Meândrico

(O mesmo que: ‘confuso’, ’complexo’, ‘emaranhado’, ‘sinuoso’.)

...

Eliza chorou tão intensamente que sua visão escureceu. Sentiu o corpo amolecer e as pernas cederem debaixo dela. A última imagem que viu era uma que ela jamais esqueceria. Sentiu o amor em cada traço de desespero que o rosto de Jonathan refletiu; sentiu, também, a dor, o desespero. Os olhos dele pareciam implorar para que ela o salvasse da miséria que era essa situação. E Eliza queria.

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Queria se jogar nos braços dele e prometer que ficariam bem.

Mas todo o dia de intensas emoções estava cobrando um preço que ela não podia pagar. Sua visão foi somente o primeiro sintoma, então a fraqueza. Depois os sons começaram a parecer cada vez mais longe. Sentiu seu corpo flutuar, mas nunca chegou a atingir o chão; o mundo inteiro apenas desaparecesse.

Não soube quem a pegou, mas, quando abriu os olhos novamente, estava deitada na mesma cama de hospital que acordara mais cedo. Dessa vez, um rosto familiar a encarava. Sua mãe lhe sorriu tristemente, explicou que ela tinha desmaiado e que, por isso, teria que ficar mais alguns dias em observação.

Sua mãe, que sempre foi uma figura reconfortante, não pôde fazer nada pelo desassossego que sentia. Perguntou o que havia acontecido com Jonathan, mas sua mãe disse que era melhor que se afastasse de emoções fortes um pouco e tentasse pensar em outras coisas.

Tinha certeza que ela tentava ajudar, mas achou o conselho ingênuo, e, talvez, um pouco inútil. Como era possível que se concentrasse em qualquer outra coisa, quando sua vida parecia um plot de novela mexicana?

O tempo se arrastava terrivelmente lento, a ponto de fazer Eliza se perguntar se ainda era o mesmo dia. Foram muitas emoções para poucas horas. Permaneceu deitada a contragosto. Sua mãe tentava aliviar seu humor lhe contando trivialidades.

Em determinado momento, quando o céu já escurecia do lado de fora da janela, seu pai entrou no quarto e beijou sua testa. Eliza tentou esboçar um sorriso, mas foi uma tentativa fraca. Seu pai retribuiu com um sorriso cansado, antes de garantir — vai dar tudo certo, criança.

Foi a primeira vez que essa frase, vinda do seu pai, não a confortou.

Gostaria de saber se Jonathan tinha alguém que se importasse o suficiente com ele para lhe dizer isso... mesmo que não funcionasse.

Não conseguia para de pensar no que aconteceu no corredor. Seu coração se partiu um pouco mais a cada vez que as imagens pipocavam em sua mente.

Quando seu pai disse que tinha uma surpresa para ela, Eliza tentou, com muita dificuldade, focar um pouco. A porta abriu e ela quase teve outro colapso quando seus três irmãos mais novos entraram. Jimmy era um adolescente, com direito as espinhas e o cabelo estranho; e os gêmeos estavam enormes.

Sorriu para eles e tentou não transparecer o quão impactante foi, para ela, notar quanto tempo da sua vida tinha se passado desde a última lembrança que tinha. Era tudo tão confuso, que, por um longo segundo, cogitou se a Eliza que ela se lembrava de ser e a que os outros conheciam hoje, voltariam a se encontrar em um denominador comum; ou se ela mudaria para sempre após este acidente.

E, mesmo quando seus irmãos menores subiram na cama e se espalharam ao redor dela, contando um relato animado, em suas vozinhas estridentes, de como eles tinham finalmente conseguido ensinar o novo cachorrinho da família — Pringles —, a fazer truques como sentar, dar a patinha e fingir de morto; não foi o suficiente para distraí-la do caos que estava sua mente.

Esboçou o fantasma de um riso quando percebeu que o nome do novo cachorro, seguindo o padrão que ela tinha começado, era uma marca de salgadinho. Tentou lembrar se algo aconteceu com Ruffles, o primeiro cachorro da família, mas não conseguiu, e isso apenas a deprimiu mais.

Vídeo tema.

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