O sol havia acabado de nascer, Ryu e Catherine seguiam pelas ruas de Otium. A bruxa estava muito entusiasmada com a viagem por isso manteve um sorriso no rosto enquanto desfilava em direção ao portão da cidade. Já Ryu estava pensativo em relação a conversa que havia tido com Ivan na noite passada. Nunca pensou que teria esse tipo de hesitação, afinal desde novo ouviu histórias sobre travessias e o quanto elas podem ser tranquilas. No máximo alguns ataques de saqueadores, mas nada que guardiões bem treinados e bruxos fortes não dessem conta sem suar.

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— Acho que a gente deveria dar uma parada.

A voz de Catherine pôs fim aos pensamentos de Ryu.

— O que? Mas só estamos andando há meia hora. — Ryu parecia não acreditar nas palavras da garota.

— Você acha pouco? — Catherine tentava recuperar o fôlego.

— Catherine, nós nem saímos de Otium! — Ryu esboçava indignação em sua voz.

No fim os dois pararam em um café.

— Essa viagem vai ser mais longa do que eu imaginei. — Já sentado na mesa, Ryu resmungava.

— Não seja tão ranzinza — Catherine puxou a pele do rosto próxima aos olhos usando os dedos e mostrou a língua para Ryu.

O movimento que a garota fez, revelar uma espécie pulseira artesanal amarrada em seu braço.

— O que é isso? — Ryu apontou para o objeto.

— É uma pulseira feita com raízes de laranjeira da fronteira do sétimo reino. — Catherine esticou o braço para mostrar melhor a sua relíquia — Ganhei de presente do meu pai quando tinha 5 anos.

— Ouvi dizer que essas raízes são raras — Ryu coçou o queixo e continuou — Também ouvir dizer que elas servem para selar poderes de bruxas.

Catherine respirou fundo e recolheu o braço.

— Você já deve saber que eu não tenho muito controle com os meus poderes né? — A bruxa encarou o guerreiro — Foi a forma que o Ivan encontrou de eu não provocar desastres sem intenção. Ela está sempre comigo e me ajuda a deixar os meus níveis de energia estabilizados.

— Justo.

Apesar da resposta conformada, Ryu estava surpreso com aquilo. Aquelas raízes eram usadas para fazer cordas que continham bruxas extremamente perigosas. Uma das características marcantes da raiz era o fato de deixar as bruxas cansadas e em muitos casos inconscientes. Era de se admirar que Catherine andasse com aquilo preso em seu braço todo o tempo. Mas mais admirável ainda era o fato de precisar de algo tão poderoso para conter uma bruxa tão jovem.

Depois de descansarem alguns minutos, Ryu e Catherine seguiram viagem.

Já estavam fora de Otium, mas longe da próxima cidade e tudo o que tinham ao redor eram árvores.

— Catherine!

Ao ouvir o chamado do garoto a bruxa se assustou.

— O que foi?

— Está com sede? — Ele estendeu um cantil para ela.

— Não obrigada… eu estou cansada — Catherine se encostou em uma árvore — Você pode me chamar de Cat. Catherine é como o meu pai me chama quando está bravo… ou quando está me dando ordens…

— Cat? — Ryu deu de ombros — É até mais fácil de falar.

O rapaz caminhou por alguns segundos até perceber que Catherine não havia se movido do lugar.

— Você bem que poderia me carregar não é mesmo? — A garota o olhou como se implorasse por piedade.

— Eu não conseguiria ir muito longe carregando uma garota no colo.

Ele provavelmente estaria bravo se não tivesse visto a raiz de laranjeira amarrada no pulso da garota. A falta de disposição de Catherine para andar era muito justificável.

— E uma gatinha? — Catherine caminhou até o garoto.

— O que? — Ele estranhou a pergunta.

— Conseguiria caminhar levando um gato? — A menina parecia empolgada.

— Acho que sim…

Mal ele havia terminado de falar, uma luz púrpura envolveu o corpo de Catherine. Um flash forçou Ryu a fechar os olhos e quando os abriu, se deparou apenas com um gato preto na sua frente.

— Catherine? — Ryu se agachou até o pequeno animal.

Assim que estava ao seu alcance, o felino saltou para dentro do casaco de Ryu e se acomodou em um de seus grandes bolsos.

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— E quem vai carregar a sua mala? — O rapaz olhou para a bagagem largada no chão.

O gato permaneceu deitado, sem mover um pelo, como se o ignorasse.

— Ok. — Ryu deu de ombros — Você fica sem bagagem.

— Ryu! — Uma voz mais fina que a habitual saiu de dentro do seu peito.

— Ah! — O garoto bateu palmas — Agora o gato fala?

— Eu gasto mais energia falando nessa forma. — O pequeno animal se pendurava no casaco do guerreiro.

Os dois continuaram o caminho até a próxima cidade, Ryu obviamente não parou de reclamar nem por um segundo por estar carregando as malas de Catherine, mas ela não se importou pois dormiu a maior parte do tempo.

— Da próxima vez se transforme em um cavalo. — Ele protestou.

— Eu não vou te carregar nas minhas costas! — A voz de Catherine estava abafada dentro do casaco de Ryu.

— Pensei que falar gastasse energia… — O garoto debochou.

Depois de rosnar, o felino pulou para o chão e em seguida retomou a forma humana.

— Ótimo! — Catherine limpou a poeira da roupa — Agora podemos discutir a vontade.

Em silêncio Ryu encarava dois desconhecidos a frente. Um era mais jovem e o outro um senhor de idade avançada.

— O que foi? — A bruxa não conseguia compreender o motivo do rapaz estar tão concentrado nos dois homens.

Sem ao menos responder a garota, Ryu retirou uma adaga de sua bota e arremessou no abdômen do homem mais novo.

— Ai meu deus! — Catherine estava assustada — Você é maluco!

A garota se preparava para correr ao socorro do homem quando sentiu o seu braço ser puxado por Ryu.

Antes que pudesse protestar contra a atitude do garoto, notou a aproximação de dois homens que haviam saído do meio das árvores.

O primeiro homem, vinha da esquerda e tentou golpear o guerreiro com um martelo. O outro, vindo da direita, correu na direção dele com uma espada curta.

Em um movimento rápido, o guerreiro se abaixou e o martelo passou por cima de sua cabeça, acabando por acertar o portador da espada curta.

Com um de seus inimigos já derrotado, Ryu apenas se afastou do segundo.

Talvez por ter atingido o próprio aliado, o homem que portava o martelo parecia extremamente nervoso.

— Você não precisa fazer isso. — Ryu encarou o homem com seriedade.

O homem parecia ter sido inspirado a contrariar o desejo de Ryu e avançou para cima dele com muita voracidade.

Mas antes que pudesse alcançar o alvo, o bandido tropeçou, bateu a cabeça em uma pedra e ficou inconsciente.

— Mas o que aconteceu… — Sem ao menos terminar a sua frase, os olhos de Ryu se fixaram em Catherine encolhida em uma árvore próxima dali.

A sorte definitivamente não estava a favor dos tais saqueadores.

— Muito obrigado… — O velho se aproximou de Ryu.

Ryu e Catherine acompanharam o velho até a cidade. Durante o caminho, descobriram que o nome dele era Cássio e ele havia vindo até a floresta colher frutas para a pequena loja que possuía. Questionado sobre ser velho demais para fazer esse tipo de coisa sozinho. Ele contou que morava apenas ele, sua esposa e a neta.

Ryu decidiu não contar sobre a travessia, o fato de Catherine ser bruxa poderia gerar algum problema. Por isso ele apenas disse que os dois estavam explorando as redondezas.

— Eu não acredito que você arremessou uma adaga em um desconhecido que estava há metros de você. — Catherine ainda estava incrédula.

Como já era noite, Cássio havia oferecido abrigo para os visitantes e nesse momento eles já estavam na casa do velho.

— Era um saqueador não era? — Ryu se defendeu.

— Não tinha como você ter certeza. — Catherine não cessou seu protesto.

— Oi. — Uma bela garota de cabelos loiros e olhos claros entrou no quarto dos dois — Eu queria agradecer a vocês por terem salvo o meu avô.

A garota se chamava Alícia, ela era neta de Cássio e era pouco mais velha que Catherine.

— Não há de que. — Ryu sorriu de forma gentil para a menina.

— Meu avô me contou o quanto você foi corajoso. — A garota sorriu de volta para o guerreiro e demonstrou certa timidez.

O rosto de Catherine estava petrificado em uma expressão de descontentamento.

— Vocês dois fazem um casal muito bonito. — Alícia havia percebido o incômodo na garota.

— Ah! Não somos namorados… — Ryu respondeu um pouco sem graça.

— Não? — Alícia abriu um sorriso largo.

— Não, não… — Catherine se manifestou também com um sorriso em seu rosto — Casamos há pouco tempo!

— Ah… — Alícia se encolheu — Que fofo.

— Ele é muito fofo mesmo! — Catherine se agarrou ao braço de Ryu — Não poderia achar homem melhor.

— Como eu disse, vocês fazem um belo casal — A garota se afastou em direção a porta do cômodo — Vou ajudar a minha avó a se preparar para deitar.

— Vai lá! — O sorriso congelado no rosto de Catherine era tão falso que até um cego perceberia.

— Casados? — Ryu perguntou assim que se certificou da saída de Alícia.

— “Meu avô me contou o quanto você foi corajoso.” — Catherine imitava Alícia de forma caricata enquanto mantinha uma expressão de nojo em seu rosto.

— Você está com ciúmes?

— Claro que não! — Catherine olhou para o garoto com desdém — Mas você está trabalhando, não tem tempo para ficar de gracinha com qualquer plebeia que encontra por aí.

— Eu não estava de gracinha com ela! — Ryu estava indignado — Mal trocamos palavras.

— Tá! Tá! Boa noite, Ryu. — Já deitada em sua cama, Catherine se virou para o lado oposto do companheiro.

O garoto queria continuar a discussão mas preferiu se calar e dormir. Antes que conseguisse pegar no sono, pode ouvir Catherine resmungar sobre o quanto garotas do interior se jogam em cima de qualquer forasteiro que aparece.