Inferno Com Sabor de Céu

A Primeira Vez que Saímos Juntos


Helena assistiu Gabriel puxar o cartão magnético da tranca, frustrado após a quinta tentativa de abrir a porta. Ela sorriu quando uma das malas escapou de baixo do braço dele e caiu aberta a seus pés.

Escondendo o sorriso ao vê-lo parar as tentativas para encarar a mala no chão com pesar, Helena afastou uma mecha do cabelo escuro atrás da orelha e se abaixou para pegar.

— Tudo bem. Deixe comigo. — começou pegando o barbeador e outros itens de higiene tipicamente masculinos. Não era uma das suas.

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Precisava dar um desconto para Gabriel. O agente Silva conseguira entrar perfeitamente no papel e ainda assim manter calma o suficiente para marcar dois suspeito, mais cedo.

Quando subiram a escada de acesso ao navio e fitaram dois membros da tripulação tentando empurrar dois carrinhos cheios de malas pesadas escada acima, olhando para os lados com o nervosismo tipicamente suspeito, Gabriel clicou a caneta no bolso da camisa e os ajudou no último degrau. E ante o mero toque inocente em uma das malas, os dois homens empalideceram e possessivamente, após um agradecimento pífio, se afastaram com os dois carrinhos.

Uma pessoa normal jamais suspeitaria desse comportamento.

O arquivo na mesa do delegado Becker tinha o rosto dos dois estampados na página marcada, em vermelho, com o título SUSPEITOS.

E claro que...

Os pensamentos de Helena voltaram ao presente quando seus dedos esbarram em uma embalagem prateada no chão. Terminando de fechar a mala, a devolveu a Gabriel. Então tossiu no punho.

— Hmmm. — a sobrancelha dela subiu por vontade própria, a camisinha entre o indicador o dedo médio — Esqueci de guardar isso de volta, marido.

Ele empurrou os ombros contra a porta, abrindo-a e só então olhou para ela. Helena pode quase afirmar que ele corou.

— Droga! Não fui eu que preparei essa mala.

— Essas camisinhas... Sempre pulando nas malas sem permissão. — colocou o pacote no bolso da camisa dele e só não cruzou os braços porque não queria uma explicação. O rubor no rosto bonito já era castigo o suficiente para ele, por enquanto.

— Sério, eu não..

Ele foi tentando se explicar, mas um barulho de risadas os fez olhar para o corredor.

Um casal ria, a mulher nas costas do homem e com um chapéu de cowboy na cabeça, ele segurando suas pernas e as quatro malas em suas mãos. Vestiam roupas de um vermelho brilhante e cegante, os categorizando como turistas.

Eles pararam bem no quarto ao lado e a mulher pulou das costas do homem, olhando na direção de Gabriel e Helena.

— Hey, tchutchuco! Temos vizinhos! — ela sorriu se aproximando, enquanto o homem soltava as malas. Os dois vieram animados na direção dos policiais.

Gabriel vacilou por um momento, antes de largar as malas e tomar a frente como o homem da família. Ele sorriu, segurando a mão da mulher.

— Oi! É um prazer enorme conhecê-los! — a mulher disse de um jeito afetado —Ele tem mãos fortes, querido. Eu sou Bervely! Eu sei, é um nome esquisito, mas minha mãe quis e eu não pude fazer nada! Aquela safada! — ela riu.

— E eu sou Marvin! Sabe… Como o marciano! — o Marvin fez antenas com os dedos na cabeça e se adiantou para beijar a mão de Helena — Estamos na nossa nona lua de mel! Sempre fica melhor! E vocês?

Ele gritou, fazendo Gabriel sorrir amarelo.

— Eu sou André e essa é minha adorável esposa Erica. Estamos na nossa… Qual é o numero, amor? Sabe como são os homens, sempre esquecem datas importantes… — ele a puxou para perto pela cintura.

— Hnf! — Helena escondeu a surpresa de ser puxada por trás de um sorriso adorável — Quarta lua de mel. Não acredito que esqueceu, amor. — ela cutucou as costelas dele com o cotovelo, divertida. E enviando uma advertência silenciosa. Não acreditava que ele já estava esquecendo detalhes mínimos do disfarce tão cedo.

Pelo menos sabia mascarar bem.

— Ah, tadinho, Erica! — Bervely riu, enquanto puxava Marvin para perto — É tão bom vermos casais em nossas viagens! A gente sempre tenta fazer amizade, para as coisas não ficarem muito tediosas, sabe?

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— Berverly é uma sociopata nata! — Marvin riu, abraçando ela por trás. Gabriel ficou ciente de que estava com as mãos ao redor da cintura de Helena e bem desconfortável com a situação. — Ela sempre consegue amigos maravilhosos em todas as nossas viagens! Ela é psicóloga, então consegue entrar na cabeça das pessoas muito bem… E isso sempre é maravilhoso!

Gabriel lançou um olhar nervoso para Helena e abriu um grande sorriso.

— Querido… Pare, vou corar! — os dois riram de um modo tão estranho que Gabriel segurou o riso — É assim. Eu olho para pessoa, analiso e digo: Marvin, temos que prendê-los em nossas garras amorosas!

— E eu sempre faço tudo o que a fofinha manda.

— Sim, ele faz tudo! Tudinho! — ela olhou apaixonada para ele e eles deram um beijo de esquimó.

Tão rápido, Marvin jogou Bervely contra a parede do navio e eles estavam se beijando como dois tamanduás. Linguas fora da boca demais.

Os olhos castanhos de Helena se arregalaram e ela olhou, horrorizada, da cena para Gabriel. Precisavam fugir antes que os dois ficassem mais grudentos do que já estavam. Segurou a mão dele, inclinando a cabeça indicativamente para o quarto.

— Marvin, Bervely, foi um prazer conhecer os dois. Ah, olha só a hora! Precisamos desfazer as malas ou vamos nos atrasar para o jantar. — depois de um olhar em seu relogio de pulso inexistente, pegou uma mala no chão, se atrapalhando com a alça e puxou Gabriel para dentro do quarto.

Um braço intruso a impediu de fechar a porta.

— Espere! — Marvin soltou Bervely por um momento e colocou a cabeça para dentro do quarto — Se quiserem companhia nas atividades do navio, nos chamem! Vamos adorar!

— Querido, você não viu a camisinha no bolso do André? Eles querem aproveitar! Deixa eles! — Bervely também colocou a cabeça para dentro e sorriu para os dois — Transem muito! O amor é maravilhoso! Mas se quiserem companhia, é só dizer! Vamos para um spa mais tarde! Tem uma piscina com bar e karaoke! Pegaram os folhetos? Olhe neles e é só chamar!

— Quando não estivermos transando como doidos! — Marvin acrescentou com um sorriso.

— Até vizinhos! — os dois falaram juntos e riram da forma estranha novamente.

Gabriel fechou a porta e começou a rir. Riu tanto que escorregou para o chão, colocando a mão na barriga.

Helena ainda estava encarando a porta, piscando sem entender. O que raios acabou de acontecer? Seus ouvidos ainda zumbiam da gritaria.

— Isso foi… um furacão. — e prometiam problemas. Então fitou Gabriel — Não ria!

— Não consigo evitar! — ele tentou se levantar, ainda rindo e se jogou na cama — Provável que querem um ménage.

Para alguém que não falou praticamente nada desde que deixaram a delegacia, ele estava falando até demais.

— Eu nem quero imaginar o que seja isso. Me prometa que vamos ficar fora do caminho de Homer e Marge Simpson, por favor. — ela deixou a mala no chão e sentou na beirada da cama. — Você sabe que assim que a gente sair desse quarto, para colocar as câmeras, eles vão grudar em nós, não sabe?

— Sei. Vamos conseguir distraí-los. Podemos esperar eles começarem a transar… — ele voltou a postura profissional, abrindo a mala com suas roupas, retirando um fundo falso — Primeira câmera aqui no quarto. Temos dez minicâmeras e uma de mão para fingirmos estar em lua de mel. Precisamos usar com sabedoria e nos pontos estratégicos do navio… E para isso, teremos que participar das atividades…

Ele puxou uma cadeira, subindo e ajustando num canto do quarto. Quando desceu, parou, olhando em volta.

— Percebeu que esse quarto é muito bom?

— E estratégico. — ela abriu a mala sobre as pernas e retirou uma maleta menor, abrindo-a. Um pequeno monitor portátil com receptor e o ativou. A tela mostrou Gabriel no meio do quarto e ela sentada na câmera. Perfeito. — Fica perto de tudo. Menos do compartimento de carga.

Que era prioridade.

— Os suspeitos são Lucas Fernandes Araújo e Vinicius Alfredo Pinheiro. Aquelas malas devem estar cheias de cocaína. — ele sentou ao lado dela e tirou as câmeras, colocando em uma pochete. Colocou as roupas de volta na mala e pegou uma toalha — Se queremos parecer um casal apaixonado, pronto para grandes atividades, devemos nos preparar. O folheto disse que o jantar começa às seis horas. Vou tomar um banho rápido.

Ele partiu em direção ao banheiro.

Helena o seguiu com um olhar desconfiado até vê-lo fechar a porta. Só então se permitiu soltar a respiração que esteve prendendo e tirou a mala e o monitor do colo, deitando-se na cama e cobrindo o rosto com o antebraço. Precisava ser lógica agora. Provavelmente o mar estava brincando com ela e a deixando desconfortável. Claro.

Devia haver um motivo plausível para sua cintura ainda estar formigando mesmo sem Gabriel a tocando.



Helena alisou a cintura distraidamente, sentindo a textura do vestido branco leve antes de lançar outro olhar crítico a porta. Por que ele estava demorando tanto lá dentro? Helena levou menos de dez minutos para se vestir e elaborar um penteado simples nos cabelos escuros, após minutos tentando se decidir. Não estava acostumada a usá-los soltos. Mas quanto tempo um homem como Gabriel podia precisar?

Imediatamente lembrou da mala com cameras e escutas no quarto. E se ele estivesse sabotando? O medo de ter a operação arruinada a venceu. Estava levando a mão na maçaneta quando a porta abriu para dentro.

Gabriel saiu usando um terno escuro e com os sapatos engraxados. O cabelo estava bastante cacheado e a barba estava feita. A gravata estava frouxa no pescoço e ele mexia nela, parecendo desesperado.

— Hey, desculpe a demora. Meu cabelo demora muito para ficar aceitável e eu não consegui arrumar a gravata. Você sabe dar nó? — ele ergueu o olhar, dando um sorriso fofo aos olhos de Helena, então paralisou, os olhos brilhando.

Ele não disse nada, mas estava na cara que ele estava analisando-a, porque deu um nó errado na gravata e o dedo ficou preso.

— Droga! — ele fez uma careta de dor.

Helena soltou a respiração, aliviada. Não queria começar uma nova briga com ele tão abertamente. Ela não precisou se mover para ficar perto dele. Os dois já estavam perto o suficiente. Helena fora do quarto e ele dentro. Apenas o batente da porta aberta formando um limite invisível entre os dois.

— Aqui. — desfazendo o nó, pinçou delicadamente o dedo dele e o libertou do aperto. Franziu a testa e não conseguiu conter a risada — Como conseguiu amarrar desse jeito? Está tudo embolado.

— Não sei… Eu estava tentando e simplesmente… Puff. — ele riu, olhando para ela. Demorou um tempo a olhando, então uma expressão zombeteira surgiu em seu rosto — Espere só até eu contar para o pessoal que a Hell fica bonita em um vestido.

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O olhar dela encontrou o dele.

— Ai eu me veria obrigada a falar do menage entre você e Homer e Marge. — ela sorriu e, terminando o nó, alisou a gravata dele, satisfeita com o próprio trabalho. Claro, um segundo antes de perceber o que fez e desejar pular do navio.

O silêncio caiu constrangedoramente enquanto eles se encaravam. Até ela clarear a garganta com um pigarro.

— Vamos?

Ele assentiu com um sorriso, dando o braço a ela:

— Vamos.

Enquanto andavam calmamente pelo deque do navio de braços dados, Helena apertou o braço de Gabriel três vezes — o único modo que conseguiu pensar de avisar quando passavam por um ponto perfeito para instalar a câmera quando todos estivessem dormindo. Não podia arriscar falar com todas as letras o que queria e, felizmente, ele entendeu e correspondeu pondo a mão sobre a que ela mantinha em seu braço. Era mais fácil não reagir a proximidade dele quando ambos estavam concentrados no trabalho.

Tudo o que precisavam era flagrar as drogas, os suspeitos mexendo nos pacotes e falando sobre elas. Evidências que só conseguiria caso plantasse cameras e escutas no compartimento de carga e no quarto dos suspeitos. Fácil assim.

Mas todas as suas preocupações com trabalho ficaram esquecidas quando alcançaram o ar livre. O céu estava tingido de um azul escuro profundo, salpicado com estrelas brilhantes e a lua cheia gritando a palavra ROMANCE em cada detalhe. Oh, não.

E em ambas as margens da piscina, mesas cobertas por toalhas brancas foram colocadas. Com apenas duas cadeiras em cada. Luminárias pequenas espalhadas no chão e em cordas acima, no que devia ser o cenário perfeito para casais apaixonados.

O único desavisado da noite romântica não demorou para se mostrar.

Uma rajada forte de vento chicoteou os cabelos de Helena em seu rosto, e teria levantado seu vestido se ela não tivesse soltado rapidamente o braço de Gabriel para mantê-lo no lugar, os olhos crescendo. Ouviu a risada do agente. Na surpresa ele tinha segurado a cintura dela, achando que Helena ia cair.

— Estou bem. É esse vento. — sua voz saiu profissional e ela abriu um sorriso leve para não estragar a fachada de casal em lua de mel. Foi quando risadas irritantemente familiares atraíram seu olhar na direção de uma mesa que atraia os olhares de todos os outros casais recém chegados. Roupas berrantes, beijos excessivos.

Marvin e Bervely.

Aterrorizada com a perspectiva de ser reconhecida pelos dois, virou de frente para Gabriel, levando ao mãos aos ombros dele.

— Não olhe agora ou eles vão nos ver. Está vendo a mesa perto das grades, a que ninguém quer ficar? É nossa.

— Sério? Não é uma boa mesa. Fica perto da cozinha e os garçons passam colados com ela.

— Prefere conforto a discrição? Não seja fresco.

— Estou pensando como o André, meu amor. — ele riu, abraçando ela de lado e falando em seu ouvido — Que tipo de marido eu seria se não desse o bom e o melhor para minha esposa?

O tipo que estava abusando.

Mas, para manter a discrição, Helena sorriu e virou o rosto, sorrindo simpatica.

— Erica aprecia ter um marido tão dedicado, mas ela acha que pode joga-lo por cima das grades se ele a fizer cair nas mãos do casal maravilha. Vamos! — sussurrou a ultima parte com urgência. A qualquer momento podiam ser vistos. Por sorte, Bervely deixou cair um camarão no decote e Marvin estava tentando tirar com a… meu deus.

Gabriel riu, indo em direção a mesa perto das grades, segurando a mão de Helena.

Ele se adiantou, afastando a cadeira para ela, enquanto um garçom vinha rapidamente servi-los.

— Boa noite. O especial de hoje é frutos do mar. Qual a preferência de vocês?

— Eu quero camarões e ostras. Erica? — Gabriel esperou que ela sentasse para sentar do outro lado.

O vento soprou forte, levando a resposta de Helena. Ela esperou um segundo para ver se a rajada dava uma trégua, e se proibindo de olhar no rosto do agente Silva e ver que ele ria da situação, antes de sorrir para o garçom.

— Me surpreenda.

O garçom acenou com a cabeça e saiu apressado.

A mesa ficou em silêncio até Helena notar que Gabriel a olhava. Não realmente olhava, encarava, a analisava de modo que ela se sentiu intimidada. Mas disfarçou bem com um sorriso provocativo.

— O que foi?

— Só estou pensando. — ele desviou o olhar — Bervely e Marvin te incomodam?

— Não te incomodam também? Demonstrações públicas de afeto apenas me… — suspirou, não querendo terminar frase — Eles podem nos causar problemas. Já estão.

— Eu os acho engraçados. E eles são inofensivos, só querem amigos, eu acho. O que demonstrações públicas fazem com você?

Antes que Helena pudesse responder, o garçom chegou com os pratos. Colocou o camarão e as ostras na frente de Gabriel, e na frente de Helena: Lulas fritas.

— Desejam algo para beber? — o garçom perguntou.

— Traga dois dos seus melhores champagnes. Leve um para aquele casal se agarrando ali. Coloque na minha conta. — Gabriel apontou para Bervely e Marvin.

— Como quiser, senhor.

O garçom sorriu e Gabriel olhou para Helena novamente.

— Então… Demonstrações de afeto? Você tem medo de intimidade? — então ele parou, parecendo perceber o que fazia — Desculpe… Passei dos limites.

Helena ergueu o semblante carregado de tensão do prato repulsivo para Gabriel. Ela tinha sido surpreendida. E não foi pelo prato. Ele não deixou passar.

Para não revelar que sua vida amorosa era igual a zero, Helena improvisou uma quase mentira.

— Acredito que algumas coisas deveriam ser feitas somente entre quatro paredes e permanecer ali. — então o sorriso dela se abriu — Como pegar camarões do decote com a boca.

— Eu te entendo, mas consigo entender o lado deles. — ele mexeu com a comida com o garfo — Quer dizer, eles são tão felizes e apaixonados que esquecem das pessoas ao redor e fazem o que querem. … Eu dia quero ter a sorte de ser assim. Ser tão feliz que nada importa.

— Ainda não encontrou alguém que faça isso? Pensei que você tivesse alguém. Uma namorada, quero dizer.

Gabriel a olhou, surpreso. Então abriu um sorriso.

— Por que achou isso?

— Você faz o tipo caseiro. Parece ter namorada. — ela brincou, agora cruzando os braços enquanto o analisava em tom reflexivo — Bonito com cara de bonzinho, está sempre cheiroso, é tranquilo… e parece gostar de se oferecer para lavar a louça depois do jantar.

Era impossível não ter sido fisgado.

Ele riu, abaixando a cabeça. Era timidez que ela via no seu rosto?

— Talvez eu seja bonzinho até demais. Foi o que… — ele parou, desconfortável — Foi o que minha ex disse ao terminar comigo.

O sorriso dela fechou um pouco enquanto ainda o olhava. Desconfortável por não saber como prosseguir, já que não estava acostumada a levar conversas tão longe, mexeu o pé por baixo da mesa e acidentalmente esbarrou em outro pé. O recolheu de volta rapidamente.

Tossiu no punho e brincou com a comida.

— Hmmm… o departamento te odeia, a namorada terminou por ser bonzinho demais e agora está trabalhando comigo… se o que está me dizendo é verdade, então sua vida é um inferno. Como faz para não explodir?

Assim que percebeu o que disse, espetou frustradamente um pedaço de lula, com arrependimento. Falar sem antes medir as palavras? Sua especialidade.

Ele a olhou novamente, abaixando a cabeça. Agora, literalmente, seu rosto estava vermelho como um tomate.

— Nem queira saber.

Helena respirou aliviada quando o garçom os interrompeu com o champanhe. A bebida ajudou a aliviar o incômodo estranho em seu estômago, possivelmente pela visão da lula. E claro, por mais que tenha tentado escapar de Beverly e Marvin, assim que receberam o champanhe, o casal enviou um sutil agradecimento. Acenando e quase gritando seus nomes do outro lado da piscina.

Foi custoso admitir, mas Gabriel tinha razão. Eles eram engraçados. De um jeito irritante, mas ainda assim engraçados.

Quando o jantar terminou, ela retirou os sapatos e os trouxe na mão enquanto fazia o caminho de volta em silêncio pelo corredor. Gabriel seguia ao lado dela, às mãos no bolso da calça e de cabeça baixa. Não havia o que dizer. O silencio entre os dois a deixava confortavel por enquanto.

Se ignorasse o fato de realmente parecerem um casal voltando de um jantar romantico.

Nunca pensou que se sentiria tão aborrecida por estar indo bem em uma operação. Claro que ele…

O pensamento ficou perdido quando quase esbarrou nas costas de Gabriel. Ele parou antes de chegar a porta, tensão emanando de suas costas.

— O que foi? — ela olhou para o rosto dele quando o contornou e então entendeu.

A porta.

Seu olhar foi para o mesmo ponto que o dele. A fechadura. A luz da tranca estava verde, apesar da porta estar fechada. Helena apertou o cartão magnético entre os dedos em uma tentativa débil de aliviar a tensão. Não havia como negar.

— Alguém esteve aqui.

Gabriel tirou a arma do suporte na canela e avançou. Fez um sinal para Helena que iria arrombar a porta e foi o que fez, apontando a arma para dentro.

— Livre, mas alguém esteve aqui, Hell.

Ela passou por ele, a arma em mão enquanto abria as gavetas, olhava embaixo da cama. Isso estava errado, pensou guardando a arma de volta na coxa, sob o vestido.

— Eles mexeram nas gavetas, mas não levaram nada. — seu olhar foi para cima. A câmera virada para a parede a fez apertar os dentes com frustração. — Alguém está mandando um recado para nós, Gabriel.

Era a primeira vez que o chamava pelo nome e se virou lentamente para encarar aqueles olhos traidores. Ele parecia tão frustrado quanto ela quando Helena declarou.

— Eles sabem.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.