Nunca é tarde...

Senhora Bittencourt


— Dona Julieta ele foi embora, não vai voltar– não havia forma de ser mai direto, ele a vê dar um passo atrás e se apoiar na maçaneta da porta, parecia que tinha sofrido um baque ao receber a notícia, o Coronel sabia dos sentimentos do amigo para com a Rainha, mas não sabia que ela o correspondia, pelo menos era o Aurélio afirmou, achava que seu amigo tinha sido imprudente em sair do Vale tão rápido ao dizer que tinha sido rejeitado, pois não era essa demonstração que estava tendo na sua frente, e sim de uma mulher que perdeu algo muito importante– Ele disse que não havia mais nada o que ou quem para ele aqui.

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— Eu entendo – diz uma Julieta perturbada com o que ouvia, sentindo o coração apertar mais pelas últimas palavras do Coronel– Sinto muito incomodar o senhor.– ela começa a virar de costas, quando ele a chama.

— A senhora espera um minuto, não parece bem.

— Eu vou ficar, não se preocupe– tenta sorrir em vão, pois mais pareceu uma careta.

—Entendo, mas Aurélio de alguma forma sabia, ou tinha esperanças que a senhora iria aparecer e deixou algo, vou buscar.– ele some casa a dentro, não por muito tempo, pois logo aparece com um papel em mãos– Eu fiquei responsável por entregar isso a senhora, mesmo que não viesse aqui eu iria dar um jeito de entregar– e deixou em suas mãos um envelope com o seu nome em uma caligrafia que ela já tinha conhecimento de quem era mesmo se Brandão não dissesse ser de Aurélio.

— Obrigada – é só o que consegue dizer alisando o seu nome sobre o papel e deixando a casa.

O caminho de volta para casa passou como um borrão, nem fez questão de registrar as paisagens, em seu colo aquele papel queima, mas não quer abrir ali, prefere chegar em casa, não sabe o que pode estar escrito ali, mas tem certeza que vai doer.

Já em seu quarto, o desejo e a curiosidade de saber o que ele deixou escrito para ela é maior que qualquer receio, e por fim ela abre o envelope e tem seu primeiro baque ao ler como ele se referiu a ela “Senhora Bittencourt” ele estava sendo mal, usando de algo que sabia que iria ferir no primeiro momento.

“ Senhora Bittencourt

Não sei se irá ter conhecimento dessa carta, mas torço para que sim, pois aqui vai as últimas palavras que vou direcionar a você sobre o que sinto, eu ainda amo você, e vê-la ali sem reagir sobre o que eu dizia, agora que estou a refletir que você ainda não está pronta para amar e principalmente se deixar ser amada, nem sei se em algum momento estará ou vai se permitir isso, espero que sim você é uma boa pessoa que a vida maltratou, sinto muito em saber por tudo o que passou, eu moveria céus e terras para impedir isso, mas a muito que aprendi que o tempo é algo que não se pode voltar atrás, apenas podemos seguir adiante e tentar um novo futuro a cada dia e é isso que desejo a você, que a cada dia você caminhe para algo novo e bom, que não deixe tanto o seu passado e o medo de tentar, falar mais alto, que você encontre a felicidade que merece, que sei que vai ter, pois é isso que vou sair para buscar, eu ainda te amo, acho que tão cedo não vou deixar de amar, não estou abandonando você ou fugindo do que sinto, mas algumas vezes precisamos recuar para não nos perdemos de vez. Se um dia soltar as amarras que te prendem e perceber os mesmos sentimentos que eu, o que espero não seja tarde ou demore muito, aceitarei conversar com você.

Aurélio Cavalcante.”

Por pouco não conseguiu terminar de ler a carta, suas lágrimas quase não permitiram, encontra-se sentada no chão apoiada sobre a cama, sem forças, sabia que aquela carta seria demais, mas não que estaria derrotada no chão, estava perdendo o único homem que ousou amá-la e demonstrou isso mais de uma vez, e por ser teimosa e não saber como corresponder estava perdendo, mas como manter um compromisso com alguém, se ainda se encontrava presa, mesmo que ninguém, ou quase, sabiam de sua real situação, ele tinha razão ao dizer que ela não estava pronta ou não queria estar para confiar em outra pessoa, ela tinha que admitir pelo menos a si mesmo que tinha medo, medo de sofrer, de se machucar, de ser humilhada várias e várias vezes como foi, mas Aurélio já não tinha dado muitas mostras de que era tão diferente de Osório, sim, ele sempre foi gentil, ainda mesmo quando ela foi cruel e tirana, então porque ela não podia se entregar a esse homem e a esse amor que ele tinha a oferecer, porque ela mesmo dificultava as coisas para si mesma, porque se punia dessa forma, ela não sabia dizer.

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Em meios as lágrimas e mil pensamentos, dormiu do jeito que está, sentada meio no chão, meio na cama. Sendo acordada por uma dor nas costas, levanta com dificuldade do chão, recupera a carta que ficou esquecida, alisa com carinho e guarda como mais um dos seus segredos, resolve tomar um banho, decide dar a si mesmo um tempo, não podia ter surpresa maior ao sair e dar de cara com Suzana que tinha voltado de viajem.

—Nossa Julieta, você está doente?– fala olhando a cara assustadora da patroa.

— Por que? – Julieta não tinha percebido como a voz de Suzana era irritante logo cedo.

— Olha você mesmo– ela a leva até o espelho, se Julieta não soubesse quem era aquela pessoa refletida ali, também a julgaria doente, já vinha se alimentando pouco, no dia anterior nem lembra se comeu algo, as noite mal dormidas estavam presentes nas suas olheiras, na fisionomia abatida e cansada.– O que está acontecendo minha amiga?

— Nada demais Suzana, só ando cansada, apenas isso– ela percebe o olhar curioso da mulher ao seu lado e resolve mudar o assunto– Mas o que faz aqui, achei que só voltaria semana que vem.

— Sim, mas tivemos problemas com um dos fazendeiros e preciso que você vá até lá.

— Não acredito Suzana, que veio aqui para isso, podia ter mandado um recado.

— Sim poderia, mas quis vir pessoalmente, pois assim no caminho vou te colocando a par e o que podemos fazer para resolver essa situação.

Julieta não sabia se agradecia ou se amaldiçoava por ser chamada para o que sabia fazer de melhor, trabalhar, e não podia deixar de pensar que estava fugindo.

Iria completar um mês desde que o tinha visto pela última vez, não ouviu nenhuma novidade sobre Aurélio, só que estava bem empregado e seguidamente viajava para as propriedades do novo chefe ajudando como ele um dia tinha o ajudado, soube por outras bocas que o Barão não quis deixar o Vale, ficando na casa do Coronel Brandão que aceito de bom grado as rabugices do velho senhor.

Nesse tempo se entregou ao trabalho, de uma viagem para outra foi pouco os dias em que foi para o Vale e quando ia era rápido, em São Paulo não colocou mais os pés, tinha receio de fazer alguma bobagem, quando não foi mais possível fugir e Camilo clamava sua atenção a uma notícia importante que tinha a dar teve que ir ao encontro do filho e da nora.

— Olá minha mãe– seu menino vem ao seu encontro assim que entrou pela porta.

— Meu filho quantas saudades– um abraço forte é trocado entre eles, logo ela já se vê rodeada pelos braços da doce Jane, Julieta não poderia imaginar que a moça que mais odiou era quem a ajudaria refazer os laços com o seu filho. – Minha querida, como você está?

— Estou bem dona Julieta– ela sorri e troca um olhar cúmplice com o marido, ao que não passa despercebido pela Rainha do Café.

— O que vocês estão me escondendo? – ela olha de um para outro.

— Nada minha mãe.

— Verdade sogra não há nada, acho que a senhora precisa descansar um pouco da viagem, tem um ar tão cansadinha– Jane passa os dedos carinhosamente sobre ela, Camilo pensa que em outros tempos a mão repudiaria tal gesto, mas ela tinha mudado, isso ele sabia bem.

— Isso minha mãe vá descansar, a noite teremos um jantar com alguns poucos amigos.

— Vou sim.

Ela sai deixando o jovem casal abraçados, estava de fato cansada, parece que ao estar entre os seus foi que o peso das últimas semanas se faz presente.

Já é noite quando desce de fato tem poucas pessoas ali, Darcy e Elisabeta, Ludmila e Januário, Charlotte, Ernesto, o filho e Jane, estão animados conversando, uma música toca suave, eles a cumprimentam e a envolvem na harmonia dela, pergunto por Ema. mas intimamente queria saber de Aurélio, Ernesto informa que logo mais ela chega. A conversa estava ocorrendo bem, ainda não foi falado o motivo, mas ela nem dava importância a isso, estava se sentindo particularmente bem, como a tempos não se sentia, talvez as duas taças de vinho tinham ajudado.

O jantar é anunciado, avisa uma empregada, a campainha toca, Julieta se vira ao mesmo tempo que Ema entra acompanhada pelo pai, Aurélio está ali, só o que consegue pensar, por pouco a bebida que está em suas mão vai ao chão ao ter aqueles olhos azuis em cima de si, mas não tem muito tempo para pensar pois tem os braços de Ema em volta de si, que foi abraçá-la antes de fazer a qualquer um daquela sala.