jisei no ku

3 — The Sunflower Who Cries


noite breve — quantos dias me restam para viver?

— masaoka shiki

Uma semana se passou desde a visita interessante que Atsushi recebeu, ele tenta não pensar muito nisso na maioria dos dias, se concentrando em simplesmente cuidar de suas flores — que vão desde simples margaridas até gorduchas e delicadas camélias — e se dedicar a sua singela horta de ervas medicinais.

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É durante a irrigação de suas arrudas que Atsushi recebe outra visita, desta vez não são os olhos enigmáticos de um deus, mas sim os dourados de Kenji, o menino ingênuo e gentil que mora a vinte minutos da sua casa e dez da vila que Atsushi pouco frequenta, mas adora e conhece por nome de todos que moram lá.

— Kenji-san! — Atsushi sorri, surpreso. Foram poucas as vezes em que Kenji o visitara pessoalmente, já que ele sempre tinha muito trabalho a fazer na fazenda de seus pais. As poucas vezes que via o loiro era acompanhado do pai, Makezu — um homem velho, enrugado e magro demais, mas que tinha a força de um garanhão.

Os dois homens sempre o visitavam a cada dois meses, com uma melancia doce e um punhado de morangos em uma cesta, que Atsushi recebia em troca de ervas medicinais para as dores de estômago do patriarca da família.

— Eu não o esperava para uma visita tão cedo! Onde está Makezu-san? — O nome do pai de Kenji parece lhe tirar uma reação angustiada e Atsushi logo percebe que algo não está certo. O sorriso do platinado escorre de sua boca, deixando uma linha tensa que se perpetua para seu maxilar trincado em preocupação. — Kenji-san, quer entrar? Eu estava indo fazer chá.

O menino loiro não parece que vai se mover, ou não consegue, então Atsushi gentilmente o guia pelo ombro até Kenji estar sentado no pequeno sofá que ocupa a sala. Atsushi o deixa com um pequeno aperto no ombro e um sussurro de que logo voltaria.

O jovem rapidamente coloca água para ferver e se volta para os potes em uma prateleira acima da pia onde ele guarda as ervas que usa em seus chás. Atsushi não pensa muito ao escolher o pote que guarda flores e raízes de valeriana. Quando a água ferve, Atsushi apaga o fogo e acrescenta uma colher da erva e tampa o pequeno bule.

Ele procura por sua bandeja e arruma duas xícaras de porcelana com alguns biscoitos em um prato junto com o bule e se volta para a sala, onde Kenji ainda se encontra com um olhar vazio. Atsushi sente seu peito apertar, querendo saber o que poderia deixar um jovem tão alegre como o loiro daquela maneira.

Eles se sentam em completo silêncio por quinze minutos. A xícara nas mãos de Kenji nunca se moveu e Atsushi tenta não pensar em como o chá ficará frio em poucos instantes. Às vezes os pensamentos mais mundanos diante do silêncio são mais desrespeitosos que uma tentativa falha de consolar alguém chorando. Mas Kenji não está chorando, os olhos secos e mortos, mas Atsushi sabe que a alma de girassol do menino não espelha seu exterior e se ele fechar os olhos, Atsushi quase pode ouvir os soluços da alma de Kenji.

— Ele acordou morto. — É a única frase que Kenji fala, mas não é preciso de mais. O peso nos ombros do loiro e o pequeno e único gole que ele dá em seu chá fala por si só.

Atsushi nunca pensou que o silêncio poderia ser tão ensurdecedor.

O platinado escolhe algumas flores — miosótis, crisântemos, açucenas e perpétuas — e as junta em uma coroa de flores. Kenji olha os dedos pálidos do platinado se torcerem delicadamente ao montar a peça, pensando em como algo tão colorido pode ter uma mensagem tão dolorosa.

Nem ele e nem Atsushi comentam sobre as lágrimas silenciosas que escapam de seus olhos dourados.

Dazai aparece na cozinha de Atsushi e encontra toda a casa escura, a única fonte de luz vindo da varanda que uma semana atrás os dois se sentaram e compartilharam um chá com gosto de caramelo sem caramelo.

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O deus mantém seus passos silenciosos ao se aproximar, talvez querendo surpreender o menino mortal que o chamou tão facilmente por seu nome e não por seu destino. Entretanto, o homem para quando sente a angústia que cerca aquele menino de fios de luar e Dazai sabe que aquela angústia vem da morte de alguém.

— Olá, Dazai-san.

Dazai não fala nada por um minuto, ainda petrificado com os sentimentos fortes de luto. Quando a entidade se move, ele simplesmente se acomoda, mais uma vez, ao lado de Atsushi, olhando para o jardim do menino sendo banhado pelo luar.

As plantas parecem cantar em pesar pela dor de seu cuidador, o que faz Dazai se sentir como se não fosse bem vindo naquele lugar.

— Ele sofreu? — Não é preciso muito para Dazai entender do que Atsushi fala, a Morte só recolheu uma alma daquela vila naquele dia.

Osamu pensa nas mãos calejadas e nos olhos sinceros do homem que pegou sua mão como se segurasse a mão de um filho. Depois de um momento, ele finalmente abre os olhos e responde.

— Não.

Os dois não falam mais nada. Atsushi não lhe oferece chá doce e acolhedor e Dazai não olha para as singelas lágrimas que abandonam os olhos de caleidoscópio do menino. Naquela noite, Dazai não vai embora e observa, junto a Atsushi, a lua se tornar uma bola de fogo que anuncia o começo de mais um dia.