7°Capítulo.

7°Capítulo.

Um mês e alguns dias atrás.

Gustavo.

Eu a vi sair da minha vida da mesma forma que eu a vi chegar, faz alguns minutos... na verdade horas, faz horas que eu estou em pé na porta da minha casa olhando na mesma direção em que ela partiu, o meu peito está oco como jamais esteve, como eu pude ser tão fraco?

Ela era diferente de todas as garotas que eu já havia conhecido na minha vida, seus olhos castanhos sempre me intrigaram como nenhum outro já fez, eu me lembro perfeitamente quando a vi pela primeira vez na faculdade, ela vestia um longo vestido florido com seus longos cabelos cacheados caindo como cascatas por seus ombros, pele morena, sorriso fácil, falante, foi impossível não me aproximar e conhecer aquele ser etéreo, logo me apaixonei por sua raiva explosiva, por seu talento na cozinha, por seus palavrões em jogos do time do coração, ela era o centro do meu mundo no momento do primeiro beijo até o sim da igreja.

Mas eu a quebrei, eu ... ninguém mais.

Saio do meu transe e entro em casa e automaticamente a procuro pela casa, mas a única coisa que vejo são as lembranças, fotos, moveis, memórias, me sento no chão com as costas contra o sofá, coloco minha cabeça entre as pernas, eu quero acordar, mas não dá, não é um sonho.

—Cara, você está bem? Marcos me ligou dizendo o que aconteceu, vim o mais rápido que pude. –Eu sei que é o meu irmão mais velho o Rodrigo, mas ainda não consigo tirar minha cabeça de dentro das minhas pernas. –Cara fala comigo!

—Ela acabou de sair levando meu coração e minha dignidade junto com ela, eu deveria ter te ouvido, eu fui tão fraco mano.. –Sinto ele se sentar ao meu lado, apoia seu braço sobre os meus ombros.

—Agora não adianta mais chorar sobre o que está perdido, o importante é saber como consertar, existe alguma chance de vocês voltarem? E esse filho é mesmo seu? Nos dois sabemos que Joana não é nenhuma santa. –Eu fui um idiota por dois anos, mas Joana não foi essa cretina que as pessoas pensam, ela tem um lado que poucas pessoas conhecem e ele dizer que esse filho pode não ser meu me irrita.

—Mano! Você está louco? Não coloca o fardo desse erro só nas costas dela, eu também me deixei levar e, eu tenho certeza que esse filho é meu. –Olho em seus olhos transmitindo minha indignação.

—Cara, sou seu irmão e te amo, mas olha o que você acabou de fazer... você defendeu ela com tanta tenacidade que parecia que eu estava difamando a Milena, agora eu entendo o porquê ela foi embora, tudo bem que Joana não seja a destruidora de lares, mas nenhuma mulher aceitaria isso que acabou de fazer, você pode ter errado.. mas nunca se pode defender o desafeto da sua mulher, é como colocar ela em segundo plano. –Fato, ele tem um ponto, mas o que eu iria fazer, ambos caímos em tentação, tentamos por muito tempo nos manter afastados, mesmo não a amando eu a desejava demais.

—Eu sei, mas é que eu não posso deixar de me sentir responsável por ela, teve uma época em que eu pensei em deixar Milena e ficar com a Joana, ela tinha acabado de abrir a padaria, estava ocupada demais com receitas e com o Erik, eu me sentia abandonado. –Eu esfrego o meu rosto com afinco lembrando que meus motivos para a separação, eles eram ridículos comparados aos motivos dela.

—Tavinho... não foi nessa época que ela tinha acabado de superar uma depressão? Cara, até nossa mãe aquele posso de gelo estava preocupada se ela ia superar não poder ter filhos. –Nessa hora ele se põem de pé com aqueles olhos julgadores. –Cara, eu não sei o que digo a você agora...

—Eu sei que eu fiz merda ok?! O vazio dessa casa deixa tudo muito claro, eu fui egoísta em comparar a minha carência com a dor dela, hoje eu sei disso, infelizmente eu me apaixonei pela Joana mesmo amando a Milena, queria ter sido verdadeiro com ela antes, mas eu tive medo dela me deixar ao saber dos meus sentimentos por outra. –Ela é a melhor pessoa do mundo, eu sei que se eu tivesse contado para ela antes, talvez não estivéssemos mais juntos, mas provavelmente seriamos amigos.

—Irmão, casamento é como um corpo, se nutrido ele funciona perfeitamente, mas quando escondemos os sintomas de que algo está errado, esse corpo vai adoecer, se não tratado a tempo ele morre, cara você conhece a Milena melhor que ninguém, sabia até mesmo quando ela tinha que menstruar, se você tivesse contado a ela antes talvez vocês tivessem bem agora. –Ele anda pela minha sala e se senta no sofá.

—Foi o que ela disse, com outras palavras, mas foi o que ela disse, eu fui tão fraco e eu não sei o que fazer, agora ela está na casa do Marcos aquele desgraçado! Nada me tira da cabeça que ele ainda é apaixonado por ela, e me mata saber que ela está longe dos meus olhos..

—Cara de um tempo a ela e, a si mesmo também, tente saber o que sente em relação a Joana se era só fogo de palha ou se realmente a quer na sua vida, tente curtir seu filho que está por vir cara, Mano eu vou ser tio! Pelo menos tire de toda essa tristeza uma coisa boa. –Ele me puxa os braços para que eu fique em pé e me abrace com carinho.

—Eu não sei se devo ficar feliz com essa notícia, eu quero ficar ... mas mesmo assim um alerta na minha cabeça diz que não.. Mi, sonhava tanto em ter um só nosso, uma menina com os meus olhos, com o temperamento dela, alguém que fosse .. boa como ela, que não julga, que acolhe.... eu a amo tanto que doe e eu ..

—Calma Gustavo, não chora cara, se desesperar agora não vai ajudar a pensar no que fazer, a mamãe disse que tentou falar com a mãe dela, mas parece que esse assunto não chegou aos seus ouvidos ou ela já está ignorando nossa família, se a Milena não disse nada para a mãe então é porque vocês ainda tem chance, só deixa ela esfriar a cabeça. –Ele sempre foi o otimista, mas eu sempre tive os pés no chão e eu conheço a minha mulher.

—Cara ... eu quero beber alguma coisa forte, acho que tem uma garrafa na geladeira, ela usava para pôr nas receitas, pega para mim, eu quero esquecer esse dia. –Ele torce a cara para mim me repreendendo, faz anos que eu não bebo porque ela também não bebia, ela mudou muitos costumes meus.

—Vou buscar, mas eu não vou poder ficar... tenho que voltar para casa e, vou receber nossos pais, eles querem vir te dar apoio e saber melhor esse assunto, vê se não exagera com isso, Milena demorou muito pra te transformar em um homem de bem, não destrua o grande trabalho que ela fez, pelo menos isso você devi a ela. –Ele tinha razão, eu era um rapaz errado, com más amizades e maus abetos, eu estava começando a fumar por causa do estresse da faculdade e do trabalho, mas ela disse que me deixaria se eu não parasse, me lembro exatamente o que ela disse naquele dia. “ –Não vou ter um namorado fumante, não quero ter quarenta anos e viúva porque o meu marido teve câncer de pulmão e morreu, fumar é se matar aos poucos, está estressado? Acorde cedo todas as manhãs e vá a academia ou vai correr, transforme esse estresse em energia para ser mais saudável, se você quiser posso ir com você ...mas se não quiser... vamos terminar e você pode continuar com essa sua vidinha de suicida!”

Foi exatamente nesse dia que eu tive a certeza de que ela seria minha mulher... Meu irmão voltou da cozinha com a garrafa e um copo, tirei a tampa e entornei no copo duas ou três doses, e virei o em um gole só, o liquido desceu queimando por dentro como as chamas lambendo o chão em uma queimada, fiz uma careta contorcendo todos os músculos faciais.

—Mano.. pega leve, não vai se afogar na bebida, você precisa ficar com a cabeça fria pra reconquistar a sua mulher ... abri o olho ou alguém vai passar no seu lugar.

Ignoro as suas palavras e encho o mais uma vez o copo e volto a beber, nem mesmo percebo quando ele abri à porta e sai, as horas voam e eu nem mesmo vejo quando escureceu, só me dou conta quando vou a cozinha pegar mais uma garrafa e, acendo a luz e lá está mais uma prova de que aquela mulher era “A Mulher”, com a sua letra de professora ela pôs no quadro tudo o que eu preciso saber sobre essa casa fria.

Chega! Vou atrás dela, vou faze-la entender que nós somos perfeitos juntos, em todos os sentidos! O companheirismo que nós temos nenhum outro casal tem, eu sei que eu estraguei tudo cedendo a tentação que foi a Joana, mas ela era apenas ...

Pego a chave a do carro e vou interromper ela e Marcos, se for preciso eu pego ela pelo braço e trago ela para casa. Eu não sei como eu cheguei aqui sem sofrer nenhum acidente, sinto vontade de por tudo pra fora, estou enjoado, mas mesmo assim, eu chegou no apartamento de Marco e toco a campainha. Demora alguns instantes de ela abri a porta com os cabelos meio úmidos e com o roupão masculino, começo a ver tudo em vermelho, como ela pode? E ainda me critica?

—Nossa, não tem nem mesmo algumas horas que está longe de mim e já está se vingando pela traição... –Me apoio na porta, não tem como eu frear minha boca agora.

—Eu vou fingir que você não disso o que eu acho que disse, mas como você passou pela portaria? Veio dirigindo por acaso? –Ela tem um olhar ferido, passa a mão pelo rosto e volta a me analisar e com um ar de exaustão me convida a entrar. –Entra eu vou lhe dar algo pra curar essa ressaca.

—Eu não vou atrapalhar nada? Será que o Marcos não vai ficar com raiva de eu vir aqui empatar a “grande oportunidade” que eu dei? –Eu não queria ofender, sabia que ela tem todo o direito de me ferir da mesma forma que eu fiz, mas meu orgulho e minha falta de controle querem julgar seus atos, talvez assim possamos voltar se fôssemos iguais.

—Como ousa me comparar com você cretino? O que você pensa que eu sou? Marcos não está aqui já fazem horas e não estava apenas ele aqui, ok? Andreia também estava, mas isso não lhe diz respeito, não mais ... a minha vontade é te mandar para casa, mas eu sinto pena das pessoas desavisadas andando na rua com o perigo de serem atingidas por um motorista bêbado, entra eu ... –Claro que ela não é como eu, claro que ela não desceria ao meu nível, claro que eu seria o único pecador dessa história e claro que eu tenho que assumir os meus erros como homem e para de tentar descer ao eu nível.

—É.. Desculpa interromper a conversa de vocês, mas eu não tenho tempo e... –Só noto o rapaz da pizza quando ele vem a frente da porta me analisando e olhando fixamente para a garrafa em minha mão. –Cartão ou dinheiro?

—Desculpa rapaz... é a dinheiro mesmo. –Eu estou de pé ouvindo a conversa paralela deles, com o corpo pesado e está cada vez mais difícil me manter acordado.

—A senhora quer .. Ajuda ? ou quer que eu leve ele lá para portaria.. –O rapaz ainda tem aquele olhar preocupado.

—Ele é meu marido e não me faria mal nem que ele quisesse, já que nem se mantém em pé, muito obrigada por se preocupar. –Ele hesita um pouco e segui o caminho dos elevadores. –E você .. entra eu vou fazer um café para ver se passa essa sua bebedeira. –Ela diz que sou seu marido e isso me faz ter um pouco de esperança, e o fato dela saber que eu não a machucaria me da paz.

—Me perdoe Milena, eu .. eu não queria dizer aquilo... é que desde que você saiu de casa eu não parava de pensar que alguém poderia estar contigo, eu senti um vazio tão grande quando e deparei com a casa vazia e sem aquele cheiro que fica quando cozinha algo, ou... ou quando colocava o som alto pra limpar a casa....Amor.. por favor esquece isso e volta para casa comigo, eu ... eu peço a guarda da criança a Juana e criamos ele juntos, eu juro pela minha mãe nunca mais vou ver ela ... eu ..

—Chega Gustavo! Eu não quero mais ouvir a sua voz! –Ela apanha a garrafa da minha mão, e jogo na parede que se espatifa no chão, eu me assusto e me calo, ela respira fundo para se acalmar. –Eu quero que vá para o banheiro e tome um banho, quando voltar pode comer alguma coisa e beber um café, vai dormir ai no sofá... pela manhã vai para casa e não quero mais te ver... Anda! Vai tomar um banho miséria!

—Você nunca falou assim comigo.. eu.. eu entendo que tenha.. exagerado e, peço perdão por isso.. onde fica o banheiro? -Sem mais argumentos eu vou para o banheiro e entro em baixo do chuveiro com a agua gelada, o que me torna um pouco mais sóbrio, voltando a sala com uma toalha enrolada na cintura eu volto para a sala e, lá está um cobertor, umas roupas e um travesseiro. –Eu estou com vergonha, então pegue leve com a bronca, desculpa arruinar sua noite, mas...

—Não tenho nada a dizer, é adulto vacinado e com dois diplomas de ensino superior, então tome o café e coma a pizza, coloquei um cobertor e um travesseiro pra você...amanhã eu tenho muito o que fazer, então... boa noite pra você.. – Ela pega um prato e se serve, suas palavras quebram minhas pernas e qualquer esperança de ter essa mulher de novo na minha vida se vai ao ver ela me dar as costas.

—Mila eu estou arrependido, acho que nunca vou me perdoar por perder você, obrigado por e deixar dormir aqui, mesmo estando com raiva de mim... boa noite. –Ela sussurra um “Boa Noite” e tranca a porta, eu bebo o café amargo e sinto o meu rosto molha, a vergonha é esmagadora e brutal, não como a pizza só me deito no sofá e tento esquecer que eu existo...