À Procura de Adeline Legrand

Jantar nos Riviere


— E quem disse que eu sinto algo por ela? — retrucou, baixo.

— Você acha que me engana depois daquela cara que fez? — Ri.

— A conversa não era sobre mim, e sim sobre você e Neville. — Desviou o olhar.

— Já dei minha proposta. Pode ficar aí pensando se aceita ou não. — Desviei dele e fui ao banheiro. Lavei as mãos depois de usar e sai, dando de cara com ele ali me esperando.

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— Sabe, ele não é tão bonito quanto eu, mas também não é de se jogar fora — comentou, despreocupadamente. — Só quero saber por que não o quer.

— Nunca disse que não o quero, só não posso ficar com ele.

— Morar longe é desculpa agora? Nicollas está noivo de uma moça que mora na Itália.

Cruzei os braços, pensando. — Você quer tanto assim que eu seja da família? — Sorri, adorando a provocação.

Ele suspirou, ficando impaciente. — Dá para responder sem enrolação?

— Você também está de enrolação.

Ficamos os dois nos encarando, até que ouvimos alguém entrando e olhamos ao mesmo tempo, vendo Neville fechando a porta, nos observando.

— Nev, estávamos falando de você. — Castiel falou, com um dos cantos da boca erguido.

— É mesmo? — Neville questionou, parecendo desinteressado, como se já soubesse que o irmão mais novo estava prestes a falar besteira.

— Sim, alguém disse que você é o melhor pé de valsa que já viu.

Suspirei, olhando para ele e balancei a cabeça.

Ele não tinha jeito.

— Conta outra, Castiel. — Neville falou meio rindo, indo para o final do corredor.

— Espera aí...

Aproveitei a deixa e escapuli para o quarto de Clarisse de volta. As duas me olharam.

— Por que demorou tanto? — Denise perguntou. — Se perdeu?

— Não, Castiel que veio encher meu saco por causa de Neville.

— Ah não... O que ele falou? — Clarisse levantou, prestes a ir tirar satisfação. — Ele não tem noção nenhuma mesmo...

— Calma, não se preocupe. Ele estava só querendo me provocar. — A puxei de volta para o lugar, me sentando também.

— Mesmo assim. Parece que ele não pensa antes de falar.

— E vai continuar assim, se já chegou nessa idade e não mudou, não muda mais. — Dei risada, tentando descontrair.

Ela riu. — Então espero que ele case e saia logo de casa. Sinto um pouco de pena da futura esposa dele.

Segurei o riso e olhei para Denise, que fazia uma cara estranha. Ouvimos toques na porta e ela foi aberta.

— Oi, meninas! — Justine colocou a cabeça para dentro do quarto. — Falando sobre meninos?

— Mãe! — Clarisse ficou corada, fazendo sua mãe rir.

— O que foi? É algo totalmente normal quando se está entre amigas, minha querida.

— É, mas não precisa falar assim.

Ela riu mais. — Tudo bem. Será que eu poderia pedir ajuda para fazer o jantar?

Em prontidão, me levantei, recebendo um baita de um sorriso. As outras duas me imitaram, e saímos para a cozinha. A conversa variou entre muitos assuntos conforme cortávamos legumes, carnes e cozinhávamos tudo. Depois de um tempo, estava pronto e arrumamos a enorme mesa de jantar.

Denise e eu fomos lavar nossas mãos enquanto Clarisse ia chamar seus irmãos para comer. Logo, estávamos todos à mesa, nos servindo e comendo.

— Você cozinha muito bem, Heloise. — Denise falou, repetindo o prato que fiz.

— É mesmo, está uma delícia. — Justine concordou. — Aprendeu com sua mãe a cozinhar?

— Não, aprendi com meu pai e minha avó. Minha mãe não sabe cozinhar.

Justine ficou surpresa e riu. — Como uma mãe não sabe cozinhar?

— Meu pai cozinhava para nós. E ela ficava responsável pela louça, depois — comentei, divertida.

— Uau... que diferente. E seu pai não achava ruim de ter que cozinhar depois de chegar do trabalho?

— Não, ele adora cozinhar. Na minha casa nunca fomos muito padronizados com isso de que só as mulheres fazem as tarefas domésticas. Todas as tarefas são divididas igualmente.

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— Ouviram isso, rapazes? — Justine se animou. — Deviam seguir o exemplo.

— Não dá ideia, Heloise. — Castiel resmungou, brincando.

Sua mãe lhe lançou um olhar rápido. — E quando você se casar? Será que seu futuro marido concordará em ajudar?

Vi Clarisse a olhando de canto de olho, talvez imaginando que minha resposta poderia não ser bem recebida.

— Bom, não sei. Espero muito que ele seja prestativo. Não posso aceitar um marido que não me ajude. — Entrei na onda, para não ficar feio.

— Olha, não tenho o que reclamar do meu marido. — Segurou a mão de Maurice por cima da mesa. — Ele sempre me ajudou em tudo o que podia, assim como meus filhos.

— Menos o Castiel. — Herve comentou, fingindo prestar atenção em sua comida.

— Ele é o bebê da mamãe, nunca que ela o colocaria para varrer o chão. — Nicollas disse, rindo.

— Não fale besteira, eu já varri o chão muitas vezes — retrucou Castiel.

— Sim, duas. — Neville falou, com o garfo a caminho da boca.

— Que droga, será que podem mudar de assunto? — Castiel fechou a cara. Todos acabaram rindo e assim o assunto mudou.

— Então, Heloise... — Justine continuou. — Clarisse me disse que não é daqui.

Ih, lá vem esse papo. — Sim, não sou. Estou aqui para visitar uma amiga, mas ela está viajando. Chegará essa semana, pelo que soube por sua mãe.

— E pretende ficar ainda quanto tempo?

— Hm, realmente não sei. Depende da saudade que sentir de casa.

— Quem sabe você não arranja o marido prestativo que tanto quer, por aqui.

Percebi Clarisse e Denise trocando olhares discretos.

— Eu não pretendo arranjar um marido tão longe de onde moro. E por enquanto não quero me comprometer, não enquanto estou viajando e fazendo coisas.

Justine fez uma cara um tanto surpresa, e ao mesmo tempo parecia pensar em algo para responder.

— Eu devia ter feito uma sobremesa — disse Clarisse de repente, querendo desviar o assunto. — Deu uma vontade de comer doce agora.

— Verdade — concordou Maurice. — E como está a receita nova, Lisse? — A chamou pelo apelido.

— Está indo bem, descobri como deixar o recheio mais cremoso...

E o assunto da receita continuou enquanto terminávamos de comer. Depois, Justine deixou Neville, Herve e Nicollas responsáveis pela louça.

Já passavam das nove da noite, e percebi que Denise estava ficando sonolenta.

— Acho melhor irmos embora — anunciei, levantando. — Está tarde.

— Castiel, as acompanhe. — Justine pediu. — Por mais que seja perto, continua sendo perigoso.

— Não precisa, são dez passos apenas.

— Não é esforço nenhum para mim. — Castiel disse, levantando também. — Garotinhas não devem andar sozinhas à noite.

— Não somos garotinhas.

— Claro que são.

— Tudo bem, Heloise, Castiel vai com vocês. — Justine afirmou.

Suspirei, vendo a cara de vitorioso de Castiel. — Certo, certo. Obrigada pela refeição.

— Não há de quê! Venham sempre que puderem.

Denise se levantou e Clarisse nos acompanhou até a porta.

— Obrigada por virem. Nos vemos amanhã.

— Claro, até amanhã.

Seguimos Castiel escada abaixo, indo direto para a rua. Estava escuro, já que a luz dos postes não era o suficiente para iluminar totalmente a extensão da rua.

— Fiquem perto. — Castiel falou, olhando para os lados enquanto andava para frente.

Deixei Denise ao meu lado direito e seguimos logo atrás. Demos alguns passos, e percebi que Castiel iria atravessar a rua.

— Me solta! — Me virei no mesmo instante que ouvi Denise falando alto.

Um homem a segurava pelo braço, provavelmente estava escondido no beco que passamos em frente. Meu coração acelerou com a adrenalina, e um segundo depois corri em direção a eles.

Só de chegar perto pude perceber que o homem estava bêbado, devido ao cheiro de cigarro e álcool. Puxei um de seus punhos, que segurava o ombro de Denise e fiz com que se virasse de frente para mim. Levantei a mão em punho e a levei para trás.

Usando a força do corpo, soquei o supercílio esquerdo do cara com toda a minha força, o fazendo soltar Denise e ir para trás com o impacto, batendo na parede. A garrafa que ele segurava na outra mão se espatifou contra a parede de tijolos, e mesmo desorientado, se ergueu, jogando seu peso para frente e veio em minha direção.

Com o mesmo movimento, levei o punho para trás, fiquei bem os pés no chão e, quando o sujeito estava perto o suficiente, só levei a mão para a frente, entrando em contato com a barriga dele, exatamente onde estava o diafragma.

O próprio peso do homem, mais a força que usei, que não foi muita, foi o suficiente para ele parar na hora e ficar com falta de ar. Saiu um som estranho de sua garganta, já que ele não conseguia respirar, e aí caiu para o lado, se curvando e abraçando o próprio tronco.

— Você está bem? — Segurei o braço de Denise, que olhava assustada para o homem no chão.

— S-sim, estou. — Me olhou com os olhos arregalados. — C-como você fez isso?

— Autodefesa. Finalmente consegui usar esses golpes. — Ri, meio de nervoso, meio de felicidade.

O cara continuava tentando respirar, fazendo sons estranhos.

Puxei Denise, a lembrando de continuar a andar, e mais perto do que antes, vi Castiel nos olhando espantado.

Eu não podia negar, adorava quando ficavam tão surpresos comigo quando eu fazia algo assim.

— Vai ficar aí parado? — perguntei, enquanto passava por ele e atravessei a rua.