Não demorou muito até que Chichin e Aya chegassem na colmeia. A rata estava ofegante depois de ter pego uma carona com os centauros e ter corrido até a base. Aya se preocupava em arrumar sua roupa e seus fios de cabelo pondo-os mais sobre seu rosto afim de esconder suas escamas. Dentro do elevador o silencio tornava o momento um pouco tenso mas a abertura das portas não deixou tempo para que pensassem em algo mais. As paredes verde água em um corredor comprido guiavam o local em que Ellian estaria, seu laboratório que ficava na última porta do quinto andar.

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Aya seguia em frente, Chichin o acompanhava estando alguns passos atrás. Ele observava cada detalhe das portas e janelas que passavam, laboratórios de pesquisas e estudos, nomes novos e também reconhecidos. Um suspiro longo foi dado ao ficar em frente a porta nomeada com uma placa escrita Ellian. Aya tomou a atitude de abri-la, e logo num pulo duas criaturas altas o encararam com curiosidade.

— Oh! Ele é menor do que imaginei, o que acha Lara?

— E mais novo também! Achávamos que seria um velho, não é Dara?

Uma dupla de corsas o fitava, sua altura fazia com que ambas olhassem-no de cima para baixo um pouco encurvadas, suas orelhas finas, sardas em seu rosto, olhos redondos, negros e os cascos em vez de pés as caracterizavam. Dara e Lara são irmãs gêmeas idênticas, o que deixa a situação ainda mais confusa, o silêncio permaneceu por alguns segundos até que Ellian se metesse entre as duas abrindo espaço e as dispersando para que Aya e Chichin finalmente conseguissem entrar em sua sala.

— Ora bolas! É uma urgência e vocês ficam enterrados na porta? Andem andem! Preciso conversar com Aya! — O elfo de aparentemente 50 anos, alto de cabelos compridos e grisalhos se direcionou a porta, fechando-a com chave e logo virou-se para encarar os recém chegados. Ao encontro de olhares, Aya acenou positivamente em cumprimento, Chichin logo fez sua posição de sentido.

— Senhor Ellian! O trabalho está concluído! — Disse a rata enquanto pegava do bolso superior de sua camisa uniforme um bloquinho e uma pequena caneta, oferecendo-os para que o elfo os assinasse.

— Muito obrigado Chichin, ótimo trabalho. — Ellian rapidamente pôs sua assinatura, entregou os objetos e direcionou sua atenção para o jovem de cabelos brancos e escamas em seu rosto, que retribuía-o olhando nos olhos. As corsas se direcionaram para o fundo da sala, de trás de uma enorme estante e Chichin manteve-se em observação esperando por mais alguma ordem.

— Já faz algum tempinho não é mesmo Aya? A última vez que te vi eu sequer possuía meus cabelos brancos. Mas você continua o mesmo, cresceu apenas alguns centímetros pelo o que vejo. — Ellian direcionou sua mão até os cabelos do outro, afagando-os em um gesto íntimo e de carinho.

— Desde que nos vimos, sim faz um tempo Ellian. Mas sempre mantivemos contato através de cartas. Foi uma surpresa que tenha me chamado com tanta urgência e presencialmente. Deve ser algo grave, o que aconteceu? — Aya sorriu enquanto recebia o afago e conversava com o elfo, que pacientemente escutou com atenção as palavras que ele tinha para dizer. Ellian respirou fundo pensando e escolhendo bem em suas próximas palavras.

— Veja bem, preciso de sua ajuda. E só posso contar com você. — O elfo de cabelos grisalhos andou lentamente até o fundo da sala, até chegar ao lado da grande estante e sinalizar com a mão para que Aya fosse até o local ver o que estaria por trás.

— Se eu puder lhe ajudar... — Um pouco desconfiado, Aya se direcionou até a estante, e ao olhar para o que havia detrás da mesma seus olhos arregalaram-se em surpresa. Dara e Lara estavam ao lado acariciando e dando cuidados a um pequeno humano acobertado em mantas de lã dormindo de forma tranquila. Chichin estava atrás de Aya, curiosa inclinou-se para poder ver o que todos estavam a olhar e que causava o silêncio repentino, que logo foi quebrado por ela mesma.

— Ooh! U-Um filhote de humano?! — Indagou, surpresa. Dara e Lara por sua vez levaram o dedo indicador até a boca sinalizando silêncio. As grandes orelhas da ratinha se retraíram em sinal de vergonha e desculpas. Ellian encostou no ombro de Aya que ainda observava o filhote, chamando-o para conversar um pouco mais distante dali para que não houvesse riscos de acordar o humano.

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— Quer beber algo? — Perguntou o elfo. — Acredito que deve estar se perguntando ainda mais do porque lhe chamei aqui.

— Não obrigado. Tenho um palpite do que seja, mas sinceramente espero que não seja isto. — Aya olhava seriamente para Ellian, que também mantinha a mesma expressão.

— As corsas o encontraram desacordado e sofrendo de hipotermia. Por sorte foram as gêmeas, que são pacíficas pois também tiveram sua infância por aqui. Ele estava na beira do rio sem nenhum paradeiro. Sem saber o que fazer, decidiram traze-lo para cá sem contar para ninguém com medo das consequências. Pelos pequenos testes que fiz, é muito novo, possui 2 anos na idade humana.

— E o que eu tenho a ver com isto? — Aya perguntou seco, como se ignorasse todas as outras informações dadas por Ellian.

— Preciso que cuide dele. — Respondeu com certeza em sua voz. O elfo já imaginava que a reação do outro seria mais rígida principalmente ao se tratar de humanos. Aya tem um passado com eles.

O jovem virou as costas afim de sair e ir embora.

— Aya. Este filhote morrerá se não for cuidado por alguém que tenha condições. Além disso você quando era um filhote igual a este foi acolhido pelos humanos, é o único que sabe ir até suas terras. Assim como você, ele não possui mais ninguém, e precisa ser levado ao lugar correto. É apenas um filhote. — Ellian novamente encostou em seu ombro, como em suplica para que o outro não fosse embora. Sua voz estava mais séria demonstrando que não pretendia desistir tão fácil além de apelar para o passado alheio, tendo consciência de que é uma fraqueza do outro.

— Qual são suas intenções em deixa-lo comigo? — Indagou pensativo.

— Que você o leve para Yama. Se é você, o ultimo dragão elemental que tomará cuidado deste filhote, sei que ele estará seguro. — Ellian falou convicto. Aya virou-se ficando frente a frente com o elfo, olhou no fundo de seus olhos e suspirou em desistência e um pouco cabisbaixo direcionou-se até um grande mapa que estava em uma das paredes.

— Eu o levo, pois tenho uma dívida com esta raça. Mas nada é garantido, não importa quem seja, sempre haverá perigo, e eu não estou fora disto. — Aya falou sério. Conhecido por todos os reinos, ele possui legado, nome e é uma lenda. Apesar da aparência jovem, ele possui 512 anos. Dragões são especialmente conhecidos por sua longitude.

— Eu sabia que poderia contar com você. Apesar de eu ter cogitado em ficar com ele, aqui na capital e em outros lugares seria impossível, apenas em Yama eles possuem proteção por lei. E um filhote dessa idade sozinho seria morto com certeza. — Ellian acompanhou Aya, curioso para saber o que o conhecido tanto observava no mapa.

— Eu me pergunto como um filhote de humano veio para aqui. — Aya estava reflexivo, e com razão. Yama é realmente muito longe, e é o único local em que humanos possuem proteção por lei, indefesos não possuem basicamente nenhuma chance de luta, por esta razão que seu local de sobrevivência é considerado o último lugar de Aurora.

— É surpreendente que tenha chegado vivo até aqui. Com esta idade provavelmente tenha nascido em meio a viagem. Humanos possuem seu processo de crescimento diferente do nosso, são como os antigos ratos, para garantir sua sobrevivência crescem muito rápido. — Ellian foi até sua mesa pegando uma agenda e outros objetos que ele havia deixado preparado.

— Então provavelmente quando chegarmos em Yama este filhote será um adolescente... — Aya direcionou-se até detrás da estante para observar um pouco mais o humano. É realmente pequeno, aconchegado nas mantas a única coisa que poderia ser vista é seu pequeno rosto de bochechas rosadas e de cabelo liso castanho claro.

Ellian aproximou-se de Aya, entregando-lhe uma bolsa cheia junto de um macacão de carregar filhotes, denominado como macacão canguru. O jovem dragão o vestiu, Dara se levantou do lado do filhote enquanto Lara o enrolava melhor na manta, deixando-o confortável e protegido, para então entregar-lhe a Aya pondo-o no canguru.

— Se cuide filhotinho... — Dara aproximou-se dando um beijo na bochecha do humano. Lara seguiu o mesmo gesto. Pronto para ir embora, Aya direcionou-se até a porta, mas logo foi interrompido por Ellian.

— Espere um segundo! Esqueci de algo muito importante! — Ele se aproximou com pressa, ajeitando na cabeça do pequeno uma tiara bem feita de orelhas de gato Alguns seres sentiam insatisfeitos com sua espécie ou com suas a característica em questão, sendo então criado diversos acessórios extremamente realistas em prol de saciar os desejos de cada um. Ellian utilizou uma destas tiaras para então formar um disfarce.

— Ellian qual é o nome do humano? — Perguntou Aya antes de partir.

— Humm, eu não sei. Ele chegou desacordado... e com esta idade talvez não saiba seu nome ainda. — Ellian se pôs pensativo. — Talvez, tenhamos de dar um a ele.

— Eu sei! Eu sei! — Exclamou Dara. — Que tal Fofuxo? — Com um sorriso no rosto ela se aproximou vendo-o mais uma vez.

— Acredito que Fofuxo é um pouco... para algum animal de estimação. — Lara respondeu a irmã, que logo perdeu a animação ficando reflexiva. Entre o grupo, uma pequena mão levantou-se com timidez. Chichin pedia a permissão para falar.

— Diga minha querida. — Disse Ellian.

— Esse filhote... foi encontrado na água... Que tal, Água? — Indagou.

— Siiim! — Lara e Dara responderam ao mesmo tempo. Suas vozes altas fizeram com que o pequeno se mexesse um pouco ao “colo” de Aya. Ellian levou o dedo até a boca sinalizando silêncio para que não o acordassem. Aya olhou para baixo, observando a criatura. Reflexivo, um pequeno suspiro foi dado enquanto o fitava.

— Aqua? — Aya pronunciou-se. O elfo se surpreendeu pela iniciativa do dragão, sorrindo com o gesto.

— Sim, Aqua é um bom nome. — Ellian o respondeu, e todos concordaram com a decisão do nome, terminando a conversa e as despedidas. O dragão partiu junto de Aqua em seu macacão e colo, iniciando uma jornada imprevisível. Aqua o filhote de humano que antes tinha seu futuro incerto, agora tem como protetor Aya, o ultimo e lendário dragão capaz de controlar todos os elementos. Sua vida depende de Aya, mas não importe o quão forte e conhecido Aya o seja, isto não irá impedir de que ambos entrem em perigo.