Capítulo 11

Naquela noite, com Christian dormindo ao seu lado, Ana permanecia acordada. Havia alguma coisa que não a deixava dormir. Se sentia bem - fisicamente - mas toda a sua vida a incomodava naquele momento. Era como se um abismo tivesse se aberto ao redor dela.

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A garota se achegou mais no marido e se virou para ele.

Era tão bonito... Droga, ela era tão apaixonada por ele.
Ana não fazia ideia de quanto tempo estava admirando o outro, mas foram longos minutos até que ele abriu os olhos e a flagrou.

— Está tudo bem? Está sentindo alguma coisa? - questionou ele, sentando-se na cama rapidamente.

Ana balançou a cabeça.

— Estou bem - murmurou.

Christian mirou o relógio no criado mudo e constatou que era 2h36min, suspirou e voltou a se deitar, as costas na cama e as mãos entrelaçadas na barriga.

— Por que está acordada a essa hora? - questionou enquanto bocejava.

— Não consigo dormir - declarou ela.

— Hum.

O outro fechou os olhos, Ana se aproximou mais, até encostar o queixo no ombro alheio, fazendo Christian abrir os olhos novamente.

Os dois se encaravam e o tempo pareceu ficar suspenso no mundo.

— Às vezes parece que a minha vida não é real - comentou a morena.

Ele levantou uma das sobrancelhas.

— Por que?

— Eu não sei... É difícil acreditar que você é mesmo meu marido e tudo mais.

— Isso aqui não é real o bastante? - ele levantou a mão e lhe mostrou o dedo anelar com a aliança de casamento.

Ana sorriu, mordendo o lábio em seguida ao que segurou a mão do outro, tocando a aliança com delicadeza, como se ela fosse a coisa mais valiosa do mundo.

E era uma delas.

Christian apertou a mão da garota e beijou antes de soltá-la.

Ana lamentou. Era como se quando ele dava um passo adiante - para ela - algo o parasse.

Antes, ela pensava que fosse porque ela havia pedido um tempo, mas agora a garota desconfiava que o marido apenas não quisesse mesmo.

— Isso não era para estar assim - sussurrou ela.

— O que?

— Nós dois, não era para ser assim. Nós deveríamos estar juntos e felizes com o novo bebê.

— Eu estou feliz com isso, Ana. Só não está sendo do jeito que imaginamos - ele disse, tocando sua barriga gentilmente.

— Não é do risco que eu estou falando - disse ela, juntando sua mão com a dele.

— Do que você está falando então?

Ana respirou fundo.

— Você me ama, não é?

O homem se virou para ela e a encarou.

— Eu te amo - declarou. - Isso nunca vai mudar. Não importa o que aconteça entre a gente. Nunca duvide disso...

— Então por que...

— Porque tudo está uma confusão. Porque tudo parece que vai quebrar se eu disser alguma coisa, se eu tocar em você... Eu estou com medo de tocar em você.

— Eu não estou com medo de você tocar em mim. Eu sei o que eu disse, e eu estava errada.

Ele não respondeu.

— Você pode tocar com mim - disse ela, aproximando-se o suficiente para tocar o nariz no dele.

— Ana - a sentença saiu como uma reprimenda.

— Você não quer?

— É claro que eu quero. Eu já estou subindo pelas paredes pelo tanto de tempo que eu não toco em você - admitiu ele tocando de leve sua cintura. - Mas eu não posso.

Ana mordeu o lábio inferior e se afastou. Christian a segurou com mais força, deixando-a colada em si.

— Você sabe que não podemos. Não quando você precisa estar em repouso absoluto. Não tem nada a ver com a nossa briga.

Eles se encaravam por alguns segundos, olho no olho. Ana já sentia aquela fagulha que a segurava, que a pegava de jeito só de estar tocando o outro.

Uma paixão acaba algum dia? Aqueles casais que mesmo casados, se amando, mas que não sentem mais as borboletas no estômago, realmente chegaram a se apaixonar? Ana não conseguia se ver não sentindo mais aquelas coisas por Christian mesmo dali há séculos.

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— Estamos bem.

— Não estamos - disse ela.

Christian riu baixinho.

— Eu já te desculpei, eu sei que você não quis dizer aquilo. Assim como eu nunca, nunca quis te machucar - ele tocou em seu rosto, passando o polegar pelo canto seu lábio onde o machucado já não exista mais. - Eu também não quero me sentir daquele jeito de novo.

Ele a beijou gentilmente. Não foi apressado, não era para matar a saudade. Era apenas uma promessa de que mesmo que não estivessem bem, pelo menos estavam no caminho. Eles estavam chegando lá.

Cinco semanas depois, Ana acordou tarde, o corpo pesado e com a pior sensação de um mal estar. Mesmo de casa, ela ainda conseguia dirigir a editora pelo computador ou pelas ligações, tendo de passar até mesmo as videoconferências para Roger, pois segundo Christian elas podiam estressá-la.

Ela não discordava.

Porém, naquele dia ela não conseguiu fazer absolutamente nada. Seu estômago não colaborava, e ela pôs para fora a única torrada integral que conseguiu engolir junto de meio copo de suco de laranja no café da manhã. Não era um dia bom, era mais um dia em que o bebê parecia não estar satisfeito. Teddy estava ao seu lado depois do almoço, quando cismou que queria ver um filme com a mãe. Claro que ele apenas queria ver O Poderoso Chefinho novamente, como se não tivesse visto trinta vezes só naquela semana. Mas Ana não reclamou, o lado bom de estar em casa era poder passar mais tempo com Teddy.

No fim da tarde, ela realmente não estava mais aguentando, a queimação era terrível, azia era a pior coisa da gravidez. Mas o médico havia sido claro: ela não podia fazer uso de qualquer remédio, pois não sabiam qual seria a reação e naquele estado ela não podia arriscar.

— Srª. Grey - chamou Gail, entrando na suíte.

Ana tinha Teddy deitado em seu peito enquanto agora viam Carros - a morena finalmente conseguira fazê-lo mudar.

— Sim?

Está na hora do banho de Teddy. Só então Ana percebeu já era quase 17h.

— Ah, claro - ela passou uma das mãos pelo cabelo do filho, fazendo o menino levantar a cabeça e tirar a chupeta da boca. - Hora do banho - anunciou Ana ao pequeno.

Teddy fez bico, os olhos enchendo d'água como se Ana tivesse lhe dito que nunca mais ele iria vê-la.

— Ah, meu amor, você precisa tomar banho, daqui a pouco você vai dormir. E também o seu pai vai chegar, precisa estar cheiroso para brincar com ele.

Teddy se sentou, agitado ao que seu pai fora citado.

Ana lhe sorriu.

— Vai lá com a tia Gail e depois volte para eu ver se você tomou banho mesmo - brincou ela, piscando com um dos olhos.

— Ta' - concordou o menino já se levantando.

Ana sorriu para ele enquanto Gail o pegava no colo.

Seu filho era tão esperto.

E lindo.

A garota suspirou quando a porta se fechou e se recostou na cabeceira. Ela havia passado a tarde toda fingindo não sentir nada pois Teddy estava ao seu redor, mas naquele momento parecia que tudo voltou com força. Ela mordeu o lábio inferior e apertou o lençol da cama enquanto de repente sentia uma ta na barriga.

Aquelas dores lhe davam medo, mesmo que o doutor tivesse lhe dito que eram normais em seu caso, pois os remédios faziam-na sentir aquelas dores abdominais.

Então Ana apenas ficou inspirando e expirando, esperando a dor passar. Mas a dor não passou, e minutos depois ela desceu para o seu baixo ventre.

Não foi um dia bom e pelo visto a noite seria péssima também.

Foi do nada, ela apenas tentou se ajeitar numa posição melhor enquanto esperava a nova dor passar também, e então viu o sangue manchando o lençol azul marinho da cama. A dor se tornou mais específica e Ana se desesperou enquanto recostava a cabeça contra a cabeceira da cama.

Ela estava tendo contrações... E estava sangrando.

Ana estava apenas com vinte e três semanas, o bebê não podia nascer agora.

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