Olá!

Dentro do quarto de Constância, Inês já vestia um pijama de Cassandra.

Já era tarde da noite quando ela resolveu deixar a caneca de chá que tomava, junto de seu celular, à cima da escrivaninha de Constância e caminhou até a cama a olhando dormir.

Em um suspiro baixo, lembrou que já tinha atualizações de Diana sobre a situação que a tinha deixado no hospital. Sua filha mais velha estava sendo seu braço direito àquela noite.
Diana tinha já posse de seu carro, e sabia que Carlos Manuel deixaria o hospital apenas com ferimentos artificiais. Parecia então, tudo calmo outra vez, ou só parecia quando ela olhava na cama Constância dormindo tão serena e alheia da problemática que ela se encontrava.
A luz do quarto se fazia apenas pela janela aberta, assim Inês podia ver Constância bem. Longe de qualquer perigo que á noite oferecia para jovens como ela.

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Inês então caminhou até a janela e fechou um lado da cortina, escurecendo mais o quarto, andou de volta até a cama, visando o lado ausente do corpo de Constância e se deitou com ela. A cama grande aconchegou bem as duas, e Inês decidiu deitar de lado para assim tocar em Constância enquanto ela dormia. Senti-la perto, era bom, senti-la mansa era melhor ainda. Pois não sabia como seria ao vê-la acordada pela manhã, não depois de como ela lhe havia falado ao telefone.
Inês suspirou, alisando um braço da filha, seria difícil conciliar o sono com tantas coisas na mente, e ainda tinha Victoriano quase ao lado delas ali depois do que ele tinha ousado fazer.

Longe dali.

Diana estava fazendo o que não esperava. Dividida entre o que deveria fazer e o que não queria fazer, estava no apartamento de Carlos Manuel. Era literalmente sua babá, ou talvez uma enfermeira. O viu passar pela porta de mãos na barriga e se sentar no sofá como sentisse dor pelo corpo todo. E ela apostava que era exatamente aquilo, afinal ele tinha levado uma sussurra e ela tinha testemunhado o ato.

Ela o mirou ainda da porta, o viu fechar os olhos quando jogou a cabeça no encosto do sofá e relaxou. Ela tinha nas mãos uma sacolinha. Tinham passado em uma farmácia e comprado os remédios recomendados pelo médico.

Diana então caminhou até a mesinha no centro da sala, deixou a sacolinha nela e disse:

— Diana: Já estou indo.

Carlos Manuel a olhou. Em outra ocasião, ofereceria algo a ela, até pediria que ela ficasse mais tempo se precisasse, mas se Diana não fosse Diana e se àquela visita não fosse praticamente um desencargo de consciência dela como ele julgava que estava sendo para ela.

Ele não tinha documentos nenhum, dinheiro, nem carro, muito menos celular mais, para poder ter voltado para casa sozinho, assim, Diana se viu sem escolha de fazer aquele favor penoso a ele. Isso julgava. Além do mais estava ficando muito claro que não estavam se suportando. Assim então ele a respondeu:

—Carlos Manuel: Obrigado pela ajuda. Agora já pode ir de consciência limpa, Diana.

Ele se esforçou para pegar a sacolinha de remédios, e gemeu no movimento. Diana bufou e pegou a sacolinha primeiro, dizendo:

—Diana: Onde fica sua cozinha? Vou pegar água e te dar os primeiros remédios da noite.

Carlos Manuel ficou de pé, querendo se mostrar vigorado e disse:

— Carlos Manuel: Não precisa disso. E você, precisa ir embora. Sabemos que não quer estar aqui, além do mais já é tarde também. É perigoso que dirija a essa hora.

Ele andou para pegar os remédios, conseguiu e foi até a cozinha. Diana o seguiu olhando tudo com olhares curiosos.

Depois mirou ele de costa. Ele estava sujo ainda e em roupas rasgadas. Ela cruzou os braços e disse determinada:

— Diana: Vou fazer meu trabalho completo, vou deixá-lo deitado e medicado e depois ir. Vá tomar um banho e tirar essas roupas!

Ela puxou de volta os remédios das mãos dele, enquanto ele já tinha um copo em sua outra mão.

Se rendendo ás ordens dela, Carlos Manuel esperou os comprimidos que teria que tomar, os tomou e depois disse, tão determinado quanto ela:

—Carlos Manuel: Vou fazer tudo rápido para que possa ir, e depois não nos veremos mais.

Ele caminhou até o quarto. Diana ficou parada no lugar, até ela mesma buscar um copo de água para si. Não demorou muito para ela ouvir a campainha tocando. Estranhou o fato de parecer ser uma visita naquele horário da noite. Retirou então o celular do bolso, vendo que era mais de duas da manhã e foi atender.

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Quando abriu a porta se surpreendeu quando viu Alejandro, mas não se surpreendeu mais do que ele quando a viu ali no apartamento de seu melhor amigo.

Ele então disse, já entrando:

—Alejandro: O que faz aqui Diana?

Ele a segurou pelo braço e procurou por Carlos Manuel, pelo apartamento. Diana puxou rápido o braço sentindo a dor de seu aperto, e disse de cara feia:

—Diana: Não tenho que explicar o que faço aqui! E não me pegue mais assim, Alejandro!

Ela alisou o braço e Alejandro não sentiu alívio com sua resposta. Se estava ali, era porque Carlos Manuel não o atendia e sabia que seu amigo era como as corujas, dormia sempre tarde enquanto vivia entre suas teses e análises de pacientes. Assim o buscou sem se importar com a hora, quando foi mais que incentivado por Loreto para que fizesse tal coisa.

E então encontrou para seu desagrado e confusão mental, Diana ali também.

Ele passou a mão na cabeça, viu então para piorar, Carlos Manuel aparecer de roupão de banho.

O anfitrião da casa olhou os dois em sua sala. Sentiu uma atmosfera diferente ali, e o olhar de Alejandro sob ele lhe queimar a pele. Ele então se pôs rígido, e disse agora mirando Diana que tinha a mão ainda no braço.

— Carlos Manuel: Alguma coisa aconteceu aqui? Alejandro?

Ele olhou agora seu amigo. Alejandro o olhou, e o respondeu aborrecido:

—Alejandro: Eu que pergunto! O que aconteceu aqui? Minha namorada está aqui e você some de repente!

Diana bufou, trazendo a atenção deles e disse:

—Diana: Ei, eu não sou mais sua namorada, Alejandro! E que bom que apareceu! Assim você cuida do seu amigo que já vou embora! Boa noite!

Virando as costas sem mais nem menos, ela saiu deixando os dois.

—Alejandro: Diana espere!

Quando viu a porta bater, Alejandro olhou Carlos Manuel. Alejandro tinha os lábios cerrados e a testa franzida.

Carlos Manuel não gostando da forma que estava sendo encarando, agora disse ele cansado e aborrecido:

—Carlos Manuel: Não é o que você está pensando, Alejandro. Mas também não quero ter que explicar, tive um dia ruim. Pode ver isso em meu rosto, se ignorar essa desconfiança que traz em seu olhar. Então por favor, vá embora e amanhã pela manhã conversaremos.

Alejandro fechou as mãos em forma de punho e disse.

—Alejandro: Não temos mais uma amizade decente, desde que se meteu com a família de minha namorada. Sumiu hoje e eu sim como amigo seu, me preocupei e vim até aqui. Meu pai também estava preocupado contigo, mas parece que adotou outra família, não é?

Carlos Manuel respirou fundo e disse em uma calma controlada.

—Carlos Manuel: Não precisava se preocupar comigo, nem você nem seu pai. Eu tomei uma decisão essa noite. Não sei o que vim fazer aqui, buscar minhas raízes de onde eu vim não foi uma boa ideia.

Ele passou a mão nos cabelos úmidos se calando, e Alejandro fixou o olhar nele.

—Alejandro: O que quer dizer com isso?

Carlos Manuel andou agora levando a mão na barriga demonstrando desconforto, e disse:

—Carlos Manuel: Quero voltar para casa, onde tive uma família de verdade, e uma vida de verdade. Aqui sinto que usurpo algo e por isso estou destruindo tudo o que se aproxima de mim.

Pela manhã.

Inês abriu os olhos visualizando os de Constância. Olhos bem verdes e cristalinos a mirando em surpresa.

—Inês: Bom dia, filha.

Inês então a tocou no rosto com amor, depois de falar. Constância piscou, e disse em tom de surpresa.

—Constância: Ficou à noite toda comigo? Dormiu aqui?

Inês assentiu, agora dedilhando os trilhos do cabelo da filha. Suspirou e propôs logo.

—Inês: Sim. E quero te fazer uma proposta, querida. Vamos até meu apartamento. Passe nem que seja uma noite comigo.

Constância se virou, ainda deitada, olhou o teto e repousou as mãos na barriga, pensativa com aquele convite. Sabia que a mãe esperava por aquela visita desde que havia se mudado, mas que orgulhosa estava se negando ir.

Não aceitava a saída da mãe da casa, não aceitava ainda mais o motivo dela. Com isso se sentia amarga com tudo e com todos, ainda mais com ela. Com a própria mãe que fazia de um desconhecido o motivo da desunião delas e daquela separação.

Ficou assim então em silêncio. Estava revoltada sim, mas por outro lado aquele convite parecia tão tentador. Lembrou que antes mesmo de se mudar, à mãe já ensinuava aquele desejo de passarem um tempo sozinhas.

Ela então perguntou em uma ansiedade que lhe causava um frio na barriga.

—Constância: Seria somente nós duas lá?

Inês assentiu, também ansiosa e a respondeu.

—Inês: Sim. Quero que passe quantos dias quiser comigo, para que entenda que deixei à casa por questões que já sabe, mas que em nenhum momento invalidam meu amor por você Constância. Não quero que esse afastamento continue entre nós.

Constância olhou para o teto outra vez pensando na questão que a mais incomodava e que soou tão simples na voz de sua mãe. Então não houve uma resposta, a não ser uma ação, dela levantando da cama em um pulo.

Inês fez o mesmo agora em agonia nítida no olhar.

Constância parou à frente da cama. Seus olhos brilhavam em um brilho cristalino, quando a respondeu.

—Constância: Por que fala como se fosse nada sua saída da casa? Como que se o verdadeiro motivo não é que pensa que Carlos Manuel, o meu médico é seu filho?

O rosto dela ficou vermelho. Inês ficou de pé também e rebateu as palavras dela.

—Inês: Não foi apenas por isso, Constância! Seu pai e eu estamos tendo problemas e essa separação foi inevitável! Deveria entender isso!

Constância levou as mãos no ouvido. Os tapou e disse.

—Constância: Não quero te ouvir! Fique lá com Carlos Manuel, com qualquer outro que te lembre seu querido Fernando, mamãe!

Ela andou indo em direção ao banheiro do quarto. Inês a seguiu já sentindo lágrimas lhe descendo aos olhos.

Invadiu o banheiro dela, e disse, quando a viu parada frente à pia.

—Inês: Por que só me ataca, me acusa e me julga, Constância? Por que não é capaz de ver todo esforço o que estou fazendo há meses para mudar nossa relação? Eu fui te buscar, fiquei com você, você foi minha escolha! Eu dirigi pela cidade, depois de mais de vinte anos! Isso tudo porque eu estava aflita e desejando chegar onde você estivesse! Mas ainda assim me julga!

Constância piscou, seu rosto branco ficou mais vermelho e depois chorou.

Cruzou os braços frente ao peito em um ato de defesa, e disse baixo.

—Constância: Me deixa sozinha. Não estou sendo capaz de pensar agora.

Inês olhou de lado custando obedecer a ordem . Passou uma mão no rosto, limpando as lágrimas encontrada ali. Depois a mirou novamente, e disse.

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—Inês: Não vou cansar de dizer que sinto muito pelo que já fiz, mas não vou conseguir consertar tudo sozinha filha. Não quero que voltemos ao que éramos. Tínhamos um acordo, e...

Ela se calou quando Constância disse:

—Constância: A única que está quebrando esse acordo é a senhora com essa ideia que meu médico é seu filho perdido!

Inês soltou o ar pela boca, exausta.

—Inês: Não irei insistir mais para que entenda que ele não foi o principal motivo que deixei à casa, filha. Vou deixar que pense e que saiba que meu convite seguirá de pé. Eu te amo, meu amor.

Ela se aproximou tentando tocá-la, mas viu Constância desviar. Inês baixou a mão e deixou o banheiro.

No mesmo momento ouviu batidas na porta, e foi até ela. Quando abriu a porta do quarto, e deu de cara com Victoriano.

Victoriano parecia que já estava há tempo de pé. Vestia suas roupas de trabalho, tinha os cabelos penteados, ainda úmidos e cheirava bem. Não parecia mais àquele homem que viu ao pé da cama bebendo inconsolável. Agora a destruída era ela.

Ela então virou o rosto quando viu que ele a mirou atento. E o ouviu dizer.

—Victoriano: O que aconteceu? Por que chora Inês? Cadê nossa filha? Brigaram?

Ele tentou olhar por trás dela pra tentar visualizar Constância, mas sem sucesso voltou olha- lá. Apesar de ter limpado as lágrimas, seu olhar vermelho denunciava que havia chorado. Assim então em meio de tantas perguntas, Inês apenas disse.

— Inês: Aconteceu o de sempre, ainda mais depois que você sozinho contou a ela o que em nossa intimidade te confidenciei, enquanto me iludia que teria sua compreensão.

Ela dessa vez o olhou com raiva no olhar e de rosto vermelho.

Victoriano respirou fundo. Sabia que tinha passado dos limites e se arrependido depois do que tinha feito, assim que cedeu aos pedidos das filhas de ambos.

Ele então falou sereno, mas sério.

— Victoriano: Eu estava fora de mim ainda tentando assimilar essa nossa separação, sei que cooperei para que voltassem estarem assim, morenita.

Ele tentou tocá-la, mas agora era ela que desviava de um toque como a filha deles antes havia feito com ela.

—Inês: Agora é tarde para lamentos, Victoriano. Vou ao seu quarto, preciso de roupas para ir embora.

Ela empinou o nariz depois que falou, e se moveu. No mesmo instante ela viu que Victoriano a seguiria, ela então parou no lugar e disse.

—Inês: Não se atreva me seguir, quero privacidade e que não ouse fazer o que fez pela noite!

Ela o olhou feio. Victoriano respirou aborrecido. Não aguentava tanto tempo calado, quando disse.

—Victoriano: Chamou nosso quarto de meu quarto, e fala com desprezo do que eu muito bem me lembro o que me deixou fazer contigo, Inês! Estamos sofrendo dessa forma porque escolheu fugir ao invés de enfrentar o que estamos passando!

Inês lembrou da conversa que tiveram no restaurante, observando que mais uma vez ele se mostrava ressentido com a escolha dela. Ela então suspirou, virou a cara enquanto torcia os lábios de lado.

— Inês: Não vamos fazer desse momento um momento nosso. Fique de olho em Constância por mim, me avise se ela voltar a beber. Bom dia, Victoriano.

Ela então caminhou à dentro do corredor que estavam.

Victoriano ficou daquela vez parado, a olhando entrar no quarto que dividiram desde que tiveram a primeira noite de amor .

Diana saía do quarto dela quando topou com Victoriano ali parado. Não havia tido uma noite nem boa e nem longa de sono. Estava de mal-humor e quando o pai se virou para ela, viu que não estava sozinha naquele barco.

—Diana: Ouvi sua voz e da mamãe no corredor. O clima por aqui está um caos.

Ela cruzou os braços depois que falou.

Victoriano respirou fundo. E depois disse.

—Victoriano: Já sabe de quem é a culpa. É daquele rapaz que veio do nada e deixou sua mãe pior que estava.

Diana ficou calada por um tempo e depois que meditou, disse:

—Diana: Ontem ela dirigiu.

Victoriano olhou rápido para ela. De olhos arregalados, ele perguntou.

—Victoriano: Ela quem? Inês? Sua mãe?

Diana revirou os olhos quando disse.

—Diana: Sim papai, ela mesma. Então não acho que sua sanidade está em jogo como já vi muitas vezes Santiago sempre aqui, suas recusas de se juntar com a gente. Não estou feliz com a situação que vejo que estão e por Constância estar como está, mas minha mãe precisava desse tempo mesmo.

Victoriano bufou. Ver sua filha mais velha apoiando aquela insensatez de divórcio, doía nele como um tiro no peito. Assim então ele disse.

—Victoriano: Pode ser que ela não esteja mal, mas nunca vou aceitar essa ideia que ela colocou na cabeça sobre Carlos Manuel ser o irmão de vocês. Isso não é sano e nunca será!

Cassandra apareceu no corredor deixando também seu quarto. Quando viu o pai e sua irmã mais velha ali, ela parou enquanto sentia seu rosto queimar . Lembrou do que evidentemente tinha interrompido ao ver o pai delas ali.

Victoriano não se importou tanto, desfez do clima tenso que pairava no ar, e a cumprimentou.

—Victoriano: Bom dia, filha. Como está, querida?

Cassandra deu de ombros e disse.

—Cassandra: Bem, papai. Cadê Constância e minha mãe?

Ela desviou o olhar agora para Diana, direcionando a pergunta também para ela .

Victoriano apenas disse.

—Victoriano: Constância está no quarto, a mãe de vocês no quarto que é nosso, mas que ela agora está desprezando tanto como que se...

Ele se calou, fez um gesto negativo com a cabeça se censurando, respirou fundo e disse manso.

—Victoriano: Vou tomar café na frente de vocês e ir trabalhar em seguida. Verei Constância na volta. Amo vocês, minhas amazonas.

Ele sorriu agora se chegando mais perto delas. Lhe beijou as testas e desceu.

Na mesa do café, Bernarda já estava presente, e não porque tinha fome. Ficou em suas mãos o dever de fazer com que a casa seguisse em ordem, que os trabalhos domésticos fossem cumprido, que as refeições fossem postas nas horas certas e tudo que vinha no posto de dona da casa. Assim fazia prontidão para vistoriar tudo de perto.

À mesa farta de um café da manhã estava posta. Ela olhou com orgulho tudo e depois enxotou com a mão uma ajudante de Adelaide que nem mais se fazia presente sempre, desde que se dividiu em estar com Inês.

Bernarda tinha certeza que Adelaide tinha feito todos àqueles anos o que o posto de Inês lhe cabia. E isso, porque sabia que a esposa de seu enteado, sempre fora uma incapacitada para cuidar e zelar daquele lugar que nunca foi digna de estar . Agora ela assim. Sempre tinha amado as terras e tudo que tinha ao redor da fazenda Santos, até Fernando ter a excelente ideia de entrega-las nas mãos do filho e sua esposa.

Nunca superaria tal feito. Lembrava como se fosse aquele dia mesmo que seus olhos bateram na raquítica Inês de 18 anos.

Ouviu então passos pesados se aproximarem à sala de jantar e sabia quem era.

—Bernarda: Bom dia, Victoriano.

Victoriano soltou o ar pela boca que percebeu que prendeu, e a respondeu sem sorrir.

—Victoriano: Bom dia, Bernarda. Inês está aqui e não sei se ela desce para o café, mas se o fizer, pelo amor de Deus, evitem trocar farpas.

Ele puxou uma cadeira se sentando.

Bernarda sorriu nervosamente, sentiu suas pernas fraquejarem, mas se manteve firme graças ao fato de ter perto sua bengala.

—Bernarda: Então fizeram as pazes?

Ela então quis saber, enquanto apertava o topo de sua bengala.

Victoriano deu um riso sarcástico, e a respondeu enquanto se servia de café.

—Victoriano: Inês está preferindo estar na companhia de qualquer um, menos de mim, Bernarda. Se ela está na casa é por conta de Constância.

Bernarda se sentou interessada na conversa.

Quase 1h depois . Inês ainda estava na fazenda. Tomava chá na cozinha, evitando à mesa do café da manhã. Sabia pelo som das vozes que suas 3 filhas estavam à mesa e na companhia de Bernarda, mas antes de estarem ali, haviam estado com ela, se cumprimentaram, conversaram sobre Constância e a evidente falta dela em mais um dia de aula.

Depois Inês se permitiu estar sozinha na cozinha para não se juntar à mesa, e não porque suas filhas estavam nela.

Apesar que ao se ver sozinha e seu chá e bolo na mão, gostaria de ao menos uma estivesse ali com ela.

Adelaide atravessou a porta de serviço, com uma cesta na mão e legumes frescos dentro. Emiliano veio logo atrás, comendo maçã, tirando assim ela de seus devaneios.

—Inês: Bom dia.

Assim então ela os cumprimentou, de caneca na mão e roupas limpas. Mirou seu afilhado que no mesmo instante, recordou que ele havia dormindo na casa, e também olhou à senhora que parecia chegar agora naquele momento na fazenda.

—Adelaide: Quando eu soube que estava aqui não acreditei. E bom dia, menina.

Descobrindo que Inês estava ali por um peão que a levou à feira, Adelaide disse alegre demais.

Emiliano que adentrou mais à cozinha, respondeu também Inês.

—Emiliano: Bom dia madrinha. E Constância?

Ele mordeu a maçã e se encostou numa mesa de madeira. Adelaide pôs a cesta à cima dela.

—Inês: Está tomando café com às irmãs e a nova dona da casa.

Inês riu amarga depois de falar. Adelaide respirou fundo, em desagrado com a fala.

—Adelaide: Vai lá com elas, Emiliano. Inês e eu temos que conversar.

Emiliano deu de ombros e saiu. Inês sabendo que poderia ouvir algum sermão de Adelaide, virou o rosto dizendo:

—Inês : Se Victoriano prefere Bernarda aqui, ele que fique com ela.

Adelaide revirou os olhos, dizendo.

—Adelaide: Victoriano não sabe nem o que comeu ontem, está fazendo besteiras atrás de besteiras desde que você anunciou que queria se separar dele. Deveria é pegar seu posto de volta nesta casa!

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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Inês andou, deixando a caneca na pia, e disse mergulhada em ressentimentos e orgulho.

—Inês: Não irei fazer isso se claramente não estou fazendo falta aqui!

Adelaide retirando os legumes da cesta, disse.

—Adelaide: Não fale bobagens, Inês!

Longe dali. Loreto bateu no rosto de um de seus homens.

Encomendou um trabalho a ele, e no escritório de sua empresa lançava a fúria sob seu subordinado.

—Loreto: Eu disse que colocasse qualquer moribundo para atacar Carlos Manuel, mas não quando ele estava prestes estar com Inês!

O homem vestindo social, tinha os braços à frente do corpo, imóvel. E dessa forma, ele disse.

—X: Não tinha como saber onde ele iria aquele momento, senhor. O serviço só tinha que ser feito no momento conveniente!

Loreto bufou se afastando. Tinha uma dívida com Victoriano que não conseguiu cobra-lo como gostaria, mas lavou sua alma quando ele sabia que os espancamento encomendado ao filho dele, era fruto de uma vingança, uma vingança que cobrava olho por olho e dente por dente.

Alejandro tinha sangue de seu sangue e tinha sido agredido por seu rival, era justo que ele fosse cobrar que o mesmo acontecesse com a pessoa que tinha o sangue dele.

—Loreto: Deveriam ter me avisado antes. Isso atrasou meus planos!

Ele então berrou mais uma vez.

Havia reunido algumas coisas que entregaria à Inês. Coisas que deixaria ela mais firme em suas suspeitas verdadeiras e confiante que com ele teria seu tão desejado filho.

Mas então, quando havia ido encontrá-la, não teve sucesso e depois descobriu logo o porquê.

Ele assim dispensou seu subordinado, deu a volta em sua mesa e fez uma ligação.

Inês estava dentro de um carro que um dos peões de Victoriano dirigia e levava ela de volta para seu apartamento.

Dentro dele seu celular tocou assustando-a. Lembrou que o deixou em som ativo desde que teve Constância a ligando bêbada, olhou então a tela do celular e suspirou ao ler Loreto, esperava ser outra pessoa que assim que esteve dentro do carro tentou também entrar em contato com ele. Logo lembrou mais uma vez que havia marcado uma reunião com ele. Era esse o nome que dava para àquele convite dele estar em seu apartamento.

Ela então o atendeu chamando-o pelo nome, e logo depois Loreto falou.

—Loreto: Inesita, querida. Não consegui te encontrar ontem ao ter ido em seu apartamento.

Ele se fez de sonso sem transparecer que sabia o motivo de sua ausência.

Inês suspirou, olhando a estrada de terra.

—Inês: Tive um final de tarde difícil e depois de noite, por isso não estive presente em meu apartamento e nem me passou pela cabeça em avisá-lo, Loreto, desculpe.

Ela tocou a testa, Loreto imaginou onde ela tinha passado à noite e pensou em uma inevitável reconciliação entre ela e Victoriano, só não verbalizou seus ressentimentos e sentimentos, quando disse.

—Loreto: Prometi que ia ajudá-la. Tenho novidades, Inesita. Podemos fazer hoje o que não deu para fazermos ontem?

Inês sentiu seu coração ansioso, mas se dividiu no mesmo momento com seus pensamentos que partiram para outro lado. Estava em turbo de emoções. Existia na verdade uma balança que de um lado havia Constância e sua busca incansável por perdão e renovo, do outro sua outra busca incansável por respostas e para reaver o que lhe haviam tirado.

Assim então não se sentia segura em tratar da busca das origens de Carlos Manuel quando havia pedido para que sua filha passasse um tempo com ela. Ainda que esse tempo fosse horas. Horas que ela tinha certeza que se Constância aceitasse, não gostaria de testemunhar tal conversa que ela teria com Loreto.

E era certo que Constância havia se negado aos berros, mas sua filha mais nova era tão inconstante em suas emoções e decisões quanto ela. No final, era evidente qual das filhas que havia saído de seu ventre, havia herdado suas piores gêneses.

Assim então ela o respondeu..

—Inês: Posso confirmar depois um horário? Penso que irei receber Constância. Não queira tratar desse assunto com ela presente.

Mesmo não gostando da resposta, Loreto disse.

—Loreto: Como quiser Inesita, me ligue.

Quando estava pronto para desligar, Inês falou rápido.

—Inês: Sabe algo de Carlos Manuel? O celular dele só dá na caixa postal. Deve ter sido roubado...

Loreto que estava acomodado em sua sala, esticou as pernas à cima da mesa, e começou atualizá-la da maneira dele.

Victoriano na Sanclat. Estava em silêncio na sala de reunião. Um silêncio gritante. Era mesmo uma bomba relógio que só precisaria de uma A para que ela fosse explodida, e quem o conhecia bem sabia que era isso que passava por trás de seu silêncio. Os sócios e até Diana o evitavam, deixavam ele assistir à reunião como antagonista pois sabiam quando ele quisesse falar algo falaria ou berraria.

Victoriano estava em sua caixa do marido mais ciumento que já pisara na terra. Estava ciente da ligação que Inês tinha recebido em seu carro e com um de seus homens o guiando, estava ciente que ela não necessitou nem de nenhuma descrição, quando por várias vezes chamava Loreto pelo nome e havia dado entender que ele estava subindo ao apartamento dela quando queria.

Ele imaginou o que falavam, o que faziam sozinhos. Inês era a mulher de sua vida e ele havia sido seu único homem. O único a tocá-la, o único a fazer amor com ela e faze-la dela mulher. Mas se já não era assim? Se toda frieza e desprezo dela, era por que estava amando outro? Amando Loreto. Justo ele?

Loreto havia conquistado ela? Havia lhe tirado seu grande amor, como antes ele mesmo havia feito com ele?

O que seria mais duro? Um amor tirado na juventude, ou um amor que sobreviveu a muitas coisas e também viveu? Como superar a perca de um amor tão grande e experiente assim?

Ele piscou percebendo que estava emotivo. O som ao fundo na reunião, era abafado por sua dor e pensamentos, e de repente ele se levantou. Viu cabeças se virando para ele e bocas se mexendo, mas nada ele entendeu nem fez questão também de falar e justificar sua saída. Apenas se levantou como rei daquele lugar e despreocupado com os negócios e com o dinheiro que jamais gastaria tudo em vida.

Assim saiu da sala, vendo meio que tudo nebuloso. Eram lágrimas ali querendo descer. Lágrimas que antecipava um sofrimento de abandono da mulher que amava.

Estava se arrastando até sua sala, sem saber direito o que faria . Primeiro necessitava sentir e depois pensar no que fazer em relação ao que sabia. Não era novidade que o infeliz de Loreto prometia ajuda a Inês, Victoriano era ciente do fato mas estava tão cego com os ressentimentos do motivo da aproximação de seu rival, que não havia dado valor suficiente o que aquela reaproximação poderia significar.

Ele chegou na porta da sala dele, abriu e então quando pensou que poderia se esconder com sua dor ali, viu Débora. Débora era o nome dela e que custou decorar ao menos até aquela última semana que a tinha no posto de sua secretária. Um posto temporário por tê-la afastada por motivos de saúde.

Débora deixava uma encomenda na mesa dele. Uma pasta de papel amarelo com remetente e destinatário.

Também tinha um recado para ele, que assim que ouviu ela disse.

—Débora: Teve um telefonema da delegacia. Avisei que o ligassem ao final da reunião que seria previsto daqui ah... uma hora.

Ela olhou bem seu relógio de pulso pra verificar o horário e ter certeza que não tinha confundido por ter Victoriano já ali.

Victoriano respirou fundo. Não tinha cabeça para nada aquele momento e imaginava quem o procurava, seria algum agente ou o próprio delegado, que pretendia marcar outra reunião agora com Inês presente, mas não tinha cabeça para nada. Não naquele momento, assim então ele disse.

— Victoriano: Obrigado pelo recado, mas se ele ligar diga que amanhã cedo comparecerei à delegacia. Hoje não estou para ninguém mais, Débora.

Débora assentiu, o observou ir até sua mesa e preenchendo o lugar. Com discrição, ela suspirou atraída pelo homem de olhar triste e alheio ao que causava nela e que poderia causar em qualquer outra mulher. Ouvia burburinhos por toda empresa de como a vida de seu patrão era, também sabia por Adelaide algumas informações de primeira mão, mais dela sempre vinham elogios por idolatrar o casamento dos patrões. Agora na empresa? Era outra história.

Inês nunca aparecia ali. Era raro sua presença, mas era bem comentada entre os corredores, o que sofreu, onde já esteve internada. Tantas coisas. Débora se imaginou no lugar dela e pensou com determinação que se fosse casada com o homem que via e dona de tudo aquilo, faria questão de impor sua presença a todos, principalmente a todas.

Carlos Manuel comprava um celular pela Internet, quando ouviu sua campainha tocar.

Ficaria por 7 dias sem ir à clínica enquanto se recuperava. Nesse período pensaria bem qual seria seu passo seguinte, que para se afastar da família que estava virando sua sina, teria que deixar primeiramente seu trabalho tão desejado.

Desejado porque a clínica psiquiatra que Santiago era dono, não era qualquer uma e ele não era qualquer um também.

Largando o notebook que tinha em mãos, ele caminhou até a porta e depois que abriu ele disse:

—Carlos Manuel: Como...

Surpreso, ele não teve voz para seguir quando já viu Constância entrando para dentro do apartamento dele.

— Constância: Fique longe da minha mãe!

Carlos Manuel passou a mão na cabeça quando se viu em mais uma exigência semelhante àquela.

Ele então cruzou os braços frente ao peito e disse calmo.

—Carlos Manuel: Primeiramente, Constância, como soube onde eu moro e como chegou até aqui?

Constância deu de ombros, tinha ido primeiro até a clínica de Santiago e feito uma cena dramática como uma das enfermeiras que por pena concedeu a ela o endereço do médico, agora subir até ali, aproveitou a distração do porteiro e a chegada de uma família grande de moradores que pegavam o elevador e se misturar entre eles .

Assim então ela disse.

—Constância: Eu fui esperta e aqui estou, Carlos Manuel!

Ela depois de falar encarou alguns hematomas no rosto dele. Não estava inchado mas roxeado em alguns cantos. Ela quis então perguntar se ele estava bem, mas recolheu o interesse, quando não mais via ele como seu médico e confidente e sim como uma ameaça.

Carlos Manuel que viu em seu olhar sua dureza cair, teve uma ideia rápida que além de se ver sábio como profissional de não ficar sozinha com ela fora de um consultório, se rendia ao sentimento de querer ajudá-la pois se via nela em sua fase mais difícil.

Assim então, ele andou até sua mesinha na sala, pegoh cartões jogados ali depois de terem levado sua carteira e carro e disse.

—Carlos Manuel: Vamos dar uma volta . O dia parece lindo lá fora, e claramente precisamos de alguma cosia bela no dia de hoje, Constância.

Constância não entendeu como em um só pedido estava saindo com ele dali. Juntos caminharam em silêncio, enquanto sentiam a brisa do vento na pele, cabelos e rosto. Assim pararam numa sorveteira bonita . Carlos Manuel pediu uma mesa bem à vista e no ar livre. Assim então, depois que pediram dois copos de milk-shake, ele disse primeiro.

—Carlos Manuel: Como tem passado Constância? Tirando a parte que também está me odiando sem eu ter feito nada a todos vocês.

Ele cruzou os braços se relaxando na cadeira.

Constância tomou um pouco do sorvete, depois fez que não com o dedo e disse.

—Constância: Não. Você não irá fazer disso uma terapia. Eu só quero que cumpra o que eu disse!

Ela também cruzou os braços. Carlos Manuel bebeu também de seu sorvete e disse depois.

— Carlos Manuel: Só perguntei como está sendo seus dias, por que os meus estão sendo um inferno, literalmente. Olhe para mim e constará isso.

Ele riu de sua própria situação, Constância então se rendeu à curiosidade e disse.

—Constância: O que houve com você?

Ele deu ombros.

—Carlos Manuel: Longa história. Mas posso te garantir que não sou essa ameaça que pensa que sou nem pra você muito menos para suas irmãs e pai.

Constância deu de ombros, quando disse.

—Constância: Você sabe tudo de mim e da minha família, mas não sei nada sobre você.

Carlos Manuel a olhou, e a respondeu sério.

—Carlos Manuel: Meu trabalho sempre foi ouvi-la e não falar de mim Constância.

Constância sorriu discretamente.

—Constância: Eu preciso se ouvida, Carlos Manuel.

Ela olhou o chão.

Carlos Manuel respirou fundo e disse.

—Carlos Manuel: Volte a fazer terapias, não é bom que deixe.

Ela ergueu o olhar pra mira-lo, então viu no olhar de Carlos Manuel a empatia de quem não seria capaz de julga-la. Assim então começou a falar.

—Constância: Eu bebi muito ontem à noite...

Já era noite, de madrugada. Inês estava sozinha no apartamento. Era um silêncio e uma solidão gritante com ligações sem respostas que ela esperava e ligações sem ela dar respostas esperadas.

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Uma noite silenciosa que trazia pensamentos, reflexões e saudades.

O celular vibrou no colchão da cama. Inês que estava de pé, depois de sair da varanda e observar a cidade barulhenta e nada de verde, voltava para o quarto visando se deitar.

Quando viu a tela do celular acender. Chegou perto e leu o nome . Seu coração acelerou. Ela se abraçou, mas não por muito tempo, porque se viu atendendo a ligação.

Ela atendeu sem dizer alô. Mas do outro lado da linha, Victoriano já sabia que tinha sido atendido, entendeu que assim como ele, ela não dormia.

Era mais uma infernal noite com eles longe um do outro.

Ele então falou primeiro, quebrando aquele silêncio.

—Victoriano: Já é tarde morenita, se ainda não dormiu é porque sofre do mesmo mal que eu. O mal do sofrimento da distância que agora estamos vivendo.

Ela suspirou, ao mesmo que subia na cama para se deitar. Quando fez, ela se enfiou abaixo das cobertas e disse.

—Inês: Sofro de insônia desde de sempre, por isso ainda não dormi, Victoriano.

Victoriano deu um sorriso de lábios fechados. Ele andava de pijama na varanda do quarto deles e tinha um copo de uísque na mão. Bebericou dele antes de responde-la, e quando fez ele disse.

—Victoriano: Mentira, já dormiu como um bebê nos meus braços, ainda mais quando fazíamos amor uma, duas, três vezes na mesma noite. Dormia tão calma nos meus braços que não necessitava de nada apenas de mim para adormecer, morenita. E agora estou igual. Não durmo bem desde que me deixou sozinho aqui...

Inês fechou os olhos, se encolheu, primeiro apertando as pernas uma na outra no início de suas palavras, mas depois ao final dela, apenas suspirou sofrendo do mesmo mal.

—Inês: Têm muitas coisas aí, que lembram a mim, aqui não tem nada seu Victoriano. Não tem nada seu para que eu sinta você perto...

Ela se calou. Victoriano sorriu com aquela confissão. Não era um riso feliz, era triste. Sofriam pela distância e ainda assim seguiam nela.

Assim então, ele se apoiando à grade da varanda, abraçado pela brisa da noite, a respondeu.

—Victoriano: Ter tudo o que te pertence aqui, me enche mais de saudades morenita, é um lembrete constante de que você não está aqui. Mas sobre não ter nada meu aí, proponho algo, hum...

Inês suspirou e disse baixo.

—Inês: O que me propõe?

Ele bebeu o restinho do uísque e olhou a cama sem ela ali, mas no lugar sua última camisola usada naquela cama. E então assim, ele disse.

—Victoriano: Pegue um travesseiro e o abrace. O abrace firme, morenita enquanto pensa em nós. Pense que é eu ao seu lado. Aqui estou sem sono porque só penso em você antes de dormir, então se faz isso antes que durma também será como se estivéssemos juntos.

Inês piscou e chorou, puxou o travesseiro que estava ao lado como ele mesmo dizia e disse chorosa.

—Inês: Eu sinto sua falta Victoriano.

Victoriano se deitava sem largar o celular, esticou depois uma mão pegando a camisola dela e disse, ao entender que ela chorava.

—Victoriano: Eu só queria ligar pra dizer que te amo, morenita e não te fazer chorar. Vá dormir, meu amor. Sonhe com nós dois em um lugar bom, onde estamos felizes outra vez.

Inês fechou os olhos, limpou as lágrimas e disse.

—Inês: Quero que esse sonho se torne realidade, Victoriano e não que seja uma ilusão de nossa mente...

Ele sorriu, fungou o pano preto da camisola em rendas, cheirando-a.

Assim então ele disse.

—Victoriano: Isso quer dizer que ainda sou o único no seu coração?

Inês assentiu primeiramente com a cabeça e depois disse.

—Inês: Você será o único homem que amei e amarei, Victoriano.

Victoriano sentiu o peito em júbilo e pediu.

—Victoriano: Volta pra mim, morenita. Somos loucos um pelo outro, essa separação é absurda, é um castigo sem fundamento.

Inês se encolheu na cama, e o respondeu.

—Inês: Precisamos desse tempo Victoriano. Eu preciso aprender viver sem você por um tempo, precisamos consertar muitas coisas e recuperar o que nos tiraram.

Victoriano ficou calado. Sua mão livre passeou no lado vazio da cama. Não gostou da reposta dela, era sofrimento demais, espera demais, mas se concentrou em sua declaração anterior.

—Victoriano: Se me ama e sempre amará assim como é comigo, por que em momentos como esses não me convida para estar contigo, hum? Eu te amo, você me ama, me chame para espantar suas noites de insônia assim como pode fazer com as minhas, morenita.

Inês ficou calada. Seu coração estava tão acelerado além de sentir um gelo na barriga. Um gelo gostoso e bem antigo. Era o gelo da paixão inicial de um romance. A dúvida de ceder, o medo com o desejo visível. Isso tudo já havia vivido com ele.

Ela abraçou o travesseiro com uma mão apertando frente ao peito, roçou os lábios pensando nele, pensando que ali fosse seu rosto. Mas não era, aquele conselho vindo dele de nada adiantava. Não tinha seu cheiro ali, não tinha seu calor.

Assim então ela sussurrou.

—Inês: Victoriano...

Victoriano soltou o ar pela boca, prevendo uma despedida e disse.

—Victoriano: Boa noite, morenita...

Ele foi interrompido pela voz dela.

—Inês: Vem... Vem aqui dormir comigo.