Destiny

Capítulo 6


Os tempos eram de chuva no Vale do Café. Por isso era comum que nessa época do ano todos permanecessem a maior parte do tempo em casa. As irmãs Benedito passavam quase todas as horas do dia imersas em livros ou tarefas de casa. Era apenas mais um dia comum por aquelas bandas, e Elisabeta não poderia sentir-se mais entediada.

Não havia contado para ninguém a respeito do episódio com Darcy. Sendo sincera, evitava até mesmo pensar sobre o assunto, ainda que sua mente não a obedecesse. Nunca dormira com um homem e nunca pensara que poderia sentir-se tão confortável na presença de Darcy. Mas o pensamento de estar se envolvendo com ele ainda era assustador.

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Por isso, Elisabeta estava ignorando a fazenda dos Bittencourt e seus moradores. Embora sentisse muita falta de Lizzie, sabia que sentimentos confusos eram apenas prejudiciais para ela. E era justo dizer que não confiava mais em suas atitudes diante de Darcy. Não ao acordar naquela manhã e perceber que, embora a situação tivesse ocorrido por acidente, no fim ela optara por permanecer com ele.

— Elisa! – Jane entrou correndo no quarto das duas.

— O que foi, Jane? Por que está tão esbaforida? – a mais velha perguntou.

— Acabamos de receber um convite para jantar na casa dos Bittencourt esta noite. – Jane empolgou-se.

—Espero que você se divirta. – Elisabeta fingiu indiferença.

— Eu? De jeito nenhum, a senhorita também vai. – disse, enquanto já começava a preparar um vestido.

— Jane, eu não me sinto bem na casa dos Bittencourt. – Elisa cruzou os braços, fazendo birra.

— Na casa dos Bittencourt ou na presença de Darcy? – a irmã deu um sorriso.

— Darcy não tem nada a ver com isso. – respondeu mais rápido do que deveria.

— Ele tem perguntado por você...

— Tem? – Elisa espantou-se.

— Ah, sim. Toda vez que me vê ele quer saber como vai minha irmã Elisabeta. – deu de ombros.

— Isso é porque eu sou a única irmã que ele conhece. – Elisa revirou os olhos.

— Não é, não. – Jane encarou-a surpresa. – Mariana tem me acompanhado em algumas visitas.

— O que? Quando foi que isso aconteceu? – ela arregalou os olhos.

— Ora, quando você recusou todos os meus convites nas últimas duas semanas. – agora foi a vez de Jane revirar os olhos.

Elisabeta olhou para as próprias mãos, tentando evitar a pergunta que passava por sua mente. O que interessava a ela se Mariana e Darcy se dessem bem ou estivessem interessados um no outro?

— Elisabeta! – Jane gargalhou, lendo a expressão da irmã. – Mariana! Venha aqui!

Antes que Elisa pudesse protestar, Mariana já adentrava o quarto, curiosa.

— Temos um jantar hoje na casa dos Bittencourt. – Jane informou.

— É mesmo? Que maravilha! – Mariana vibrou, dando palminhas. – O que eu vou vestir?

— Eu vou com este vestido. – Jane colocou em frente ao corpo. – É simples, mas o melhor que tenho.

Jane rodopiou pelo quarto, parando ao lado de Elisabeta e sem que a irmã mais velha percebesse, fez sinais para Mariana.

— Mal posso esperar para ver Darcy. – Mariana disse, com ares de apaixonada.

— O que? – Elisabeta engasgou na própria voz.

— Darcy. – Mariana sorriu. – Aquele homem lindo, sedutor, pai de uma menina linda.

— Eu sei quem é Darcy. – Elisa respondeu irritada. – Me pergunto o porque de você querer vê-lo.

Jane e Mariana trocaram um olhar cúmplice, soltando gargalhadas em seguida.

— Eu disse! – Jane bateu palmas.

— Eu não acredito! – Mariana correu para sentar-se na cama da irmã mais velha.

— Nos conte, Elisa!

— Do que estão falando? – ela levantou-se, ansiosa.

— Eu já havia notado que você estava evitando Darcy. – Jane sorriu.

— E ele não para de perguntar de você. – Mariana completou. – O que houve?

— Nada aconteceu. – Elisa esfregou as mãos. – Vocês estão imaginando coisas.

— Imaginando... – Jane começou. – Veja comigo, Mariana. Elisabeta e Darcy trocam farpas toda vez que se encontram...

— Apesar de Elisa amar a filha de Darcy. – Mariana apontou, sorrindo. – E então Lizzie adoece...

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— E Elisa vai cuidar dela, mas sai correndo da casa dos Bittencourt e agora evita qualquer aproximação. – Jane encarou Elisa com olhos curiosos.

— E pode ser que Charlotte tenha ou não visto um certo casal dormindo tranquilamente na mesma cama. – Mariana gargalhou.

— O QUE? – Elisa gritou. – Charlotte viu?

— Então é verdade!! – as duas exclamaram. – Nos conte, Elisa.

— Não há nada para contar. – ela soltou o ar, sentando-se novamente. – Eu adormeci com Lizzie no meu colo e quando acordei estava ao lado de Darcy. – ela escondeu o rosto.

— Como isso é possível? – Mariana zombou.

— Eu não sei. Eu não lembro de ver Darcy chegar e muito menos de mudar de posição dessa forma.

— E o que ele disse? – Jane quis saber.

— Nada. – as bochechas de Elisabeta coraram. – Mas em algum momento da manhã nós acordamos e trocamos olhares, e apenas voltamos a dormir.

— Eu não acredito! Elisa!! – Mariana gritou.

— Fale baixo! – ralhou.

— E como foi? Ele é mesmo tão cheiroso quanto parece?

Elisabeta preparou-se para cortar as perguntas, quando Jane fez seu coração sobressaltar.

— Você está apaixonada? – a mais romântica das Benedito perguntou.

Os olhos claros de Elisabeta se encheram de dúvidas. Seria possível se apaixonar por alguém de quem nem sabia se gostava? Mas seria possível que aquele breve momento fosse o suficiente para ela sentir-se solitária ao adormecer? Haveria outra explicação para que seus pensamentos voassem para Darcy a todo momento?

— Isso só complicaria as coisas. – sacramentou, encerrando o assunto.

As irmãs não perguntaram mais nada, mas após horas e horas de preparativos e tentativas, conseguiram convencer Elisabeta à comparecer ao jantar. Afinal, seu peito já doía de saudades de Lizzie e estaria segura na companhia das irmãs.

E Elisa não se arrependeu quando os olhos de Lizzie brilharam ao vê-la, muito menos quando a pequena a abraçou com o máximo de força que conseguia e disse que sentira sua falta. E precisou conter a culpa quando, logo em seguida, Lizzie disse que pensava que não a veria mais e que talvez Elisa não gostasse mais dela.

— Eu nunca deixaria de gostar de você. – Elisa disse, beijando os cabelos da menina.

— Como vai, Elisabeta? – a voz inconfundível de Darcy soou atrás de Elisa.

Ela levantou-se rapidamente, respirando fundo ao virar-se para vê-lo. Os olhos de Darcy a fitavam com intensidade, e Elisabeta sentiu o coração mais acelerado. Ele sorriu tranquilo, e por um momento Elisa pareceu estar hipnotizada.

— Senhor Williamson. – cumprimentou.

— Ora, já temos intimidade para que me chame de Darcy. – ele disse, sem perceber, e os dois desviaram o olhar, desconfortáveis. – E eu já havia pedido uma vez.

— É verdade, mas como o senhor faz sempre questão de me insultar de alguma forma, eu preferi continuar tratando-o formalmente. – ela arqueou uma sobrancelha.

— Elisabeta, Elisabeta, você é mesmo impossível. – Darcy sorriu abertamente, tirando o casaco de Elisa das mãos dela e o pendurando.

As recém chegadas cumprimentaram a todos, e não demorou muito para que fossem chamados à sala de refeições. Estavam na metade do jantar, discutindo amenidades, quando o vento começou a bater mais intensamente nas janelas e os trovões anunciaram um novo temporal à caminho.

Darcy e Elisabeta trocaram olhares durante quase todo o jantar. Sem querer se demoravam a desviar a atenção quando o outro parava de falar. E foi em um dos momentos de distração que Elisabeta foi pega de surpresa pelas palavras de Julieta, que aparentemente conversava com suas irmãs.

— Faço questão que fiquem. Eu não me sentiria tranquila de mandar três moças para casa neste tempo. – Julieta sorriu para Jane, e Elisabeta pela primeira vez viu sinceridade no gesto.

— Temos quartos o suficiente para acomodá-las. – Camilo sorriu, pedindo aos empregados que organizassem tudo logo em seguida.

Elisabeta estava prestes a dizer que não era necessário quando outro trovão, ainda mais alto, a impediu. E então uma sorridente Lizzie comemorou a presença das três Benedito em sua casa, a fez desistir completamente da ideia. Elisabeta nunca negaria nada à Lizzie, não importava o quanto tentasse.

Mais tarde sentaram-se todos na sala de estar, com a exceção de Julieta, que já se recolhera. Lizzie estava sentada no colo de Elisabeta, e Darcy sentado ao lado delas. Jane, Camilo e Mariana estavam envolvidos em algum debate sobre literatura, e Elisabeta prestava pouca atenção, distraída com o ritmo de sua mão nos cabelos de Elizabeth.

— Acho que está na hora de dormir, mocinha. – Darcy apontou para a filha, sonolenta.

— Eu não quero, papai. – reclamou.

— Mas está na hora. – ele sorriu.

— Elisa pode dormir no meu quarto? – perguntou esperançosa.

— Elisabeta vai dormir no quarto de hóspedes ao lado do seu. – Darcy explicou. – E amanhã quando acordar você poderá falar com ela.

Um pouco a contragosto, Lizzie seguiu o pai para o andar de cima. Era uma rotina de Darcy e Lizzie, e sempre que ele estava em casa a colocava para dormir, lia uma história para a pequena, e só quando ela estivesse profundamente adormecida é que rumava para seu quarto. Era uma rotina trabalhosa na maior parte dos dias, pois Lizzie ficava empolgada com as histórias e custava a dormir.

Mais tarde as três Benedito foram apresentadas à seus aposentos. Elisabeta despediu-se das irmãs e rumou para o outro lado da mansão, para o quarto ao lado do de Lizzie. Ao passar pela porta da pequena, entretanto, Elisa sentiu-se compelida a entrar. Não queria despertar Lizzie, mas era como se algo dissesse que precisava entrar. Temendo que algo ruim pudesse estar acontecendo, Elisabeta calmamente abriu a porta.

A visão que teve fez sua respiração pausar por alguns segundos. Lizzie já dormia, num sono pacífico e profundo. A seu lado, Darcy acariciava os cabelos da filha, os sapatos no chão, e o colete pendurado em uma cadeira. Ele estava apoiado na cabeceira da cama, o olhar sereno e cuidadoso, um livro esquecido em seu colo.

O olhar dele voltou-se para ela, e o olhar de espanto logo deu lugar para um sorriso aberto. Darcy inclinou-se para beijar os cabelos da filha, calçou os sapatos e desligou as luzes. Elisabeta o viu se aproximar ainda atordoada pela cena.

O corredor estava mal iluminado, mas os relâmpagos iluminavam o ambiente em intervalos quase constantes. Elisa deu espaço para que Darcy passasse, e ele fechou a porta atrás de si. A encarou ainda sorrindo, deixando Elisabeta cada vez mais desnorteada.

— Lizzie estava me falando sobre você. – ele a fitou.

— É mesmo? – sua voz saiu mais fraca do que o normal.

— Eu não sei que poder é esse que você tem sobre ela. – ele riu. – Me impressiona.

— Me assusta. – Elisabeta confessou. – É como se a todo momento eu estivesse preocupada com o bem estar dela, mesmo quando não estou por perto.

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Darcy deu um passo em direção a ela, sua mão encontrando o rosto de Elisabeta na penumbra. Quase não percebeu que ela fechou os olhos ao seu toque.

— Tem alguma coisa em você, Elisabeta. – ele disse em voz baixa. – Alguma coisa que encanta minha filha. Alguma coisa que me atrai para perto.

Um relâmpago iluminou um pouco mais o ambiente transitoriamente, e os dois pareceram se assustar com a proximidade que estavam. Seus olhos pareciam incapazes de se desconectar, suas respirações já se misturando.

— Algo bom? – Elisa perguntou.

Darcy não respondeu. Uma de suas mãos entrelaçou a cintura de Elisabeta a puxando para ele. Automaticamente as mãos de Elisa buscaram uma posição no corpo dele, repousando no pescoço de Darcy. Eles trocaram um último olhar antes de suas bocas se buscarem. Seus lábios se encontraram e as línguas se tocaram, e embora nenhum dos dois estivesse preparado para o arrepio que percorreu seus corpos, não fizeram menção de se separar.

Sua mão invadiu os cabelos de Elisabeta, e ela puxou seu rosto para um beijo ainda mais profundo. Darcy devorava sua boca como se sua vida dependesse daquilo, e Elisabeta nunca sentira-se tão entregue em toda sua vida. Seu corpo estava grudado ao de Darcy, mas quando ele mordeu de leve seu lábio, a realidade a atingiu.

Elisabeta se afastou abruptamente, seus olhos assustados nos dele inebriados. Foram apenas alguns segundos de olhar intenso e estudioso, antes que Elisabeta se aproximasse para mais um beijo. Dessa vez entrelaçou seus braços no pescoço dele, deixando-se levar quando Darcy a encostou levemente em uma das paredes.

Sua mão desceu para o braço dele, apertando o músculo para conter a vontade insaciável de tocá-lo. Darcy respondeu com um aperto ainda mais firme em sua cintura, a outra mão bagunçando seu penteado sem querer. Um trovão alto fez com que os dois se assustassem, se afastando rapidamente.

— O que você está fazendo? – ela perguntou, assustada.

— Eu? Você entrou no quarto de Lizzie e... – ele tentou se defender.

— Agora a culpa é minha? – Elisa tentou controlar a respiração.

— A senhorita precisa reagir assim? – Darcy também tentava respirar normalmente.

— E haveria outra forma de reagir a um ataque como esse? – ela cruzou os braços, tentando afastá-lo.

— Um ataque? Pois a senhorita parecia estar gostando. – ele deu um passo para trás.

— Pareceu errado. – mentiu.

— Então isso nos deixa iguais. E se me dá licença, vou me recolher. Boa noite, senhorita Benedito. – disse, formalmente.

Elisabeta não respondeu, apenas entrou o mais rápido que pode no quarto e jogou-se na cama. Se havia alguma dúvida em seu ser sobre o perigo de estar perto de Darcy, aquele beijo sanava todas. Precisava ficar longe, ou ele levaria seu coração e sua sanidade.

Darcy encostou-se na porta, levando as mãos à cabeça. Mal podia acreditar no que acabara de acontecer. Não pretendia que nada daquilo ocorresse. Nada bom poderia sair de envolver-se com uma pessoa com quem Lizzie tinha tanta afinidade, e ele tão pouco. Mas não lembrava-se da última vez que sentira-se tão vivo.