Because I am a Girl

Capítulo 3


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Mais uma aula se passou sem nada de ruim acontecer – e intimamente agradecia. A academia tinha cada vez mais alunos e precisei, nos verões anteriores, contratar pedreiros para expandir o tamanho dela para compor mais gente. Mesmo após quase nove anos, me pergunto: é verdade que consegui? Ok, vocês não estão entendendo. Vou explicar. Vamos voltar exatos oito anos e dez meses ao tempo.

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Após a partida de Edward, fiquei mais confusa ainda. Digamos que a ideia de voltar a dançar martelava em minha cabeça e por mais que eu tentasse, não conseguia expulsá-la. Por fim, agoniada com a situação, decidi que apenas uma vez faria alguns exercícios e montaria sequências. Tirei minha sapatilha do fundo do armário, afastei os móveis do meu quarto – ninguém estava em casa nesse dia – e me exercitei.

- Ótimo. Matei a saudade. Não será necessário usá-las novamente.

Até parece. Passei aquela semana inteira praticamente tão agoniada quanto antes. Não aguentei e apanhei a sapatilha de novo – junto com o sapato e a saia de dança espanhola. Por fim, ensaiava sempre que podia. É claro, longe dos olhos de minha mãe e minhas tias. Na verdade, a única quem soube disso foi tia Angel, mas... Ela me ajudou a esconder. Isso aí, titia! Aprendeu direitinho com vovô!

Dois meses se passaram e eu continuava ensaiando, tanto na minha casa quanto na das minhas duas amigas. Por fim, fiz um teste. Inscrevi-me para uma audição que, caso o candidato passasse, ingressaria em uma faculdade de dança. E não é que passei, gente?! Nem eu acreditei. Precisei me beliscar cinco vezes e ter plena certeza de que o papel que recebi de lá era verdadeiro. E, é claro, confirmar se não havia tido um engano.

Nem preciso dizer que Angel quase chorou ao contar-lhe a novidade e minha mãe também se alegrou. O problema foi quando Victoria chegou. Olha... Gente, eu tenho que perguntar. Por favor, me respondam. Como uma pessoa só pode passar os meses seguintes falando da mesma coisa? E o pior, somente de forma negativa? Dessa vez até eu me surpreendi com ela – um feito e tanto.

Depois de muito quebra pacapá e da casa quase cair em nossas cabeças, consegui viajar e ir para a faculdade. Nossa, gente, foi maravilhoso! Ok, eu tive um pouco de dificuldade, porém... Era um sonho que estava se realizando. E não abriria mão daquilo.

Tudo ia bem. Quase me matava nas aulas práticas, estudava pra aula teórica... Até que foi necessário o meu retorno à Forks. O motivo? Victória estava no hospital por causa de câncer. Pra mim foi uma grande surpresa, já que a mulher tem uma saúde melhor do que a de todos nós juntos. Porém... Ah, senhoras e senhores, sempre há um “porém”. Após os médicos e a psicóloga conversarem com ela, logo descobriram a quantidade e a intensidade de sentimentos negativos que Victoria trazia consigo. A coisa se tornou tão grande com o passar dos anos ao ponto dela ver a vida somente nas cores preta e cinza. Praticamente não havia lado positivo nas situações e em nada e isso se acumulou nela ao ponto das pessoas se afastarem, até sobrar somente a família. Após o diálogo, os médicos tiveram uma conversa profunda conosco, perguntando sobre a vida e a trajetória de Victoria.

Por fim, um deles indagou:

- Houve algum caso de estupro ou abuso na família?

- Absolutamente nenhum. – negou minha mãe veementemente – Com nenhuma de nós. Perdoe-me, mas qual o motivo da pergunta?

A médica loira respondeu:

- Ela abordava muito esse assunto relacionado à sua filha. Dizia que se preocupava com Bella sair na rua sozinha, que poderia ser violentada, assaltada e uma série de outras coisas. Também reclamou bastante das três.

- Como assim? – como estávamos em uma roda e minha mãe ao meu lado, segurei-lhe o braço.

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- Disse que a menina dava um grande trabalho, que vocês não a amavam e nunca faziam nada para agradá-la. E que grande parte dos problemas dela adivinha da mais nova. Em todo o momento se colocava na posição de vítima e, da forma como falava, comecei a duvidar se era verdade. Bem, pelo menos para a forma como ela agia com vocês.

- Na verdade, minha irmã sempre foi assim. – relatou tia Ângela – Sempre foi muito nervosa e com um gênio terrível. Embora percebêssemos que podia se tratar de um caso patológico, insistimos em se tratar com uma psicóloga. Incentivamos, até. Infelizmente, nunca aceitou. Dizia que não precisava e que não era necessária nenhuma intervenção. Acabamos desistindo da ideia. Foi quando minha sobrinha nasceu.

- Um bom ponto a se levar em consideração. – o homem de óculos falou pela primeira vez – Por que ela diz que você é louca, Isabella?

- Não sei. – respondi com sinceridade – Tive alguns problemas pra dormir quando criança e era um pouco hiperativa, mas, além disso, nada de demais. E também depressão anos mais tarde porque sofria bullying na escola e problemas em casa. Na verdade, nunca entendi o motivo de Victoria me maltratar...

- Ela não a maltratava, filha...

- Deixa de querer ver somente o que quer, Renée! – interrompeu a outra com rispidez – A maltratava e humilhava, sim! Presenciei várias situações. É nossa irmã, mas não pude manter-me cega pelo bem de Bella.

- E qual seria o motivo desse comportamento hostil?

- Não sabemos muito bem como explicar. – prosseguiu a morena antes que minha mãe abrisse a boca – Afirmava que minha sobrinha era louca, dentre inúmeras outros adjetivos ruins. Victoria é uma pessoa extremamente difícil de lidar. E quanto ao que falou sobre não a agradarmos, a própria então quem nunca via as nossas tentativas para agradá-la. Levava como coisas frívolas ou sem importância. Tratava como se fosse nossa obrigação e jamais reconhecia.

- E por que tantas perguntas? – perguntei curiosa.

- Pra confirmar o meu temor. Ela não tem nenhum sintoma físico. Pelo o que pude notar, adoeceu de tantos sentimentos ruins.

- Como?

- Conhecem o câncer? Um dos motivos para as células cancerígenas surgirem é o sentimento de rancor. Victoria tem de sobra, fora outros.

- Desculpe, porém não consigo entender a analogia.

- Senhora Swan – esclareceu o médico – a sua irmã não tem nenhuma doença física. Na verdade, tudo o que ela sente de ruim está sumarizando no corpo, e esse é o motivo da doença dela. Fisicamente, não há nada de errado. Agora, a mentalidade dela está extremamente comprometida graças aos sentimentos, fazendo o corpo definhar e provocando o surgimento dessas células.

- Em outras palavras – simplificou a psicóloga – cheguei à conclusão de que tão amargurada, desenvolveu a doença.

A semana se passou e nada de haver uma melhora na saúde de minha tia. Ela piorava com uma rapidez que até eu, quem não entendia muito sobre o assunto, me surpreendi.

Uma noite minha mãe e Angel estavam na lanchonete do hospital. Portanto, fiquei no quarto com Victoria.

- Mais um livro de histórias malucas. – falou entre dentes deitada no leito – Quando aprenderá a se focar na realidade?

- Por que acha que leio? Também pra me transportar para outros lugares além desse quarto. – murmurei.

- Como disse?

- Nada. – descansei meu braço nos joelhos. Estava sentada confortavelmente num sofá que ficava ao lado da porta – Sente-se melhor?

- Tendo a sensação de que a vida está lhe escapando pelos poros do corpo? É claro que não. – respondeu com dificuldade. Logo depois, soltou uma baforada que, em outros tempos, teria sido um riso – Fale a verdade, vocês todas sentirão felizes sem a minha presença.

- Como assim?

- Droga, imbecil, nunca entende nada! – gritou – A família que me compreendia Deus levou! Deus levou a família que me compreendia!

Juro, por um momento eu pensei que ela estaria mais maleável.

- Se refere à quem? Meus avós?

- Sim. Minha mãe era a única quem me amava.

- Não. Suas irmãs a amam, também. Do contrário não ficariam aqui por tanto tempo.

Após um minuto completo de silencio, prosseguiu:

- Nunca amaram.

- Por que diz isso? – precisei fechar o livro para me concentrar no que estava sendo dito.

- É a verdade.

- Victoria, mesmo com problemas financeiros minha mãe comprou uma casa de praia somente para agradar você. Como não pode ver o quanto tenta agradar?

- É a pura obrigação dela. Praticamente a criei, as três. – frisou e encarou-me com mais energia – Conte-me a verdade. Você é outra quem nunca gostou de mim, né?

- Melhor não responder certas perguntas.

- Responda-me logo, maluca!

Encarei o chão e murmurei:

- Quando passa mais de dez anos da sua vida acreditando ser louca somente por causa do que te dizem dentro de casa e mais ninguém é contra, mesmo sendo uma mentira... Acredita em absolutamente todos os inúmeros insultos, inclusive de que não era e nem nunca seria alguém na vida... Chega a entrar em depressão e a se machucar propositalmente por causa disso... Como posso amar a pessoa quem fez isso comigo? – ergui a cabeça com os olhos marejados – Por que me contou tantas mentiras? Nunca fiz nada contra você.

- Não são mentiras. É a pura verdade.

Naquele dia percebi uma coisa. Nunca me envergonharia da forma como vejo a vida e continuaria com o meu jeito de ser. Queria levar a vida de uma forma leve e divertida, onde eu risse dos meus problemas. Não queria me tornar tão amargurada e negativa a esse ponto. Não vale a pena.

Victória morreu uma semana e meia depois disso.

Retornei para a faculdade e me formei. Olha... Se quiserem colocar um I Believe I Can Fly pra tocar aí em minha homenagem, ponha na felicidade. O motivo? Quase me matei de tanto ensaiar e estudar naqueles anos. Quando não estava nas aulas, passava o maior tempo possível no meu dormitório melhorando minha técnica. Quando recebi meu diploma, vi minhas duas amigas erguendo um cartaz escrito “É PRA GLORIFICAR DE PÉ, IGREJA!”. Quase deixo o capelo cair de tanto rir.

Oito anos e dez meses depois.

No final das aulas de segunda e quarta na tarde me deixavam de cabelo em pé. O motivo? Tenta controlar cerca de trinta crianças sem ajuda nenhuma. Sacaram, né?

Bem, de uma forma ou de outra, aquela tarde foi um tanto... Curiosa. Bem, como sempre, segurei as mãos das meninas enquanto fazia o possível para entregá-las aos respectivos pais. A última menina, quem chamávamos de Nessie – e era filha de EMMETT e Rosalie, pequeno detalhe –, escapou dos meus dedos e literalmente saiu correndo. No meio da pequenina multidão – acreditem, esse foi um eufemismo extremo – formada em minha frente, vi a silhueta de um homem segurando a menina no colo. Um maluco desconhecido na minha academia, segurando uma das MINHAS alunas? Meus pequenos bebês? De jeito nenhum!

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Decidida, literalmente corri até o homem. De tão ensandecida, não notei que aquele cabelo era familiar. Próxima o suficiente, segurei-o pelo ombro – precisei ficar de meia ponta já que o filho da puta era bem mais alto – e proferi:

- Quem pensa que é para pegar uma criança que não é sua?!

Ele se virou devagar e aí tudo parou subitamente. O motivo? Eu conhecia aqueles olhos, cabelos com um curioso tom de cobre e rosto há alguns anos.

- Oi, Bella. Quanto tempo.

- Santo Cristo!

Por um momento esqueci como se falava e meu coração batia a toda contra o meu peito. Pisquei uma, duas, três vezes para notar que não era uma alucinação. Não satisfeita, pisei no meu próprio pé. AI! Maldita sapatilha de ponta que usava nas aulas anteriores. Sempre deixavam meus dedos extremamente sensíveis e... Espera aí. Não era alucinação! Se doeu, Edward estava realmente parado bem na minha frente, segurando Nessie no colo. Ai, santo Cristo! Alguém traga um calmante! Por que o homem não me avisou com antecedência que viria aqui? Eu teria me preparado emocional, psico e fisicamente! O motivo de fisicamente? Eu estava de Maria Chiquinha, levemente descabelada e ainda por cima, com uma roupa toda rosa! Isso mesmo! Collant rosa, meia calça rosa, sapatilha rosa e saia rosa! Até as chuchinhas eram rosa!

- Tia Ed, acho que a tia Bella está passando mal. – a menininha falou.

- Por que, minha linda? – a pôs no chão.

- Está com a mesma cara de quem vai vomitar.

- É só de quem está prestes a desmaiar, mesmo. – murmurei.

- Que?

- Nada. – menti e pus um sorriso no rosto para disfarçar o nervosismo – Não sabia que daria um pulo aqui em Forks.

- Sério? Toda a minha família sabia. – estranhou em tom de voz confuso.

- Então se eles sabiam, Rose e Alice também, né?

- Sim.

Aquelas vacas traidoras! Me segura se não vou dar na cara delas! Agora entendo o motivo de terem tantos segredinhos e trocarem olhares cúmplices. Estavam tramando para eu ter uma pequena surpresa – ou infarto, melhor dizendo – quando visse Edward bem na minha frente. Eu teria me arrumado melhor se tivessem me informado, poxa! Olha só! Pareço uma cópia extremamente malfeita da Barbie bailarina!

- Então... – procurei afastar a minha revolta para prolongar aquele momento – O que faz por aqui?

- Estou pensando em me aposentar.

- Tão cedo? Pensei que gostasse de se apresentar nos concertos. Tocou até com Il Volo, certo? Não vejo motivos para parar com a carreira agora.

- Não mentirei, gosto muito. E sentirei falta quando parar.

- Então por que quer desistir da carreira?

- Titio, posso brincar um pouco com as meninas ali? – Nessie apontou para um grupinho de meninas brincando em rodinha e sentadas no chão.

- Claro.

Assim que saiu correndo em direção à elas, Edward voltou os olhos para mim e prosseguiu:

- Sinto falta de muitas coisas que deixei para trás. Só venho em datas comemorativas, e mesmo assim passo menos de seis dias.

Com uma centelha de esperança brotando em meu intimo – a qual não deveria surgir em hipótese alguma –, indaguei:

- Quais coisas exatamente você sente falta?

- Sobretudo, minha família. – um sorriso torto se formou nos lábios – Perdi muito do desenvolvimento do meu irmão caçula. Só fui descobrir quase um mês depois do namoro dele com Alice. Os amigos que construí também estão incluídos. – pode ter sido minha imaginação fértil, mas juro que vi uma chama diferente nos olhos dele – Principalmente aqueles tão especiais.

Do nada – caso não tenham percebido, as coisas acontecem praticamente do nada comigo – apareceu lá da puta que pariu – só pode, gente! Até agora quero saber de onde aquela vadia surgiu porque não vi – uma mulher meio... Deixe-me descrevê-la. Vestido negro justo no busto marcando bem a silhueta de modelo encorpada o qual nunca terei, com um batom vermelho e maquiagem discreta no resto do rosto. Os cabelos estavam soltos em ondas. Ao todo... Senti-me profundamente envergonhada pela minha aparência e inferior àquela mulher.

- Caro, Laurent insiste em falar contigo ao telefone. – o sotaque italiano lhe era forte.

Caro? Pêra aí. Deixe-me raciocinar. Caro em italiano, se não me engano, significa “querido”. Se ela o chamou de querido, sinal de que tem uma forte ligação com o meu... Quero dizer, com Edward. Se tiver uma forte ligação com Edward, então estão em um relacionamento de adultos. Ou seja, há carícias íntimas. Ai, como sinto saudade de estar com ele assim, de ser tocada assim por ele...

Ah, quer saber? Não sou santinha, não! Durante o meu namoro com Edward fiz várias coisas. Não posso citá-las porque a classificação dessa fic não permite que eu mencione essas paradas. E sinceramente? Não me arrependo de nada, mesmo tendo terminado como terminou. Não há arrependimento porque fui respeitada e também nos amávamos. Era recíproco o sentimento. E garotas... Em nome de Deus, não transem com um cara que conheceram há poucas semanas. Deem tempo ao tempo. Conheçam-no primeiro, assim como a família. Ok, não é da noite para o dia que isso acontece, porém o melhor é assim. A possibilidade para arrependimentos futuros é menor. E de preferência, que amem a pessoa e saibam que ele a ama de volta.

- Tânia, agora não posso. – respondeu com impaciência – Vim passar duas semanas com a minha família. Há quase três anos não estou ao lado deles, caramba. É pedir demais um pouco de compreensão?

- O entendo, meu caro, mas... – passou o dedo pela bochecha – Ele não fica feliz.

- Por favor, lhe diga que não posso. Sinto muito, mas recuso a oferta de mais sete meses em turnê.

- Ok.

Só então a mulher notou minha presença. Arqueou as sobrancelhas em um misto de surpresa e desaprovação e proferiu em uma voz carregada de asco:

- Bela escolha de trajes. Combina perfeitamente com... – apontou para a minha cabeça – esse penteado.

Antes de ir, beijou a face do homem proferindo:

- Nos vemos mais tarde, meu querido.

Imediatamente, arranjei uma desculpa qualquer para me afastar.

No domingo da mesma semana...

Alice levantou daquele banco. Por ser pequena, conseguia se esgueirar em vários lugares. Contudo, após quase duas horas ali, não conseguia mais achar nenhuma posição confortável. Conversando com a amiga no telefone, se encaminhou distraída para a entrada da academia de dança.

— Que música é essa?

- To Love you more. Celine Dion. – respondeu roendo a unha.

— E quem é a criatura quem pôs essa música tão alta?

- Bella. Quem mais poderia ser? – sentou na cadeira em frente ao computador e o ligou.

— E porque diabos ela estaria ouvindo essa música? – ao fundo dava para escutar os risos das crianças.

- É uma pequenina história. Em resumo, Edward apareceu aqui na academia.

- Espera um minuto. Como foi isso? Sem dúvida tem a ver com o fato de ela estar ouvindo essa música. – a baixinha não sabia, mas Rosalie se dividia entre cuidar dos dois filhos pequenos e preparar o almoço.

- Acertou, amiga. Sabe o que aconteceu? O problema não foi o cara ter vindo, e sim o fato de uma morena vir com ele.

- Quem é essa mulher?

- Só sei o nome. Tânia. Pelo o que pude entender, tem um relacionamento com Edward.

— Ai, droga. Agora você está com ela ouvindo músicas tristes pra caramba que tem alguma ligação com ela, o ex e Tânia, né?

- Hey! Você não tem do que reclamar. Eu que tive de acordar às sete da manhã num domingo para não deixar Isabella aqui sozinha. – talhou.

— Como assim?

- Você a conhece. Bellinha veio sete e meia pra cá e está até agora trancada naquela sala.

— Deixe-me adivinhar. Só toca música de tristeza envolvendo amores acabados, certo?

- Exato.

De tão distraída naquele momento, não notou que alguém entrara no local.

- Sinceramente, não esperava que estivesse em um relacionamento. Quer dizer, pelo o que Emmett e Jasper nos informaram, ainda pensava nela.

— Talvez tenhamos interpretado errado.

- Talvez. – mordeu o lábio e sentiu uma mão tocando-lhe o ombro. Retirou-a em um único movimento.

- Não faz sentido. Eles podem ser um pouco relapsos quanto a algumas coisas, mas nunca afirmaram algo sobre o irmão que não fosse verdade.

- Isso é. Ah, é provável que tenham se confundido. Conhece os homens. É difícil para notarem sentimentos.

— Se fosse você, Lice, rapidinho teria notado.

- Sem dúvida!

Mais uma vez a mão lhe tocou o ombro. Já começava a se aborrecer.

- Rose...

Não aguentou quando foi tocada pela terceira vez. Contrariada, gritou:

- Não vê que estou ocupada no telef... – interrompeu a fala ao se deparar com quem estava em sua frente – Santo Cristo.

- Não sei por que estão sempre me chamando assim. – Edward disse confuso.

— Alice? Alice, que houve? – a voz da loira soou.

- Depois conto o babado, amiga. Preciso desligar. – colocou o celular na mesa, levantou da cadeira e prosseguiu – Surpresa agradável. Que faz aqui? – abriu um sorriso estonteante.

- Fui à casa de Bella e estava trancada. Pensei que estaria aqui.

- Acertou! Vou avisá-la.

Enquanto subia as escadas, parou e disse:

- A espere aí. Não me siga.

Depois daquele maravilhoso encontro com Edward – sim, usei um enorme eufemismo na oração – fiquei o resto do tempo pensando nele. Ok, já tive outros relacionamentos e o que tive ao lado dele foi há muito tempo, mas... Sinto saudade. Por um lado queria ser realista e crer que nada voltaria a ser como antes em relação à Edward. Por outro... Torcia para o seguinte: me puxar pelo braço, agarrar-me e beijar minha boca até perdermos o fôlego e pedir pra voltar para ele. É, não vai acontecer...

Resultado desse meu pequeno problema? Trancafiar-me em uma sala de dança com uma playlist maravilhosa. As músicas? It’s all coming back to me now, Because i am a girl, Stay with me, Thinking of You e Maldita Suerte. Não é tão triste, né? Deixe-me colocar uma pequena parte de duas músicas aqui.

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Maldita suerte: maldito o momento em que te fiz meu. Se diz adeus e te amo, todavia. Maldita a vontade de voltar a te ver se já te perdi. Maldita sorte de te querer ainda que caia o mundo. Viver para você, morrer cada segundo. Maldita a hora em que nós prometemos alcançar o céu e o céu se desabou. Deus sabe que te adoro e te adorarei, talvez não foi o bastante, talvez me equivoquei.

A Drop in the ocean: Uma gota no oceano, uma mudança na estação. Eu estava orando para que você e eu pudéssemos terminar juntos. É como desejar pela chuva enquanto fico no deserto. Mas estou te segurando o mais próximo que posso porque você é meu paraíso. Eu não quero perder o fim de semana. Se não me ama, finja.

Entendeu o drama da pessoa aqui, né?

E foi justamente ao som dessa música que Alice literalmente escancarou a porta. Obviamente só descobri isso depois. Por que? Estava sentada no chão, cercada de chocolate, a música o mais alto que seria possível para qualquer ser humano aguentar e olhos fechados enquanto mastigava um pedaço de chocolate. Só abri os olhos quando abaixaram significativamente o volume.

- Bella, quais músicas são essas? – a baixinha franziu o cenho ao ler os títulos escolhidos por mim – Eita, sofrência da porra. Quem acha que Pablo é triste, é porque ainda não a conheceu.

- Não é a primeira pessoa quem me diz isso. Não consigo entender o motivo. – fui irônica.

- Agora... – bateu uma mão contra a outra ao se aproximar – Vamos, precisa se arrumar e colocar uma cor nesse rosto. E pentear os cabelos. – completou ao estudar um pouco melhor o meu estado – Que diabos fez esse tempo todo?

- O básico. Dancei To Love you more. Depois sentei e peguei uns chocolates.

- Não tinha nenhuma chucha pra prender o cabelo?

- Na verdade, só percebi que a esqueci quando cheguei aqui. – dei de ombros.

- Ai, minha ajuda será de extrema importância.

- Alice, fala de uma vez. Por que invadiu a minha sala assim?

- Edward está lá embaixo e a procura.

- Ai, não. De novo, não. – me desesperei. Levantei e imediatamente aumentei o som para não ouvir as nossas vozes – O que vou fazer? Não trouxe quase nada aqui comigo! E meu cabelo está um ninho de passarinho.

- A sorte é que eu existo e você tem um banheiro nesse andar e armário o qual guarda umas roupas! – segurou minha mão e me levantou com um puxão – Corre, Bellinha! E não se esqueça. Você é uma mulher forte, lutadora e independente.

- Sou o que mesmo, hein? – cocei a cabeça sem acreditar nas palavras.

- Forte, lutadora, independente e diva.

- Tem certeza? Porque duvido pra cacete.

- É sim, mulher! Agora, vá já para o banho. Separarei suas roupas.

Gente... Uma pergunta. É cientificamente comprovado que uma mulher é capaz de se arrumar em cinco minutos? É claro, tomando banho, pondo uma roupa, fazendo maquiagem e cabelo? Não sei como, mas Alice conseguiu me ajudar nessa façanha. Enquanto eu penteava e arrumava o cabelo – juro, eu era uma cópia de Maria Bethania. Se eu saísse correndo descalça da academia cantando “quem me chamou”, iam olhar e falar: Ih, Maria Bethania está pelas redondezas e nem sabia! Iam me confundir com a mulher, senhoras e senhores! – ela passava a maquiagem em mim.

- Agora, sim! Agora ninguém vai confundi-la com Maria Bethania. – Alice se afastou para analisar o trabalho feito por nós duas.

Não disse que eu estava idêntica à Bethania?

Logo depois minha amiga saiu correndo pra sala e retirar qualquer vestígio de chocolate e embalagens de doces de lá. Enquanto isso, eu descia as escadas para me encontrar com Edward – e agradeci mentalmente à Lice estar ali, porque, do contrário, ele iria me ver de uma forma só um pouquinho depressiva.

Eu trajava uma legue preta e levemente brilhosa, com uma blusa branca larga e com estampa de diamante. Ela ficava um pouco caída, deixando o meu ombro direito a mostra. Nos pés botas negras de cano baixo e um casaco de tecido leve e quadriculado vermelho estava amarrado à minha cintura. Meus cabelos estavam soltos e usava somente um batom vermelho e rímel. É claro, base para correções faciais. Ao todo... Eu não estava de se jogar fora, não, hein...

- Bella – se levantou com a boca levemente aberta. Era um bom sinal, correto? – Está linda.

- Valeu. – parei em frente a ele – Alice me avisou que queria conversar comigo.

- Sim. Na verdade, vim propor algo. – parecia inseguro.

- Estou aberta às possibilidades.

- Queria saber se... Bem, há muito tempo não conversamos e nunca mais nos vimos depois da viagem, então... Achei interessante a ideia de voltarmos a nossa amizade.

- Como assim?

- Você é uma pessoa muito boa e fez parte de uma fase importante de minha vida. Não há como ignorar. E... Bem, sinto saudade de algumas pessoas que deixei pra trás. Que acha de jantarmos amanhã?

- Sim, claro. Seria perfeito!

Por um momento todo o meu semblante se encheu de alegria. Aí me lembrei de um sotaque italiano dizendo: Caro.

- E Tânia? A deixará sozinha em casa?

- Ela está acostumada. Além do mais, conhece as pessoas dessa cidade.

Surpresa, exclamei:

- Como ousa?

- É a verdade. Tânia está comigo somente para me ajudar a organizar minha agenda.

Não creio no que ouvi. Por causa dessa fala, fiz um discurso de quase dez minutos sobre fidelidade. Terminei dessa forma:

- E se você acha que sou uma puta de rua está muito enganado, meu bem! – digamos que gritei essa última frase.

Não entendi a porra do motivo, mas o filho da mãe começou a rir! Juro, ele começou a rir e demorou pra parar! Eu faço um discurso sobre fidelidade e respeito às mulheres e o homem cai na gargalhada. Não aguentei! Peguei a chave na mesa da secretaria – Alice a deixou enquanto eu falava – e comecei a empurrá-lo para fora da minha academia de dança.

- Bella, espere um minuto. – recuperou-se, embora o corpo tremesse do ataque de risos – Acha mesmo que eu e Tânia temos um relacionamento?

- Não é?

- Não. Ela é só minha secretária. Ok, tenda dar em cima de mim, mas jamais teria nada com ela, principalmente agora que estou aqui.

- E porque?

- Porque mesmo depois de 10 anos, ainda não consigo de parar de pensar em você.

Bem, não prosseguirei com o que aconteceu nas horas seguintes porque é proibido para menores de 21 anos.

Enfim... Ao todo, após esse dia, as coisas se ajustaram. Um mês depois despediu Tânia – sou meio maluca, ciumenta e possessiva, lembram? – e passou só mais três meses em turnê. Então, encerrou a carreira e começou à trabalhar no projeto de montar uma escola de música para crianças na cidade. E deu certo!

Sabem aquela história? “Se duas pessoas tem de ficarem juntas, não importa o que aconteça, elas vão terminar uma ao lado da outra”? É verdade.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.