PRIMEIRO

Florence Culbert.

Um rubor tomou conta de minhas bochechas e meu estômago se embrulhou no momento que passei pelos grandes portões de Hogwarts. Aquela era a primeira vez em muito tempo que eu me atrevia a voltar à Inglaterra para me envolver em qualquer assunto que tratasse magia.

Não precisei que ninguém me guiasse até a sala do diretor Dumbledore, esse que havia marcado há algum tempo uma visita minha. Tal caminho havia se tornado costumeiro em meus últimos anos dentro da escola.

A senha da escada de caracol ainda era a mesma desde meu sétimo ano, o que facilitou meu acesso e fez meu nervosismo aumentar consideravelmente.

Assim que me encontrei frente à porta, tomei um longo e pesado suspiro antes de bater. Sem demora, fui cordialmente atendida pela velha figura barbuda de Alvo que esticou um sorriso brilhante.

— Senhorita Culbert, você veio!

— Prometi ao senhor que viria — forcei um sorriso envergonhado e adentrei o local quando minha passagem foi concebida.

Não pude evitar aspirar ao aroma típico dos livros antigos que forravam as paredes da sala.

— Vamos lá, sente-se, temos que conversar algumas coisinhas. — Alvo falava enquanto puxava uma cadeira para que eu me sentasse. — Admito que eu não estava muito crédulo que você viria me visitar. Pelo menos não depois de todos os acontecimentos dos últimos anos.

— Admito que eu também não. — Murmurei e suspirei pesadamente já sentindo o olhar curioso do diretor para cima de mim. — Desde que Caius e meus pais foram para Azkaban depois da guerra tem sido muito difícil permanecer por aqui.

— Acredito que esteja sendo muito difícil sim, Florence. Mas também acredito que não valha a pena viver isolada na França e sem magia.

— A magia tirou tudo de mim, professor — baixei os olhos para minhas mãos calejadas e segurei as lágrimas.

— Sua família tirou tudo de você. — A sua mão enrugada pegou a minha por de cima da mesa. — Deixe que a magia faça parte da sua vida novamente e verá o quão feliz você pode ser.

Não consegui respondê-lo nem sustentar o seu olhar por alguns segundos. O que ele me pedia fazia uma enorme ferida dentro de meu peito voltar a abrir. Viver com magia poderia parecer um sonho para alguns, mas para mim sempre foi um terrível pesadelo.

— Florence, há um motivo para eu ter chamado você aqui hoje — o diretor prosseguiu assim que percebeu que eu não falaria mais nada. — A professora Strought deixou seu cargo de Runas Antigas e eu pensei que a melhor aluna que já tivemos poderia assumir o posto. O que você acha?

Arregalei os olhos assim que o seu convite fez sentido em minha cabeça e comecei a balançar as mãos sem saber o que pensar nem dizer.

— Professor eu... Eu... — Gaguejei enquanto ainda tentava dizer alguma coisa, algo que nem eu sabia o que era.

— Fique calma, Florence — e novamente as suas mãos foram utilizadas para acalmar as minhas. — Você não precisa tomar nenhuma decisão agora. Tem até o fim do verão para escolher se quer ficar aqui ou não e pode vir quanto quiser para saber sobre as condições quantas vezes achar necessário. Hogwarts sempre estará aberta para você.

— Eu... — Puxei o ar para dentro de meus pulmões antes de continuar. — Eu prometo que irei pensar melhor a respeito, mas acho melhor eu ir embora. — E já fui me levantando muito disposta a sair, pois minha cabeça já ameaçava explodir.

— Eu sei que vai — sorriu gentilmente e me acompanhou até a porta. — Obrigado por ter vindo aqui hoje, foi muito bom vê-la.

— De nada — sorri fraco, ainda muito desnorteada com sua proposta anterior.

Olhei-o mais uma vez e passei para fora da sala, na ponta das escadas para ir embora. Mas antes que eu pudesse descer qualquer degrau, a voz grossa do diretor tornou a me chamar.

— Mais uma coisa, Florence — virei-me para encará-lo. — Remus Lupin é o nosso professor de Defesa Contra as Artes das Trevas.