The Kostroma Dynasty

Interlúdio: O Peso da Coroa


Living like kings comes with a price... Don't it?

You're rolling in riches then you're rolling the dice... Ain't it?

Big Bad Wolf— Roses & Revolutions

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Não havia som. A orquestra se calara, e só a voz do padre cortava o silêncio, proferindo o discurso que sacralizava o momento. Cada palavra ecoava na cabeça de Damian, e ele procurava assimilá-las tão fundo em seu cérebro de maneira que nunca poderia esquecê-las e esquecer o dever que vinha com elas. Sentiu a coroa tocar seus cabelos e esperou um instante antes de abrir os olhos e levantar-se, encarando a multidão que o observava. Esperava que não pudessem ver o leve tremor em suas mãos.

Sentou-se no trono ao lado de Yeva, e a cerimônia foi encerrada. A solenidade durou mais um minuto, então a música recomeçou e as centenas de olhos finalmente deixaram de concentrarem-se nele. Não pôde conter um suspiro aliviado.

— Como se sente? – sussurrou Yeva, apertando sua mão sobre a dele, e lhe dirigindo seu costumeiro olhar acolhedor que fazia Damian saber que podia lhe confiar a vida.

Antes de responder, deixou os olhos vagarem pelo salão. A nobreza aldiana ocupava todo o lugar, e era um tanto aterrador saber que era ele o soberano de toda aquela gente poderosa. Depois voltou seu olhar para o rosto de Yeva, sua rainha e, mais importante, sua esposa. A pessoa que entenderia cada uma das decisões difíceis que tomaria dali pra frente, e o incentivaria a seguir seus instintos. A pessoa que seria a paciência que lhe faltava, o carinho que para ele era difícil demonstrar, e para ela era tão natural. Sua igual e oposta, e em quem ele secretamente punha suas esperanças para aquele ser um reinado melhor do que os outros. Por isso, por querer se mostrar merecedor do que ela lhe daria, ele abriu um sorriso antes de responder, escondendo por um momento os milhões de incertezas que se agitavam em sua mente.

— Por incrível que pareça, essa coroa pesa menos do que eu esperava – respondeu, e, naquele instante, não era totalmente mentira.

*

Agora o mundo era uma massa de ruído insistente. Estavam se aproximando da multidão, dos brados enfurecidos, do fogo, das lanternas, do ódio. Seus sentidos estavam alerta, e ele sabia o que deveria fazer, mas, de alguma forma, seus pensamentos continuavam voltando ao seu eu de poucos anos atrás. O czareviche que achava que entendia de algo quando se tornou Czar, o rapaz de achava que entendia suas responsabilidades. O seu eu que achava que a coroa que lhe fora colocada na cabeça pesava somente as gramas que valiam os metais que a compunham. Tolices de um principiante.

Naquele instante, por mais que se parecesse mais com um soldado do que com um monarca, e a coroa estivesse muito bem guardada no palácio junto de sua esposa e seu filho de poucos meses, sentia todo o peso daquilo que simbolizava seu poder. E, Deus, pesava como chumbo. Pesava tanto que quase lhe fazia esquecer do medo que existia silenciosamente em seu peito. Veja, o Czar fazia jus ao legado de sua família. Reprovava a magia, odiava a bruxaria, mas fora ensinado a ser assim desde o princípio. Ódio não nasce sem ser precedido de medo, e no caso dele não era diferente. O temor nunca o abandonara, embora ele fizesse de tudo para mostrar ao mundo que tudo o que sentia era coragem e dever.

As denúncias vinham ficando mais frequentes, os tumultos mais corriqueiros, os linchamentos virando mais regra do que exceção. Não havia como negar mais, as bruxas estavam renascendo das cinzas. Os Caçadores já estavam na ativa há anos, mas, para controlar o pânico da população, a figura do Czar era importante. Então ali estava Damian, no meio de mais uma multidão enfurecida voltando-se contra alguém acusado de bruxaria. Mais uma vez tentaria parcamente averiguar se a acusação procedia, livrar a vítima caso fosse mentira, ou, como na maioria das vezes acontecia, ele mesmo matar a criatura. Pelo menos seria uma morte rápida e, acima de tudo, lhe conferiria respeito para com o povo no meio daquela situação caótica. Quando pensava que seria seu Aleksei que teria de fazer isso um dia...

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Livrou a cabeça de tais pensamentos. Não, seu filho, aquela criança ainda tão intocada pelo mundo, não tinha lugar nem mesmo em sua mente quando tudo que o rodeava e o que ele deveria inspirar era ódio, justiça e obediência.

Aprumando o corpo, e fingindo que não sentia o peso da coroa de chumbo em sua cabeça, Damian começou a desbravar seu caminho pela multidão em fúria.