Faziam cinco anos desde aquele dia, cinco anos sem sorrir, cinco anos sem viver. Gray sabia que aquele seria um dia difícil e não estava nem um pouco disposto a aguentá-lo, porém, sabia que seria inevitável.

Para manter a rotina, chovia. 5 de dezembro, há cinco anos nesse mesmo dia sempre chovia, o dia amanhecia frio e cinzento e então as grossas gotas de água molhavam a cidade, gotas gélidas e profundas. Gray sempre gostara de chuva, ela o acalmava, porém, há cinco anos, isso mudou, chuva passou a ser símbolo de dor, era a materialização do seu sofrimento e das lembranças de um dia que ficou gravado em sua memória, seu coração e em todos os seus sentidos.

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Certo de que não poderia mais evitar, levantou da cama, ainda era cedo, porém, como não havia dormido durante à noite, não fazia muita diferença. Não se preocupou em colocar roupas, sabia que estaria sozinho na mansão. O único filho, Yuki, estava na casa de Natsu, sabia que o garoto não gostava de passar o dia de hoje sozinho e muito menos na companhia do pai.

Gray desceu as longas escadas de madeira envernizada, não se preocupou em acender as luzes, mesmo com a penumbra, pois ainda com o raiar do sol, as densas nuvens de chuva encobriam qualquer traço de luz, literalmente. Chegou à cozinha e bebericou um copo de suco, apenas para que o analgésico para dor de cabeça descesse melhor. Encarou o relógio sobre a bancada, 6:15, ainda era cedo, mas a ideia de ficar mais tempo dentro daquela casa fria e solitária o matava. Iria para empresa, desse modo tiraria os pensamentos sombrios sobre o lugar que teria de ir mais tarde.

Fullbuster Tecnologia e Desenvolvimento, o grande logo refletia exuberante o céu negro, sobre os dezoito andares do prédio mais alto em Magnólia. Não havia muitos funcionários a esse horário, apenas vigias e alguns faxineiros. Apesar de odiar o olhar que todos o dirigiram assim que entrou, retribuiu com um aceno todos os cumprimentos pesarosos que recebeu.

Subiu até o último andar a tempo de ver o primeiro raio cortar o céu da cidade e então uma chuva torrencial despencar pelas casas e prédios abaixo, com um grunhido, fechou as cortinas do escritório, a algum tempo tinha vontade de retirar aquelas grandes janelas de vidro que cobriam do chão ao teto, hoje nunca se arrependera mais de não ter posto sua ideia em prática.

As horas arrastaram-se durante o dia, mesmo sem querer, Gray não parava de encarar o relógio de pulso. Era chegada a hora, levantou com um peso nas costas e no peito, acenou para secretária que lhe dirigiu o mesmo olhar desprezível que todos hoje.

Dirigiu com calma pela cidade, o limpador de para-brisas era o único barulho que ele havia focado, seus pensamentos estavam em combustão, como em todos os anos. Parou em uma pequena banca de flores, a velha senhora já o conhecia, ele frequentava aquele lugar por mais de quinze anos e sempre fazia o mesmo pedido, um buquê de tulipas azuis, era uma flor incomum, poucas floriculturas na cidade a tinham para venda, porém, a senhora dona da banca já conhecia o moreno a alguns anos e sabia do porquê das flores nessa época do ano e por isso mantinha reservado um singelo buquê já preparado. Gray era grato por isso, após pagar e agradecer a idosa, voltou para o carro, percorreu mais alguns metros e por fim chegou ao seu destino.

Reconheceu os carros parados em frente ao que parecia um jardim murado, mas que na verdade guardava algumas gerações da família Fullbuster em túmulos bem requintados e imponentes.

Desceu do carro e agradeceu aos céus por ter parado de chover, mesmo que o tempo ainda permanecesse escuro e frio. Respirou fundo e marchou com o buquê em mãos, a cada passo dado seu peito parecia apertar cada vez mais, de longe pode ver a pequena movimentação de pessoas ao redor de um dos jazigos. Todos conversavam baixinho entre si, Lucy e Levy choravam baixinho apoiadas nos maridos. Um pouco mais próximo da estátua de um anjo esculpido sobre a lapide, Yuki conversava com Nashi, como sempre, o garoto estava sério e não demonstrava qualquer tipo de emoção.

Gray respirou fundo e finalmente aproximou-se, os amigos o encaravam, porém, nenhum deles o lançava o clássico olhar de pesar e condolências e ele era agradecido por isso. O tumulo cinza já estava cercado de flores, todas azuis, a cor preferida da pessoa que ali descansava, Gray aspirou brevemente o aroma das tulipas em suas mãos e então as depositou em um vaso que sempre recebia as mesmas flores. Com toda a coragem que reunia a cada ano, pelos últimos cinco anos, ergueu o olhar até a inscrição sobre a pedra fria.

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Juvia Lockser Fullbuster

10.09.1983 – 05.12.2013

Amada mãe, esposa e amiga.