Guardei meus tênis, separei meu pijama e esperei o psicólogo sair do banho, enquanto brincava o com Tom e Jerry na sala, vendo um pouco de televisão ao mesmo tempo. Assim que ouvi a porta abrindo, fui para o corredor, me deparando com um Nathaniel renovado, literalmente.

— Até que as roupas caíram bem — comentei, o olhando dos pés à cabeça, o que o fez corar um pouco.

— Eu... achei essa roupa de baixo estranha.

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— Logo você se acostuma. Pendura a toalha lá na lavanderia, por favor? Preciso me lavar. — Entrei no banheiro e fui tomar meu banho rápido.

Lavei meu cabelo, coloquei meu pijama e saí. Segui o corredor, e antes de entrar na cozinha, vi Nathaniel de pé na sala, perto demais da tevê. Segurei o riso e fiquei ao seu lado, e o empurrei até se sentar no sofá.

— Você não pode ficar tão perto, ou pode prejudicar sua visão.

— E-eu estava tentando entender como funcionava... É como no cinema, mas... com uma qualidade surpreendentemente melhor.

— Se não me engano, o cinema é mudo e preto e branco, certo?

— Sim. As imagens são ruins, não é sempre que se consegue distinguir uma coisa da outra... Mas por esse... aparelho...

— É incrível, não é? Sabe, lembra quando você me perguntou sobre as coisas de onde eu morava, e eu não conseguia pensar em nada? — Ele afirmou. — Era nesse tipo de coisa que eu pensava. Não teria como te explicar sem parecer que eu imaginei.

— Agora eu entendo... Seria muito complicado de explicar.

— Sim, seria. — O deixei por uns instantes para pendurar a toalha e voltei. Peguei controle do aparador e me sentei ao seu lado. — Tem milhares de coisas para se assistir, mas nem sempre são coisas interessantes. — Fui trocando de canal até achar alguma coisa boa.

Acabei deixando em um filme de ação qualquer.

— Você está com fome? Ou com sono?

— Um pouco de sono, sim. — Seu olhar continuava vidrado na tela.

— Infelizmente eu não tenho um quarto de hóspedes igual a você, então vai ter que dormir aqui no sofá, tudo bem? Se ficar ruim posso te deixar com a minha cama e eu durmo aqui...

— Não, por favor, não se incomode. Eu durmo aqui sem problemas. — Me olhou alarmado.

— Hm... Ok, ok. Só vou pegar um travesseiro e uma coberta.

Fui ao quarto, peguei um dos meus cinco travesseiros e uma coberta fina e voltei a sala. Joguei as almofadas do sofá maior para o menor e deixei as coisas ali para ele ajeitar como quisesse.

— Bom, quando você decidir dormir, é só apertar esse botão apontando para a tevê. — Indiquei o botão de “desligar/ligar” do controle. — Que ela vai desligar. Qualquer coisa, pode me chamar no quarto, só que você vai ter que me cutucar, ou eu não acordo.

— Tem sono pesado? — Ele pareceu surpreso.

— Muito, ainda mais aqui em casa. Enfim... boa noite.

— Boa noite.

Tranquei a porta da entrada e fui dormir. Coloquei o celular para carregar, meus gatos se ajeitaram na cama comigo e eu caí no sono instantaneamente. Nos meus sonhos, eu ainda estava no passado, na pensão, com Denise e Oliver. Nós conversávamos e Oliver parecia feliz da vida, assim como Denise. Estávamos no salão de refeições, sentados à mesa.

De repente, ouvimos a campainha que ficava no balcão da recepção ser tocada. E pelo jeito, a pessoa estava impaciente para conseguir um quarto, já que não parava de tocá-la.

Alguém pode ir lá ver o que esse ser humano quer?

Não aguentei mais e fui até lá, não encontrando ninguém na recepção.

— Heloise? — Me virei, vendo Nathaniel ali, com as roupas modernas. Ele parecia preocupado com algo, ou até com medo.

O que aconteceu? Eu não...

— Heloise?!

Senti uma balançada no meu ombro e me sentei rapidamente.

— Que barulho é esse? — Nathaniel perguntou de pé ao lado da cama.

Eu mal o via no escuro, e parei para prestar atenção. A campainha estava tocando desesperadamente.

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Quem é o cretino que está tocando a minha campainha feito um maluco?!

Com raiva, joguei as cobertas para o lado e levantei. Fui para o corredor e acendi a luz, enquanto destranquei a porta, a escancarando e olhando para o ser com toda a raiva que habitava meu corpo.

— Heloise... você voltou! — Michel riu, como se não soubesse que deviam ser três horas da madrugada.

Travei o maxilar e respirei fundo. — O que você está fazendo aqui? — questionei lentamente.

— Helô, por favor. — Ele se aproximou. — Me perdoa, eu não consigo...

— Você vem me atormentar de madrugada e ainda vem pedir “por favor”? Por que você nunca se toca?! — Minha voz aumentou no final da frase e eu me contive. — Olha seu estado, não tem vergonha na cara de agir igual um adolescente? Vir aqui bêbado depois da balada suplicando?

Ele balançava a cabeça, negando. — Me desculpa, eu precisava falar com você, eu não aguento mais fingir que está tudo bem, eu sou um lixo de ser humano.

— Que bom que você sabe, agora me deixa em paz. — Tentei fechar a porta, mas ele a segurou.

— Me deixa explicar, por favor, você nunca me deixou explicar.

— E você acha que precisa de explicação? Depois do que eu vi? Seu cérebro deve ter ficado na casa daquela biscate, só pode.

— Não, Helô, por favor...

— Você não tem mais intimidade para me chamar de Helô, vaza daqui antes que...

— Heloise? — Ouvi Nathaniel atrás de mim. Os olhos desesperados de Michel foram parar em Nathaniel, e então ficaram incrédulos.

— O quê? Você já trouxe outro homem para sua casa...? Espera, essas roupas são minhas!

— Eram suas, agora são minhas e eu faço o que eu quiser com elas.

— Quem é você? Por que você está aqui? — falava com o loiro como se ele fosse o intruso.

Nathaniel olhou para mim e eu suspirei.

— Eu vou te dar cinco segundos para ir embora, ou eu vou quebrar o seu nariz de novo.

Michel tampou o nariz em um movimento rápido, me olhando alarmado. — Mas... por favor.

— Não tem por favor nenhum. Você morreu para mim, entendeu?

— Eu te amo, Heloise, por favor, me dê uma chance de...

— Ah, me ama? Aposto que não pensou nisso quando estava transando com a Jessye, não é?

— Não fala desse jeito.

— Ah, o que você quer que eu fale? Que você não pensou nisso quando estava fazendo amor com ela? — falei sorrindo, cheia de sarcasmo.

Michel abriu e fechou a boca duas vezes, sem saber o que falar. Sua feição ficou enraivecida. — Você vai se arrepender disso, Heloise.

— Como ousa falar assim com uma dama? — Nathaniel ficou na minha frente.

— Ninguém te chamou para a conversa, seu idiota.

— Ela já disse que não te quer aqui, não ouviu?

— Não se intromete, estou falando com essa vadia ingrata!

Eu só consegui ver o braço de Nathaniel levantando, e no outro segundo um estalo alto, e Michel foi para o chão com tudo.

— Não se aproxime de Heloise, ouviu? — O loiro advertiu, com raiva. — Se ela não acabar com você, com certeza eu acabo.

Fiquei uns segundos em choque. Nunca esperaria algo assim dele. O puxei pelo braço para que eu conseguisse ver Michel no chão, com a mão na cara.

— É melhor que você suma daqui agora, ou eu chamo a polícia. E se você vier de novo, pode ter certeza que vai ficar preso por muito tempo.

Fechei a porta antes que eu quisesse socar ele e tranquei com a chave. Encostei a testa na madeira e soltei o ar pela boca. Me virei, vendo Nathaniel me observando.

— Não precisava ter socado ele — falei, cansada.

— Não, ele merecia. — Olhou a mão, a fechando e abrindo. — Nunca se deve falar com uma mulher daquele jeito. Eu não ia aguentar mais uma palavra daquele ser desprezível.

Dei um sorriso mínimo. — Obrigada. — Segurei sua mão, vendo se tinha acontecido algo. — Está doendo?

— Só incomodando.

— Melhor colocar gelo. Vem. — O puxei pelo pulso até a cozinha e o fiz se sentar na cadeira.

Peguei alguns cubos de gelo no freezer e coloquei em um pano de prato, fazendo uma trouxinha, e o fiz esticar a mão na mesa. Deixei o gelo em cima dos nós dos dedos.

— Segura, vai ajudar a não ficar roxo. — Me sentei na outra cadeira de frente a ele. — Estou achando que você ficou com inveja dos meus hematomas na mão — brinquei.

Ele sorriu. — Talvez, quem sabe? Queria ser um herói também.

— Então conseguiu, parabéns. — O loiro riu. — Foi legal o que você fez. Obrigada.

— Por nada... Eu me pergunto como ele conseguiu entrar...

Revirei os olhos, passando as mãos no rosto. — Eu devo ter esquecido de tirar o nome dele da lista na portaria, e o porteiro da noite é novo, então... não sabe os rolos que aconteceram.

Nathaniel afirmou com um leve aceno de cabeça, pensativo. — Acho que nunca te vi tão irritada quanto agora a pouco.

— Bom, é... quer me deixar irritada é só fazer escândalo e ser um completo babaca, como aquele cara foi.

De repente, Nathaniel riu e o olhei, curiosa. — Você... tinha dito que quebraria o nariz dele de novo... Fiquei me perguntando como foi a primeira vez.

Eu ri, meio sem graça. — Ah... Naquela vez foi sem querer. Dessa vez eu quebraria com muito gosto.

— Como a senhorita é violenta. — Sorriu, divertido.

— Só quando precisa. — Dei de ombros.

Ele ficou uns segundos em silêncio, me olhando. Então encarou a trouxinha de gelo. — Acho... que a ficha está caindo agora.

— Não tenha um treco, por favor.

— Um treco? — Me olhou confuso.

— Não desmaie, não surte ou algo do tipo.

— Ah... Tudo bem, acho que não irei surtar, não se preocupe.

Esperei o gelo derreter, deixei o pano secando e o fiz se deitar no sofá. Completei os potes de comida dos gatos com ração, depois voltei para a minha cama e dormi.