Pequenos Contos

Sensibilidade - Família (Final)


(Por Julieta)

—Que tal Isabel?

— Isabel — ele parece testar o nome, olha para a filha — Isabel Sampaio Cavalcante, nossa filha.

Ficamos um tempinho naquela pequena bolha de paz e felicidade, encostei a cabeça no peito de Aurélio e agradeço por mais essa chance, penso em como aquela madrugada estava longa, em tudo o que passamos, desde a hora que Tião nos acordou, então me mexo inquieta na poltrona.

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— O que foi meu amor? — diz apertando mais seus braços envolta do meu corpo.

— Preciso cuidar das coisas práticas, Aurélio— eu digo, ele se afasta e me olha— Susana — sussurro, ele apenas assenti —Você fica com a bebê, com Isabel.

— Não, prefiro ir e resolver as coisas, fica aqui com ela—ele se levanta, entretanto seguro em sua mão o impedindo de sair

— Sei que sim e eu permito, mas preciso fazer uma coisa antes, por favor, fique com ela.— fico em pé, beijo a bochecha de Isabel e a deixo com ele— Já volto, cuide bem de nossa menina— beijo de leve os seus lábios e deixo o quarto.

— Como ela está?— Rômulo pergunta assim que abri a porta.

— Está bem, tomou toda a mamadeira e agora dorme— digo sorrindo, acredito que terei um pouquinho de dor te tanto sorrisos que dei, mas logo me desfaço daquela alegria— E Susana?

— Bom...— ele começa e balança a cabeça, nem preciso que complete a frase para saber o que aconteceu.

— Eu gostaria de ir vê-la.

— Dona Julieta, ela não resistiu— ele fala como se eu não tivesse entendido.

— Sim, eu compreendo, mas ainda assim gostaria de ir vê-la— digo firme, ele se dirige a outra sala, onde o parto ocorreu, eu o acompanho, não sei o que imaginava que iria ver, mas não há nada a temer, ela ainda estava deitada na cama, olhos fechados, o rosto tinha uma serenidade, seu corpo coberto por um lençol, o lugar tinha sido limpo— Posso ficar sozinha um pouquinho?— Rômulo e a enfermeira deixam ambiente, caminho até a cama, sem receio toco na testa dela, não me importando que estivesse fria, começo a falar como se seus olhos estivessem abertos e pronta a me ouvir— Prometo a você Susana, ser o melhor que a sua criança, agora minha filha, prometo que ela terá o melhor que eu posso ser— emocionada por lembrar da pequena no outro aposento eu continuo— Ela é uma linda menina, seu nome é Isabel, acho que você gostaria de saber, Jonas e Rômulo falaram que ela está bem, sadia e forte, uma linda e pequena menina, Aurélio já baba por ela, confesso que eu também, a tomei nos braços e ela voltou a respirar, eu nunca fui de acreditar nisso, mas aconteceu um milagre naquela sala, como se eu desse a vida a ela juntamente com você, ela não quis deixar o meu colo, parece reconhecer a minha importância em sua breve vida — fiquei próxima ao seu ouvido— Muito obrigada por me escolher, você pode ir em paz, vamos cuidar bem dela.— beijo sua testa, cubro o seu rosto com o lençol e deixei a sala.

Vou até onde Olegário estava, que dormia sentado, tento ser delicada em tocar o seu ombro, mas ele se sobressalta ao meu chamado.

— Dona Julieta ...eu — ele se põe de pé.

— Tudo bem Olegário, está sendo uma longa madrugada, mas preciso dos seus favores— sento ao seu lado e explico que preciso que ele cuide do corpo de Susana, que dê o melhor, peço também que ele chame Tião, que prontamente aparece —Peça para Rute a caixa do enxoval que está guardado, ela sabe onde, era para o bebê de Ema, mas a situação aqui é mais urgente.

— Como está a bebê?— Olegário pergunta.

— Isabel, esse é o nome dela— novamente mais um sorriso— Está bem, Aurélio ficou com ela, logo preciso voltar, por favor, façam o que pedi, se alguém perguntar, diga que tudo está bem.— vejo os dois saírem, volto ao quarto e nada poderia me preparar para a cena que iria ver, Aurélio corpo escorado na poltrona, Isabel deitada de bruços em seu peito, as duas mãos dele protetora nas costas dela e ele dorme tão placidamente como a filha, ela não se assustava com a facilidade que “filha” se encaixava em seus pensamentos ao ver aquela criança, como se ela mesmo tivesse gerado a pequena, que pelo visto descobriu o melhor lugar para dormir e que tinha ganhado uma concorrente para o aconchego dos braços do marido. A porta abre e os três nem parecem perceber.

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— Dona Julieta— Rômulo quem entrou.— Tudo bem por aqui?

— Sim, veja — aponto para os dois — Nem parece que passou poucas horas desde o seu nascimento.— o médico sorri.

— A senhora deveria descansar também.

— Nem se eu quisesse eu iria conseguir, mas o senhor pode ir, qualquer coisa eu chamo.

— Deixei que Jonas fosse primeiro, depois eu vou.

— Quando podemos ir para a casa?— era o que mais que gostaria de saber.

—Ela parece mais que bem, vamos aguardar essa manhã passar, aqui não é tão diferente da sua casa, o carinho e cuidado com ela será maior, eu sei, vamos ver a tarde como tudo ocorreu.— concordo com um gesto de cabeça e mais uma vez o médico nos deixa.

Peguei um lençol e os cobri, deixando um beijo na cabeça de cada um , puxei uma cadeira e sentei perto deles, comovida com a cena, Aurélio com os braços protetor em volta da filha, sentia o coração se aquecer quando Isabel mexe a cabecinha, com quem se ajeita melhor em um lugar seguro, e ela sabia bem como aquele peito transbordava segurança e principalmente carinho, a forma como ele estava com a pequena, demonstrava para ela o quanto ele está familiarizado com aquela posição, com certeza foi um pai presente na criação de Ema, não só agora, mas pelo visto quando ela era um bebê também, muito ao contrário dela com Camilo, que não podia contar com Osório, nem gostava quando ele pegava o menino, que ao sentir a presença do pai chorava. Mas diante dos seus olhos podia ver um cenário totalmente diferente. Aurélio era o único homem capaz de trilhar esse caminho com ela.

— Meu amor — o toque dele em meu rosto é quem me desperta— Vai ficar toda dolorida desse jeito. —Abro os olhos e vejo ele com um sorriso bobo, uma mão em mim, e outra segurando Isabel.

— Aurélio, ela pode cair— digo ficando logo em pé, ele a segura com os dois braços, e a vira para mim, com aqueles olhinhos escuros abertos.

— Diga para a mamãe que o papai aqui sabe cuidar bem da bonequinha dele, que inclusive deu a mamadeira a ela.— ele sorri para mim, e ela me olha, não sei por qual dos dois estou mais derretida— Vem senta aqui— ele puxa a minha mão para sentar no seu lugar e coloca a pequena no meu colo.

— Olá minha pequena — digo para ela, tocando a pontinha do seu nariz— Eu não queria dormir—falei olhando para Aurélio.

— Você deveria dormir mais, teria deixando se não estivesse em uma posição tão ruim.

— Rômulo disse que talvez a tarde podemos levar ela para casa.—falei sem desviar o meu olhar do rosto dela, parecia hipnotizante, sinto os dedos de Aurélio em meus cabelos, ajeitando alguns fios, algumas batidas na porta ganham a nossa atenção.

— Desculpem vir assim , mas quando soube da noticia não podíamos ficar parados.— Elisabeta, Darcy, Ema, Ernesto e Charlotte entram.

—Ema o que faz aqui, você tem que estar descansado minha filha—Aurélio se encaminha até a filha, a abraçando como pode, por conta da barriga grande.

—Papai, até parece que eu não iria ver a minha irmã— ela diz olhando para o pai, e vejo os olhos do meu marido ficarem marejados, acho que assim como os meus.

— Vem aqui Ema— levanto e dou o lugar para ela sentar, colocando em seu colo a irmã— Conheça a sua irmã, Isabel.— a moça não consegui segurar a emoção, encosta os lábios na testa da pequena, deixando suas lágrimas caírem.

— Ela é tão linda, tão pequena.— seus dedos seguram a mão dela— E esse nome combina tanto— ajeitou melhor a irmã em seu colo.— Olá Isabel, sou Ema, sua irmã, não a mais velha por tem Camilo.

— Desculpas vir assim dona Julieta— Elisabeta diz—Mas Ema insistiu, ela iria vir de qualquer jeito.

— Tudo bem.— falei sem tirar os olhos da cena que se desenrolava, Aurélio atrás das filha, Darcy, Charlotte e Ernesto próximos.Uma batida na porta e Olegário entrou.

— Dona Julieta, só vim avisar a senhora— faço um gesto para sairmos.— Está tudo resolvido, e será em instantes o sepultamento, só vim avisar caso a senhora…

—Eu vou— digo sem pensar.

— Vai onde meu amor? — Aurélio estava na porta, explico baixo e ele decide se juntar a mim, como se eu pudesse esperar uma atitude diferente dele.

Aurélio vai comigo, juntamente com Darcy e Elisabeta, Olegário e Tião completam o quadro que assiste o enterro de Susana no pequeno cemitério do Vale, mesmo relutante em deixar Isabel, sabia que ela estava em boas mãos, e eu não podia deixar de prestar essa última despedida a Susana. Foi um momento triste, mas rápido. Ao sair do cemitério, o dia cinzento vai ganhando cores naquele início de tarde. Olhei mais uma vez onde o coveiro depositava as últimas pás de terra.

— Vamos querida?— sua mão toca em minhas costas, seu beijo em meu rosto.

— Sim, vamos — entrelaço meu braço no dele, e caminhamos até o carro.

— Que tal se irmos para casa comer algo, tomar um banho?

— Estou sem fome, quero voltar para o consultório.

— Eu sabia que você iria dizer isso— diz ele enquanto entramos no carro.

***

A chegada em casa foi um alivio grande demais, na sala a espera deles, estavam o Barão, com a filha,Tenória, Jane com o neto no colo, Estilingue estava na escola, e o Camilo não estava ali, por certo ainda ressentido pela minha decisão de adotar Isabel, parecíamos que tínhamos chegado de uma viagem., estavam todos felizes.

— Deixa eu ver pegar ela um pouco— Tenória pede quando o pai parece não querer desgrudar da neta a tomando para si logo que passei pela porta.

— Eu também quero pegar ela.— Jane levanta e deixa em meu colo o pequeno Eduardo que dormia, após uma pequena disputa, Tenória sai vitoriosa, minha nora se senta ao meu lado— Não demora muito Tê— diz carinhosamente, as duas tinham ficados muito próximas— Deram um nome muito lindo para ela, minha sogra.

— Combina muito com ela, nome de princesa— Tenória diz embalando em seus braços a pequena que assim como o primo, dormia, alheia às disputas que eles criavam, pois Eduardo é tomado de meus braços por um Barão rabugento ao perder a neta.

— E Camilo?— resolvo perguntar onde estava meu filho.

— Ele está lá em cima, preparando ....vou deixar que ele mesmo diga— olhei curiosa para ela que disfarça— Acho que alguém está com fome— olhamos e o pequeno com o dedo na boca, ela levanta e pega o menino.

— Acho que também precisamos alimentar alguém.— Aurélio diz e olhamos Isabel na mesma situação— Vou preparar a mamadeira dela, Rômulo me ensinou— diz orgulhoso, pego a bebê, e Tenória segue o irmão dizendo que querer aprender também, para poder ajudar, eu subo com Jane, mas não deixamos de ouvir meu sogro.

— Isso, deixem o velho aqui, sozinho, abandonado...— ele fala algo mais, mas estamos distantes para ouvir, Jane vai para o seu quarto, eu sigo para o meu, e me deparo com uma surpresa, entendendo o que minha nora quis dizer, Camilo está terminando de ajeitar o berço, era branco, com cobertores rosa e lilás de um tom suave, de certo era escolha de Jane, ele deixava uma pequena boneca para enfeitar a cama, consegui visualizar a devoção dele um pouco antes de se virar para mim.

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—Camilo— digo surpresa e emocionada, ele me olha com os olhos marejados, olha para meus braços e a vê.

— Eu ...bom Tião veio mais cedo, avisando da chegada dela...e como não estávamos preparados, resolvi ajudar... lembrei que vi esse berço em uma loja do Vale, eu busquei assim que soube, ela vai precisar de um lugar para dormir... e achei que a senhora... que fosse no seu quarto, eu não sei, fiz errado minha mãe?— ele diz atropelando as palavras e o raciocínio, e ali estava o seu menino, seu doce menino.

— Não meu filho, não fez errado— limpo uma lágrima que teimosamente escapa dos meus olhos, ela mesmo não tinha pensado nessas coisas.

— Mãe, minha mãe, me desculpa pelo modo como agi ao saber da notícia, por favor— ele chora também, mãos juntas em pedido— Por favor me perdoe, foi o menino imaturo, a criança que ainda mora em mim, eu não quero me isentar pela forma infantil que me comportei, mas quero me desculpar, a senhora me desculpa?— ele senta na cama.

— Meu filho— entrei mais no quarto, ficando de frente para ele, em pé, passo meus dedos por seus cabelos— Eu entendo perfeitamente sua atitude, você expôs em palavras o que exatamente eu estava sentido, com receio de ser uma mãe ruim para ela, como fui para você, mas sabe o que aconteceu nesta madrugada— levanto seu rosto para olhar em seus olhos— Ela voltou a respirar entre meus braços, entre o meu abraço e de Aurélio, acho que isso que é um bom sinal, é uma nova chance— passei os dedos secando suas lágrimas— Não tem pelo que se desculpar você, meu primogênito meu doce menino— Camilo abraça minha cintura, descansando sua cabeça em meu ventre, ficamos uns segundos assim, até que a pequena se mexeu inquieta, afasto um pouco Camilo de mim— Agora quero que conheça uma pessoa — sentei na cama, afastei as cobertas que a envolvia—Essa é Isabel Sampaio Cavalcante, sua irmã caçula— coloco ela em seu colo e percebi a emoção dele, como quando ele segurou o filho nos braços.

— Oi, sou Camilo, seu irmão mais velho— ele beija o topo da cabeça dela, tocando em seu rosto, não consigo mais controlar minhas lágrimas, vendo os doi ali, era surreal, uns minutos passam conto a ele o que houve na madrugada, as batidas na porta chamam a nossa atenção. Vejo Aurélio entrando com uma bandeja e Tenória com a mamadeira.

—Desculpe pela demora e por atrapalhar— ele põe a bandeja do meu lado—Mas alguém me obrigou a comer— fala olhando para a irmã.

— Sim, como podem ficar sem comer, os dois?— Tenória fala — E fiz essa bandeja para você Julieta, trate de comer.

— Preciso dar de comer para Isabel.

— Deixa que eu dou a mamadeira a ela— Aurélio a pega do colo de Camilo e estica a mão para irmã alcançar o objeto— Pode comer tranquila, meu amor— fala se sentando na poltrona, não me resta nada mais que não comer.

—Vamos Camilo, eles vão precisar descansar também— minha cunhada diz já da porta, dando passagem ao meu filho que com um beijo se despediu de mim, e um aperto de mão em Aurélio.

—Mandona ela — falei assim que a porta bateu, recebo apenas um sorriso do meu marido, vou comendo aos poucos.

***

— Você está feliz? — Aurélio perguntou assim que me deitei, Isabel repousa entre nós, dormindo, meus dedos passam por seus traços finos e delicados, os dedos de Aurélio acompanham os meus— Meu amor?— olhei em seus olhos, que ainda olhava a filha.

— Estou—e pela milésima vez naquele dia eu sorri—Muitíssimo feliz, tenho você, meus filhos, veja filhos, meu, seu, nossos — seus olhos encontram o meu, sua boca vem até mim, e recebo os seus lábios, era o final perfeito daquele dia, daquele longo dia, deixo a minha testa junto a sua— Obrigada por me amar, por estar presente, tenho tanto a te agradecer— vejo sua mão entrelaçando com a minha, suavemente em cima da pequena, Isabel era o recomeço perfeito para mim, para minha nova e unida família.— Eu te amo, Aurélio.

— Eu te amo, Julieta.