, ainda assustada.

— ... e então ele desmaiou e eu não soube o que fazer, aí e desci correndo. – a quartanista continuou. – E você estava lá embaixo, ainda bem, porque eu fiquei desesperada e...

Rose entrou no quarto e puxou as cortinas da cama de Scorpius. Malfoy estava desmaiado em cima do edredom avermelhado. O loiro tinha os primeiros botões da camisa abertos, sujos com algo que parecia vir da garrafa de hidromel apoiada na beirada da cabeceira.

Lily cutucou a prima.

— Rosie... – ela chamou. – Você me escutou?

— Sim. – Rose respondeu, com as narinas latejando.

— E agora? – Lily indagou.

— Agora? – a ruiva mais velha observou o rosto inerte de Scorpius. – Agora ele vai acordar.

Rose puxou o travesseiro com força e acertou no loiro adormecido.

— Rose! – Lily arregalou ou olhos, assustada. – O... o que você está... fazendo?

— Acordando esse filho da puta!

— A-assim?

— É, assim! – a garota confirmou. – Pode ir, Lily. Está tudo sobre controle!

— O-ok.

Lily não ousou a não obedecer a prima mais velha. Assim que a menina saiu do dormitório, Rose voltou a dar golpes de travesseiro ao longo do corpo de Scorpius, com o máximo de força que ela conseguia aplicar. Algumas peças de xadrez bruxo voaram para fora das cortinas.

— Maldito... cachorro...desgraçado...

Após levar uma travesseirada no nariz, em cheio, Malfoy abriu os olhos, aturdido. Ele tentou se levantar.

— Mas que porr... – o garoto começou a falar, sem entender o que estava acontecendo.

Contudo, não terminou porque Rose acertou o travesseiro no seu rosto novamente.

— Rose! – Scorpius protegeu o rosto com as mãos. – Rose, para com isso!

— Não! – ela gritou de volta.

As pancadas continuaram fortes. Por ser mais alto, e fisicamente mais forte, na primeira deixa Malfoy puxou o travesseiro e o jogou no chão. Rose, contudo, continuou a acerta-lo com as mãos.

— Ruiva!

Scorpius a jogou em cima da cama, e a prendeu por entre as suas pernas.

— Me solta! – ela sibilou, ácida. – Tire suas mãos de mim!

— Você não pensou nisso quando estava me agredindo agora a pouco!

— Me solta, Scorpius!

— O que deu em você?!

— O que deu em mim?! – Rose estava revoltada. – O que deu em você, isso sim! – rebateu em cólera. – Trazer a Lily para cá?! A minha prima!

Scorpius ergueu as sobrancelhas loiras.

— Ah, isso...

Ele saiu de cima de Rose e andou em direção ao malão, no canto. A garota se sentou na beirada da cama rapidamente.

Isso? – ela repetiu o sarcasmo.

— É, isso, Weasley. – o loiro vasculhou as próprias coisas até encontrar uma camisa limpa. – Não é só você que se diverte por aí. Nos bancos dos corredores, por exemplo. – ele pontuou, direto.

Os olhos cinzentos de Scorpius pairaram sobre a garota, tão gelados que Rose sentiu vontade de se esconder dentro de uma garrafa e se lançar no oceano. Malfoy voltou a desviar o olhar para a janela, enquanto trocava de camisa.

— Podemos ir agora. – ele disse, após alguns segundos.

— Ir agora?

— É, a quinta prova começou. Achei que você tivesse entrado aqui para isso, além de me bater. Você não interromperia a sua tarde se fosse por outra coisa, não é mesmo?

Sim, pensou a garota.

— Não. – Rose respondeu.

Scorpius andou até a porta.

— Foi o que eu imaginei. – disse ele. – Vamos.

...

Era início de noite e praticamente Hogwarts inteira estava reunida no grande salão. O espaço fora modificado novamente, dessa vez para receber uma plateia – o que parecia ser todos outros alunos do castelo que não estavam participando da competição.

As mesas foram arrastadas para mais perto uma das outras e, atrás do lugar onde ocupava a fileira da sonserina, quatorze cadeiras altas, como as de tribunais, foram postas, cada uma com mais ou menos dois metros de distância da outra. Aparentemente uma para cada dupla que restara da última prova.

Scorpius cruzou os braços, parado junto a entrada do salão. Havia mais de duas horas que ele estava ali, esperando. Seu olhar se desviou para um ponto metros a frente, onde Rose estava sentada ao lado de Violet e Roxanne. As duas garotas conversavam empolgadas sobre alguma coisa, e não pareciam perceber Rose encolhida no canto, com os pés cruzados em cima do banco, e apoiando a cabeça baixa entre os joelhos.

O loiro queria ir até lá, mas sabia que havia sido um pouco duro mais cedo. Era melhor não se aproximar. Além do mais, ele também estava magoado. Ver Rose com o Carter naquele corredor mexera demais com os sentimentos dentro do seu peito. Ele não era de ferro. Não estava nem mesmo perto de ser.

Sentada a mesa dos professores, McGonagall deu batidinhas na sua taça de prata.

— Boa noite a todos.

Respostas soaram em uníssono.

— Bom, creio que já possamos dar início a prova. – ela falou, com um tom sereno. – Competidores, venham até aqui a frente, por favor. – ordenou. – Os demais, podem se sentar.

Houve um burburinho por todo o salão, enquanto todos se reorganizavam. Rose se levantou do banco onde estava e partiu rumo ao local destinado aos competidores. Scorpius fez o mesmo caminho, logo atrás dela. Os dois pararam lado a lado, mas permaneceram em silêncio.

Formou-se uma grande fileira com 28 pessoas. Neville Longbottom se levantou de onde estava.

— Antes de tudo eu gostaria de parabeniza-los por terem chegado até aqui. – falou o professor. – Nós sabemos que nem sempre as provas foram fáceis, ou até mesmo justas. Só por isso todos vocês já são campeões.

Os presentes bateram palmas solícitas. Neville continuou.

— Como todos vocês podem ter observado, temos aqui 14 lugares. Para cada trono existe uma chave. De antemão, isso significa que todas as duplas poderão se classificar para a próxima fase, de acordo com o seu desempenho. – o professor pontuou. – Em cima de cada trono existe uma caixa. Dentro de cada caixa, 13 pequenas doses de veritaserum, o soro da verdade. – disse Neville. – Cada dose da poção dura aproximadamente cinco minutos, o que é o suficiente para responder apenas uma pergunta com total sinceridade, e na frente de todos nós.

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Neville ergueu os ombros. Sua voz se tornou mais grave.

— A regra dessa prova é simples: fale a verdade e passe a diante. Apenas um competidor de cada dupla poderá subir até lá e se sentar. O competidor que ficará aqui embaixo é quem fará as perguntas para as duplas rivais. Saibam que não existem restrições. Exatamente qualquer coisa pode ser perguntada.

As duplas se encararam, apreensivas. Um clima de tensão se espalhou pelo ar. Albus ergueu a mão.

— E se o competidor escolhido não quiser responder a verdade? – o garoto perguntou.

— O competidor tem o direito de guardar a sua verdade para si mesmo. Ninguém poderá força-lo a falar, se não quiser. – o professor respondeu. – No entanto, é um por um. Ao se recusar a tomar a dose da poção e responder à pergunta, ele estará automaticamente desistindo da competição. – completou. – Vocês têm dois minutos para escolher quem irá ocupar o lugar.

Rose engoliu a seco. Ela se virou na direção de Scorpius.

— E então? – perguntou. – Como faremos?

Malfoy não respondeu de imediato. Ele continuou com as mãos nos bolsos da calça e de cabeça baixa, encarando o chão. Rose insistiu.

— Nós poderíamos fazer algum tipo de sorteio, não sei, talvez tent...

— Eu vou. – o loiro a interrompeu.

Rose piscou algumas vezes, consecutivamente. Ela estava surpresa.

— Co-como? – balbuciou.

— Eu vou, ruiva.

— Você tem certeza disso?

— Tenho.

A garota concordou, sem muito alarde. Rose se sentia estranha por pensar aquilo, mas também aliviada por não ter que subir até aquele trono. A sua cabeça estava embaralhada demais para que os seus pensamentos viessem a público.

Malfoy foi o primeiro a se direcionar até os assentos. James o seguiu, segundos depois. O mesmo fez uma garota da corvinal e logo depois um dos integrantes da dupla precedente da fila. Zabini fora um dos últimos. Os outros componentes permaneceram onde estavam, exceto por Fred, que trocou de lugar com uma quintanista para ficar mais perto de Rose.

Ele fitou a prima de soslaio.

— Em nome de Merlin, pegue leve. – pediu.

— Digo o mesmo a você. – Rose replicou, com um sorrisinho no canto dos lábios. – Achei que você é quem subiria lá.

— O Jay não me deixou ir.

— O que ele pretende fazer com isso?

— Eu não faço a mínima ideia.

Minerva bateu na sua taça com a colher, mais uma vez.

— Podemos começar. – decretou.

...

Rose esperava a sua vez, apreensiva. Quase uma hora de prova tinha se passado, e dos quatorze participantes que haviam subido até os tronos, três já haviam desistido.

A ruiva passou mão pelos cabelos e respirou fundo, quando Bonnie Corner deu um passo para frente.

— É a sua décima pergunta. – disse Neville. – A srta. escolhe qual competidor?

— Ahn... hum... – ela pigarreou. – James Potter.

Fred se balançou ao lado de Rose. A garota afagou o braço do primo, em apoio. Bonnie encarou James, séria.

— Como é ser o primogênito do eleito? – perguntou.

Um silêncio estranho se espalhou pelo salão. Rose jurava que poderia ouvir a respiração ansiosa da maioria dos presentes ali. Até ela mesma se sentia apreensiva com a pergunta que a garota fizera. Definitivamente, os questionamentos estavam ficando cada vez mais inconvenientes.

No entanto, James sorriu. Ele virou uma dose do soro da verdade e jogou o vidro vazio na caixa novamente.

— Bom... – James passou a mão pelo braço da cadeira. – As vezes é uma merda. Na maioria das vezes, na verdade.

Um leve burburinho cresceu rapidamente. Estudantes se olhavam e cochichavam, excitados com a informação. Nenhum dos três filhos dos Potters jamais tinha dito algo do tipo a ninguém.

— Eu odeio quando as pessoas ficam me encarando como se eu fosse um idiota ou fosse lançar alguma maldição em alguém. – James continuou a falar. – E as vezes eu realmente quero lançar uma maldição em alguém. – era como se ele não conseguisse ficar calado, ainda que quisesse. – Porque todos nesse castelo me atribuem funções importantes, mas ninguém nunca me pergunta se eu quero mesmo recebê-las. Eu sinto como se eu tivesse que ser perfeito a todo tempo e isso é uma merda.

Sentado algumas cadeiras a esquerda, Scorpius escutava aquilo tudo com certa satisfação. Não que a agonia de James lhe causasse conforto, mas, pela primeira vez na vida, o loiro sentia que alguém de fato sabia como era ter um fardo por causa do nome. Ainda que os dois carregassem pesos completamente diferentes.

Bonnie assentiu com a cabeça e deu dois passos para trás. Era a vez do próximo competidor perguntar.

Uma garota da lufa-lufa deu um passo a frente.

— É a sua décima primeira pergunta. – falou o professor de Herbologia, novamente como mediador – A srta. escolhe qual competidor?

— Anthony Zabini.

Diferentemente de Bonnie, a lufana parecia bem decidida. Anthony ergueu as sobrancelhas escuras, achando graça na postura da garota.

Neville fez um sinal com a cabeça, autorizando que a pergunta fosse feita.

— Eu sei que você tem um histórico dentro desse castelo, Zabini. Mas ninguém é de pedra, nem mesmo você. Então nos responda... – a garota deu mais um passo para frente. – Quem você realmente deseja, no seu coração?

Rose colocou a mão na boca, surpresa com a indagação. Scorpius e James, e 3/4 dos outros alunos de Hogwarts tiveram um acesso de riso em suas cadeiras.

O sonserino engoliu a seco. Ele pegou um vidro de veritaserum e abriu, no entanto, não bebeu de imediato.

— Sr. Zabini, não temos a noite inteira. – disse a diretora McGonagall.

Anthony olhou mais uma vez para a poção. Ele ergueu a mão por alguns segundos, mas não tardou a abaixa-la novamente.

— Foi mal, Albus. – disse.

Al assentiu com a cabeça e deu de ombros. Zabini recolocou a poção na caixa.

— Eu desisto da competição.

Ele desceu do trono rapidamente e andou em direção aos outros alunos que assistiam. Albus o seguiu, mas não sem falar antes aos primos:

— Boa sorte...

E então correu para a plateia.

...

— Scorpius Malfoy.

Nove duplas ainda restavam na competição. Era a última rodada de perguntas.

Fred cruzou os braços.

— Me diga... – pediu. – Quais são as suas verdadeiras intenções com a minha prima?

Rose praticamente engasgou.

— Fred... – ela sussurrou, de olhos arregalados. – Você prometeu que ia pegar leve!

— Silêncio, srta. Weasley. – ralhou McGonagall.

A ruiva voltou a murchar. Scorpius destampou a poção e bebeu as duas gotas de uma vez.

— E então... – Fred insistiu.

— Eu amo a Rose.

A frase saiu rápida e de uma vez só. Malfoy não conseguira controlar as suas palavras e, depois que elas foram ditas, foi como se um peso absurdo houvesse saído de dentro de si.

O loiro sentiu-se um tanto trêmulo e nervoso, mas, com certeza, não menos trépido do que Rose. A garota tinha os olhos azuis arregalados ao máximo e encarava Scorpius boquiaberta. Rose não tinha coragem de mover o olhar para outras direções, o que para a sua sorte, era a melhor decisão. Todo o salão cochichava entre si, mais ao fundo. Agora todos sabiam o que Malfoy tentara esconder durante os três últimos anos.

Lily, Roxanne e Dominique sorriam e comentavam, em uma rodinha. Já Violet aparentava estar chocada demais, ao lado de Hugo. O garoto observava a irmã preocupado. Até mesmo a diretora parecia espantada, com a testa franzida abaixo do seu chapéu pontudo. As únicas três pessoas que não pareciam surpresas eram Albus e Anthony – que por sinal bocejava, entediado – e o professor Longbottom.

Isso sem contar com Fred e James, que trocaram um olhar maroto, antes do primeiro dar um passo para trás novamente. Olhar esse que, por sinal, mesmo ainda um pouco desnorteada, Rose enxergou com bastante clareza.

— Foi por isso que você trocou de lugar, não foi? – ela sibilou, entre os dentes.

Fred apenas soltou um risinho. Do outro lado, Neville se direcionou ao último competidor.

— É a sua décima terceira pergunta. – disse Neville. – A sr. escolhe qual competidor?

Lorcan Scamander só não ainda havia feito a pergunta um único integrante.

— Scorpius Malfoy. – respondeu o corvino.

Scorpius percebeu que os olhos de Scamander faiscavam de uma maneira estranha. Ele mal tinha se recuperado da pergunta anterior e o quintanista o encarava como se fosse capaz de fazer um raio atravessa-lo ao meio, ainda que os dois nunca houvessem trocado uma palavra sequer. Não existiam motivos para nenhuma desavença.

A não ser que a Lily já tivesse contado que vamos juntos ao aniversário, pensou Scorpius, no mesmo instante que Lorcan deu um passo para frente.

— Malfoy... – os olhos verdes do garoto estavam frios. – Você diz que ama Rose Weasley, mas você realmente a perdoou pelo que aconteceu a você naquele jogo de quadribol?

A pergunta fora milimetricamente calculada para doer bem no meio da ferida. Scorpius se ajeitou no assento da grande cadeira. Outra vez, o silêncio reinou no salão.

O loiro suspirou e olhou para o seu último frasco de veritaserum.

Ele virou as gotas da poção.

— Não. – respondeu. – Eu não a perdoei.

A mísera faísca de esperança que se ascendera no coração de Rose, minutos antes, se apagara rapidamente. Malfoy balbuciou algo, mas não conseguiu falar mais nada. Não depois do olhar triste que recebera da ruiva. Infelizmente toda a sua verdade já havia sido dita.

Scorpius abaixou a cabeça. Sua garganta estava seca. A diretora se levantou.

— Obrigada a todos os competidores. – agradeceu Minerva, quebrando o silêncio constrangedor. – Eu sei que, às vezes, enfrentar os monstros lá de fora é bem mais fácil do que enfrentar os daqui de dentro. – completou. – Podem trazer as suas chaves.

Era o fim da quinta prova.

...

Scorpius corria pelas escadas que dava acesso aos dormitórios.

— Rose, espera!

Rose soltou a maçaneta. Malfoy se aproximou e tocou o seu ombro de leve. A garota se virou lentamente e o encarou. Scorpius segurava na mão esquerda um dos frascos de veritaserum que roubara do trono vazio de Zabini.

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Ele desatarraxou a tampa de cortiça com o polegar e o indicador, e bebeu a dose da poção.

— O que isso significa? – a ruiva perguntou.

Seu semblante era cansado.

— Significa que eu não estava mesmo mentindo quando eu disse que eu amo você. – Malfoy respondeu.

— Você também não estava mentindo quando escolheu dizer na frente de todos que me odiava.

— Eu não te odeio.

— Mas também não acredita em mim. – Rose retrucou. – Esso dá quase no mesmo, Scorpius...

Uma lágrima escorreu pelos olhos da ruiva.

— Eu sei que você pensa que eu arruinei a sua vida. – falou, com a voz lenta. – Talvez eu tenha arruinado mesmo.

— Não diga isso. – Malfoy a repreendeu, agitando as mãos em negação. – Não diga isso!

— Sim, eu digo. – Rose insistiu. – A gente vive se magoando. A gente vive desconfiando um do outro. Nós não nascemos para ficarmos juntos. Eu e você... isso... – ela apontou do peito do loiro para o seu. – Isso nunca vai ser o suficiente.

— O que nunca vai ser suficiente?

— Você sabe.

— Não, Rose, eu não sei! – Scorpius berrou, se afastando alguns passos.

O garoto estava inconformado. Agora era ele que chorava.

— O que eu sei é que você vive fugindo. Isso que eu sei! – continuou a gritar em plenos pulmões. – Você não tem coragem de tentar. Você sempre desiste, por que você tem medo! – a acusou, com o dedo em riste.

Rose permanecia estática, parada em frente à entrada do dormitório feminino. Já o loiro andava de um lado para o outro. Era como se ele pudesse sentir a veritaserum correndo pelas suas veias, o obrigando a por para fora tudo o que ele vinha experimentando a meses.

— Só que não se trata apenas sobre você. Se trata sobre nós. E você continua esquecendo que existe um outro lado, o meu lado! – o garoto continuou a exclamar. – Eu sempre tenho que medir minhas palavras quando eu estou com você. Tenho que controlar minhas atitudes, para que você não entenda errado, para que você não se magoe com uma vírgula do que eu digo!

— O que você quer então, Scorpius?! – a ruiva bradou de volta.

— Eu quero você! – ele respondeu. – Mas eu não sou de ferro, Rose. Eu cansei de ter paciência!

— Foi por isso que você foi atrás da Lily?!

Scorpius abriu um largo e tempestuoso sorriso. O efeito da veritaserum estava passando, mas a raiva que ele estava sentindo naquele momento não.

— Ela é ruiva. Já é um começo. – Malfoy respondeu.

Rose sentiu um buraco se abrir no seu estômago. Estaria furiosa, se não fosse a dor que ela sentira ao escutar aquilo.

— Fique longe de mim. – disse austera.

Scorpius ergueu o braço com a pulseira.

— Acho que não posso. – replicou, sarcástico.

— Não seja por isso.

Rose agitou a sua varinha e a sua própria pulseira caiu do pulso.

— Eu espero que você esteja satisfeito agora. – falou.

Rose atravessou a porta e no mesmo instante Scorpius se arrependera do que dissera. Ele pegou a pulseira que a garota largara no chão e admirou por alguns segundos, antes de se sentar no degrau da escada e deixar que as lágrimas escorressem pela sua face já encharcada. Mais uma vez o loiro tinha estragado tudo, ou pelo menos ele pensara que sim.

O que Malfoy não sabia era que, dentro do quarto das garotas, Rose convalescia em seu choro, imaginando que fizera o mesmo.