P r e d e s t i n a d o s

Nenhum amor é de todo impossível


Duvides de que as estrelas sejam fogo, duvides de que o sol se mova, duvides de que a verdade seja mentira, mas não duvides jamais de que te amo.

Hamlet — William Shakespeare

Esta é uma história de amor, mas não é qualquer uma. Sua existência se dá muito antes da criação do espaço sideral.

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Um belo jovem regido pela força da lua percorria pensativo uma jornada escura e fria pelo vácuo. Seus cabelos e o tom de pele são ébrios como a neve, as íris são azuis celestes, límpidas e puras. A face possui traços bem esculpidos. Seu nome é Jack Frost. Ele é a verdadeira personificação do mistério, da beleza e da razão.


Caminhava com o cajado de madeira a esmo, incerto de seus olhos estarem abertos ou fechados, pois não há a presença de luz. Cansado daquele vazio que reinava bilhões de anos em seu peito, ele pediu a Deus que lhe desse um motivo para que preenchesse sua vã existência. Compadecido dos sentimentos do rapaz, o Criador resolve criar Rapunzel Corona, o astro rei.


Beijada pelo sol; a jovem de pele levemente bronzeada e cabelos dourados que se estendem até seus pés, os olhos verdes como safiras eram redondos e expressivos, carregando sonhos e bondade. Seu sorriso divertido transmitia felicidade e as sardas em suas bochechas deixavam sua bela face de traços suaves mais atraentes.


Ela passou as mãos pelo cumprimento do cabelo notando que seu corpo irradiava um brilho e calor, e assim, iluminando a imensidão ao seu redor como se a mesma fosse uma lanterna.


Notando uma perturbação, o curioso satélite segue as chamas solares como se elas fossem uma bússola.


Ofuscado com a luminosidade, ele acaba esbarrando na desconhecida. Frost sente seu coração pulsar, despertando seu desejo de poder e de consumar aquele sentimento que não sabia nomeá-lo, no entanto, desconfiava que lhe causava borboletas no estômago.


O toque de seus corpos faziam um belo contraste. Ela é quente, e ele por sua vez é gelado.


Logo se conheceram, apertaram as mãos e rapidamente as íris se fundiram em duas lindas pedras preciosas batalhando para ver quem obscurecia o brilho primeiro. Mantiveram o contato visual até as bochechas da jovem ganharem uma coloração avermelhada.


O primeiro encontro ficou comprovado mesmo sem a vontade de ambos, suas massas corporais foram atraídas como se fossem ímãs, como a maçã de Newton.


A única certeza de que tinham é no estar juntos que se preenche o sentido de ser.


Deixaram para trás todo a solidão e assim, desta união floresceu o mais belo e intenso sentimento de toda a galáxia: o amor.


Delicadamente, Jack colocou ambas as mãos nas bochechas de Rapunzel e então, deixou-se ser movido pela adrenalina que percorria pelo seu corpo criando a coragem para seus lábios provarem os dela. A entrega foi tão profunda e tão disposta a abarcar a vida e a morte; e a transformar o coração, alma e corpos em uma coisa só. Caminharam juntos por uma longa eternidade até Deus resolver separa-los devido a necessidade da criação do restante do universo.


Foi separado a luz das trevas. O clarão que saiu dos cabelos dourados de Corona tornou-se mais intenso e amarelo do que o convencional. Já Frost ganhou uma luminosidade cândida e terna.


Presenciaram o surgimento do sistema solar, a divisão entre o céu e a terra, a criação dos oceanos, da fauna e da flora. E naquele instante, o destino de ambos havia sido selado pelo Pai criador. Rapunzel com toda a sua vitalidade iluminaria o dia e Jack clarearia a noite. Reinariam os céus, porém, separadamente.


Em anos luz, o albino sentiu novamente aquele aperto no peito. Ferido no mais profundo de seu ser, atormentado pela separação de sua amada, conhece seu natural tormentório e não encontra outra solução se não render-se ao destino imposto.

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A loira por sua vez queimou de raiva e no instante seguinte, suas orbes não conseguiram sustentar por muito tempo as lágrimas.


Eles se abraçaram fortemente; os braços fortes de Jack rodearam a cintura fina de Rapunzel absorvendo todo o calor que o corpo dela irradiava, aquecendo seu coração. Tentou gravar na memória a textura da pela dela, assim como o cheiro feminino e único da mesma. Em meio as lágrimas selaram seus lábios degustando do amargor e desespero de suas almas que experimentam pela primeira vez o verdadeiro inferno.


Essa triste despedida fez com que o cosmos conhecesse o sentimento mais melancólico e cheio de memórias: a saudade.

[...]


Após a criação do sistema solar, o Criador resolveu recompensar o casal pelo sofrimento que durara anos. E assim, ele permitiu que os jovens amantes se reencontrassem.


No momento que as íris verdes de Rapunzel encontram com as azuis de Jack, todo o amor reprimido voltara a florescer como chamas labaredas. O tempo e o espaço haviam parado.


Timidamente, Deus apagou as luzes do espaço deixando os jovens amantes aproveitarem aquele instante que somente lhes pertenciam.


Assim que perceberam que não havia a presença dos planetas e nem das constelações, alinharam seus corpos celestes para consumar o amor que os unia eternamente.


Por fim, os amantes esperavam ansiosamente pelo eclipse, nome este para esses encontros passageiros que expressavam toda a saudade e os extensos anos de lonjura, fazendo com que os enamorados revivessem aquele belo sentimento como se fossem a primeira vez.


Não se importavam com os anos, os séculos e a eras, pois compreendiam que estavam predestinados a se encontrar, punidos a se perder no instante que o evento astronômico cessasse.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.