The Juvia's Secret

Capítulo I – Flores e Chuva


Nove pessoas estavam ao redor da cripta, todos em silêncio apenas encarando os dizeres escritos em letra cursiva e bem trabalhada, um suave vento frio fazia o farfalhar das folhas das poucas árvores ser uma melodia triste.

— Gray? – Natsu colocou a mão sobre o ombro do amigo – As tulipas são muito bonitas – Não havia muito o que dizer, todos os anos era a mesma coisa, mas o silêncio também não era mais uma opção.

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— Obrigado.

— Ainda me pergunto como Juvia podia gostar tanto de chuva – Erza comentou encarando o céu que se preparava para deixar cair ainda mais água.

— Ela dizia que a fazia lembrar dos momentos felizes da infância, que as coisas boas sempre aconteciam em dias chuvosos – Lucy falou com um sorriso. Gray praticamente sentiu uma pontada em seu peito ao escutar a amiga.

Eles haviam se conhecido em um dia chuvoso. Ela havia sido tirada dele em um dia chuvoso.

Mais um momento de silêncio, Gray encarou o filho com pesar, tinha certeza que Juvia estaria magoada com o relacionamento que os dois tinham, mas não podia evitar, não sabia como encarar o garoto ou como conversar com ele, desde a morte da esposa a única coisa que ele havia se acostumado era com a própria dor, o resto eram apenas vultos passando por ele, os únicos que não se afastaram, foram os amigos de sempre e seus pais.

— Por que não janta conosco Gray? – Natsu novamente colocou a mão sobre o ombro do moreno – Yuki estará lá em casa e Lucy fará ratatouille.

Gray encarou o amigo que exibia um sorriso singelo e contido, sabia que Natsu só estava tentando animá-lo, como sempre tentou pelos últimos cinco anos. Suspirou e encarou o filho novamente, Yuki fingia que ele não estava ali, ignorava sua presença por completo. Não queria que o dia de hoje fosse ainda mais difícil para o filho e sabia que sua presença faria isso ficar pior.

— Hoje não Natsu, deixa para uma próxima – Sorriu fraco para o homem que concordou em silêncio e deu um suave aperto em seu ombro, Lucy sorriu doce e também acenou com a cabeça.

Aos poucos todos foram se retirando, Levy fora a única que dera um abraço em Gray, ela sempre fizera isso, ele não recusava. Ao passar por ele Yuki abaixou a cabeça, Gray apenas o seguiu com os olhos, sabia que era um covarde por não tomar nenhuma atitude quanto ao filho, mas seu medo e dor eram maiores do que ele mesmo gostaria de admitir. Se amaldiçoou por isso.

Esperou que todos fossem embora, ficou sozinho naquela necrópole encarando o tumulo da única pessoa que já amou e que amaria. Como que por ironia, a chuva voltara, dessa vez apenas um chuvisqueiro incomodo.

Não evitou de sorrir, apesar de agora odiar dias de chuva, não pôde deixar de lembrar das palavras de Lucy. Juvia realmente amava a chuva, para ela, coisas boas aconteciam em dias de chuva e ele acreditava nisso até antes.

Conhecera Juvia em um dia de chuva, quando havia ido buscar seu irmão mais novo no colégio e então trombou com uma garota de exóticos cabelos azuis correndo com um sorriso maroto no rosto e um olhar travesso, daquele momento em diante, escolheu amar a chuva junto com quem amava.

Porém, cinco anos antes isso mudou, quando depois de uma semana desaparecida a notícia de que Juvia, sua esposa fora encontrada morta a beira do mar. Era um dia chuvoso.

Cinco anos antes – 5 de dezembro de 2013.

Há uma semana Juvia estava completamente desaparecida. Como de costume, ela havia saído para levar Yuki até a escola e então iria para empresa do marido, onde era a chefe do departamento de pesquisa e desenvolvimento. Mas naquele dia, uma semana antes, isso não havia acontecido, ela largara o menino de apenas dez anos no colégio, porém, não chegou a ir para empresa.

No final do dia, Gray já estava desesperado e havia ligado para todos os amigos e conhecidos do casal, nada. Erza já tinha um posto elevado na polícia e junto com Jellal e Gajeel começou a procurar pela mulher. No outro dia encontraram o carro de Juvia próximo ao porto, em um beco, o sedan azul marinho estava com a chave na ignição e alguns papéis que a azulada usava no trabalho ainda se encontravam sobre o banco do carona, assim como o celular pessoal da mesma.

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Questionaram a possibilidade de um sequestro, já que Juvia era casada com Gray e possuía o sobrenome mais rico da cidade, porém, nenhum pedido de resgate foi feito dentro de uma semana. Ninguém a viu aquele dia no cais e nenhuma notícia de que possam tê-la visto durante os dias que se seguiram, mesmo com um cartaz e uma gorda recompensa para quem desse qualquer informação válida sobre a mulher.

Gray não queria, mas já estava começando a pensar no pior, não aguentava ver seu filho perguntar aonde estava a mãe e não ter uma resposta. Há dois dias o havia mandado para ficar com Natsu e Lucy, tinha certeza que eles saberiam lidar melhor com a situação e com Yuki.

Chovia naquele dia e Gray tinha a sensação de que saberia algo, hoje. Juvia gostava de chuva, ela amava acordar de manhã e ver o dia chuvoso, levantar e ir até a sacada, apenas para sentir as gotas frias tocarem sua pele, foi por isso que Gray havia mandado reformar o quarto do casal e instalar um jardim descoberto na enorme sacada, Juvia amava flores e chuva e vê-la sorrir como uma criança cada vez que ia regar suas flores ou sentir o cheiro da chuva o fazia se sentir o homem mais sortudo do mundo, apenas por tê-la.

Perto do fim do dia, escutou batidas na porta, foi ansioso receber quem quer que fosse, porém, toda sua excitação caiu por terra assim que dera de cara com Erza aos prantos parada em frente à porta. Todo o profissionalismo que ela demonstrava como policial foi abaixo ao dizer para o amigo que haviam encontrado o corpo de Juvia na beira do mar.

Seu mundo desabou ali mesmo, sentiu o ar lhe faltar e o peito apertar tal como se uma tonelada de ferro estivesse o esmagando. Não chorou, não gritou, não falou.

Apenas acompanhou Erza e Jellal que foram o caminho inteiro desculpando-se pela situação que ele teria de passar a seguir. O Tenente responsável exigiu que um membro direto da família fosse reconhecer o corpo, mesmo com Erza, Jellal e Gajeel sendo amigos próximos e afirmando com pesar de quem era.

Os policiais e a equipe forense ainda não haviam removido o corpo do local encontrado, apenas o cobriram com um pano branco. Assim que desceu do carro, Gray pode sentir o cheiro fétido de podre e quase vomitou ali mesmo, não podia acreditar que aquele cheiro vinha da mulher que ele amava, porém, ao aproximar-se mais no monte coberto pelo pano branco, o cheiro ficava ainda mais forte, um dos policiais ergueu o tecido, revelando o corpo em alto estágio de decomposição.

Aquela não podia ser sua mulher, aquele monte de carne podre não podia ser aquela que amava todos os dias por mais de dez anos. Entretanto, o jaleco verde claro com o logo da empresa e o nome “Juvia L. Fullbuster – Bióloga” e o inconfundível cabelo azul claro que tanto amava e que agora estava coberto por algas e sujeira, era a confirmação que faltava, além disso lembrava das roupas que ela havia colocado naquele dia, a blusa preta e justa o fizera babar ao vê-la descendo as escadas da casa e o sorriso travesso que ela lhe dera assim que o viu, estava aos poucos sendo apagada pela imagem do rosto deformado e irreconhecível que ele enxergava agora.

Não aguentou mais as náuseas a acabou vomitando assim que virou para o lado, teve certeza que aquele cheiro ficaria impregnado em suas narinas para sempre.

Atualmente

Desde aquele dia, Gray não comera mais carne, a ideia de ter algo que possa ficar putrefato o trazia náuseas e tonturas, fora o cheiro que ficara tatuado em sua mente.

Encarou o jazigo mais uma vez, passou os dedos sobre a pedra fria e sentiu uma lágrima solitária escorrer por sua bochecha, não se incomodou em limpá-la, nunca se incomodou de chorar em frente da esposa e não seria agora que ficaria envergonhado. Juvia era seu porto seguro e salvação, por ela faria tudo e diria tudo. A chuva engrossou e o terno preto já estava empapado, não se incomodou. Observou as flores espalhadas delicadamente sobre o tumulo, sorriu ao ver a única flor branca ajeitada cuidadosamente sobre o nome ali escrito, sabia que aquela rosa branca era de Yuki, branco significa pureza e tranquilidade e Juvia tinha rosas brancas plantadas na sacada do quarto e um pé no quarto de Yuki, pois a mesma havia dito ao filho que a flor iria lhe trazer sorte e paz.

Suspirou e também saiu dali a passos lentos, entrou no carro sem se importar de encharcar o estofado de couro. Tomou uma longa respiração antes de dar a partida e voltar para a empresa, já era fim do dia, mas não queria voltar para casa.

{...}

Natsu era dono de um restaurante no centro da cidade, ele e Lucy administravam um pequeno e caseiro lugar que era conhecido de famílias locais que procuravam um cantinho para passar com quem amam e com amigos. O lugar tinha sua fama e era bastante frequentado, porém, todos os anos, no mesmo dia, não abria as portas.

Lucy cozinhava concentrada na cozinha de casa, já havia derramado muitas lágrimas durante o dia e não queria deixar as crianças ainda mais agitadas, ainda mais com Yuki ali. Encarou o marido e os dois filhos, Nashi e Luke, brincarem de um jogo qualquer com Yuki, o garoto sorria às vezes, mas Lucy sabia que não era sorrisos genuínos, suspirou. Yuki era como seu próprio filho, tinha a mesma idade que Nashi e foi criado junto com ela, mesmo antes do que acontecera com Juvia, ele passava muito tempo em sua casa.

Após a morte de Juvia, Gray praticamente desistiu de viver e consequentemente desistiu de cuidar do filho, Lucy e Natsu passaram a tomar conta do garoto sempre que possível.

Mesmo sem poder julgar, Lucy culpava Gray pela atitude, ela sabia que ele se importava com o filho, mas também sabia que ele havia criado uma grossa camada de autoproteção e isso impedia que ele deixasse qualquer um se aproximar, incluindo o próprio filho.

— O jantar está pronto – Gritou para os quatro que estavam na sala, Natsu sorriu e bateu as mãos com o filho mais novo.

— Temos só legumes? – Luke perguntou desapontado ao ver o prato à base de legumes e vegetais sobre a mesa.

— Sim, e você vai comer garotinho – Apontou o dedo em riste para o filho que apenas fez uma carranca e sentou-se.

Todos acomodaram-se e então se serviram, Yuki estava mais quieto que o habitual e Lucy sentia-se mal por isso, gostaria de poder tirar a dor que o garoto estava sentindo. Lhe serviu um copo de suco de laranja e sorriu.

— Amanhã é quinta-feira, vocês têm ensaio certo?

Nashi e Yuki tinham uma banda com mais três amigos e eles ensaiavam na garagem dos Dragneel toda quinta-feira depois da escola, apesar de terem apenas quinze anos, eles eram bons e já haviam participado de algumas apresentações relativamente grandes.

— Sim, vamos começar a ensaiar uma música nova – Nashi falou animada – Reik compôs ela semana passada.

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Yuki deu uma risadinha – Ele brigou com a Nora novamente e isso o inspirou a fazer mais uma letra.

— O Fernandes é igual a mãe dele, Erza também ficava toda melodramática quando brigava com Jellal – Natsu riu e deu uma boa garfada em um pedaço de berinjela. Ele odiava ratatouille, por um momento amaldiçoou Gray por ter recusado vir jantar, pois Lucy só havia preparado o prato na esperança que o moreno aparecesse.

Yuki sorriu com o comentário do tio de consideração. Para falar a verdade, Natsu estava mais para um pai de consideração. Nos últimos cinco anos o mais velho havia feito todo o papel que um pai de verdade deveria fazer, o ensinou a se barbear, foi em seus jogos de baseball e torceu como um maluco, no ano passado resolver ter a constrangedora conversa sobre garotas, já que na mesma época Reik havia começado a namorar, enfim, Yuki tinha certa inveja de Nashi e Luke por terem um pai tão legal.

Seu pai era um idiota egoísta, desde que sua mãe morrera, ele agia como um estranho, dificilmente parava em casa, não sorria mais, quando estavam juntos o máximo que ele fazia era perguntar como tinha sido o dia, mesmo que tivessem passados dias sem se falarem.

Yuki sentia muita falta da mãe, Juvia era a melhor mãe que alguém poderia ter, apesar de perde-la com dez anos, ele lembrava dela muito bem. Lembrava de todas as vezes que ela o colocara para dormir e contava alguma história boba de conto de fadas e então lhe dava um beijo na testa dizendo que o amava. Ela não cozinhava muito bem, mas sabia fazer doces e bolos como ninguém, em todos os seus aniversários, quem fizera o bolo fora sua mãe e todos os anos ela dava um jeito de fazer um confeito diferente. Lembrava das flores também, Juvia amava flores e se pudesse tinha várias plantadas por toda a casa, Yuki também gostava de flores, ele tinha em seu quarto uma roseira branca plantada em um vaso ao lado de sua cama, apesar de não admitir em voz alta, o garoto voltava com mais frequência em casa para que a planta não morresse do que para ver o pai. Yuki sentia falta da mãe a todo momento e o dia de hoje só tornava isso tudo pior.

Suspirou e afastou o prato vazio, ele sabia que Lucy o encarava discretamente vez ou outra, mas resolveu ignorar, amava a loira como uma mãe, mas não estava com disposição para conversas e consolo, na verdade, só queria poder deitar em seu quarto, que mesmo não sendo seu quarto oficial, era o de hospedes de Natsu e Lucy, mas que com o passar dos anos, ele encarava como dele, estava até mesmo pensando em trazer sua roseira branca para cá.

Encarou Nashi e Luke fazerem uma breve guerra de azeitonas e colheres, até que Natsu pegou os talheres e deu um peteleco nos dois, sorriu com isso e pensou que aqueles eram a única família que ele tinha, além dos avós. Yuki nunca desejou tanto que sua mãe estivesse ali, encarou Nashi rir do pai que havia colocado duas azeitonas nas narinas e as arremessava para tentar acertar o copo. Ele gostava quando Nashi sorria.