Destiny

Capítulo 3 - A primeira vez que cozinhamos juntos


Cinco meses se passaram desde o dia que Heather Collins conheceu Thomas Wright.

A amizade entre ambos cresceu lenta e suavemente, sem que fosse necessário forçar qualquer limite. Eles trocavam mensagens diariamente e, de vez em quando, marcavam de ir a algum parque para passar o dia brincando com Napoleão ou jogando conversa fora. Os defeitos de cada um começaram a surgir – O homem se mostrou um teimoso incorrigível quando queria, enquanto ela podia ser muito irritante com toda sua ironia e mania de perfeição -, mas ao mesmo tempo a afeição cresceu, o que fazia as imperfeições não serem impossíveis de lidar.

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Heather encontrava-se se ligando gradualmente ao Thomas até o ponto que não conseguia se imaginar passar um dia sem que não trocasse uma palavra com o mesmo. A sua distração quando era o horário de receber os pedidos de músicas dos radiouvintes se tornou conversar com ele, nos fins de semana sentia o ímpeto de pedir para saírem a fim de poder o ver e, ainda por cima, quando não estavam em contato, ficava pensando nele. Ela estava com tanto ódio de si por causa disso, afinal, esses sentimentos eram conhecidos e sabia que os sentir por um amigo apenas traria problemas.

Ademais, uma das partes mais positivas disso tudo é que Collins já estava conseguindo conviver com Napoleão sem nenhuma paranoia de que ele iria morrer por sua causa. O trauma estava praticamente no zero na maioria do tempo e era tão bom isso para ela, pois podia passear e brincar com o cachorro livremente.

Aliás, nesse dado momento, Heather estava escovando os dentes o mais rápido que conseguia para poder finalmente sair do seu apartamento, porque havia combinado de se encontrar com Wright no “Imperium” às 20:00h e já era 19:30h. O motivo principal do atraso foi Julian que não parava de questioná-la sobre Thomas, querendo saber quem era “O homem que está conseguindo fazer Heather Collins sair num sábado à noite” – Palavras do próprio -, e, dessa forma, ela saiu tarde da rádio, fazendo todo resto desandar.

Ao terminar de se arrumar, a garota ainda teve de esperar mais alguns minutos para ouvir a buzina do táxi o qual pediu na agência em virtude de saber que a, antecipadamente planejada, caminhada não iria dar certo e só depois de descer três lances de escada correndo – O elevador voltou a funcionar, no entanto, estava ocupado e ela não tinha condições de esperar mais – pôde enfim se dirigir para o restaurante.

Foi uma viagem consideravelmente rápida e logo estava na frente do estabelecimento estranhamente com não só as luzes do interior desligadas, mas também sem mesas exteriores. Isso a fez ficar desconfiada, portanto, antes de descer do carro, enviou uma mensagem para Thomas perguntando se ele já tinha chegado, recebendo no mesmo instante uma resposta:

“Só entre e vá até a cozinha. A porta vai estar aberta”

(19:58)

Embora permanecesse receosa, Heather agradeceu o taxista, o entregou o pagamento e saiu do automóvel. Com passos cautelosos, dirigiu-se até a porta do restaurante a qual realmente estava destrancada, o que a fez planejar um discurso sobre segurança para Wright, porém seguiu em frente quase caindo umas cinco vezes nas mesas no caminho e só depois de bater fortemente o quadril em uma cadeira, ela ligou a lanterna do celular a fim de iluminar o caminho até o cômodo pedido.

A garota já havia estado ali antes, pois Thomas um dia quis a levar para um tour no “Imperium”, sendo assim, não titubeou e rapidamente abriu a porta localizada atrás do balcão de atendimento a qual levava para a cozinha a fim de se deparar com a cena do homem sentado em uma cadeira, vestindo o seu uniforme de chef, até mesmo usando o chapéu – Que na opinião dela o deixava estúpido -, enquanto na bancada à sua frente estavam distribuídos vários ingredientes que não faziam o menor sentido para si.

Um sorriso brincalhão surgiu no rosto dele quando a viu, provavelmente, fazendo a cara mais confusa do mundo.

“O que é tudo isso?” Perguntou antes de Thomas falar qualquer coisa, pois ela necessitava de explicações.

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“Isso, querida Heather, é uma cozinha e o que está na minha frente são ingredientes, sabe?” Ele continuava sorrindo ao falar e ainda por cima fazia questão de tentar fazer um semblante inocente.

“Ah, não, jura, Thomas? Se você não me falasse, eu nunca desconfiaria” O homem fez uma falsa feição de ofendido, colocando até mesmo a mão no peito “Falando sério agora, o que é tudo isso? Ou melhor, para que tudo isso?”

“Ok, é o seguinte: Eu nunca superei o primeiro dia que saímos juntos e você não pôde experimentar os meus macarons porque é vegana, então decidi que poderíamos tentar fazer macarons veganos para que assim nós dois possamos aproveitar. O sabor deve ser parecido e até gostei de todos aqueles lanches que você leva para o parque.”

“É sério?” Collins não conseguiu deixar de sorrir com a ideia, porque isso era tão importante para ela. Raramente as pessoas ao seu redor tentavam se adaptar ao seu estilo de vida – Na realidade, zombavam dele na maioria das vezes.

“Juro de mindinho” Thomas ergueu seu dedo mindinho que era sinceramente bastante longo “Até dispensei o Josh e a Katherine e fechei o restaurante uma hora mais cedo para que a gente pudesse ficar a sós. Então... Você topa? Eu de verdade quero fazer isso com você.”

Naquele instante, Heather queria ir até o homem e o abraçar ou, para aumentar ainda mais sua raiva consigo mesma, o beijar. Por que Wright tinha que ser tão legal com ela? Só dificultava ainda mais ignorar os sentimentos no peito os quais insistiam a atormentar toda vez que algo o envolvia. Não estava dando.

“Tem como dizer não?” Optou por dar essa mera resposta e ir se juntar ao amigo perto da bancada.

“Sabia que podia contar com você nessa” Ele levantou-se e levou a banqueta que estava sentado para o canto a fim de liberar espaço para transitar ao redor da bancada, contudo logo retornou “Você já ouviu falar sobre aquafaba¹, Heather?”

“Sim, já fui obrigada a usar em muitas receitas. Problemas de pessoas veganas.”

“Então, você sabe que não tinha como a gente fazer juntos agora, porque ia demorar umas seis horas, aí fiz em casa. Sinto muito por você não participar dessa etapa” Thomas a encarou profundamente fazendo beicinho como se isso fosse algo realmente a se lamentar.

Heather queria morrer. Emoções estúpidas, por que elas não se aquietam?

“Ah, cara, você me tirou de uma parte tão empolgante. Que pena” Fez uma feição entediada só para ficar claro que isso era uma ironia, pois muitas vezes Wright não conseguia entender e acreditava no que ela dizia.

“Idiota” O homem a empurrou com o ombro e Collins deu uma pequena desequilibrada “Ok, a gente tem 150 ml de aquafaba, 200 gramas de açúcar de confeiteiro, 200 gramas de farinha de amêndoas, uma xícara de açúcar, um quarto de xícara de água e corante alimentício da cor marrom para fazer a massa.”

Conforme ele foi falando, os ingredientes foram apontados e Heather acenou com a cabeça para todos como se estivesse entendendo tudo, embora não tivesse nenhuma noção do que fazer com eles sem instrução. Ser criativa na cozinha nunca foi uma coisa para ela que só seguia a receita e pronto.

“Vamos come... Calma!” De repente, Thomas gritou isso e virou-se para ela com um olhar acusador “Você ia cozinhar sem sequer prender o cabelo?”

“Talvez...?”

“Heather, não quero nenhum fio de cabelo platinado nos meus macarons.”

“Meu cabelo está tão seco que é capaz de nem estar caindo mais” Os fios de cabelo dela realmente iam de mal a pior, mas Collins estava sem vontade de ir ao cabeleireiro fazer algum tratamento.

“Isso sequer faz sentido” Wright riu e ela acompanhou a risada “Você trouxe algum elástico para prender ele?”

“Não, porque não era como se eu soubesse que iria cozinhar hoje.”

“Faz sentido” O homem coçou a testa, pensando por um instante “Já sei. A Katherine sempre deixa uns de reserva no armário dela e acho que não faria mal pegar emprestado, né?”

“Não mesmo.”

Então Thomas saiu a fim de ir buscar o elástico de cabelo para Heather na sala dos funcionários, enquanto ela aproveitou para ir lavar a mão na pia dali mesmo antes de começar a mexer com qualquer alimento. Além disso, usou o tempo sozinha para colocar os pensamentos em ordem.

Desde que ela vinha se envolvendo com o Wright, a garota nunca mais teve pensamentos exclusivamente racionais. Os sentimentos insistiam em tomar espaço na sua mente e a deixavam tão idiota a seu ver. Já perdeu a conta de quantas teve de pedir para o homem repetir o que disse, pois se perdia em devaneios de como ele era adorável ou ainda em como o cheiro de café e canela o qual exalava dele era um dos melhores que já havia sentido. O pior era que isso se identificava como característica de pessoa apaixonada e, se esse fosse o caso mesmo, seria burra por se apaixonar por alguém que não retribuiria – Do seu ponto de vista, ele nunca lhe deu um sinal sequer de que gostava dela romanticamente.

Heather desejava tanto algumas horas se afastar de Thomas a fim de aniquilar essas emoções, entretanto o tempo longe dele era pior do que ter de lidar com elas, desse modo, só seguia um dia após o outro tendo de se controlar ao máximo para não estragar a relação deles por causa de algo que nem tinha certeza.

“Ei, eu achei esse daqui” A voz dele soou dentro da cozinha, o que a fez despertar de sua reflexão com um sobressalto “Você está bem?”

“Yeah, claro” Sorriu para tranquilizar Wright, pois ele a encarava com um semblante preocupado “Só... Me dá esse elástico de cabelo e a gente pode ir fazer esses macarons.”

“Tudo bem” Ele entregou o item para ela que prendeu o cabelo em um rabo de cavalo e agradeceu qualquer divindade existente por tê-la feito melhorar na farsa nesses cinco meses de tanto que tinha de mentir sobre os sentimentos.

A partir desse momento, os dois focaram-se na preparação dos macarons. Ao passo que Heather ficou responsável por derreter o açúcar na água, Thomas peneirou a farinha de amêndoas e, em seguida, juntaram as misturas e os demais ingredientes numa vasilha. Depois de mexer bem até tudo ficar homogêneo, eles dividiram a tarefa de colocar a massa com a ajuda de um saco de confeiteiro – A garota era uma negação nisso, todos os seus estavam saindo deformados, já os do homem estavam perfeitos – numa assadeira e levaram enfim até o forno pré-aquecido a 120º graus.

Enquanto passava os quinze minutos para assar, foram fazer o recheio que envolvia derreter 100 gramas de chocolate amargo e misturar com creme de leite de coco. Quando o timing do relógio que colocaram soou, Wright, com o maior cuidado, retirou a assadeira do forno e ambos se colocaram a postos para recheá-los.

Entretanto, Thomas não estava levando o trabalho exatamente a sério, pois na maior parte do tempo ficava passando o recheio na cara da Heather com a sua colher, o que resultou nos dois em meio a uma guerra com a mistura de chocolate, porque ela não poderia só aceitar a situação, e apenas dez macarons devidamente recheados.

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Mas não importava a quantidade, afinal, o serviço de entrega de pizza vegana da pizzaria favorita de Collins existia para matar a fome que os dois estavam sentindo e não só as gargalhadas que deram, como também os olhares que trocaram enquanto guerreavam foram muito melhores que qualquer comida a qual poderiam ter feito.

Agora, sentados numa mesa do Imperium e contendo quatro macarons remanescentes entre eles - Era demais para comer depois de terem engolido oito pedaços de pizza sem nem notarem -, estava tudo mais tranquilo, num clima agradável.

“Ah, cara, eu estou toda imunda de recheio de chocolate e estufada de tanto comer. Devo estar horrível” Ela riu, encostada relaxadamente na cadeira e encarando o homem que estava praticamente no mesmo estado que o seu.

“Para, Heather. Você está linda como sempre" Wright a fitou intensa e sinceramente, com um sorriso tímido adornando os lábios.

Os sentimentos idiotas de Heather surgiram de novo borbulhando dentro do peito. Como ela poderia se controlar também? Ele não facilitava em nada a olhando assim e falando essas coisas.

“Você também, Thomas” Collins resolveu dizer sem nem pensar duas vezes, pois, caso contrário, daria alguma resposta irônica.

O rubor que surgiu nas bochechas de Wright foi o suficiente para deixá-la extremamente contente por ter sido sincera dessa vez.

Durante mais algumas horas, Thomas e Heather permaneceram juntos, conversando ou se mantendo em silêncio, somente se olhando com sorrisos singelos nos lábios.

Ela se sentia tão ferrada.