O que o futuro reserva?

Por que você chora?


Por que as estrelas brilham?

Por que o céu é azul?

Por que a noite é tão diferente do dia?

Por que você chora?

[...]

“Isso é tão louco, não é? Somos tão jovens para ficar falando sobre esse sentimento... Amor. Não entendemos nada sobre nada das coisas... Só em nosso mundinho e prioridades. O que é realmente? Será que sabemos, mesmo?”.

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“Bom, eu não acho que seja estranho tanto assim. Para começar, você sempre foi bem mais madura e esperta que a maioria. Então é normal entender desse sentimento mais rápido do que um adolescente comum cheio de futilidades na cabeça. E, bem... Já que estamos... ‘Mortos’. A nossa idade não importa mais para métrica. Além disso, você é muito importante para mim. Infelizmente só agora eu posso te dizer algo assim... Tão claramente. Acho que sempre fui um tapado. Mas ainda assim estou feliz. Não é do jeito que eu sonharia, mas... Pelo menos eu posso te ver. Segurar sua mão... Te olhar bem em seus olhos. Te enxergar. E te dizer sobre esse turbilhão de emoções que ‘germinou’ no meu ser. Eu te amo, muito. E, se é para passar o que me resta dessa vida, mesmo que seja da forma fantasmal, eu ficaria contente. O tempo que durar, este será o melhor momento da minha vida... Mesmo que só possa ser nós dois, sem a nossa família... Sem podermos concretizar a NOSSA FAMÍLIA... Mas eu estou satisfeito. Consegui o meu último sonho. Voltar a estar com você. Preferia mil vezes que fosse como uma vida normal, mas quero que seja com você. Tanto lá, como aqui. Se estamos aqui, é para sermos felizes da forma que for possível”.

...

“Eu não quero que meus pais se preocupem ainda mais comigo. Os nossos pais, na verdade. Como seria a reação deles ao notar que estamos aqui? Não quero preocupá-los, deixar que saibam que estou presa nessa dimensão atrelada a mais algum tempo de ‘vida fantasma’. Nesta vida ‘não viva’. Deve ter sido muito pesado para eles... Não foi? Mas deve ser ainda mais triste para eles saberem de mais isso. Não quero abalar mais eles... Já devem ter sofrido demais... Em algum momento nós vamos deixar esta dimensão. Então não é importante para eles se preocuparem ainda mais conosco. Vamos superar mais essa. Eu sei disso. Já conhecemos bem como a vida fantasma é então saberemos como lidar. Só uma vez, eu quero ignorar a minha vontade e, talvez, dar um pouco de consolo a eles, evitando mais essa dor de nos ver assim”.

Já deve ter sido tão difícil para eles.

...

“Já estou com saudade até da ‘linguiça carnívora‘ que o papai guarda na geladeira lá de casa”.

“Eu também estou com saudades das minhas coisas. Alguns livros que eu ainda queria ler. Coisas que deixei para fazer depois... Sinto a falta da mamãe e do papai, mesmo quando eles continuam sendo ‘autoritários’ e eles não me escutam um instante sequer. Mesmo com todo aquele ‘bom humor’ e alegria desproporcionais... Sinto falta deles. Queria ver a vovó também. Contar para ela sobre as ‘novidades’. Tipo eu e você... Juntos. Coisas do tipo”.

“Sempre achei ela superlegal. Agora eu imagino que sei o porquê. Vocês duas se davam bem, então ela era legal comigo também”.

Arrependimento

“Sabe, até agora eu nunca entendi como ninguém percebeu, sequer notou semelhanças. Tudo bem que você é bem rápido e não dá para ficar observando sua ‘fisionomia’ durante o pânico que uma assombração fantasmal causa com todo o agito e descontrole. O típico ‘pavor de uma aura perseguidora’... Além disso, disfarçamos um pouco em todas aquelas vezes. Mas, não era algo impossível. Foram muitas chances. E praticamente TODOS os fantasmas sabem quem você é, quando não está no modo Phantom. E nenhum deles... Nem mesmo o Box Ghost, soltou nada, nenhuma informação??? Às vezes eu acho que tem algo de errado com as pessoas da cidade...”.

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“O que... Só às vezes? Ops. Mas, olha. Eles não sabem que fantasmas podem ter ‘forma humana’. Bom, à maioria dos fantasmas não têm. O ponto é que ninguém espera por isso. Está tão óbvio que nenhum deles acreditaria nisso. E já tivemos muitas provas sobre... Somente se alguma coisa realmente impactante acontecesse é que eles perceberiam. Mas, tanto faz”.

[...]

“Agora que eu penso nisso, eu sinto algumas semelhanças comigo e com um personagem ‘bom de briga’ e sabe dar bons conselhos. Adivinha qual?”.

“Claro, claro... Exceto o fato de ele ser parecido com um ‘bárbaro’ e todo o resto de estereótipos de protagonista bonzinho”.

“Eu só preciso agora do meu leal ‘companheiro gato’. Aqui, aqui... Gatinho medroso... Aqui... Minha bela dama, você viu algum felino com estas características recentemente? Ou, no meu caso... Uma ‘gatinha’ já me ajudaria bastante. Pelo menos eu não pagaria esse ‘mico’ sozinho”.

Gatinha medrosa. É sério, mesmo? Nenhum ‘mais indicado’? Pode esperar sentado, não vai ter esse apoio”.

“Vamos, vamos deixar a liberdade nos alegrar! Eu estou fazendo um ‘bom papel’ de atuação, vai... Eu sei que você concorda. Vou ter que cantar, para te ver colocar um sorrisinho lindo ai nesse rosto? Olha que eu faço isso”.

Em um dos muitos momentos em que a dupla estava sozinha e sem muito que fazer, eis que um momento descontraído e característico dos traços joviais destes adolescentes começou; um momento de brincadeiras e travessuras de crianças... Algo bem infantil e brincalhão.

Um momento de felicidade e competição entre risos e sentimentos.

Aonde suas duas ‘almas vivas’ podiam ser vistas por ali. E uma delas estava fazendo tal encenação.

“Eu bem que deveria trocar meu jabá de transformação às vezes. Que tal esse grito de guerra?”.

Decidindo por ser um pouco brincalhão, o jovem rapaz ousa usar outros tipos de frase de efeito como nova forma de se identificar. Claramente isso não seria aceito pelo código de ética entre heróis, mas... Enfim, dentre muitos testes falhos e não compatíveis, ele testou mais esse.

Eu tenho o poder...!”.

O rapaz magricela... Mas que passou por uma transformação corporal enquanto ‘testava’ aquilo. Como um rápido brilho esbranquiçado revestiu seu corpo, logo dando um novo vislumbre do rapaz, deixando-o com um porte mais honrado e corajoso e forte. A pele já estava pálida, consequência do mesmo estar na condição de ghost, mas seu cabelo ficou prateado e uma vestimenta predominantemente de tom escuro lhe preencheu a aparência.

Enquanto Danny levantava um comprido graveto qualquer, que estava espalhado pela vegetação de árvores secas e desérticas que compunha o ambiente ao qual ambos os adolescentes estavam neste momento; na imensidão vazia da Ghost Zone... O galho era a melhor representação possível de uma espada erguida e um ‘grito de guerra’ ecoava do rapaz brincalhão.

Eis que o mesmo assumiu a sua forma heroica e destemida; o seu alter-ego. Mas que não fazia mais tanta diferença visual com seu anterior estado físico...

“Onde está o meu fiel ‘gato guerreiro’?”.

“Nah... Eu passo essa. Eu estou mais para uma garota rebelde e desenfreada (colocar algo aqui condizente com o sarcasmo)... Tipo isso”.

“Oh... Eu espero que o seu humor hoje não esteja tão dark... Pois o incrível combatente e ‘sonhador’ lutador da justiça jamais desistiria de por um raio de esperança e sorrisos em seu rosto”.

“Isso vai depender do ‘quanto’ você está inspirado para tal feito...”.

“Oh-ho... Você nem imagina. Eu posso começar a cantar também. aposto que tem algumas músicas relacionadas a um grupo de rock, que vai te fazer saltitar comigo. E a dica é algo como ‘ovo antropomórfico’. Você conhece isso? E, sério... É bem difícil decorar essa palavra estranha. Então, eu mereço elogios”.

“He-he-he. Mas você não poderá ‘sair do personagem’. Vamos ver como anda o seu NÍVEL DE ATUAÇÃO, meu bravo combatente da justiça feliz”.

...

Passeando pela Ghost Zone, sem nada de especial para fazer, eles conversam demonstrando sobre as ‘conveniências de ser fantasma’. Tipo... Não precisar se alimentar, por mais que a fome permaneça. Não precisar dormir... Mas ambos sempre cochilam abraçadinhos... Não precisar ir ao banheiro; bom, até o momento não deu tal vontade. E não terem outras preocupações, além de estarem juntos.

Isso também conota ao tédio e demonstra como esta condição de vida é frágil e ‘sedentária’. Sem objetivos ou obrigações.

Só o que sobrou... Foi o carinho; o amor.

E isso teria que ser o bastante para eles. Enquanto isso tudo durasse. Enquanto eles fossem ‘obrigados’ a existirem como criaturas fantasmagóricas. Enquanto fosse preciso aguentar. Esperando e aproveitando desta ‘vida’. Ao menos, eles ganharam um ao outro. E como precisariam disso no futuro bem próximo...

...

Equívocos & Arrependimentos

Não havia muito para se fazer nesses dias. Cada pequena atividade; cada coisa reservada para ser realizada parecia sem sentido...

De que adiantava tanta riqueza? O que o glamour da alta classe da sociedade poderia apresentar? Tantas conversas com outros ricos; tantos momentos extravagantes e felizes... Agora tudo isso não passava de pó diante deste casal.

O ‘sonho de consumo’. A pose de classe social elevada... O orgulho de poder desfrutar de algo tão agradável e desejável como o status de milionário; algo que deve ser aproveitado por quem sabe ‘até onde por ir com isso’. Não é algo errado se sentir assim... Ter o zelo de cuidar daquilo que se tem e sentir-se feliz com isso... Mas não importava mais.

Nada disso servia mais.

Pensar nisso só fazia doer mais e mais. Afinal, basicamente tudo relacionado a isso tinha somente um propósito... O sonho de proporcionar uma vida melhor e mais digna à filha amada deles.

Algo que jamais poderá ser concretizado. Não havia mais tal sonho...

Não havia mais Sam...

...

Diariamente uma pequena parcela de lágrimas e nostalgia preenchia a ambos os pais... Cada cômodo da casa; cada possível comentário sarcástico sobre um hipócrita comercial na TV que assistiam juntos ou assunto intrigante exibido, tudo servia como lembrete. Lembranças da presença e convivência de alguém insubstituível e memorável.

Era algo tão vívido... Parecia que a qualquer instante a princesinha deles entraria sala adentro causando uma ‘explosão de humor adolescente frenético’... Mesmo o sarcasmo presente nisso também parecia familiar, partilhado com alguns dos mais raros sorrisos afetuosos e momentos alegres acompanhando a feição da garota.

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Um simples ‘estou dando um rolê’.

Era tão dolorosa a falta que isso fazia. Tão difícil de superar... Ainda mais pelas patéticas circunstâncias que tudo aconteceu. Abominações espectrais causaram tamanha calamidade.

Como esses seres puderam ser tão sem coração.

Não haveria consolo o bastante para acalentar e aplacar tal amargura, mas regressar nesses pequenos momentos alegres e característicos dela fazia estes desconsolados pais um pouco melhor.

Não houve uma comoção tão extrema quanto a esta tragédia, mas todas as pessoas com maior nível de intimidade com a garota; os amigos, familiares, alguns alunos e professores do colégio... Até repórteres locais, por se tratar de algo muito brutal e ‘divisor de conduta militar’, queriam noticiar isso... Mas mantiveram o respeito a tal família e anonimato básico.

Enfim, todos eles prestaram suas condolências.

Mas, os que mais sofreram com isso foram os pais da menina. A avó dela também ficou muito triste abalada, pois essa neta era igual a uma filha para esta senhora...

E dentre os muitos afetados e abalados minimamente que seja por isso, havia dois jovens. Os dois mais ‘próximos’ a essa garota.

Todos estavam abatidos e fragilizados com esse momento... E estes dois garotos estavam tão devastados quanto os pais dela.

Apenas a tristeza e saudade.

Emoções desoladoras, mas que poderiam ser superadas... Somente com todos juntos.

Extravasar em forma de lágrimas e desabafo de tal angústia.

Isso simbolizava uma ‘despedida’ e um novo começo...

Buscar saudosos momentos felizes e ser fanático só pelo passado, mas superar e buscar pelo melhor que ainda poderá ocorrer na vida. Superar a dor...

Todos eles precisariam realizar isso; algum dia.

...

Após poucos dias, os garotos ainda estavam do mesmo jeito...

Tucker ligou uma vez para a residência dos Fenton, perguntando pelo Danny. Ele sabia, melhor do que qualquer outro, o quanto isso não parecia ser verdade, mas era. E doía muito. Por isso ele se importava mais com seu melhor amigo agora, do que somente em uma forma de tranquilizar o próprio coração esmagado...

Mas a resposta foi muito banal.

‘Ele ainda está lá...’

O rapaz raramente saia do quarto. Não comia direito... Não buscava basicamente nada. Ele somente sofria... O primeiro dia que ele saiu do quarto foi quando ele decidiu pedir ‘desculpas’.

Ele resolveu confessar tudo. Dizer que foi por ‘culpa dele’ tal fatalidade... Mas Danny não conseguiu. Ele não queria... Ser hostilizado pelos pais dela.

Ele não aguentaria...

Então ele somente passou a noite lá, parado diante da porta de tal casa. A fachada da frente mudando gradualmente entre tonalidades conforme a noite prosseguia e clareava mudando a coloração dos arredores.

Uma noite escura e fria, assim como seu coração.

...

Danny só voltou quase as duas da madrugada para sua casa... Os pais dele estavam preocupados, pois o garoto não disse aonde ia e nem tomou o compromisso acerca de qual hora retornaria.

Mas eles não interferiram nisso ou o indagaram sobre aonde ele foi... Eles não podiam fazer isso. O rapaz estava dando os primeiros passos para superar.

Quando o menino regressou, ele não foi cobrado com perguntas e repreensão pelo horário tardio... Somente recebeu um amoroso abraço dos pais, que esperavam na sala por ele voltar logo ao lar.

E mais uma vez o rapaz subiu calado até o quarto dele.

Era angustiante para ambos os pais do menino vê-lo com tanta dor que o sufocava... E não havia o que ser feito para consolá-lo.

...

Com quase vinte dias do velório... Pouco a pouco as coisas foram retomando a ordem.

Mas nunca mais seria a mesma coisa.

O garoto já saia mais vezes... Ele conversava com os pais. Ele até riu vez ou outra, com o ânimo que sua irmã estava lhe proporcionando. Mas os Fenton sabiam. O menino estava sofrendo demais.

Mesmo o Tucker continuava abatido. E mesmo assim, mesmo Danny ainda dilacerado... Ele estava seguindo em frente.

.

.

.

E mais alguns dias depois...

A mesma tragédia se repetiu...

E dessa vez, tamanha dor não podia mais ser ‘imaginada’.

Os Fenton estavam muito surpresos por descobrirem a ‘identidade secreta’ do Danny, mas o ato de ser um herói nunca havia cobrado tão alto antes.

Danniel Fenton salvou a vida de milhares de pessoas ali. Possivelmente milhões... Só que não houve chance para o herói se salvar...

Agora foi com o menininho deles... Foi o garoto tão amado pelos pais. Algo impensável que poderia acontecer; que poderia roer ainda mais seus corações... O ato altruísta de um jovem tão bondoso e amado. Seus pais entraram em choque instantaneamente, abalados sem descrição por tal angústia. A irmã estava desolada... E o amigo foi mais uma vez amassado; triturado e obliterado pela dura realidade. Não havia como as coisas serem tão cruéis assim. Ele sequer poderia superar a perda da garota tão queria e familiar para ele... E agora ele terá que passar por essa realidade, de novo. Como havia tal forma para superar isso?! Não é justo... Não é...

... E a mesma comoção se repetiu. Um ciclo doloroso e natural. A perda de uma pessoa...

Tudo, novamente. Dor. Tristeza. Tragédia... Luto.

Luto...

Um pedaço arrancado da vida. Uma dolorosa mudança... E tudo culpa das aberrações fantasmagóricas.

É uma pena que eles não soubessem da verdade.

O herói Danny Phantom também se foi junto ao garoto Danniel.

...

Dia após dia, tudo foi difícil. Fruto da superação lancinante e avassaladora. Viver. Só viver... Um dia por vez.

Tudo foi difícil...

Mas não houve nada pior do que o e-mail recebido. E o remetente... Um duro impacto aos seus corações. Era o seu menininho, o filho deles. Algo nunca aguardado. Bem-vindo... E inesquecível. A inestimável última conversa com ele.

Uma sublime mensagem tão responsável e tão sentimental do jovem rapaz.

Uma prova do caráter e honra; o símbolo da vida que ele viveu.

Como foi angustiante saber de 'toda a verdade'. Mesmo assim, Jack e Maddie tomaram a decisão. Eles mereciam saber também. E, com isso, ambos revelaram tal verdade diante dos pais da garota...

...

Poucos dias após os Fenton receberem tal e-mail avassalador e de um conjunto de sentimentos implacáveis, eles decidiram tomar tal atitude. Havia mais uma família que tinha o direito de saber a verdade. De toda a verdade...

Após muito pensarem nisso, em como dar tal notícia de que toda essa tragédia era algo relacionado a eles; que havia uma ‘parcela de culpa’ deles, mesmo que seja somente a culpa por terem desenvolvido tal aparelho capaz de ‘interagir’ com essa coisa toda sobre fantasmas e ecto-energia. Isso ainda era dever deles. Era a responsabilidade carregar esse peso e ouvir todas as represálias contra todo esse esforço de anos de pesquisas que só causaram tal catástrofe para todos.

Eles se sentiam imensamente culpados pelo que ocorreu a todos, pois foi por culpa deste experimento fantasmagórico que tudo começou e terminou. Em primeiro lugar, se eles fossem pessoas normais; pais normais, isso jamais teria ocorrido aos pequenos adolescentes. Essas crianças deveriam ter levado uma vida normal. Eles deveriam ter sido felizes e aproveitado o mundo da forma certa, mas isso não foi possível. A responsabilidade de lidar com aberrações rancorosas e seres egomaníacos atrás de cobiças e vinganças... O fardo de serem heróis do mundo ao invés de heróis da própria vida. Isso custou muito caro. E a perda de tais pequeninos jamais poderá ser superada ou compensada. E isso é culpa deles...

Sabendo que eles mereciam nada menos que o descaso e nojo dos pais da menina e nada menos do que eles mesmos estavam sentindo por si próprios; eles marcharam até o local onde não tinham o direito de estar... Eles foram até a família destruída dos Manson.

Não demorou muito, na verdade.

Era uma tarde quente, mas ventava e fazia com que calafrios percorressem a espinha e gelassem suas almas por medo do escárnio e represália que mereciam e aguardavam receber. Isso é se fossem ao menos recepcionados para conversarem em primeiro lugar.

Logo o casal bateu na porta. Cada som de ‘toc-toc’ era como uma ressonância espremendo seus corações a angustiando-os por terem que dar tal mensagem de despedida do seu filhinho. Reviverem essa dor e saberem que culpa ele carregava sozinho e desolado.

Nada menos do que manchas de lágrimas queriam preencher seus olhos. Mas eles precisariam ser fortes e prometeram ouvir tudo, sem desviar e sem se defenderem. Era o mínimo que deveriam fazer. Aceitarem o rancor e obedientemente aceitarem a culpa que mereciam...

Apenas algumas batidas foram dadas... E um som grave foi escutado do outro lado da residência avisando com um sonoro ‘estou indo’.

Quem os recepcionou foi à matriarca da família. Uma senhora com mais de seus sessenta – setenta anos de idade os observou da soleira da porta. Eles supunham que ela iria perguntá-los algo como o que vocês dois querem... Mas isso não foi o que ocorreu. Teria sido menos doloroso se fosse assim.

“Olá, Fenton. Sejam bem-vindos. Podem entrar. Já faz um bom tempo que não os vejo, acho que este é um bom momento para vocês virem nos visitar. Talvez conversar com vocês anime um pouco o meu filho e nora. Eu ficaria muito feliz se isso ocorresse. Podem me acompanhar, eles estão lá para dentro... Olhando agora um antigo álbum de fotos de família... Com a nossa pequenina princesinha. Oh, não se incomodem com isso. Eu só estou um pouco sentimental esta manhã”.

Com uma rápida meia-volta de sua scooter motorizada, esta idosa começou a direcioná-los ao interior da casa. Ela forçou-se a esconder perfeitamente bem a amargura que sentia no peito nesta manhã ao rever as fotos de tão pouco tempo atrás de sua própria família tão feliz, mesmo que não muito sincronizada. Eles eram muito felizes juntos.

“Bem, eu acho que não há muita diferença para perguntar isso agora a vocês, mas como vocês todos estão? Eu espero que esteja um pouco mais fácil de superar isso tudo que aconteceu. Eu sei que não é fácil e nem nunca será possível arcar com tanta tristeza, mas eu espero que vocês estejam conseguindo superar, mesmo que um dia de cada vez”.

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“Nós...”

“Nós estamos tentando”.

“Eu sei. Nós também. Mas não podemos nunca esquecer isso. Somos uma família. Somos fortes. E somos fortes porque estamos unidos. Não importa o que, não devemos nunca esquecer isso. É o mínimo que podemos fazer pelas nossas crianças. Devemos tentar ser felizes por eles. O mais próximo que conseguirmos alcançar tal meta. Por eles não se esmoreçam, entendido?”.

“Sim. Obrigado, Sra. Manson”.

“Não há de quê. Eu os considero também como parte desta família, já. Nossos pequenos eram amigos. E isso deve fazer de nós também unidos. Só assim seremos capazes de enfrentar tudo que está... Enfim. Se não estou enganada, meu filho está logo atrás dessa porta. Eu já volto, vou chamar a Pámela para cá também. Podem entrar e ambos fiquem à vontade. Por mais que o ânimo dele não esteja tão bom quanto era, eu acho que vocês devem conseguir conversar um pouco... Com licença”.

“Ok. Nós estaremos aguardando vocês duas chegarem”.

Enquanto isso, vamos conversar um pouco com o Jeremy. Quem sabe nós consigamos... Não, depois falaremos disso, quando todos nós estivermos reunidos.

“Tudo bem. Jeremy, temos visitas... E eu volto já, vou chamar a Pámela também!”.

“Está bem, mãe. Podem entrar”.

Ao abrirem a porta, eles se depararam com um escritório ao estilo mais clássico. Mesmo assim, o luxo havia sido um pouco ofuscado pelo clima que circulava tal sala.

O jovem adulto de pele clara e cabelo bem penteado estava sentado vendo um livro de capa grossa. Mesmo ele demonstrava pequenos detalhes do quão abalado ainda estava, o mais evidente era uma barba recente aparecendo em sua face. Ele também mal teve alento para erguer os olhos e avistar o par que estava esperando do lado de fora das portas duplas... Mas com uma lufada baixa de ar, ele conseguiu exibir um singelo sorriso e convidá-los a entrarem.

“Olá, Fenton. Entrem e se sentem. Podem ficar a vontade. Eu só estava... Bom, tudo está bem com vocês?”.

“Oh, sim... Nós estamos conseguindo aguentar”.

“Que bom saber. Venham. Podem olhar comigo, se quiserem... Este é um álbum um pouco antigo, sabe. Este foi uma coletânea de fotos de aniversário da Pámela. Faz alguns anos, na verdade. Mas parece tão recente... É até engraçado como estas coisas são. O tempo é muito relativo e depende muito da perspectiva de quem vê”.

“Eu sei...”

“Ah, esta aqui foi à primeira vez que ela fez cookies. Engraçado. Pámela não sabia cozinhar muito bem, mesmo assim insistiu em fazer algo diferente, só dessa vez. Com a desculpa de variar um pouco as coisas no seu próprio aniversário. Mas eu sabia o porquê disso... Era para convencer a nossa pequena Sammy a ajudar. Assim ela ganharia mais ‘aptidões femininas’, entendem? Eu não vou negar. Isso tudo foi patético. Nós só conseguimos nos irritar e irritar ela. Mesmo assim, tentamos. E todos nós acabamos sorrindo quando os biscoitos saíram do forno todos queimados e soltando fumaça densa e negra”.

“Foi divertido, no final. Não é, querido? Eu não sabia fazer a proporção de leite com massa... E acho que ainda hoje em dia eu não sei. Se não fosse por sua mãe, acho que teríamos uma séria crise estomacal. Sinceramente eu não sei o que me deu naquele tempo para propor tomar tal atitude. Esse tipo de iniciativa não combina comigo”.

“Tem razão, querida. Mas foi algo bom. E mamãe cozinhou algo muito gostoso no lugar. Tudo bem que não se compara ao nosso Buffet feito pelo grande chefe suíço. Mas isso ainda foi muito bom”.

“Sim... Essa foi uma calorosa festa de família. Algo que não fazíamos com frequência”.

“Sim... Ah, sim. Pámela, querida. Os Fenton vieram nos visitar”.

“Ah. Ok. Desculpem-me, mas eu não tinha reparado. Olá, como vocês... Como vocês estão? Tudo bem? E a pequena... Jazz-mine, certo? As aulas já estão quase recomeçando, eu espero que ela já esteja preparada para retomar a rotina”.

“Sim, nós estamos conseguindo organizar tudo. E... Bem, ela sabe se preparar muito melhor do que a gente para voltar à rotina matinal”.

“E também... Bom, como vocês estão?”.

“Também estamos levando a vida. A um ritmo mais ‘lento’, mas estamos tentando. Não será fácil. Não, não será. Nunca será possível superar esse oco que estamos tendo, vocês entendem. Mas ainda assim, nós vamos continuar em frente. Firmes e com o amor guardado; cravado em nossos peitos com a saudade dela. A nossa pequena princesa”.

“Nunca seremos capazes de esquecer isso. E nós não queremos esquecer nada sobre ela, também. Por isso, pouco a pouco estamos aprendendo a como conviver com isso e saber que essa saudade é algo bom e que não pode ser encarado como dor e solidão. Não. Estamos vivendo o agora. Um dia por vez, sempre com o carinho e propósito de fazê-la se orgulhar da gente”.

“Estes ‘filhos’ meus são a minha inspiração. Eles me dão orgulho agora. Posso dizer plenamente que a minha netinha sentiria o mesmo. A nossa família jamais se esmorecerá ou irá se fragmentar. Pois temos o amor que nos une. E a distância física não será um impedimento para isso. Nós amamos a nossa garotinha, da mesma forma que ela também nos amou. E isso mantém esta família. E seguiremos... Os Manson serão sempre os Manson. Assim como vocês, Fenton. As nossas famílias sempre serão firmes e unidas. Eu sei que já sou uma senhora velha e beirando a falta de forças, mas eu estou feliz por ter ‘alcançado’ tal idade e poder ver que meu filho e nora sempre se manterão fortes. Eu posso ter orgulho disso. E me orgulho pela felicidade que todos nós compartilhamos. As nossas crianças foram felizes juntas. E isso nos faz felizes, também”.

[...]

“Nós... Nós precisamos falar algo para vocês. Não há mais como evitar ou contornar isso. É algo muito doloroso... E... E...”.

“Tudo bem, Maddie. Nós vamos ouvir. Eu não sei o que ainda pode ser tão difícil, mas estamos aqui. Todos juntos. Vamos conversar sobre o que quer que seja isso que aflige tanto assim vocês dois”.

“Eu acho que não somos bons em disfarçar essas coisas, no final das contas”.

“Certamente que não. Mas isso não importa. Vocês podem continuar. Vamos ouvi-los...”.

“Eu acho que só ‘falar’ não será o bastante. Na verdade, não temos esse direito. Então decidimos mostrar para vocês”.

“Infelizmente não tínhamos essa coragem desde alguns dias atrás”.

“Nós precisávamos absorver todas as informações primeiramente”.

“Mas já tem alguns poucos dias que descobrimos sobre essas palavras. Nós pensamos inicialmente em só enviá-las para vocês, mas...”.

“Mas, nós decidimos que teríamos que ter a coragem de entregar isso em suas mãos. É o mínimo que temos que fazer. E é o direito de vocês terem acesso a isso”.

“Nós... Nós... Ah. Eu acho que é melhor vocês lerem primeiro... E depois podem dizer o que quiserem sobre isso. E o que quer que seja, nós entendemos”.

“E mereceremos”.

Com uma pausa, a família Manson ouviu tudo e os encarou desconfiados com o que isso poderia ser. E trocaram olhares entre si próprios. Até receberem a tela que exibia muitos parágrafos e mensagens.

Assim, eles começaram a ler o que seria isso...

...

Foi bem mais de meia hora, aonde os três só leram o texto em voz baixa e não desviaram os olhos da tela do monitor.

O silêncio é uma das expressões mais angustiantes a opressoras que as pessoas podem experimentar.

E isso durou por cerca de mais quinze minutos após toda a leitura. Cada um nesta sala com uma expressão diferente. Beirando às lágrimas e a fúria. Ou simplesmente com expressão apática, com se a verdade não fosse à realidade...

Por mais medo e repulsa que os Fenton pudessem aguardar ali naqueles momentos, eles nunca esperavam o que estaria por vir.

Compaixão em seus olhos.

O reconhecimento dos esforços que o rapaz fez pelos outros.

E o quanto os próprios Fenton sofriam com isso; essa amargura da culpa estampada nos rostos deles desde que entraram nesta residência.

“Tudo bem, antes de qualquer outra coisa... Desde quando vocês sabem dessa... Dessa... Desse e-mail? De tudo isso que... Que Danniel escreveu aqui?”.

E, com isso, uma longa e esclarecedora conversa teve início nesta nova grande família. Algo para resolver todas as dúvidas e dores ocultas e desoladoras. Afinal, estes problemas não podem mais ser algo para interferir suas vidas. Tanta dor não pode mais gerar ódio e tristeza. Não há mais espaço para isso...

A ‘despedida’ que o garoto deixou para eles era muito dolorosa de se ler. Quando se percebe todos os sonhos e projetos que o rapaz tinha antes e como tudo isso terminou... Isso era muito triste.

O que tal mensagem seria transformada se comparada com problemas tão ínfimos e supérfluos deixados pelo orgulho e individualismo entre eles? Não se pode manchar algo tão puro e profundo quanto tanto zelo e afeto de um coração tão ingênuo e infantil; uma criança que deixou sua despedida para todos. Isso é algo que não pode ser ridicularizado ou ofuscado. Já era hora de superar desavenças e mostrar união.

Era tanta amargura e ressentimento. Foi tão desolador ler cada parágrafo e linha daquilo. Mas também foi libertador.

Saber o quão especial e amada a filha deles foi; saber que ela foi uma heroína por todos esses dias em conjunto com esse rapaz tão especial também. Todo o grupo dela foi composto por jovens bondosos. Amigos de verdade.

Ambos foram pequenas estrelas que brilharam tanto na vida de ambas as famílias... Somente orgulho e amor poderia representar o que esses pais receberam nessa vida por terem esses pequeninos presentes, na forma de Danny e Sam.

Novamente choro e tristeza preencheu o ambiente...

Mas as famílias não suportaram mais isso sozinhas.

Desavenças fúteis e efêmeras... Briguinhas e tolices por estirpe e influência...

Isso foi superado pelo amor para com os filhos que não mais ali estavam...

...

#Continua...

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.