Capítulo 01 – Quando a vitória do herói não foi o bastante.

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Eu sou um cientista; um pesquisador. E os sentimentos humanos são uma coisa muito intrigante...

Existem muitas portas para o destino e cada qual leva a uma nova projeção de possibilidades intermináveis.

Infelizmente seus destinos não estão mais interligados a esta realidade. Suas escolhas, e as consequências de tais escolhas, os fizeram sair dessa ‘linha’.

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O que posso fazer é redirecioná-los. Mas sempre haverá um preço... Torná-lo-ei um pouco menor.

O vínculo com a realidade origem dos dois foi rompida. Eu tenho a capacidade de alterar o tempo e mudar fatos... Mas o destino não sou eu quem pode mudá-lo. Este foi a “escolha” de vocês dois.

Ao tomar o fardo de tentarem estabilizar o conflito entre os vivos e os fantasmas, também assumiram este compromisso.

...

Sorry

Fantasmas podem surgir dias... Meses... Ou anos. No passado ou no futuro. Após o período em que o indivíduo ‘tornou-se’ um ser espectral, preso nesta dimensão... Uma transição entre sonhos e objetivos. Tudo sendo moldado nesta nova forma. Ghost.

...

“... E o pai, bem... Ele está superando, sabe... Ontem mesmo eu o vi tentando montar uma nova invenção com peças antigas de sucatas da geladeira... Ele disse que era para “refrigerar enquanto transportava”. E era mais prático do que um ventilador portátil. Acredite, eu também me surpreendi. E bem mais econômico, já que usava energia através da luz solar... Bom, você sabe, não é... Desde que...”

Uma pequena puxada de ar. Era muito difícil falar sobre isso tudo.

“Desde que tudo isso aconteceu, ele andava muito para baixo. Nunca mais eu o tinha visto lá no laboratório. Mas acho que ele vai começar a seguir em frente.”

Piscando os olhos, uma sensação de ressecamento estava incomodando um pouco.

“Já a mamãe...”

Um olhar direcionado à luz que o céu resplandecia.

“Bom. Ela está ‘levando’ ainda. Foi muito difícil para ela superar.”

Mais uma suspirada.

“Na verdade, não está sendo fácil para ninguém... Mas eu acredito que vamos conseguir; unidos. Acho que... Q-que... É isso que v-você espera da gente. Não é, irmãozinho...?”

Um vento suave, mas forte o bastante para arrepiar um pouco. Um contraste entre o frio e a claridade do dia.

Meu querido herói...

Ela começa a ter uma grande vontade de chorar. O tempo todo ela estava tentando manter no rosto um sorriso, mas a leve nostalgia se juntou com a saudade e falta do seu irmão; seu melhor amigo... Seu herói. O sorriso ainda estava lá, por se lembrar do quão forte e corajoso ele foi, mas a tristeza ganhou seu espaço... E não mais a garota conseguiu controlar as emoções.

“Por que, irmão...? Não era preciso você ter feito aquilo. Nós daríamos um jeito. Era possível dar um jeito. Sei que era. Eu queria acreditar nisso...”

Suspiro resignado de negação, mas logo ela assentiu consigo mesma em silêncio. No final, ela sabia... Não era uma questão de ‘dar um jeito’. O que aconteceu, foi preciso. Era a única escolha a se fazer.

“Mesmo assim, obrigada, por nos salvar... Sem você... Toda a cidade não existiria mais. Obrigada...”

Um pouco de silêncio.

“E eu espero que agora você possa estar em paz consigo mesmo. Eu torço muito para que você não esteja vagando preso em forma fantasma...”

Ela voltou a ter um sorriso fraco no rosto.

“E que você tenha encontrado ela... Do outro lado... Entende? Que vocês dois tenham atravessado juntos essa porta da vida e ido juntos para o depois... Onde realmente possam ser felizes. Foi muito bom ter te conhecido.”

Então ela voltou uma atitude e postura mais feliz e ereta. Ela limpou seu resquício de lágrimas e decidiu que estava bom de tanto desabafo e era hora de melhorar o humor um pouco.

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“E obrigada por me ouvir, todos esses dias... Mesmo que eu seja tão mandona e chata; insuportável e arrogante... Obrigada.”

E adeus.

Meu querido irmão.

Até outro dia...

...

Não muito longe de onde a garota estava tendo essa conversa e desabafando as saudades, estava outro adolescente. Um jovem garoto. Ele também possuía um semblante triste, mas é algo natural devido a tais circunstâncias e perdas.

Lá estava ocorrendo uma pequena conversa. Uma pequena conversa amigável deste rapaz de frente ao túmulo da amiga. Algo similar ao que a outra jovem; Jazz é o nome dela, estava fazendo... Um ato de saciar saudade e amenizar a dor e sofrimentos deixados por estas ausências de amigos tão queridos e insubstituíveis.

O sentimento de ser ‘abandonado’ era algo sufocante, mas também demonstrava a união que todos eles compartilhavam.

“E agora, pessoal? Como é que eu vou viver a minha vida? Sem vocês dois quase tudo está tão, tão sem ânimo... Primeiro foi você, Sam. E agora você, Danny... Por quê? Não... Não era para ser assim. Nós éramos um grupo. Uma família. Minha família. Meus preciosos e inseparáveis... Não era... Como ambos fazem falta. Eu não consigo sequer me importar mais com alguma novidade tecnológica. Dá para acreditar... Mas já não tem mais graça. Eu não vejo mais... Incentivo para isso. Eu só sinto essa falta de vocês dois. Eu sei, eu sei. Eu tenho que superar isso e voltar a ser ‘eu mesmo’. Mas isso vai demorar e não sei se eu vou conseguir; não sem vocês dois. Mas eu prometo que não vou desistir. Principalmente porque vocês não desistiram. Eu tenho que ser um bom exemplo e apoiar e incentivar; afinal, somente eu restou. Então eu prometo que vou tentar.”

A partir desse momento, ele precisou ser forte e superar a crise de choro que quase aconteceu. Foi à quinta vez só nessa tarde. Já estava sendo o bastante. Era hora de melhorar as expressões e lembrar-se das coisas boas; dos bons momentos compartilhados. Não havia só tristeza, mas satisfação de tantos momentos alegres e imensuráveis entre o trio.

“Bom. Agora eu vou falar sobre o novo game lançado um pouco antes de vocês terem... Enfim. É o mais aguardado pela crítica. E ele parece ser bastante irado! Eu gostaria de poder jogar ele com vocês dois. Esse seria um bom motivo de apostar para ver quem ganharia primeiro. Eu até sei que a Sam, provavelmente, levaria o primeiro lugar. Mas, quem sabe... Eu não sou tão fraco assim. Ainda mais, seria uma surpresa para nós, então todos nós teríamos essa vantagem. Mas agora não vai dar mais...”

“Tudo bem, Tucker. Eu também sei que a Sam ganharia. Mesmo que o jogo seja novidade”.

O rapaz acaba direcionando sua atenção para essa voz, que o assustou até um pouco. Só depois de alguns segundos para superar tal súbita presença é que ele entendeu. Na verdade...

Alguns instantes antes ele tinha notado que havia somente outra pessoa, ele tinha avistado ao longe outra pessoa no lugar. Jazz... Ela que estava de frente ao ‘descanso’ do irmão. Ela estava um pouco afastada, na frente do túmulo do rapaz. E Tucker iria se dirigir até lá, na tentativa de consolar os corações feridos e lembrar dos amigos que já se foram.

Como ela própria já estava em seu momento de reflexão, Tucker havia decidido esperar até que ela terminasse para poder se aproximar e prestar sua condolência. E também aliviar um pouco da saudade do rapaz que também era como se fosse seu irmão...

Tucker estava desabafando um pouco também diante do túmulo da garota que era também sua irmã, então alguns instantes depois Jazz se juntou na conversa.

Pequena surpresa, mas que serviu para aliviar um pouco o momento sentimental e aflorar mais o momento reunião do grupo; desta família.

Jazz e Tucker acabaram se ‘esbarrando’ lá naquele dia. Ambos conversaram um pouco... Eles relembraram os tempos do grupo juntos. E perceberam como isso fazia falta. Lembravam dos amigos, das pequenas coisas que aconteceram com eles... Conversaram sobre as novas coisas em suas vidas... Que nem eram tantas. Tucker mostrou um novo jogo lançado, dizendo que ele iria se “amarrar” nele. Que era muito irado... Estavam revivendo a amizade do quarteto... Que agora só eram dois. Mas ali, era como se o Danny e Sam também estivessem presentes. Era a convicção que a amizade não havia acabado e que a vida precisava seguir... Mesmo que a saudade sempre os acompanhasse na jornada.

Tucker e Jazz estavam rindo, como se o grupo estivesse reunido mais uma vez... Mesmo que não fosse a verdade. Mas o sentimento era. De fato. As lembranças os uniram... Todos os quatro ali. Era o que bastava. Não se esquecer dos queridos amigos de toda uma vida.

Logo após alguns instantes de conversa e novas constatações e convicções... Eis que surgiu mais uma pessoa.

Era a mãe de Jazz.

O trio trocou uma pequena conversa e algumas risadas juntos... Mas Tucker e Jazz decidiram deixar o local. Era o momento de Maddie ficar a sós com seu filho. Ou tentar se lembrar dele ali...

E foi o que aconteceu...

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My

Alguns dias antes... Algo em torno de quinze a vinte dias atrás.

[...]

Vlad acabou chegando com um pouco de flores no final do enterro do rapaz. Ele não se revelou para todos. Ele ficou isolado; escondido. Ele não poderia aparecer... Não depois de tudo o que ocorreu; não depois que ele próprio admitiu seu ato e responsabilidade nisso. Não. Ele não merecia nem mesmo ser xingado por sua culpa. Era muito pouco...

Ele deveria carregar o peso. Todo esse peso... E sozinho. Ele tinha total razão. Ele poderia receber a retaliação e ser perseguido.

Ele merecia isso.

Ele poderia até cair também morto. Era mais do que justo...

Mas não seria o bastante.

E ele sabia disso. E sentia isso.

Ao deixar discretamente suas flores em cima da pedra fria e vazia... O sentimento de quão tolo ele era lhe veio à tona.

“Desculpe, meu jovem rapaz. Eu acabei provando da pior forma possível que você estava certo. Eu sou um lixo... E o pior é que você teve que pagar por isso. Ah... Eu não tenho nem o direito de tentar te pedir desculpas. Sua dor é maior do que eu poderia pagar, mesmo que com minha vida inteira. Eu só me arrependo de não ter percebido antes. O quão fraca é a vida humana...”

Era uma tarde... Um pouco fria e desolada para Amity Park naquela época do ano. Mas não era surpreendente... Não depois de tudo o que aconteceu.

“Por minha culpa, eu te levei a tal sofrimento e escolha. Se ao menos o meu caminho nunca tivesse cruzado com o seu. Eu também lamento muito por ter feito aquilo a sua amiga... Como eles disseram... Ah, sim. O amor de sua vida. Desculpe. Eu sei que não devia pedir algo tão grandioso, mas eu não tenho outra forma de pensar. Somente lamento. E eu espero que você esteja em um bom descanso agora. Quem sabe junto a ela, desse outro lado da existência. Eu espero que sim.”

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Antes que alguém o notasse, ele decidiu por deixar o lugar, terminando de se ‘despedir’ do rapaz.

“Então é isso. Eu irei agora; antes que acabe contaminando o seu ponto de repouso com essa minha existência repulsiva e ignorante.”

E, com isso, Vlad deixou o lugar... Com o pensamento de não mais voltar para atormentar tal ambiente reservado para quem era próximo do rapaz. Ele não era digno para isso... Ou assim ele pensou; que não retornaria ali e que manteria sua última promessa com o jovem.

Mas alguns eventos ocorreram com o passar dos dias... E algumas coisas mudaram para ele. O seu modo de pensar e suas atitudes foram influenciadas pela honra do rapaz. E Vlad decidiu mudar seu jeito de ser. Tornar-se um novo homem...

O primeiro passo foi voltar lá. E realizar uma nova promessa.

Mesmo que em cada uma das vezes em que visitou tal recinto, ele não se permitisse ser detectado.

“Se servir de algum consolo, logo eu porei todo o meu ser em ação para tornar o mundo um lugar melhor. Para conscientizar pessoas arrogantes e gananciosas de seus próprios objetivos superfulos e mudar suas péssimas ações. Não vou manipular ninguém. Eu terei que pagar, com meu próprio esforço... Essa é a única forma que encontrei de pagar essa minha dívida com vocês dois. Se algum dia isso for possível... Eu espero que me perdoem. Onde quer que estejam... Farei com que tudo seja melhor, não igual a mim.”

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“Adeus, meu rapaz. Àquele a quem sempre tive a presunção de considerar como meu filho, mas que não tenho tal direito. Eu espero que eu ainda possa servir de motivo de orgulho para você... Diferente daquele dia. Daquela vida.”

...

Flashback on

Algumas semanas antes do jovem Danniel morrer, ele foi conversar com o Vlad...

Não.

Não era algo ‘classificável’ como conversa. Era uma atitude de confronto. O confronto final entre estes dois seres...

Esta foi à primeira vez, em toda a sua vida, aonde Vlad percebeu. Ele foi longe demais, por sua cobiça e ganância.

Mas já era tarde, muito tarde.

[...]

“Parabéns, Vlad. Meus... Pa-Parabéns... Se era isso o que você queria, então você pode ‘comemorar’... Você conseguiu. Você me destruiu. Você... Atacou e tomou. Tomou uma das únicas motivações que eu tinha para seguir em frente.”

Uma única pessoa não pode ser a motivação de alguém para viver e seguir em frente, mas pode mudar tudo. O jovem rapaz é um claro exemplo nisso tudo e demonstra como tal solidão acabou com ele.

A importância de tal pessoa pode significar uma perda muito além da companhia; de tudo o que representa a satisfação e alegria. Pode ser o fim dos sonhos e metas...

“Você levou ela. A chance da felicidade dela. Todos os sonhos e objetivos que ela tinha. E tomou de mim... Alguém insubstituível. Parabéns. Você dilacerou totalmente o meu ser. Nunca mais eu vou sorrir como antes... Viver como antes. Por quê? Como você pode ser tão repugnante... Por quê não acabou comigo? Só comigo? Tinha que m-mexer... Com vidas... Vidas de tantas pessoas. A vida dela... Dos pais dela. Do Tucker. Tanta gente.”

[...]

Mesmo levando socos ou correntes ecto-elétricas ou vários outros golpes e diversos impactos resultantes do confronto... O rapaz não caiu. Não cedeu...

Em quase todos os momentos, enquanto levava a pior na disputa; enquanto apanhava até ficar de joelhos... Mesmo que seja rastejando no chão... Ele não caia, mas se levantava. Era notável como seus músculos tremiam e a dor que ‘deveria’ estar sentindo... Mas sua face só demonstrava tristeza. Lágrimas fartas em suas bochechas. E nenhum gemido de dor. Ou nada do que já fez antigamente; sequer um trocadilho, ou provocação.

Essa foi à última lembrança que Vlad guardou deste garoto. Sua teimosia em ceder a tal derrota óbvia. E a dor em seu olhar.

“Você pode me bater o tanto que quiser, não vai me ferir mais do que eu já estou. Do que você já me feriu”.

O combate continuou mais um pouco... O jovem lentamente se arrastava. E não cessava de seus ataques. Mas nenhum dos mesmos era eficiente o mínimo que fosse. Simplesmente era à força de uma criança contra a de um lutador experiente. Mas o rapaz logo soltou toda sua fúria. E liberou o seu mais poderoso golpe. O que mais demonstrava o seu estado de espírito ali.

Três vezes seguidas...

Praticamente sem tomar fôlego.

Praticamente uma devastação nunca antes alcançada por ele...

E praticamente o seu próprio fim.

Sem clones. Sem distrações... Foram três rajadas do seu mais temeroso golpe. Um lamento de sua alma, o seu grito fantasmagórico.

E mesmo com total desgaste físico e mental... Ele manteve-se de pé.

O que poderia ter fascinado Vlad em outro momento por ver tal potencial no rapaz.

Era deste tipo de potencial que Vlad sempre se orgulhava que poderia levar o rapaz a obter.

Mas não foi assim neste momento. Oh, não... Após levar as três cargas a queima-roupa, foi um resultado surpreendente. Desta vez, só desta vez, Vlad levou a pior.

Logo Vlad perdeu a força e regressou a sua forma humana, ou quase o que deveria ser... Seu estado físico estava muito degradado do embate. Feridas e roupas em farrapos. Muita poeira e entulhos em cima dele... E seu único olhar direcionado ao rapaz que o feriu tão implacavelmente. Como jamais havia conseguido antes.

Seu corpo estava machucado, mas seu ego estava muito mais.

Vlad sempre foi confiante de que o rapaz nunca alcançaria tal feito. Mas sua derrota ali não era o pior; ou mesmo o seu orgulho ter sido pisado.

O pior era olhar o rapaz de pé.

Não havia outra palavra para descrevê-lo além de... Frágil.

Mesmo com a imponência da vitória... Nada disso podia ser visto nele. Só uma ‘mancha’ do que deveria ser o rapaz. Parecia frágil... Sem nada. Exceto fúria e cansaço.

Era perigoso. O mais perigoso que ele já demonstrou ser. E ainda se mantinha de pé.

Diante de Vlad ferido ao chão, a raiva do rapaz só aumentava enquanto olhava para tal indivíduo. Era tanta raiva que, por um instante, no calor de tal momento... Ele pensou em prosseguir.

Mas... Como se por uma mão invisível, ele parou. Era sua própria consciência... Ele sabia. Mas ele quis pensar que fosse possível, se apegar na única inspiração que sentiu ali.

Ele suspirou terminando o discurso entalado que havia iniciado antes do início do confronto. Revelando tudo que ainda estava ‘engasgado’ em seu âmago.

A motivação que o levou até ali; toda essa briga... Perdeu o propósito.

“Eu queria tanto acabar com você. Tomar tudo de você também. Mas ela não merecia isso, me ver sendo tão igual a você. VOCÊ não vale a pena. Não vale a pena. Você não vale... Ela não iria gostar de me ver fazendo isso. Eu não quero fazer isso. Mesmo que para você...”

Poeira ainda desabava do reboco da parede, tijolos expostos... Contusões e escoriações ardiam... Mas o silêncio era o mais doloroso...

“Ainda assim, você conseguiu. Adeus, Vlad. Esta é a última vez que vou falar com você. Nunca mais eu vou querer falar com você novamente. Não um homem como você, capaz de... Se, em algum outro dia eu te encontrar, não vou sequer olhar para você. E trate de não falar comigo também. Eu espero que ao menos um pingo de dignidade você tenha e me ignore também se nossos caminhos se cruzarem... Pode me considerar morto, pois você basicamente acabou fazendo isso também comigo... Você... Você... Você me roubou demais.”

Adeus, Vlad.

Muitas lágrimas escorriam no rosto dele, mas o pior era seu olhar. Tão vazio... Que chegava até a assombrar. Até um fantasma possuía mais brilho no olhar do que ele.

[...]

Uma de suas motivações para seguir em frente, foi destruída. E só sobrou uma frágil casca quebrada do que um dia foi o grande garoto brincalhão, ativo e feliz.

Mancando e sem se virar novamente, o jovem Danniel deixa o que restou do salão aonde eles se confrontaram.

Vlad ainda teria forças para contra-atacá-lo ali, mas desistiu. E recuou.

Mesmo que fosse perguntado o porquê ele aceitou tudo aquilo calado de um garoto magricela e que nem era uma ameaça para o grande Vlad Plasmius... Vlad não saberia responder. Ou como responder. Mas ali, mesmo sem sequer notar... Vlad sentiu vergonha de si mesmo. Pela primeira vez na vida, ele se cogitou se estava errado.

Esta não foi uma simples afronta entre eles. Não... Foi uma batalha que envolvia muito mais do que simples cobiças ou sentimentos...

Este foi mais que um simples acertos de contas.

Só algum tempo depois, após tudo que aconteceu... Vlad soube.

Esta foi uma despedida do que um dia foi o rapaz.

E nunca mais Vlad o veria novamente...

Pois ele se foi.

Flashback off

...

Foi neste primeiro momento que Vlad realmente entendeu o que havia feito. Não era um mero “dano colateral”. Foi uma morte. Em suas mãos...

Não só uma, mas duas...

Ele poderia estar de frente ao túmulo do rapaz somente agora. Danniel poderia ter partido desse mundo não faz muito tempo... Vlad poderia não estar envolvido tão diretamente NESTA fatalidade.

Mas ele sabia... As DUAS mortes foram causadas pelas mãos gananciosas dele mesmo. Foi seu apego pelo poder e soberania. Para ser ‘mais’... Para sempre ter mais.

Por conta disso, ele tomou tudo. Foi um preço; foi um ato irreversível... Até sua amada Maddie estava praticamente no mesmo estado que seu filho demonstrou durante o último embate que Vlad teve com o garoto. Com a diferença de sua grande motivação para não deixar o legado de seu filho se apagar. Só isso parecia que melhorava sua situação... Mesmo que tal sacrifício do jovem não tenha chegado ao conhecimento de ninguém; nenhuma pessoa comum. Ainda era o legado do jovem. Herói.

Tudo por seu ego e arrogância; Vlad destruiu várias famílias.

Tudo por querer ser poderoso; impregnando os outros com sua cobiça destrutiva, sufocando suas vidas por tal sede de poder... Amigos e parentes... Escola... Sonhos... Ele arruinou com tantas vidas. Tão frágeis vidas. E que poderiam brilhar tanto. Foi o seu toque que destruiu tudo...

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O quão diferente ele era do jovem rapaz... No final, ele não era sequer capaz de comparar mais. Ele não queria mais medir seu poder e superioridade... Danny Phantom.

Ele é o herói... Plasmius... Não.

...

Flashback on

Por conta de um conjunto de fatídicos acontecimentos... O sacrifício do herói foi preciso. Não era a única escolha, mas garantiu a segurança de todos.

Uma enorme explosão iria ocorrer na cidade. Decorrente de uma fonte de energia pulsante, que era expelida de um objeto cilíndrico e aparentemente tecnológico.

A causa e origem, isso não vem ao caso. Não era mais algo tão importante... Não após tudo o que ocorreria...

O fato é que, se a explosão não fosse detida, tal calamidade teria potencial nuclear. Toda a cidade Amity Park e talvez as cidades mais próximas da redondeza teriam sucumbido e desaparecido...

A decisão do rapaz foi o que mudou tudo.

Essa fonte de energia era muito forte e instável para ser detida por meios convencionais em tão pouco espaço de tempo antes de explodir...

“Papai, mamãe... Jazz. Tucker, meu irmão... Cuidem das coisas por mim, está bem? Não deixem que a cidade seja prejudicada por nada. Foi aqui que a maior parte das minhas alegrias e tristezas ocorreram. Guardem o nosso lar, pois eu já não vou mais poder fazer isso...”

“D-danny? O que está dizend-“

Não se sabe qual deles teve tempo para falar isso... Mas o fato de que o rapaz já havia escapado do alcance foi constatado.

Esse não era o ‘truque’ comumente usado por ele, mas foi muito útil ali.

O jovem chegou perto da fonte de energia... E ele produziu um escudo energético em volta, tanto ele mesmo como a fonte energética estavam dentro do ecto-escudo. E foi ali que ele tomou a decisão que salvou a todos; menos a ele.

Absorvendo boa parte da energia exposta, ele evitou uma sobrecarga do material.

Ao anexá-lo em seu ‘interior’, tornando o objeto parte de seu próprio ser. Sim... Ao se unir a tal esfera energética caótica ao seu peito, eis que Danny Phantom subiu. Planando pelo céu, até ficar pareado ao ângulo dos raios solares... Ou lunares. Se era dia, ou noite... Não era mais importante.

Ele gerava um brilho estranho de seu corpo. Era a energia que lhe transbordava. Era claro que ele não suportaria tal excesso de poder. Mas o ecto-escudo se manteve.

Seus esforços foram o bastante para manter o mundo a salvo...

Mesmo a contragosto, todos gritaram com ele para parar... Para não fazer aquilo.

Mas entenderam.

Até certo ponto, era o que ele queria. Acabar com isso... E fazer a última diferença nessa vida. Ele já não era mais o mesmo, desde que aconteceu aquilo com ela. Mas Danny nunca desistiu ou fraquejou. E essa era a prova. Ele foi o herói que todos acreditavam.

Que ele quis ser.

Logo o rapaz sumiu do alcance de visão... Logo o silêncio se fez presente. E logo um colossal som de BOOOOOOOOOMMM os alcançou. Silenciando quaisquer chances de fala.

A cidade foi salva. E a enorme nuvem formada pela tragédia cobriu os céus. Próximo à estratosfera. E mais uma vez; a última vez, a cidade foi salva pelo grande Danny Phantom...

Mesmo com tanta tecnologia e armamento de última geração para combater catástrofes e desastres ectoplasmáticos...

Eis que as pessoas ali presentes; Seja amigo ou família do rapaz...

Todos eles estavam impotentes para quaisquer chances de protegê-lo.

Um herói não pode ser protegido... Um herói protege... E cuida de todos; mesmo que ele próprio seja o único sem proteção.

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Flashback off

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Olá, aqui é Danny Phantom... Ou melhor. Só Danny. Desculpem por esconder este segredo...

[...]

Bom. Serei bem franco... Nesta carta (e-mail, na verdade. Detalhes, detalhes.) eu escrevo alguma coisa uma vez por mês. É só de, no caso... Bom, vocês sabem.

Desde que eu ganhei estes incríveis poderes fantasmas e aprendi a como combater as coisas erradas que fantasmas fazem na nossa cidade, eu escrevo. Nem que seja só uma bobagem qualquer do meu dia-a-dia.

Eu chamo isso de despedida. Não que eu pense em me tornar um ghost completo. Se é que me entenderam. Mas eu não sou tão ingênuo para eu não saber. Então, se alguém está lendo isso... É porque não atualizei até o início do mês em que está sendo lida (ou hacker no meu e-mail; o que indica que agora todos vão saber sobre este meu segredo; que ótimo... Mas eu já quero deixar bem claro; eu me ‘amarro’ nos meus poderes! São irados e legais! Mas eu não faço nada de errado com eles. Eu sou um herói que cuida da vizinhança... Desculpe; continuando). Eu programei para ser enviada esta mensagem logo no começo do mês, caso não seja reprogramada... Assim, para todos que eu amo, poderei me despedir... Eu não quero ver vocês tristes, nem quero me fazer de coitadinho. Este é o meu caminho na vida. Eu não sei se poderia ser diferente, mas é isso.

Não se sintam culpados e nem nada, eu entendo que tudo na vida tem risco; principalmente lutar contra fanáticos e lunáticos e assombrosos, e até patéticos, fantasmas obsecados com alguma coisa na nossa cidade.

Eu espero que eu tenha, pelo menos, cumprido com o meu papel de proteger a todos. Esse é o meu empenho no que eu faço; pois é. Eu sou bem clichê e bobinho... Mas está tudo bem.

[...]

Ah... Eu não sei o que dizer aqui. A única coisa que estou pensando e sentindo, é dor. E arrependimento.

Era melhor se eu não a tivesse conhecido para começar... Ou o acidente no portal tivesse logo acabado comigo, ao invés de me dar estes poderes estúpidos e perigosos.

Ou que eu nunca tivesse ‘topado’ (aceitado) encarar essa jornada perigosa de defensor da cidade...

Ou que eu não tivesse sido tão burro e tivesse aproveitado mais da sua presença.

Eu não sabia, no final das contas... O quanto isso era perigoso. E o quanto eu arrisquei perder todos os dias.

Faz só alguns dias... Que aconteceu. Eu não consigo sequer encarar o meu reflexo no espelho... Ou sair do quarto... Ou pensar no que aconteceu.

Mas não consigo evitar de pensar... Em seu sorriso. E em quão chata e briguenta ela era... E o quanto eu gostava disso.

Sinceramente, eu não tenho mais o ânimo para nada. Eu perdi um pedaço de mim, sabe... Era tão bom todos nós juntos antes. E eu não participei tanto assim...

Era tanta gente induzindo a verdade em minha cara, mas eu fui medroso...

O fato é: eu fiz uma escolha. E essa escolha me levou ela... Minha melhor amiga; meu coração... E a capacidade de ser feliz.

Eu sei, está tudo recente... Mas eu sei. Eu sinto... Como não fui ingênuo a ponto de esquecer os riscos que eu corria, agora eu sei que o risco que eu fiz a todos ficarem expostos, foi um preço caro.

Eu estou muito triste para falar mais.

A única coisa que eu sei é que, se em algum dia desses algum fantasma me abater ou uma coisa qualquer acabar fazendo isso... Cuidem muito bem um do outro. Vocês são a minha razão de viver... Eu espero que não passem pelo que eu estou sentindo agora. Mas eu sei que será impossível...

Mas este foi o fardo que eu carreguei; que eu escolhi carregar. E, pelas vidas dos que eu protejo, eu decidi continuar... Mesmo que seja próximo; mesmo que talvez seja logo o meu fim. Sempre há este risco.

Eu não me permitirei perder mais nada. Nem ninguém que eu amo; que ainda me restou. Até minhas últimas forças... Eu juro que vou proteger a todos... Mas eu não fui capaz de proteger quem tanto me faz falta.

[...]

Mãe... Desculpe. Eu sempre fui muito estranho com você, desde que ganhei estes meus poderes. Era uma cisma de que você poderia descobrir sobre eles.

Pai... Sinto muito. Sei que muitas vezes eu o tratei como alguém estranho e não te valorizei o bastante. Você é maneiro.

Jazz... Você nunca foi realmente chata. Na verdade, era você que me deixava livre de vários pesos na minha jornada.

Tucker... Ah, você sempre será meu irmãozão. Todas as nossas aventuras e momentos juntos. Me faz sentir que a vida valeu alguma coisa.

E Sam... Eu sei que... Você não vai ouvir ou ler isso... Mas...

Eu quero que saiba. Eu não tive a coragem de te contar. Mas eu estou aqui e agora a vergonha e o medo não importam mais. Do fundo do que resta em meu coração... Eu quero que você saiba. Foi você a pessoa mais fantástica que eu já conheci nesta vida. Muito mais que uma simples amiga; mais que minha melhor amiga... E mais do que eu merecia ter tido contato nesta vida.

Essas são as palavras que não tive coragem... Este é o sentimento que não pude te entregar em tempo. Mas que sempre formarão parte de mim...

Eu te amo, sua menina linda.

[...]

Bom, não sei mais como eu vou seguir em frente... Mas eu irei tentar. Prometo que eu vou me esforçar ao máximo e não desistirei. Então...

Agora, até a próxima atualização de rotina...

Ou...

Enfim. Foi muito bom ter convivido com todos vocês. Manda um oi para todo mundo que eu já esbarrei (encontrei) e fez parte dessa minha vida... Então...

Adeus. Até um dia...

Última atualização... (um mês atrás)

[...]

Este e-mail foi enviado para a lista de contatos selecionada. Cinco contatos foram selecionados e recebem este e-mail.

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...

Por mais que as despedidas que se sucederam durante os meses descritos no e-mail tenham machucado, aquela que mais doeu foi esta última.

Foi a mais emocional e a que superou de longe, até mesmo a primeira... A que foi a mais sensata. O relato de um jovem que descobriu poderes sobre-humanos e radicais, mas que acarretariam grandes perigos na sua jovem vida.

Ou o desabafo do medo que o mesmo jovem sentiu após enfrentar o rei fantasma. A qual foi possível ver seu amadurecimento... E seu altruísmo pela humanidade e por toda a sua família e amigos.

Mas, sem dúvidas, de que esta última parte do e-mail foi a que chegou mais próxima do fatídico dia em que ele topou com seu eu malvado... Sua versão que mais perdeu e que mais se perdeu. E o quanto ele se sentiu impotente e acuado. O quanto ele precisou se superar para proteger, uma vez mais, todos ao seu redor.

Foi contra seu outro eu que Danny sentiu pela primeira vez o que era quase perder alguém, alguém querido. O seu chão.

Só que; agora foi real. Aconteceu... E ninguém o ajudou a evitar.

Desta vez ele sabe como seu alter-ego sofreu. Foi só uma perda... Mas só ela já foi dor o bastante.

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Heart

Eu nunca mais pensei que eu iria retornar ao local que eu mais me surpreendi. O local aonde eu mais descobri... Seja a mim mesmo, ou a tantas alegrias e novidades fascinantes e fantásticas... E aonde eu deixei que me arrastasse, como em um abismo sem volta.

Eu pensei que eu pudesse ‘descansar’ de tudo isso. Que eu não tivesse mais que lutar; chega de lutar. Eu já fiz a minha parte; eu já fiz tudo!

Mas aqui estou eu... Esse é o erro ao qual eu não posso fugir. É a verdade, bem óbvia por sinal.

Eu mereci por isso... Bom, pelo menos, eu já conheço bem esse lugar.

E eu não irei mais ferir ou prejudicar a vida de ninguém.

Eu mereço vagar pela Ghost Zone; pois foi por minha culpa... Que aconteceu o que aconteceu com ela.

Eu espero que todos estejam bem, pelo menos.

Eu pude cuidar deles, pelo menos no fim... Eu pude ser realmente um herói que os defendeu.

...

Dias e mais dias...

Semanas...

Ou será que foram simplesmente algumas horas?

Não dava para saber. O senso de noção dos arredores não estava nítido para ele...

O que importava é que ele estava vagando. Sem direção... Sem destino, sem rumo... Sem propósito.

Ele estava nessa imensidão do ‘nada’. Tudo era cinza, escuro... Alguns tons esverdeados aqui e ali. Muito preto. E, raramente, alguns fantasmas.

Que engraçado, a Ghost Zone sem assombrações fantasmagóricas.

Somente o ectoplasma recorrente dos arredores... E algumas rochas.

E mais alguns brilhos esverdeados...

Nada...

Nada...

Nada...

Vazio.

... Danny... D-ny...

Sussurros...

Agora ele era a piada da vez. Os Ghosts estavam ‘humilhando’ ele ainda mais...

O menino fantasmas ‘morreu’. Ou o herói patético que não salvou nada e nem ninguém. Ou que tipo de ‘ser superior’ ele pensou que fosse, ao pensar que ele próprio poderia decidir o que era radical e o que era perigoso, além do reparável.

Patético... Patético... Patético... “Como eu sou fraco”.

Danny...

Os sussurros continuavam.

Mas ele não encontrou ninguém... Nem agora e nem antes. Não havia ‘fonte’ para tal som.

...

Todas as ‘brincadeiras’ com ele; tudo o que ele pensou que os fantasmas estariam dizendo e cochichando, na verdade... Não era possível.

Não havia nada ou alguém. Só o vazio.

Vazio...

Humilhação...

Culpa.

Eu merecia isso; não ela... Sam. Sam... Sam... Me desculpe... Perdão.

D... Danny... Danny...

Sussurros inconsistentes... E irritantes. Estressante, como se rasgassem a pele... Os nervos. Como um alfinete perfurando o couro.

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O rapaz buscou desenfreadamente a fonte de tal ruído.

Às vezes parecia que estava bem perto. Outras vezes, era como se propagasse da direção oposta a qual ele estava buscando.

... Danny... Danny... Danny... Danny...

“O que é?! O que você quer?! Me humilhar? Me pisotear? Não se dê ao trabalho. Eu não valho esse esforço.”

... Danny... Danny... D... Danny...!

Aos poucos o ruído estava mais alto; mais nítido... Mais veloz.

Era incômodo... Mas também nostálgico.

Como tantas vezes em que ele ouviu seu nome de herói pelas poucas vezes em que ele salvou a população e a mesma foi grata.

Foi por um curto período. Tudo era efêmero para ele.

Herói... Que tipo de herói não protege quem deveria ser uma das principais responsabilidades... Uma das pessoas mais importantes.

Danny... Danny... Danny...!

Por que não para? Por que eu fico irritado? E por que eu não quero que pare... Por quê? Por que é essa voz... Por que é esse jeito de falar...? Por que não me xinga ou me enfrenta logo?

Por que? Por que me deixou, Sammm?!!!

Danny!

Um estalo. Como um estalo de mente, o rapaz piscou... Uma, duas... Três vezes. Ou muito mais.

Essa não era uma assombração; um conjunto de sussurros... Era um grito. Um grito do coração... Um estrondo angustiado de almas... Mas não um fantasma. Não uma assombração... Nem a ‘voz interna’ dele o culpando.

Eu conheço isso; isso não é raiva ou gritos assustadores.

Eu sei. Mas eu não quero acreditar... Não... Não... Não... Não... Não... Não é. Não pode ser.

Rápido... Mais rápido do que um motor turbinado de veículos aprimorados... Muito mais desleixado do que o habitual, ele ‘correu’. Ele tinha CERTEZA. O grito veio da direção a qual ele decidiu tomar. Era uma busca implacável. E certamente sem propósito... Mas ele sabia. Ele não conseguia ‘desviar’ o caminho. Ou parar. Ele tinha que seguir essa direção e...

Danny... Danny... Danny...

Ele não conseguiria perder mais nada. Ele não poderia perder mais nada. Era a sua última esperança... E um enorme pavor.

Caso eu esteja ‘certo’. Não... É melhor que eu esteja errado... Eu tenho que estar errado. Ela não deveria.

Eu... Eu quero estar errado, mas... Eu quero tanto estar certo. Eu sou tão egoísta... Me perdoa.

Sam... Sam... Sam... Sam...

Como um imã, os sons estavam mais fracos. Silenciosos... Mas ele foi atraído a essa direção.

Mas, desde o início, tais ‘sussurros’ já eram algo impossível de serem ouvidos de tamanha distância... Então, como foi possível? Não é possível...

Eu sabia... Era tudo coisa da minha cabeça. Eu sou tão bobo.

Não tem ninguém... Nada...

Somente pedras e mais da escuridão...

Somente o silêncio e a dor.

“Danny...”.

Dessa vez... Dessa vez foi... Isso foi ‘real’.

Um incomparável arrepio. Pernas trêmulas e um implacável sentimento de vertigem.

Ele não ouviu errado.

Era essa voz.

Era esse som... Era essa ‘palavra’ que ele esperava ouvir novamente. Ao menos, uma última vez. Nem que fosse uma única desesperadora vez.

Só dessa vez, eu tenho essa ‘chance’.

“Q-quem é...?”.

“Quem você acha que é? O Box Ghost? Não está reconhecendo a minha voz? Então, porque está parado feito uma dessas pedras de ‘decoração’ e não se vira? Eu estou aqui atrás de você já tem quase um minuto...”.

“Foi sem querer... Eu... Eu estou me virando”.

Com um forte som de engolir, segurando rigorosamente firme as próprias mãos e concentrando todas as emoções em um único propósito... Ele se virou.

Tudo bem... Eu não vou fraquejar. Não mais.

E ele se virou... E para sua imensa surpresa...

“E eu que pensei que fosse a única confusa aqui. A propósito, minha cabeça está doendo um pouco e parece que estou com um pouco de vertigem. Como é que a gente veio parar aqui, se nem passamos pelo portal-”.

Sam... Sam... Sam... Sam... Sam...

“Oi, Sam”.

“Oi. Você demorou para responder. Parece até que está vendo um fantasma.”.

“Sam!!!”.

Aos poucos a emoção toma a liderança. E para ele, seus maiores medos sumiram de sua mente... Nada mais para pensar. O que importava nesse momento era vê-la ao alcance dele.

“S-sam... Sam... Saaaaaammmm!!!”.

Danny corre e a abraça muito forte.

Ele a olha muito intensamente.

Todas as lembranças e divagações nítidas em seu olhar.

Logo, ele segura ambos os lados do rosto dela... E com muita agitação beija seu rosto. Não um beijo ou poucos, mas muitos. Muitos e muitos... Totalmente desordenados e sem direção. Atingindo vários ângulos e locais. Deixando-a muito constrangida e sem reação. Sem resposta para isso, além de ficar parada ali. Mesmo sentindo alguns beijos aonde nunca esperou realmente que lhe tocasse. Mas não era proposital, ou realmente um ato romântico... Só um reflexo da saudade e medo de perdê-la novamente.

Levou alguns instantes de surpresa e choque total de ação... Ela estava atônita. Mas não esboçou nenhuma atitude ou súbita ação...

Depois ele parou. Voltou a encarar seu olhar, sua postura, seu jeito... Tudo o que ele sentiu tanta falta dela.

Com isso, ele a apertou mais aconchegante. Soltando o rosto dela e direcionando os braços em sua cintura. Ele elevou todo o peso dela nesse abraço. Sentindo cada resquício de sua presença ali, com ele. Em seu abraço. Em seu alcance.

“Você tá louco, Danny? Está tudo bem com você? Que tipo de recepção emotiva é essa? N-N-Não que eu esteja sendo ingrata, mas... E como é que viemos parar na Ghost Zone?”.

Mas, desatento e destrambelhado como Danniel era, ele acabou perdendo o eixo de equilíbrio...

Logo eles estavam caindo. Um forte baque... Ele foi de encontro ao chão; sua costa bateu bem forte lá. Mas ele não largou a garota de seu abraço. Não sentiu sequer a queda. Não se permitiu processar nada, além da presença dela. Nada além do que a garota que estava em seus braços. Ela estava ali...

E logo, ele começou a chorar. Muito. Muito alto. Muito triste e profundo... Mas feliz. Muito feliz. Seu rosto coberto de lágrimas, mas o sorriso sem sumir de lá.

‘No final das contas’, nada importava. Ela estava ali. E ele podia sentir isso.

...

Ele acabou ignorando boa parte do que ela havia falado inicialmente. Nada proposital, mas era claro como ele estava transtornado com emoções...

A única maneira de resolver isso, era a garota ter paciência e esperar ele se acalmar e saciar tal ‘saudade’ dela mesma.

Tudo bem; ela estava gostando disso tudo, e muito, mas essa não era a atitude normal para ele. Nada disso fazia sentido... Inclusive essa enxaqueca que ela sentia.

Não é um bom sinal. O que está havendo...? E por que eu estou com esse medo no meu coração para descobrir? Eu espero que não seja nada grave... Mas por que ele está assim? Eu gostei disso, mas é desesperador. Tem algo errado... Danny, me diga logo. Danny... Me diga.

“Danny... Eu quero saber o PORQUÊ de você está assim. Eu não sei o que é, mas eu estou com medo do que você vai dizer... Mas, me diga. Me diga logo...”.

“Sam... Então... Então quer dizer que... V-você não sabe? Não se lembra? Não recorda de nada? Da briga contra... Daquela porcaria de briga com... Com... Sam... Eu... Eu. Me. Me perdoa, Sam”.

“Ahn?”.

“Errr. Ufa... Não existe forma de contar isso. Então, eu... Eu vou ser. Não, eu não posso... Eu...”.

“Danny. Pare de enrolar e me conte logo. Não importa o quão séria for a situação. Confie em mim, eu vou saber lidar. Tudo bem?”

“Ahhh... Eu. Tudo, tudo bem... Uhhh. Eu vou tentar. Eu prometo que vou tentar. Então... A primeira coisa que você precisa saber é... É que... Sam. Eu... Eu sinto muito, Sam... Mas você, e agora eu também... Nós... Nós... Enfim. Nós não estamos mais... Arrrrrgh. Como isso é difícil! Bom, que seja. Há uma razão para estarmos aqui na Ghost Zone. E é a razão mais óbvia e natural. A pior que você possa pensar. E eu não quero dizer isso; eu não quero te falar isso... Mas é a verdade. Sam... Eu... Nós... Nós...-”.

“Tudo bem, Danny. Eu... Eu já entendi. Desculpe por te pressionar tanto para falar algo tão triste.”.

“Não, Sam. Sou eu que tenho que te pedir perdão. Eu não o mereço, mas eu não tenho mais o que falar... Somente... Foi por minha culpa...”.

Danny quase estava chorando, novamente. Mas ele prometeu a si mesmo que iria encarar a realidade de frente, até o fim. E ele teve tal ‘presente’; ele conseguiu vê-la e compartilhar tal momento juntos. Ele não poderia fugir disso; ele devia isso a ela. Ele não pode negar a verdade ou mentir mais...

“Calma, Danny. Tudo bem, tudo bem... Respire. Devagar. Agora solte o ar... Isso. Não se sinta culpado... Eu sei; posso não me lembrar, mas eu sei. Não foi culpa sua... Nunca seria. Agora, bem devagar, respire fundo e fale somente quando você sentir que consegue, ok?”.

“Ah... O-ok. Eu vou tentar.”.

Aos poucos ele vai contando sobre tudo o que aconteceu para ela.

E ela vai ‘recordando’ de tudo.

Quase como se a história ouvida por ela servisse de gatilho para ‘despertar’ tais informações retidas e ignoradas por seu subconsciente. Então ela soube de tudo... Ela havia passado por quase um mês para que a sua ‘maturização em ghost’ se concretizasse.

Eram muitas informações avassaladoras. Turbilhão de sentimentos.

Medo...

Pavor...

Tristeza.

Ela perdeu sua própria vida...

E ele logo após isso... Também.

Não foi fácil, ela não conseguiria aguentar tudo aquilo calada.

Ela estava irritada; angustiada. Absorvida por tal comoção. E ela sentia muita pena... Por ela mesma; por seus pais que deveriam estar sofrendo de modo imensurável ainda agora mesmo... Ela sabe, sempre soube que eles a amavam muito.

E pelo jovem tão triste diante dela...

Ela jamais o viu tão abatido ou triste...

Ou tão frágil.

A única coisa que ambos puderam fazer para consolar um pouco tanta amargura, foi abraçarem um ao outro. Como um nó; atrelado. Entrelaçado firmemente. Braços e pernas juntos. Não importa nenhuma comoção ou crítica social... Não importava pensamentos ou considerações de nada. Tudo que eles queriam era aquecer seus pobres corações fragilizados pela dura verdade...

A vida é muito frágil... E efêmera.

...

“Sam, eu... Me desculpe. Mil vezes, me desculpe. Fui eu. Foi minha culpa. Se... Se você nunca tivesse me conhecido... Se eu não tivesse ganhado essa droga de poderes... Você ainda estaria bem. Viva. Se, ao menos... Se fosse eu no seu lugar. Eu sinto muito. Era para eu ter explodido no laboratório naquele dia que eu decidi entrar no portal fantasma. Pelo menos ninguém teria sofrido tanto.”.

[...]

Porque eu sempre tenho que acabar perdendo tudo?

Começou como um jovem garotinho comum, Danny, tendo que ‘abrir mão’ de uma vida normal para ser um herói, um combatente das ameaças fantasmas. Claro, seria uma vida tão ‘normal’ sem os poderes quanto a de um adolescente cujos pais excêntricos possuíam fascínio assombroso sobre os assuntos fantasmagóricos. E isso foi o que levou ao começo de todas as loucuras na vida deste jovem rapaz, mas também é a causa e o motivo para muita felicidade e crescimento como indivíduo dele mesmo...

Após todas as reviravoltas de ter esse tipo de ‘dom’ especial, após ser um rapaz tão diferente e habilidoso; eis que a vida ‘brinca’ com ele. Novamente. De forma tão perversa que o afundou no mais doloroso sofrimento que ele já pensou que teria nesta sua vida... O sofrimento da perda.

Isso o fez questionar várias coisas, até se seus ‘valores pessoais’ estavam deturpados. Mas ele não se permitiu corromper por tal desespero. Ele seguiu firme, em frente. Até o fim.

Depois de tudo isso, eis que o destino sorriu para ele, ao menos um pouco... Mas, novamente, ele precisou ‘abrir mão’ de algo para poder ganhar algo tão ansiado; rever tal pessoa querida...

Sua vida nunca foi das mais fáceis. Desde seu nascimento, aonde tudo ao seu redor era com a ‘temática’ de fantasmas. Desde que ganhou tais poderes... E agora, desde que nem vida mais ele possuía.

Ele teria que passar o resto de sua duração/vida fantasma sem poder ver sua família. Para não magoá-los... E para ele não sentir mais a tristeza da saudade por ‘abandoná-los’.

Enfim. Ele sempre perdeu algo nesta sua existência...

Mas sempre ganhou algo em troca também.

[...]

“Parou. Pode parar por ai mesmo. Nunca mais repita isso, Danny...! Foi maravilhoso cada dia de minha vida. Foi uma aventura seguida de outra. E eu nem estou falando da adrenalina e do quão irado foi cada luta e caça fantasma. Você foi um herói. Nós fomos. Eu não trocaria esses preciosos momentos por uma provável vida feliz. Eu não trocaria cada momento, cada pequeno instante que eu estive do seu lado. Seja como Phantom ou o simples rapaz tão fascinante que eu conheci por tanto tempo em minha vida. Você. O herói fantasma é só um pequeno fragmento, uma pequena parte de quem é você. E, se eu puder passar nem que seja estes pequenos instantes de minha vida com você, aproveitando cada passo de tudo que vivenciamos, lado a lado... Ao seu lado. Então valeu a pena.”

Ela tomou uma puxada de ar, tentando também normalizar as sensações turbulentas que a estavam ‘mastigando’, igual a como estava sendo com ele... E decidiu retomar seu raciocínio linear do quanto isso tudo foi especial e importante para ela.

“Conhecer você, vivenciar tudo isso faz parte de minha vida, faz parte de quem eu sou e do que me definiu como quem eu sou. Eu me arrependo de pequenas coisas, é claro. Eu queria ter feito muito mais e vivenciado muito mais. Mas eu me sinto satisfeita por ter tido a vida que levei. Pois era rodeada de boas coisas e pessoas que eu gosto. Incluindo você, é óbvio.”

Ela começou a soltar um risinho; algo tão ‘feminino’ que se fosse em outra circunstância; outra situação, provavelmente ela nunca o teria feito na frente dele.

“Especialmente o rapaz que tanto fez minha vida brilhar. O Danny Fenton. Só de te ver, eu passei a ser feliz. A cada dia, o meu mundo foi único por ser tudo o que foi... Por isso, já não é possível querer que minha vida fosse diferente. Se você tivesse explodido, como disse, pode ter certeza de que eu não seria mais a mesma pessoa. não teria sido tão feliz como eu fui. E como eu sou. Nossa vida é única justamente por ser do jeito que é. E é por isso que foi tudo tão especial. Nossa vida vale a pena, pois não desistimos de viver! E boa parte desta importante lição, eu aprendi te observando.”

“Oh, Sam... Eu. Obrigado. Foi uma das coisas que eu mais senti falta. Você está sempre certa. Ou quase...”.

“Duh... Eu sei que estou, principalmente agora. Principalmente sobre... Isso.”.

“Você não sabe. Você não tem nem ideia do quanto eu estava desesperado. O quanto eu quis, como eu queria te ver novamente. Quando eu percebi... Você faz parte da minha felicidade. Até quando você está sendo você. Você não sabe o quanto me fez falta ter sua presença nos meus dias. Eu... Eu... Eu percebi que sem você comigo, eu nunca mais conseguiria ser feliz, de verdade. Tudo ao meu redor parecia ‘sem brilho’. Então eu notei que eu quero partilhar a minha vida, felicidade e alegrias ao seu lado, com você... Com todos os que eu gosto. E, se não for assim... Não faz sentido... Nada faz. Não significa que eu desistiria. Mas, eu estou tão feliz deste meu último sonho ter se realizado. Agora eu sei que fiz tudo o que eu podia; eu fui o melhor que eu consegui ser... E eu posso passar o resto desta minha vida ao lado da garota mais única e especial que já tive a chance de conhecer... E reconhecer que me apaixonei por ela.”

Choque, hesitação e olhos espantados...

Tudo substituído por uma indescritível sensação de ‘vazio preenchido’.

“Eu também gosto muito de você, Danny. Muito mais que um amigo. Eu sempre quis estar com você, sentir o que é isso, realmente. Eu sempre tive essa ‘queda’ por você.”.

“Eu sei. Acho que eu sempre soube. Mas eu tinha medo... De ser rejeitado. De isso atrapalhar a gente. De não dar certo e estragar a nossa amizade. Já era uma boa relação que eu tinha com você. Estar todos os dias com você. E eu tinha medo... De seguir em frente. De querer mais. Te ter como mais do que minha amiga. Achei que daria tudo certo no final. Que grande idiota que eu fui. Quanto tempo eu perdi! Quanto tempo que eu poderia ter aproveitado. Tanto que eu queria ter aproveitado, mas eu empurrei a ‘chance’ com desculpas e ilusões de que ficando desse jeito estava bom. Que nossa vida seguiria em frente, como em um sonho de contos de fadas. E foi então que você partiu. Eu te perdi... E foi então que eu percebi o quanto isso significava... Eu estava apaixonado. Só quando já era tão tarde. Só quando eu te fiz tanto mau. Eu sei que não fui eu, diretamente. Mas foi por minha culpa, por minha presença na sua vida. Foi minha responsabilidade...”

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[...]

“Como eu me odiei. Como eu quis ter explodido naquela droga de dia aonde ganhei meus poderes. Talvez você tivesse uma vida melhor. A chance de ser feliz com alguém. Alguém que realmente te merecesse... Mas, uma vez mais... Eu pensei em você. Que você não suportaria me ver desse jeito e dizendo essas bobagens, não importando o motivo. E por sua causa, outra vez eu decidi lutar. Lutar para seguir em frente. Só que eu sabia, melhor do que qualquer um. Sem você comigo, minha vida não teria mais a felicidade”.

[...]

“Levou algum tempo até eu me conformar que não existia mais propósito em ficar simplesmente ‘desmotivado’ em casa. E foi então que eu lutei. Mais uma vez. A última vez... Contra as coisas erradas. Eu tive a oportunidade de salvar os meus pais... Os nossos pais. Tucker. Todo o pessoal da cidade. Mas foi pelo mais alto esforço. Eu tive que deixá-los ir. Eu tive que me deixar ir. E tive a ilusão da liberdade. Eu me sinto tão patético. Eu não quero pensar que foi uma ‘fuga’ minha. Eu fiz isso porque não teria outra coisa para ser feita. E fiz com o meu último orgulho de ser um herói. Mas acho que não mereço. Tanta felicidade. Meu último desejo secreto... Que era te ver novamente. O que me dói é que estejamos presos aqui. Assim... Como o que te fez tanto mau. Fantasmas...”.

[...]

“Desculpe, mas eu estava ‘entalado’ com tudo isso. Eu precisava te falar tudo isso. Eu precisava ouvir você, a sua resposta para tudo isso. Mesmo que seja para brigar comigo. Seria a melhor briga da minha vida”.

Ele começa a soltar um risinho, algo sutil, mas que demonstra o quanto tal desabafo o ajudou e aliviou um pouco do ‘peso’ que ele carregava.

“Mesmo que eu não saiba quando um fantasma ‘nasce’ ou quanto tempo de ‘existência’ ele tenha, se você me permitir... Eu quero passar esse tempo com você. Só com você, sempre. Ou nunca. Depende do ponto de vista”.

“Danny... Oh, Danny.”.

Já dá para imaginar, não é? O estado psicológico envolvido pelo clima ali. A presença feminina... Tão dura em demonstrar sentimentos... Chorando mais do que já se permitiu pela vida inteira. Por estar nos braços do melhor garoto que já encontrou na vida. E pelo qual ela se apaixonou, a cada novo dia.

...

Ambos possuíam muitos arrependimentos por terem tido uma ‘vida’ tão efêmera, mas descobriram que enquanto durarem como existências fantasmagóricas, eles não teriam mais com o que se magoar. Todas as mentiras, segredos... Todas as chateações que as dúvidas e inseguranças acarretaram, acabaram de ser postas de lado.

Seus corações estavam em paz.

...

“E agora, será que ficaremos logo muito entediados aqui na zona fantasma? Será que é muito monótona a ‘vida’ de fantasma? Sei que eu já fui um por muito tempo, mas agora é ‘de verdade’. E, será que devemos ir ver nossa família...?”.

“Não... Acho melhor não. Eles ficariam deprimidos, transtornados ou somente angustiados em ver que nos tornamos ‘assombrações’. Eu não quero decepciona-los ainda mais e os fazer sofrerem mais. Deixe assim”.

“Pelo menos... Eles devem pensar que não estamos mais presos em toda essa coisa sobre fantasmas. Eles devem imaginar agora que alcançamos a ‘paz de espírito’. Há-há-há... Seria tão hilário”.

“Meio que isso não deixa de ser verdade. Mesmo que na ‘condição’ de fantasma, eu alcancei parte dos meus sonhos. Nós, juntos. Mesmo que aqui e sem garantia de tempo de vida.”

“Eu sei. Mas... Imagina só... Se meus pais me vissem assim. Eca...! Nosso menino deixou de ser só uma meia-aberração fantasmagórica e agora virou uma em período integral.

Os dois passaram a rir muito ali dessa piada e imitação dele.

Era para ser uma infelicidade e tanto, mas seus corações estavam tranquilos... Tão tranquilos que pareciam quase nem bombear sangue... Espera, eles ainda precisam de coração para bombear a ‘vida’? Bom, ainda está lá, funcionando de alguma forma.

Ou seria o fato de como estavam abraçados de forma tão romântica e melosa, como a garota diria...

O rapaz a envolvendo em seu abraço... Com a garota de costas para ele. Ambos sentados... Ela em sua frente, em seu colo.

Bem clichê... Bem ‘ceninha’ de filme.

Mas era confortável. E aconchegante. O calor de duas almas se consolando na imensidão do ‘deserto’ de desespero na busca por algo. A turbulência de conflitos e obsessões que é a zona fantasma, ganhou mais dois inquilinos moradores... Dois que não estavam nem se importando para qualquer coisa aos arredores... Além de terem se reencontrado e de poderem desfrutar sem medo de seus sentimentos. Aos quais não puderam aproveitar enquanto vivos.

...

“Teria sido legal ter passeado com você por ai afora, a todo o momento te chamando de minha namorada. A minha garota... Ter ido ao shopping ou àqueles teus shows bem ‘estranhos’ dos góticos. Imagina só a reação antissocial deles ao se depararem com um rapaz tão meloso e romântico por perto. Atrapalhando o ambiente frio e desolado de emoções...”.

“Eh... Eu pagaria para ver e ter as filmagens disso. Principalmente se fosse do colégio, entre aquele povo todo esnobe e valentões. E todas as garotas fúteis e igualmente ignorantes, percebendo o nosso momento clichê. Será que nossa vida seria melhor ou seria ainda mais um motivo para sofrermos retaliação e implicância deles...?”.

Uma pequena respirada sarcástica, então ela logo retoma, sabendo que ele estava ouvindo bem atentamente.

“Eu gostaria de ter chutado muitas canelas ali por mexerem com a gente. Sempre tive vontade de fazer isso, mas eu precisava me segurar para não expor o seu segredo. Tantos lá que não valorizavam o incrível rapaz que você é. Para cada um eu poderia executar um golpe diferente. Me dá até vontade de perseguir eles agora...! Acho que é o impulso de assombrar os outros que os fantasmas sentem para se prenderem em algo ‘material’. Mas eu só quero estar com você. Não quero incomodar ninguém... Eles merecendo ou não. É só com você que eu vou passar essa ‘vida fantasma’. Isso soa nenhum pouco gótico e antissocial, não é?”.

“Verdade. Não soa nada comparável a um sentimento gótico. Mas eu prefiro assim. Gosto mais assim. Que tudo que quisermos falar, todos os nossos sentimentos... Sejam assim, expostos um ao outro. Eu não quero mais me arrepender por não dizer o que penso; o que quero... Para você. E eu me sentiria muito feliz se você compartilhasse tudo o que você quisesse comigo”.

“Que tal assim, então? Eu vou te dizer algo bem importante agora e você me dirá algo também importante em resposta. Tudo ok?”.

“Tudo ok. Pois bem, combinado”.

“Então, lá vai... Abra bem os ouvidos e preste atenção, porque é bem vergonhoso para eu falar e admitir”.

“C-certo”.

Eu... Te amo. Acabei de confirmar isso!”.

A reação dele foi à resposta.

Bochechas bem corada. Olhos lacrimejantes... E o melhor sorriso que ela já viu dele. Opinião dela...

E para selar esse comprometimento de não guardar nada um do outro, eles se deixam levar por essa emoção e se beijam. O beijo mais ‘perdido’ possível. Onde suas mentes vagavam... Sem o ímpeto de pensar em nada. Só aproveitando o fato de estarem ‘vivos’.

Eu... (beijinho) Te... (outro beijinho) Amo... (e mais um) Muito também! (E outra sequência)”.

[...]

#Continua...

.

.

.

Seus monólogos e questionamentos de como seriam suas vidas a partir dali martelava firmemente em suas mentes.

Não havia resposta para tal dúvida. Ou sonho de que tudo voltasse ao normal. Até porque suas vidas deixaram a muito tempo de serem normais.

Pelo menos uma chance... E eles tiveram.

...