Card Captor Chronicle

Capítulo 16 - Flagra


— Você tem certeza de que é por aqui?
— Está… me chamando.

A Princesa Sakura murmurava, andando por uma rua parcialmente destruída. Não parecia escutar Li. Era como se estivesse em uma espécie de transe, que aparentemente só acontecia quando a pena estava próxima. Felizmente não foram atacados. Li chegou a um ponto de desistir de falar com ela, visto que a garota não respondia. Depois de caminhar por alguns minutos sem nenhum destino aparente, os dois viraram em uma rua e encontraram Kurogane e Sakura.

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— Sakura! — Li adiantou-se, feliz em ver que a garota parecia bem — O que aconteceu? Aquela coisa te atacou?
— Não, ela não atacou a mim — ela se aproximou alguns passos do garoto, visivelmente aliviada em ver que ele estava inteiro — E você? pensei que tinha sido devorado…
— Aparentemente aquilo só me levou para outra parte da cidade — Li respondeu.
— Ainda bem… que bom que você está bem…
— Ei, isso não é motivo para chorar! — Li exclamou alarmado ao ver que a menina tinha começado a enxugar o canto dos olhos — Você deveria ficar feliz!
— Eu sei, mas é que… eu fiquei preocupada…
— Ah, pelo amor de Deus, você também não! — Kurogane exclamou, interrompendo-os bruscamente — Garoto, você que estava junto com a Princesa, será que pode dizer o que aconteceu com ela? — ele indagou. Só então notaram que Kurogane a segurava por um dos braços, impedindo-a de continuar vagando sozinha por aí.
— Ah, sim… ela estava murmurando sobre alguma coisa a estar chamando, e ficou andando sozinha por aí. Como eu não fazia ideia de onde deveria ir, apenas a segui — Li explicou.
— "Algo a estava chamando", é? - Kurogane repetiu — Então a pena deve estar por perto.
— Aliás, por que vocês dois estavam juntos? — Li perguntou. Sakura e Kurogane eram a pior combinação de dupla que ele conseguia imaginar.
— Depois que você foi levado aconteceram algumas coisas e eu fui procurar a Carta sozinha. Encontrei o Kurogane-san no meio do caminho — Sakura explicou. Ela parecia concordar com ele mesmo sem precisar dizer isso em voz alta. Estava visivelmente aliviada por ter outra pessoa com quem conversar.
— E parece que aquilo tem outro objetivo além de devorar essa cidade — Kurogane falou sombrio — Nos separar.
— Agora que você mencionou… onde estão os outros? — Li perguntou.
— Deixei o mago idiota tomando conta da amiguinha de vocês. Mas não sei onde o garoto está — Kurogane respondeu sem encará-lo. Não queria demonstrar, mas estava preocupado com Syaoran.
— Syaoran-kun…? — a Princesa chamou de repente — Onde…?
— Oh, você despertou do transe? — Kurogane perguntou, levemente interessado — Significa que a presença da pena desapareceu de novo, não é?
— Kurogane-san… — ela chamou, surpresa em vê-lo ali — Sim… eu senti a pena agora a pouco, e… não me lembro do que aconteceu depois, mas não consigo mais senti-la — a garota explicou. Kurogane enfim soltou seu braço. Não parecia que ela sairia andando sem rumo outra vez — Onde está o Syaoran-kun e os outros?
— Ele…
— Princesa! — como se tivesse ouvido seu chamado, Syaoran veio correndo na direção dela. Mais atrás, Fye o seguia, junto com Tomoyo, que já tinha acordado e parecia ter voltado ao normal.
— Esse aí não morre nem tão cedo — Kero riu.
— Princesa Sakura, você está bem? Se machucou? — Syaoran perguntou, segurando as mãos dela.
— Estou bem — ela respondeu — Fiquei com um pouco de medo quando fui separada dos outros, mas percebi que o Li-kun tinha ido parar no mesmo lugar que eu.
— É mesmo? — Syaoran olhou para o garoto parecido om ele, que o encarava de volta, meio que na defensiva.
— Não me lembro de muita coisa na verdade — a Princesa explicou, aparentemente sem perceber o clima tenso — Senti a presença da pena agora a pouco e parece que vaguei na direção dela, mas a pena desapareceu outra vez — ela contou.
— Entendo — Syaoran ainda encarava o outro garoto. Notou então como ele estava próximo de Sakura e como a garota segurava a manga de sua roupa, parecendo preocupada. Os dois provavelmente também tinham sido separados. Aquilo era realmente uma bobagem. Não havia motivo para ele se preocupar. Syaoran suspirou, percebendo o quanto estava sendo tolo - Obrigado por cuidar da Princesa — ele disse finalmente.
— Ah… não foi nada - Li respondeu, surpreso com as palavras dele. Pensou que o garoto teria outro acesso de raiva, mas pelo jeito ele já tinha compreendido a situação. Que, não importa o quanto as duas garotas fossem parecidas, era apenas de Sakura Kinomoto que ele gostava.
— Tomoyo-chan — Sakura chamou hesitante, aproximando-se alguns passos da amiga — Você… você está bem?
— Estou ótima — a garota sorriu — Lamento ter desmaiado em um momento tão importante. Pode deixar que vou filmar tudo daqui para a frente, Sakura-chan!
— Não é isso. Eu quero dizer…
— Sakura-chan — Fye inclinou-se e murmurou para ela — Agora não é o melhor momento para conversar sobre isso. Por enquanto, é melhor fingir que nada aconteceu.
— Não se preocupe, Sakura-chan. Fye-san cuidou de mim, eu já me sinto bem melhor. Ele foi muito gentil filmando parte da batalha para mim aliás, mas essa é a minha especialidade! — Tomoyo sorriu para a amiga — Sinto muito por não ter entregado a pena antes. Mas prometo que não vou fraquejar outra vez e vou filmar todos os seus movimentos enquanto estiver em ação!
— Certo… obrigada, eu acho — Sakura riu sem graça. Se Tomoyo já estava empolgada assim, então já devia ter voltado ao normal.
— Como assim? — Syaoran perguntou — Você viu a pena?
— Sim — Tomoyo sorriu sem jeito — Eu estive com ela por alguns instantes, mas…
— Uma Carta! — Sakura interrompeu bruscamente.

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Ela tinha razão. Ao mesmo tempo em que a presença da Carta apareceu, o ser que andava devorando a cidade enfim se materializou. Uma criatura preta-arroxeada enorme, que se assemelhava a um monte de gosma, com braços curtos e grossos. Os olhos eram vermelhos e pequenos, e ela devorava prédios a alguns metros dali enquanto se arrastava como uma lesma.

— É aquilo? — Kurogane perguntou — Que bicho horroroso.
— Geralmente elas não possuem uma aparência tão assustadora — Sakura disse mais para si mesma. O que estava acontecendo com aquela Carta? A maioria delas possuíam uma aparência feminina. Às vezes pareciam-se de fato com objetos, porém objetos pequenos, como um cadeado ou uma espada. Mas aquela figura era enorme e aterrorizante - Não importa. Preciso capturá-la de qualquer jeito.
— Ah, então é isso que você faz?

Sakura ouviu uma voz terrivelmente familiar e, quando virou-se, seu pior medo tinha se concretizado: Touya estava diante dela, vendo-a com o Báculo Mágico em mãos e uma Carta extremamente chamativa ao fundo. Não havia como inventar uma explicação lógica para isso. Sakura o encarou temerosa durante vários segundos, até que notou que tinha sido Yue quem levou seu irmão até ali.

— Yue? — ela exclamou incrédula — Por que trouxe meu irmão até aqui? Você sabe que ele não…
— Não coloque a culpa nele — Touya interrompeu — Eu já sabia de tudo. Apenas pedi que ele me trouxesse até aqui. Como ele tem asas, seria mais rápido.
— Você… já sabia…? — Sakura recuou alguns passos e o rapaz confirmou com um aceno de cabeça — Quando você diz que "já sabia de tudo"… quer dizer tudo o que…?
— Descobri basicamente tudo. Que você tem poderes especiais. Que ele é o Yukito — apontou para Yue — Que esse bicho amarelo fala…
— Ei! Eu não sou um "bicho amarelo"! — Kero ofendeu-se.
— Você não é humano. E é amarelo — Touya respondeu como se isso resolvesse a questão. Ignorou os protestos de Kero e voltou-se outra vez para a irmã — E sei também que esses seus novos amigos não são desse mundo — ele olhou para os quatro viajantes e seus olhos repousaram na Princesa Sakura. Ela era fisicamente idêntica à sua irmã. Mas, olhando as duas de perto, dava para notar que a outra garota era mais alta e parecia ser um pouco mais frágil do que ela.
— Essa última parte meio que é minha culpa. Desculpe — Syaoran coçou atrás da cabeça sem graça, mas Sakura não pareceu ouvi-lo. Ainda estava tentando absorver toda aquela informação. Touya sabia a verdade. Sabia que ela tinha poderes, sobre Yue e Kero… e ela esteve tentando esconder isso de sua família o tempo todo, tentando mantê-los longe dos perigos do mundo da magia, mas foi em vão. Céus, há quanto tempo será que ele sabia sobre isso?
— Ei! Lamento pelo drama familiar de vocês dois, mas aquela coisa está vindo! — a voz de Kurogane trouxe Sakura de volta para a realidade. Ele tinha razão, a criatura tinha desistido de devorar os prédios e estava se aproximando lentamente deles — Shouryuusen! — Kurogane sacou a espada e atacou a criatura, tão rápido que eles só conseguiram ver um clarão sendo lançado na direção dela.

A coisa que devia ser a Carta gritou de dor, mas aquilo só pareceu tê-la deixado ainda mais zangada. Ela continuou se aproximando, agora mais rápido. Kurogane saiu do caminho dela para não ser pisoteado. Infelizmente, Sakura não conseguiu ser tão rápida. Sentiu apenas alguma coisa erguendo-a e, quando se deu conta, estava voando a alguns metros acima do grupo. Olhou para baixo e viu que Kero tinha assumido sua verdadeira forma, e agora a carregava, planando no ar. Porém o que mais surpreendeu a menina foi que, de alguma forma, Touya também tinha montado nele e estava sentado atrás dela.

— Ei! Mas o que você pensa que está fazendo? — Kero exclamou, indignado por Touya ter montado nele, aparentemente sem permissão.
— Olha só, então quer dizer que você pode se transformar também — Touya comentou impressionado — É, até que você é útil.
— É claro que sou útil! — Kero exclamou — Agora saia de cima de mim, vamos! — ele começou a chacoalhar de um lado para o outro, tentando derrubar o rapaz.
— Se continuar se mexendo tanto assim pode acabar derrubando a Sakura — Touya avisou. Realmente, ele estava se segurando bem, mas Sakura estava com dificuldades para se equilibrar. Na verdade, se o irmão não a estivesse segurando, ela provavelmente já teria caído. Kero teve que se conformar em carregar o peso extra — Então… é esse tipo de coisa que você tem que matar?
— Tenho que capturar, na verdade — Sakura corrigiu. Ainda se sentia culpada por ter escondido tudo aquilo de Touya, quando ele mesmo já tinha descoberto a verdade sabe-se lá como. E também não fazia ideia de como ficaria o convívio entre eles dali para a frente — Sinto muito por ter escondido isso de você… achei que, se contasse, estaria te colocando em perigo…
— Bem, eu também não queria que você corresse perigo — Touya a cortou. Ele olhou brevemente para baixo, onde os outros estavam — Você contou até para a Tomoyo. Podia ter contado para mim também.
— Eu não pretendia contar para ela, isso foi um acidente — ela se apressou a dizer — Eu realmente não…
— Sakura — Kero chamou — Segure-se!

Ele mal avisou e girou bruscamente para o lado momentos antes da Carta avançar na direção onde eles estavam, abocanhando os restos de um prédio no lugar deles. Em seguida cuspiu uma bola de fogo contra a ela, fazendo-a recuar um passo, mas sabia que estava apenas atrasando a Carta por alguns instantes, então voou na direção contrária o mais depressa que conseguiu.

— Sakura — Touya chamou — Aquele grupo de viajantes… eles estavam procurando um item específico, certo? Uma pena?
— Isso mesmo. Como você sabe?
— Eu a vi dentro da boca daquela coisa antes desse bicho amarelo atirar nela — seu irmão informou — Esse monstro enorme engoliu a pena que eles estão procurando.
— O que? — Sakura exclamou incrédula, virando-se para encará-lo com os olhos arregalados. Não pode ser… Touya devia ter se enganado. Uma Carta não poderia absorver uma coisa tão poderosa como a pena da Princesa.

Mas… pensando bem, até que fazia sentido. Sempre que sentiam a presença da pena, ela desaparecia e reaparecia em outro lugar, como se estivesse sendo transportada por alguma coisa… não, transportada não. Devorada. E também nenhuma Carta foi tão poderosa e assustadora quanto essa. Se essa pena fosse tão poderosa quanto os viajantes disseram, então a Carta devia estar usando os poderes dela para destruir a cidade.

— Se a Carta realmente devorou a pena, então precisamos avisar a Princesa e os outros — Sakura respondeu por fim — Eles precisam… ah! - ela gritou quando a Carta tentou devorá-los mais uma vez.

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Quando foi que a Carta chegou tão perto? E agora ela estava… a Carta estava tentando sugá-los? Ela não estava apenas abocanhando os objetos ao redor deles, também conseguia sugar tudo ao seu redor. Parece que, quanto mais coisas devorava, mais o seu poder aumentava. Sakura preparou seu Báculo em uma tentativa desesperada de capturá-la de uma vez. Sabia que suas chances eram mínimas, pois desconhecia os poderes daquela pena. Mas ela não conseguiu. E não foi por ter falhado ou por ter perdido a coragem, mas foi porque Touya não deixou. Ele chutou Kero de um lado, forçando-o a se virar de costas para a Carta e continuar voando para longe dela mesmo depois de ter soltado uma exclamação de dor por causa do pontapé. Kero virou a cabeça para xingá-lo, mas, quando percebeu o que o rapaz pretendia fazer, recuou de volta para o chão o mais rápido que conseguiu, ao mesmo tempo em que Yue voava na direção contrária e Sakura chamava pelo nome do irmão.

Kero pousou em segurança perto dos outros e Sakura desceu, sem tirar os olhos de Touya. Ele ia ser devorado… era por isso que ela não queria contar sobre sua magia para ninguém! Viu o rapaz sendo sugado pela Carta, ela abocanhando suas pernas e, antes que o engolisse por completo, Yue segurou sua mão.

— Foi por isso que eu disse para você não vir — Yue falou, tentando puxá-lo de volta — Eu disse que seria perigoso.
— Eu precisava ver com meus próprios olhos em que tipo de confusão a Sakura estava se metendo — Touya forçou um sorriso.
— Humanos e sua curiosidade — Yue resmungou — Se você for devorado, minha Mestra vai chorar. Yukito ficará triste também. E será tudo por sua culpa.
— Desculpe por causar tantos problemas — Touya respondeu — E você, Yue? Não vai ficar triste se eu for devorado?

Yue não respondeu. Porque, antes que pudesse formular alguma resposta, a Carta aumentou seu poder de sucção e devorou os dois de uma vez só.