The Kostroma Dynasty

Interlúdio: Fragmentos de Uma História Enterrada


Oh, my love

What have I done?

All the pain of this life

Keeps me awake at night

And So My Heart Became a Void— Ursine Vulpine, Annaca

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O último pesadelo tinha sido há muito, muito tempo. Mais tempo do que ela imaginara que seria capaz de conseguir. E, por mais que perceber esse decorrer tranquilo dos anos fosse uma pequena benção, as memórias em forma de sonho tinham bem mais peso.

Seu passado não tinha um só timbre, uma só emoção. Em alguns momentos, fora quente como o sol a pino e vivaz como uma canção de roda conhecida. Em outros momentos, era frio e carregava o sentimento incerto e sedutor de uma madrugada quieta. Em alguns momentos, fora luz. Morna, imponente, ríspida e cegante. Às vezes tudo ao mesmo tempo.

O passado dos pesadelos, porém, estava irremediavelmente manchado de sangue. Sangue quente, espesso e quase familiar. Sangue dos outros e dela mesma. Estava por toda a parte: na areia, no ferro, em suas roupas, nas mãos dele.

Ele. Deuses, pareciam séculos desde a última vez que pensara em seu rosto, sua voz. Se surpreendeu em encontrar-se perigosamente saudosa.

Por pouco não ultrapassou a linha, o limite que impusera a si mesma, e adentrou naquelas memórias enterradas. Tão, tão pouco.

Mas, não, não era tempo para isso. Talvez nunca fosse, mas, agora precisamente era completamente fora de questão. Contou para si a mesma mentira frágil de todas vezes: ele está morto.

Repetiu a sentença umas duas vezes, para fixá-la, e virou-se de lado na cama, tentando encontrar o sono o mais rápido possível, antes que seus pensamentos traiçoeiros lhe alcançassem novamente.

Aberash não teve mais pesadelos naquela noite.